OMS classifica surto de coronavírus como pandemia; Itália e Reino Unido anunciam medidas defensivas

Publicado em 11/03/2020 13:59 e atualizado em 12/03/2020 08:28

Por Emma Farge e William Schomberg

GENEBRA/LONDRES (Reuters) - A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou o surto do novo coronavírus como uma pandemia pela primeira vez nesta quarta-feira, e Reino Unido e Itália mostraram crescente preocupação com o impacto econômico, anunciando pacotes multibilionários para combater o vírus.

Os Estados Unidos também anunciaram que avaliam novas medidas para lutar contra o vírus que apareceu na China em dezembro e se espalhou pelo mundo todo, suspendendo atividades industriais, tráfego aéreo, fechando escolas e adiando eventos.

"Estamos profundamente preocupados tanto com os níveis alarmantes de disseminação e gravidade quanto com os níveis alarmantes de inação. Fizemos, portanto, a avaliação de que o Covid-19 pode ser caracterizado como uma pandemia", disse Tedros em coletiva de imprensa.

Agora há mais de 118 mil casos em 114 países e 4.291 pessoas já morreram, com expectativa de que os números aumentem, disse Tedros.

O número de casos registrados fora da China cresceu 13 vezes nas últimas duas semanas, e a contagem de países afetados triplicou, com Irã e Itália entre os mais atingidos no Oriente Médio e na Europa, respectivamente. No total, 354 pessoas morreram no Irã e 827 na Itália.

"A Itália e o Irã estão na linha de frente e estão sofrendo, mas outros países também estarão na mesma situação muito em breve", disse Tedros.

O uso da palavra pandemia não muda a resposta da OMS, afirmou o Dr. Mike Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da agência, baseada em Genebra.

Ele também afirmou que há um "forte elemento de controlabilidade" e uma "chance real de atenuar a curva... e reduzir o número de casos".

O uso da palavra "pandemia" não possui um significado jurídico. A OMS classificou o surto como uma "emergência de saúde pública de preocupação internacional" no dia 30 de janeiro, alavancando um aumento na coordenação da resposta global ao vírus.

"O uso do termo, no entanto, ressalta a importância do trabalho cooperativo entre países do mundo se juntando como uma frente unida nos esforços para controlar essa situação", disse Nathalie MacDermott, especialista do King's College de Londres.

Mark Woolhouse, professor de epidemiologia de doenças infecciosas na Universidade de Edinburgo acrescentou: "Agora está claro que o Covid-19 estará conosco por um tempo considerável e as ações que devemos tomar devem ser ações com as quais possamos viver por um período prolongado".

O Reino Unido anunciou munição de 39 bilhões de dólares para amenizar o impacto econômico do coronavírus depois que o banco central britânico cortou sua taxa de juros nesta quarta-feira, e o novo ministro das Finanças, Rishi Sunak, disse que a economia enfrentaria um "impacto significativo" por causa da propagação do vírus, mesmo que temporário.

"Até um quinto da população economicamente ativa poderá precisar parar de trabalhar em algum momento. E as cadeias produtivas das empresas estão sendo interrompidas por todo o mundo", disse Sunak em um discurso anual para aprovação do orçamento no Parlamento.

A Itália aumentará os gastos para amenizar os estragos do coronavírus e pode restringir a movimentação ainda mais para frear sua proliferação, disse o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, nesta quarta-feira, quando o total de mortes aumentou em 196 em 24 horas e chegou a 827.

OMS declara coronavírus uma pandemia, citando 'alarmantes níveis de disseminação'

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu declarar o coronavírus uma pandemia, termo utilizado quando o estágio de transmissão de uma doença é global. "Estamos profundamente preocupados com os alarmantes níveis de disseminação e severidade, e de falta de ação", disse o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça.

Segundo a OMS, 118 mil pessoas foram diagnosticadas com o vírus em 114 países, entre as quais 4.291 morreram.

"Descrever a situação como pandemia não muda o que a OMS está fazendo e não deve mudar o que os países precisam fazer", ressaltou Tedros, alertando para que o uso da palavra não leve a temores irracionais.

Guedes quer acelerar pauta econômica no Congresso para blindar Brasil de coronavírus

(Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, enviou mensagem ao Congresso na noite de terça-feira com pedido aos presidentes da Câmara e do Senado para que acelerem a análise de projetos com medidas econômicas, diante do agravamento da crise provocada pelo surto do coronavírus, destacando que as propostas são necessárias para resguardar a economia do país.

Nos ofícios encaminhados ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Guedes destaca como prioritárias 19 propostas já em tramitação, incluindo o plano de equilíbrio fiscal, a proposta de autonomia do Banco Central e a privatização da Eletrobras .

Também constam da lista de projetos uma Nova Lei do Gás, reformas legais nos setores elétrico, de ferrovias e saneamento básico, e uma proposta que prevê alterações no regime de partilha da produção, adotado em leilões de áreas petróleo e gás no pré-sal.

