Superministério da Economia de Bolsonaro vai enfrentar desafios para ser posto de pé (Reuters)

Publicado em 30/10/2018 20:33

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O superministério da Economia vai enfrentar desafios para virar realidade e de fato entregar ganhos de eficiência, afirmou uma fonte com trânsito e trabalho de anos nas pastas que passarão por fusão, apontando que será necessário uma boa dose de energia para unificá-las, o que ameaça consumir um tempo que poderia ser melhor investido nas propostas para a economia.

Nesta terça-feira, o futuro ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro (PSL), Onyx Lorenzoni (DEM-RS), afirmou que os Ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) serão unidos no ano que vem. A proposta já constava no programa de Bolsonaro, mas após receber representantes da indústria recentemente o presidente eleito afirmou estar aberto a deixar o MDIC de fora do plano.

"Vai dar uma dor de cabeça para fazer porque são carreiras diferentes, são processos diferentes, são TIs diferentes. Há uma série de processos que têm rotinas diferenciadas, então você vai gastar uma energia enorme com isso e aí aquelas pautas que são fundamentais para a economia podem se perder nesse processo", disse a fonte, que falou em condição de anonimato.

Num exercício teórico, essa fonte projetou que a fusão implicará uma redistribuição de mais de 38 unidades de trabalho --entre secretarias, órgãos, institutos, escolas e assessorias -- sob uma única aba.

Hoje, são 12 sob a Fazenda, 17 sob o Planejamento e 9 sob o MDIC.

Uma ideia para diminuir a demanda em relação ao ministro, que será instado a receber inúmeros parlamentares para tratar dos mais diversos assuntos, é criar duas secretarias-executivas, uma para a área econômica e outra para a área de gestão, disse a fonte.

Na área econômica, estimou que uma só Secretaria de Assuntos Econômicos, por exemplo, poderia reunir sete secretarias que hoje estão distribuídas nos três ministérios: de Política Econômica, de Acompanhamento Fiscal, Energia e Loteria e de Promoção da Produtividade e Advocacia da Concorrência, na Fazenda; de Planejamento e Assuntos Econômicos e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), hoje no Planejamento; e de Desenvolvimento e Competitividade Industrial e de Comércio e Serviços, pertencentes ao MDIC.

Apesar das possibilidades de sinergia, a fonte lembrou que a fusão vai ter baixíssimo impacto em termos de economia fiscal e também trará complicações logísticas.

"O cara está lá no bloco P e vai ter que gerir pessoas que estão no bloco J. Isso também tem que ser visto", disse, sobre a configuração da Esplanada, com um edifício diferente para cada um dos ministérios hoje.

A fusão repete fórmula usada pela última vez pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1990, mas apesar de suscitar lembranças de uma política econômica que deu errado, é também vista com simpatia por parte do atual quadro do governo. [nL2N1X2107]

Parte do time à frente da economia avalia que colocar principalmente a Secretaria de Orçamento Federal, hoje integrante do Planejamento, sob a Fazenda alinharia a programação orçamentária à financeira, nos moldes do que já é feito em boa parte do mundo.

Levantamento da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) de 2014 mostra que dentre 32 países que integram o grupo somente quatro não têm o Ministério da Fazenda como único responsável pelo Orçamento.

 

Indústria têxtil reclama de fusão de ministérios (em O Antagonista)

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, Fernando Pimentel, disse hoje que é “equivocada” a decisão de Jair Bolsonaro de acabar com o Mdic –o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

O plano do presidente eleito, reiterado hoje por Paulo Guedes, é fundir Mdic, Fazenda e Planejamento numa pasta só, a da Economia.

“A indústria está se renovando no mundo inteiro, é uma nova era de transformação, com a indústria 4.0. Um ministério para o setor é necessário, para discutir políticas”, alegou o presidente da Abit.

A chiadeira de setores que se dirão afetados pela reestruturação ministerial está só no começo –é melhor já ir se preparando.

‘Vamos salvar a indústria, apesar dos industriais’, diz Paulo Guedes

Paulo Guedes defendeu hoje a extinção do Mdic dizendo que a pasta se transformou em uma “trincheira da Primeira Guerra Mundial” na defesa do protecionismo, registra o Estadão.

Segundo o economista-chefe de Jair Bolsonaro, o futuro governo vai retirar os subsídios ao setor, salvando assim a indústria brasileira, “apesar dos industriais brasileiros”.

“O Brasil está em um processo de desindustrialização acelerada há mais de 30 anos. Eles [o Mdic] estão lá com arame farpado, lama, buraco, defendendo protecionismo, subsídio, coisas que prejudicam a indústria, em vez de lutar por redução de impostos, simplificação e uma integração competitiva à indústria internacional”, afirmou Guedes.

O economista acrescentou, porém, que a proposta do “superministério” da Economia não é fazer uma abertura abrupta –isso “mataria a indústria”, pondera.

Bolsonaro baixa o farol de Guedes

Paulo Guedes reuniu-se com Jair Bolsonaro e saiu com o farol mais baixo sobre a urgência da reforma da Previdência.

Pôs na planilha o “cálculo político”.

‘Ministério das Cidades vai acabar’, diz presidente do PSL

Reconduzido à presidência do PSL após ser eleito deputado federal em Pernambuco, Luciano Bivar disse hoje que Jair Bolsonaro vai extinguir o Ministério das Cidades, registra o Estadão.

Segundo Bivar, o novo governo vai mudar a forma de interlocução com os prefeitos e governadores e, por isso, a pasta –criada na gestão Lula, em 2003– não terá mais serventia. “Vamos fazer uma linha direta com as cidades e os Estados.”

O deputado eleito também defende que seu partido dispute a presidência da Câmara, algo que o presidente eleito desaconselhou em entrevista ontem.

“É claro que a opinião do Bolsonaro é uma diretriz, mas é um assunto que a gente ainda não discutiu na bancada”, afirmou Bivar.

Bolsa fecha no maior patamar desde março

anúncio dos superministérios de Jair Bolsonaro e a sinalização favorável à aprovação da reforma da Previdência levaram a Bolsa ao maior patamar de fechamento desde março, registra a Folha.

O Ibovespa, principal índice acionário do Brasil, avançou 3,68%, para 86.885 pontos, puxado pela Petrobras e por uma alta expressiva no setor bancário.

O dólar também fechou com uma pequena queda, de 0,37%, e terminou o dia cotado a R$ 3,6920

Fonte: Reuters

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