Casos de coronavírus fora da China "podem ser fagulha" para incêndio maior, diz OMS

Publicado em 10/02/2020 20:21

PEQUIM/GENEBRA (Reuters) - A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou nesta segunda-feira que a propagação de casos do coronavírus entre pessoas que não estiveram na China poderia ser "a fagulha que se torna um incêndio maior" e que a raça humana não pode deixar que a epidemia saia do controle. 

A província chinesa de Hubei, epicentro de um surto de coronavírus, registrou 2.097 novos casos e 103 novas mortes em 10 de fevereiro, informou a autoridade de saúde local nesta terça-feira (horário local).

Antes desses dados, por volta das 2h (horário de Brasília) na segunda-feira 40.235 casos haviam sido confirmados na China e 909 mortes, assim como 319 casos em 24 outros países, incluindo uma morte, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O número de mortos na epidemia aumentou em 97 no domingo - maior número registrado em um único dia desde que o vírus foi detectado na cidade chinesa de Wuhan em dezembro. 

O navio de cruzeiro Diamond Princess com 3.700 pessoas --entre passageiros e tripulação--  a bordo continuava em quarentena no porto japonês de Yokohama, com mais 65 casos detectados, levando o número de casos confirmados na embarcação para 135.

Com cientistas correndo para desenvolver testes e tratamentos, a OMS disse que 168 laboratórios em todo o mundo têm a tecnologia certa para diagnosticar o vírus. Mais empresas estão lutando para encontrar amostras clínicas do vírus para validar os testes que desenvolveram.

As procupações com o coronavírus mantiveram os investidores nos chamados portos seguros, elevando a cotação do ouro e fazendo o dólar atingir na segunda-feira o nível mais alto em quatro meses em relação ao euro.

Na Europa, as ações de empresas automobilísticas expostas à China tiveram forte queda, enquanto os preços do petróleo, minério de ferro e cobre caíram por conta da demanda mais fraca chinesa em função do surto da doença. 

A British Airways cancelou todos os seus vôos para a China até o final de março.

Na China continental, onde as pessoas estão aos poucos voltando ao trabalho após um feriado estendido de Ano Novo Lunar, 3.062 novos casos foram confirmados no domingo, de acordo com a Comissão Nacional de Saúde. 

Wu Fan, vice-reitor da escola de Medicina da Universidade Fudan de Xangai, disse que existe esperança de um ponto de virada na epidemia. Mas Ghebreyesus, da OMS, afirmou que havia "casos preocupantes" de transmissões a partir de pessoas que não estiveram na China. 

"Isso poderia ser uma faísca que se torna um incêndio maior", disse Ghebreyesus a jornalistas em Genebra. "Mas no momento é apenas uma faísca. Nosso objetivo continua sendo a contenção. Nós deveríamos realmente lutar muito como raça humana contra esse vírus, antes que ele saia fora de controle." 

Uma equipe avançada de especialistas internacionais da OMS chegou à China para investigar a epidemia. 

"Essa missão junta o melhor da Ciência chinesa, da Saúde Pública chinesa e da Saúde Pública do mundo", disse Mike Ryan, da OMS. 

O número total de mortos por conta do coronavírus já ultrapassou o das vítimas da epidemia da Síndrome Aguda Respiratória Severa (SARS), que matou centenas entre 2002 e 2003. 

Cidades chinesas se tornaram verdadeiras cidades fantasmas após os governantes do Partido Comunista ordenarem bloqueios, cancelarem vôos e fecharem fábricas e escolas. 

Dez dias extras foram adicionados aos feriados do Ano Novo Lunar, que deveria ter terminado no final de janeiro. Mas mesmo na segunda-feira, muitos locais de trabalho permaneciam fechados enquanto pessoas trabalhavam de casa. 

Poucos usuários corajosos estiveram em uma das mais cheias linhas de metrô de Pequim no horário de pico matinal. Todos usavam máscaras.

  • Consumidores usando máscaras fazem compras em supermercado em Wuhan 10/02/2020 China Daily via REUTERS

  • Província de Hubei, na China, registra 103 mortes por coronavírus nesta segunda, 10 de fevereiro, diz comissão de Saúde

    • Pacientes com o novo coronavírus são atendidos em hospital em Wuhan 06/02/2020 China Daily via REUTERS

    XANGAI (Reuters) - A província chinesa de Hubei, epicentro de um surto de coronavírus, registrou 2.097 novos casos e 103 novas mortes em 10 de fevereiro, informou a autoridade de saúde local nesta terça-feira.