"Considerando o agravamento da crise internacional em função da disseminação do coronavírus e a necessidade de blindagem da economia brasileira, o Ministério da Economia propõe acelerar a pauta que vem conduzindo junto ao Congresso Nacional", disse Guedes na mensagem.

"Trata-se de matérias infraconstitucionais que já estão em tramitação e que são extremamente relevantes para resguardar a economia do país, aumentar a segurança jurídica para os negócios e atrair investimentos", acrescentou.

O pedido de Guedes ocorre antes de uma manifestação prevista para o dia 15, que na palavras de Bolsonaro seria um ato "pró-Brasil". No final de semana, o presidente incentivou a população a participar, afirmando que os protestos não são contra os Poderes Legislativo e Judiciário.

Grupos de apoio ao presidente, contudo, querem usar essas manifestações para protestar contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Além do pedido de prioridade para 16 projetos econômicos infraconstitucionais, Guedes ressaltou a necessidade de aprovação de três Propostas de Emenda à Constituição (PECs) que já estão em tramitação no Congresso (Pacto Federativo, Fundos Públicos e Emergencial) e de outras que serão enviadas ou alteradas pelo Executivo (reformas tributária e administrativa).

O ministro ainda coloca entre as medidas necessárias uma reforma administrativa, que segundo ele será enviada "em breve" pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso.

Em relação à reforma tributária, Guedes disse que a equipe técnica do Ministério da Economia vem trabalhando para finalizar as contribuições que serão feitas à proposta que tramita no Congresso, em busca de um texto conciliatório.

"O esforço para a aprovação, neste semestre, das matérias listadas acima tem a capacidade de proteger o Brasil da crise externa. A equipe econômica monitora atentamente a evolução dos cenários internacional e doméstico", disse o ministro.

"Com a continuidade de reformas estruturais que o país precisa, será possível recuperar espaço fiscal suficiente para a concessão de outros estímulos à economia", acrescentou.

Antes do envio da mensagem de Guedes, o presidente da Câmara havia cobrado o governo para que coordene e conduza a recuperação econômica, argumentando que o Congresso sozinho não poderá dar uma solução.

"Não há solução mágica e não é apenas no Parlamento que estão as soluções para o enfrentamento da crise e as soluções permanentes", afirmou Maia.

"Então o que a gente espera é que o governo possa comandar e organizar o encaminhamento das propostas que podem ajudar a minimizar danos e não é apenas no Parlamento que as soluções podem ser dadas."

(Por Marcela Ayres, em Brasília, e Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; reportagem adicional de Luciano Costa em São Paulo)

EUA planejam medidas econômicas em combate ao coronavírus

Por David Lawder e Andrea Shalal e Susan Heavey

WASHINGTON (Reuters) - Enquanto as autoridades norte-americanas procuram maneiras de lidar com o surto de coronavírus, o governo Trump está considerando cortar impostos, candidatos presidenciais democratas estão cancelando eventos e o governador do Estado de Nova York está dizendo que o governo federal "tropeçou no trabalho".

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, disse que o governo está avaliando adotar medidas que possam colocar centenas de bilhões de dólares na economia dos EUA para protegê-la de uma desaceleração provocada pelo coronavírus.

O secretário de Saúde, Alex Azar, disse que os líderes federais estão trabalhando com autoridades locais nos Estados mais atingidos, incluindo Washington, Califórnia, Nova York, Massachusetts e Flórida, dizendo que "fortes medidas de mitigação" podem ajudar a ganhar tempo valioso.

O governador de Nova York, no entanto, disse que as autoridades federais deixaram os Estados lutando para agir por conta própria, incluindo a intensificação de testes para a doença respiratória altamente contagiosa - e às vezes fatal.

"Não podemos esperar pelo governo federal porque isso não vai acontecer", disse Andrew Cuomo, que enviou a Guarda Nacional para ajudar a conter um surto nos subúrbios da cidade de Nova York.

O número de casos de coronavírus nos EUA aumenta constantemente e afetou quase três quartos dos Estados. Mais de mil casos e 31 mortes foram relatadas.

À medida que o surto se espalha, a vida cotidiana nos Estados Unidos tem sido cada vez mais afetada, com shows e conferências cancelados e universidades dizendo aos alunos que fiquem em casa e façam aulas online.

A Casa Branca está alivando medidas de benefícios fiscais, garantias de empréstimo, reembolso a trabalhadores por pagamentos perdidos, ajuda a pequenas e médias empresas e suporte a empresas aéreas, hotéis e outros negócios do setor, disse Mnuchin.

Ele comparou o coronavírus a um furacão, e disse que os gastos precisam ser acelerados. Mas afirmou que o presidente Donald Trump acredita forte que as empresas norte-americanas precisam ser protegidas, não resgatadas.

"O que quer que façamos, tipo nas próximas 48 horas, será apenas o primeiro passo. Vamos retornar. E acho que há grande suporte bipartidário. As pessoas entendem que precisamos ajudar pequenas e médias empresas e certas indústrias", disse Mnuchin a um comitê da Câmara dos Deputados.

Fonte: Estadão Conteúdo

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