Mercados esperam injeção de dinheiro novo por parte dos bancos centrais
Como esperado, a Quarta-feira de Cinzas foi de forte correção nos ativos domésticos ao estresse visto nos mercados internacionais nos últimos dias, com aumento da inclinação da curva a termo. A rápida disseminação do coronavírus, agora pela Europa, e o primeiro caso da doença confirmado no Brasil acentuaram o ajuste nos preços, com o aumento da busca pela segurança, pressionando o rendimento dos Treasuries, penalizando moedas emergentes e pressionando para cima os juros de longo prazo.
Porém, diante da percepção de que os impactos sobre a atividade devem resultar num movimento de injeção de liquidez global por parte dos bancos centrais, o comportamento das taxas futuras foi considerado até limitado em relação ao que se viu nas ações e no câmbio. As taxas curtas oscilaram ao redor da estabilidade durante toda a sessão e os longos subiram em torno de 15 pontos-base.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,195% (regular) e 4,200% (estendida), de 4,185% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2022 encerrou a 4,76% (regular) e 4,77% (estendida), de 4,681% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 6,19% (regular) e 6,20% (estendida), de 6,062% no último ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 6,471% para 6,63% (regular) e 6,65% (estendida).
Nesta sessão mais curta, as taxas já abriram pressionadas pela correção ao exterior, na medida também que o dólar avançava, mesmo com as intervenções extraordinárias anunciadas pelo Banco Central no câmbio. Enquanto isso, o dia era de recuperação em Wall Street, com alta nas Bolsas e Treasuries operando de forma mista. No meio da tarde, porém, o nervosismo voltou a prevalecer lá fora, levando os vencimentos de médio e longo prazos da curva local, mais expostos à piora da percepção de risco externo, a renovarem máximas, na medida em que os Treasuries sucumbiam, com os rendimentos acelerando a queda em função da busca pela segurança, que também penalizou moedas emergentes.
Os efeitos da epidemia são preocupantes não pela letalidade do vírus, considerada baixa, mas pelo potencial de estragos na economia, ao afetar oferta e demanda por produtos e serviços. Com isso, cresce a expectativa por mais injeção de liquidez até por parte do Federal Reserve, na medida em que a curva dos Treasuries segue invertida, indicando recessão à frente.
--"Mesmo que o nervosismo com o vírus diminua, o mercado de títulos obrigará o Fed a reduzir as taxas", afirma Edward Moya, analista de mercado da Oanda em Nova York. Hoje, segundo a Bloomberg, foi confirmado mais um caso em território americano, chegando a um total de 15.
Diante da disseminação da epidemia, no Brasil, um integrante da equipe econômica reconheceu que o cenário "piorou bastante" e o governo está considerando refazer a sua projeção de crescimento para 2020, de 2,4% do PIB.
Nesse contexto, o Banco Central pode se ver obrigado a rever sua sinalização de interrupção no ciclo de afrouxamento da Selic. "Nos DIs curtos, o impacto do estresse no exterior foi reduzido porque, do ponto de vista macro, com a economia desaquecendo, o viés é deflacionário, e pode levar o Copom a voltar atrás no que tinha indicado e dar mais estímulo monetário", avaliou o estrategista de Mercados da Harrison Investimentos, Renan Sujii
Com o coronavírus sendo a preocupação mais urgente, a repercussão do vídeo compartilhado por Bolsonaro nos preços dos ativos foi moderada, mas segue no radar dado o potencial de gerar crise entre os Poderes. "As questões locais têm sido relegadas a segundo plano, mas podem ganhar tração especialmente quando o Congresso voltar a discutir as reformas na semana que vem. Por enquanto, como a reação é só retórica, não está nos preços efetivamente", afirmou o economista-chefe da Guide Investimentos, João Mauricio Rosal.
Na pesquisa Focus divulgada excepcionalmente hoje, as medianas para IPCA, PIB e Selic tiveram pouca ou nenhuma mudança. A expectativa para a inflação este ano caiu de 3,22% para 3,20% e a do PIB, de 2,23% para 2,20%. A projeção de Selic manteve-se em 4,25%