    A comissão de saúde regional de Hubei disse que a província já confirmou um total de 31.728 casos, com 974 mortes até o final de segunda-feira, uma taxa de mortalidade de 3,07%.

    Ele disse que ainda havia um total de 16.687 casos suspeitos. A província prometeu na segunda-feira testar todos os suspeitos de terem o vírus dentro de um dia.

    Coronavírus esvazia evento de aviação em Cingapura

    • CINGAPURA (Reuters) - Companhias aéreas asiáticas alertaram para cortes "drásticos" nos planos de crescimento de 2020 devido ao surto do coronavírus, piorando o clima do já vazio Airshow de Cingapura, à medida que mais empresas desistiram do evento.

    O principal evento aeroespacial da Ásia continua acontecendo. Mas o centro de exposições construído para o evento é marcado por espaços vazios reservados para empresas chinesas e outras pessoas que não compareceram por causa do surto, cujo número de mortos ultrapassa 900.

    Os principais fornecedores Honeywell e Leonardo se juntaram a uma lista de 70 ausências nesta segunda-feira, em meio a preocupações relacionadas ao novo coronavírus, que começou na China.

    Poucos negócios devem acontecer no evento, que vai de 11 a 16 de fevereiro em Cingapura, onde a epidemia desencadeou novas medidas de segurança e lançou uma sombra sobre o lucro das companhias aéreas e a demanda por aviões.

    Novas evidências do impacto surgiram às vésperas da feira, quando a consultoria Ascend by Cirium, sediada no Reino Unido, disse que o número de voos programados para operar indo e saindo da China caiu 24% em comparação com as expectativas anteriores ao surto.

    O número de voos que realmente foram realizados caiu pela metade em comparação com os níveis sazonais normais, pois muitas companhias aéreas continuaram cortando os voos além da redução recentemente feita.

    Isso significa que as companhias aéreas asiáticas estão se preparando para um 2020 turbulento. Os cancelamentos acarretam custos com perda de receita e descontos em passagens.

    "Todas as previsões de tráfego para este ano estão erradas", disse Andrew Herdman, diretor geral da Associação de Aéreas da Ásia-Pacífico, em entrevista.

    Antes da crise, a Associação Internacional de Transporte Aéreo, que representa as companhias aéreas globais, previa que o tráfego de passageiros aumentaria 4% em 2020 e o tráfego de cargas 2%.

    "Se você observar os cortes no cronograma e as operações reais, elas foram reduzidas em 50%, 60%, 70% na China. É bastante drástico", disse Herdman.

     

    GRANDES CUSTOS

    A Embraer está se preparando para enfrentar a crise.

    "Espero que vejamos o pico do coronavírus nas próximas 2-3 semanas e depois uma queda, mas até que isso aconteça, o impacto nas viagens é profundo e imediato", disse o presidente da divisão comercial da empresa brasileira, John Slattery.

    A Embraer está participando do evento como parte de uma campanha de marketing para sua aeronave E195-E2 contra o Airbus A220. Slattery lamentou atrasos na aprovação da União Europeia para uma fusão entre a Embraer e a Boeing.

    Os organizadores do evento disseram no domingo que ainda esperam mais de 930 empresas de 45 países e 45 mil participantes do setor - abaixo dos 54 mil da última feira em 2018.

    Os saguões dos principais hotéis, geralmente lotados de participantes, estavam visivelmente vazios. Alguns participantes expressaram surpresa pelo fato de a conferência continuar depois que o governo aconselhou contra eventos não essenciais em grande escala.

    Os organizadores dizem que têm um dever para com aqueles que ainda desejam assistir a um evento que cresceu em importância ao longo dos anos.

    Um expositor que planejou shows aéreos em todo o mundo disse que o suporte a uma exibição de voo de uma aeronave normalmente custaria 1 milhão de dólares ou mais e grandes fabricantes poderiam gastar de 2 milhões a 5 milhões de dólares no total em um show desse tamanho.

    O cancelamento do evento levaria a reembolsos de dezenas de milhões de dólares, disse uma fonte de um expositor sob condição de anonimato, devido à sensibilidade do assunto.

Fonte: Reuters

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