Coronavírus se espalha mais rapidamente fora da China e temor de impacto nos EUA afeta mercados

Publicado em 26/02/2020 21:08

XANGAI/SEUL (Reuters) - O número de novas infecções por coronavírus dentro da China --a origem do surto-- foi superado pela primeira vez por novos casos em outros países na quarta-feira, quando os mercados norte-americanos recuaram por temores da rápida disseminação global da doença.

A Ásia registrou centenas de novos casos, o Brasil confirmou a primeira infecção da América Latina e a nova doença --Covid-19-- também atingiu Paquistão, Grécia, Argélia, Noruega e Romênia. O conglomerado global de alimentos Nestlé suspendeu todas as viagens de negócios até 15 de março.

Autoridades de saúde dos Estados Unidos, onde há 59 casos até agora --a maioria deles entre repatriados de um navio de cruzeiro no Japão-- disseram ser provável uma pandemia global. Mas o presidente Donald Trump acusou canais de TV a cabo que frequentemente o criticam de "fazer todo o possível para que o (coronavírus) pareça o pior possível, deixando mercados em pânico". Os mercados de ações em todo o mundo perderam 3,3 trilhões de dólares em quatro dias, como medido pelo índice mundial MSCI.

Wall Street reverteu ganhos iniciai na tarde de quarta-feira, com receio de que o vírus se espalhe pelos Estados Unidos, e os preços do petróleo caíram para o nível mais baixo em mais de um ano.

Autoridades de saúde disseram que dezenas de pessoas que estiveram na China estavam sendo monitoradas nos subúrbios da populosa cidade de Nova York.

"Até agora não há casos confirmados de coronavírus na cidade de Nova York", disse o prefeito Bill de Blasio em uma entrevista coletiva, pedindo ao governo federal que intensifique os exames para visitantes de vários países onde o vírus está se espalhando.

Acredita-se que a origem do novo coronavírus tenha sido em um mercado da cidade chinesa de Wuhan no fim do ano passado. A doença já infectou cerca de 80 mil pessoas e matou mais de 2.700, a maioria na China.

Embora medidas radicais de quarentena tenham ajudado a diminuir a taxa de transmissão na China, ela está se acelerando em outros lugares.

A Alemanha, que tem cerca de 20 casos, afirmou que já era impossível rastrear todas as cadeias de infecção, e o ministro da Saúde, Jens Spahn, pediu às autoridades regionais, hospitais e empregadores que revisem seu planejamento de pandemia.

"Um grande número de pessoas teve contato com os pacientes, e isso é uma grande mudança para os 16 pacientes que tínhamos até agora, onde a cadeia poderia ser rastreada até a origem na China", disse ele.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que a China registrou 412 novos casos na terça-feira, enquanto houve 459 registros em outros 37 países.

No entanto, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, aconselhou diplomatas em Genebra na quarta-feira a não falar em pandemia -- que a OMS define como a disseminação mundial de uma nova doença.

"Usar a palavra pandemia de forma descuidada não traz benefícios tangíveis, mas de fato tem um risco significativo em termos de amplificar medo e estigma desnecessários e injustificados e paralisar sistemas", disse. "Isso também pode sinalizar que não podemos mais conter o vírus, o que não é verdade."

Coronavírus afeta negócios em Milão; saldo de mortes na Itália chega a 12

MILÃO (Reuters) - Milão, o polo financeiro da Itália, testemunhou nesta quarta-feira um agravamento do surto de coronavírus, já que eventos empresariais como a feira anual de design Salone del Mobile foram adiados ou cancelados e o saldo de mortes nacional chegou a 12.

Cafés e restaurantes da cidade de 1,3 milhão de habitantes estavam meio vazios, muito menos pessoas do que o normal utilizavam o transporte público e hotéis relatavam uma onda de cancelamentos. Outras cidades grandes e pequenas do norte do país, como Veneza, viram tendências semelhantes.

"Estamos nos perguntando se fechamos até a situação voltar ao normal. Há ainda menos gente hoje do que ontem", disse o gerente de um restaurante do centro de Milão, que normalmente fica cheio de banqueiros e funcionários de escritórios na hora do almoço. "Não aguentamos mais uma semana como esta."

Mais uma morte e 52 casos novos do vírus foram relatados, todos no norte da Itália, e países de toda a Europa comunicaram mais infecções ligadas ao surto italiano.

Em visita a Roma, a chefe de saúde da União Europeia, Stella Kyriakides, pediu que se evite o pânico enquanto o governo italiano prepara medidas para tentar fortalecer a economia, que parece destinada a entrar em recessão por causa do contágio.

Mostrando as preocupações existentes, o Salone del Mobile, um dos destaques do calendário de negócios da cidade, foi adiado de abril para junho.

O chefe da agência nacional de Proteção Civil, Angelo Borrelli, disse aos repórteres que o saldo de mortes subiu dos 11 do dia anterior para 12, já que um homem de 69 anos morreu na Emilia Romagna, uma região do norte.

Como ocorreu com todas as outras pessoas falecidas até o momento, o homem tinha problemas de saúde subjacentes que o deixaram particularmente vulnerável à doença.

Ao todo, 258 casos foram registrados no epicentro da Lombardia desde sexta-feira, incluindo uma menina de quatro anos e cinco outras crianças --as primeiras infecções do tipo no país.

Na vizinha Vêneto, o número de diagnósticos confirmados do vírus semelhante à gripe é de 71, e instâncias da doença vieram à tona em oito outras regiões, elevando o número total de casos para 370.

Italianos ou pessoas que visitaram o norte do país recentemente foram diagnosticados na Grécia, Espanha, Áustria, Suíça, Croácia, França e Brasil desde o final de semana, o que mostra a grande velocidade com que a doença identificada inicialmente na China no mês passado consegue se disseminar.

As autoridades fecharam escolas, universidades, museus, cinemas e teatros na maior parte do norte da Itália, e muitos países aconselharam seus cidadãos a não visitarem a área.

Rouhani diz que não há quarentenas urbanas planejadas no Irã apesar do surto de coronavírus

DUBAI (Reuters) - O presidente Hassan Rouhani disse nesta quarta-feira que o Irã não tem planos de colocar em quarentena quaisquer "cidades e distritos" em resposta ao surto de coronavírus no país, que o Ministério da Saúde disse ter matado 19 pessoas, informou a TV estatal.

No entanto, havia planos de impor alguma restrição em locais sagrados xiitas e cancelar alguns sermões na sexta-feira, o tradicional dia de oração pública da República Islâmica, disse o ministro da Saúde, Saeed Namaki.

O Irã teve o maior número de mortes pelo vírus fora da China, onde ele surgiu no final de 2019. O porta-voz do Ministério da Saúde, Kianush Jahanpur, disse que 139 pessoas foram infectadas.

Rouhani acusou os Estados Unidos, inimigo de longa data, de tentar paralisar o país com medo.

"Não devemos permitir que a América adicione um novo vírus ao coronavírus, interrompendo nossas atividades sociais, espalhando um tremendo medo", disse Rouhani, segundo a TV estatal.

Vários vizinhos do Irã fecharam suas fronteiras e proibiram voos do Irã devido a temores em relação ao vírus, o que poderia prejudicar a já frágil economia da República Islâmica.

A economia do Irã está arrasada desde que os Estados Unidos se retiraram de um acordo nuclear multilateral em 2018 e voltaram a impor sanções contra Teerã.

Fonte: Reuters

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