BC mantém Selic em 6,5% e indica não mexer tão cedo nos juros com impacto da greve sobre a economia

Publicado em 01/08/2018 20:53

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 6,50 por cento ao ano, ressaltando que a retomada da atividade econômica será ainda mais gradual do que a esperada antes da greve dos caminhoneiros, num cenário de menor pressão inflacionária que pavimenta o caminho para os juros continuarem em seu menor nível histórico à frente.

Sobre a paralisação, ocorrida no final de maio, o BC assinalou que os efeitos que elevaram a inflação de junho "devem ser temporários".

E que "as medidas de inflação subjacente ainda seguem em níveis baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária", segundo comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Todos os 40 economistas consultados pela Reuters esperavam manutenção dos juros básicos. Esta foi a terceira decisão igual do Copom, após ter cortado a Selic em 7,75 pontos percentuais desde que iniciou o ciclo de afrouxamento, em outubro de 2016.

"Nossa leitura é que continua com 6,5 por cento até o fim do ano e acho que ainda vira o ano. Não porque vai ter reformas, mas porque economia está de quatro", avaliou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima.

O BC voltou a dizer que seus próximos passos vão continuar dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Nesse sentido, afirmou que apesar de o Copom considerar que os efeitos dos choques recentes sobre a inflação estão se revelando temporários, "é importante acompanhar ao longo do tempo o cenário básico e seus riscos e avaliar o possível impacto mais perene de choques sobre a inflação".

Nos 12 meses até julho, o IPCA-15, prévia da inflação oficial, acumulou alta de 4,53 por cento, voltando a ficar acima do centro da meta, de 4,5 por cento pelo IPCA com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, pela primeira vez desde março de 2017.

Mas mesmo após o choque temporário derivado da greve dos caminhoneiros e de tarifas de energia elétrica mais salgadas devido à bandeira vermelha 2 que vem impactando as contas de energia desde junho, o BC seguiu calculando alta do IPCA em 4,2 por cento em 2018 pelo cenário de mercado.

Para 2019, a conta subiu ligeiramente a 3,8 por cento, contra 3,7 por cento antes.

Na pesquisa Focus mais recente, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, a estimativa para a inflação é de alta de 4,11 por cento este ano e 4,10 por cento em 2019, para o qual a meta é de 4,25 por cento, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Diante do quadro, a maioria dos economistas em pesquisa da Reuters espera que o BC só irá subir os juros só em 2019.

A manutenção da Selic também teve como pano de fundo a queda de 3,16 por cento do dólar frente ao real em julho, movimento que barateia as importações e diminui a pressão sobre a inflação.

Nos meses anteriores, o dólar vinha se valorizando de maneira expressiva, embalado por movimento global de aversão a risco por conta das perspectivas de normalização monetária nos Estados Unidos e que foi mais intenso no Brasil pelas preocupações domésticas com o desfecho das eleições presidenciais.

No comunicado, o BC avaliou que o cenário externo apresentou "certa acomodação no período recente, mas segue desafiador".

"Os principais riscos estão associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas e a incertezas referentes ao comércio global. O apetite ao risco em relação a economias emergentes manteve-se relativamente estável, em nível aquém do observado no início do ano", disse.

Brasil registra superávit comercial de US$4,227 bi em julho, abaixo do esperado

BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil registrou superávit comercial de 4,227 bilhões de dólares em julho, divulgou o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) nesta quarta-feira, recuo de 32,7 por cento sobre igual mês do ano passado, afetado pelo aumento significativo nas importações.

O resultado também veio abaixo do superávit de 5,714 bilhões de dólares esperado por analistas em pesquisa da Reuters.

Em julho, as importações subiram 42,7 por cento sobre julho do ano passado, pela média diária, a 18,643 bilhões de dólares.

As exportações também avançaram, mas em ritmo muito mais lento. A alta foi de 16,4 por cento na mesma base de comparação, a 22,870 bilhões de dólares.

Nos primeiros sete meses de 2018, o saldo positivo das trocas comerciais soma 34,160 bilhões de dólares, recuo de 19,6 por cento sobre igual intervalo do ano passado.

"Como esperávamos e prevíamos no começo do ano, o saldo de 2018 deve ser menor em relação ao resultado de 2017 por conta da atividade econômica e de uma demanda maior por importação", afirmou o diretor de Estatísticas e Apoio às Exportações do MDIC, Herlon Brandão.

No ano, o ministério ainda prevê que superávit da balança comercial brasileira ficará no patamar de 50 bilhões de dólares, ante 67 bilhões de dólares de 2017.

DESTAQUES

Em julho, as importações foram puxadas por um avanço expressivo dos bens de capital, que cresceram 239,8 por cento em relação ao mesmo mês do ano passado.

O MDIC informou que o movimento ocorreu principalmente pela compra de duas plataformas de petróleo no valor de 3,3 bilhões de dólares no mês.

As importações de bens intermediários também cresceram 22,3 por cento em julho, ao passo que o avanço em bens de consumo foi de 20,1 por cento e de combustíveis e lubrificantes, de 0,5 por cento.

Já no caso das exportações, a expansão em julho foi impulsionada pela alta de 48,3 por cento de produtos básicos, com destaque para as vendas de soja em grão (+53,4 por cento, a 4,1 bilhões de dólares) e de petróleo em bruto (+112,1 por cento, a 3,5 bilhões de dólares).

Por outro lado, houve queda nas vendas de produtos semimanufaturados (-11,8 por cento) e manufaturados (-6,2 por cento).

Venda de veículos novos no Brasil sobe 18% em julho sobre um ano antes

SÃO PAULO (Reuters) - Os licenciamentos de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos no Brasil em julho somaram 217,5 mil unidades, um crescimento de 17,7 por cento sobre igual período do ano passado e alta de 7,7 por cento na comparação mensal, informou a associação de concessionárias, Fenabrave, nesta quarta-feira.

Com o movimento, as vendas de janeiro a julho acumularam alta de cerca de 15 por cento na comparação anual, para 1,384 milhão de veículos, segundo os dados da entidade.

"A base de junho é baixa, por conta dos reflexos negativos da greve dos caminhoneiros, e ainda tivemos um dia útil a mais de vendas. Esses aspectos, somados à queda na inadimplência e ao aumento da oferta de crédito, estão impulsionando o nosso setor", afirmou o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, em comunicado à imprensa.

"Contudo, as incertezas no âmbito político nacional e o forte índice de desemprego ainda deixam o setor em alerta”, acrescentou Assumpção Júnior. No mês passado, a Fenabrave reduziu sua projeção de venda de carros e comerciais leves neste ano, de alta de 13 por cento para 9,7 por cento.

A média diária de vendas de automóveis e comerciais leves nos 22 dias úteis de julho foi de 9.480 unidades, 2,6 por cento acima das 9.288 unidades de junho, que teve 21 dias úteis, afirmou a Fenabrave.

Segundo a entidade, a venda de caminhões novos em julho cresceu cerca de 16 por cento ante junho e 47 por cento na comparação anual, para 6.666 unidades. No acumulado, o segmento tem crescimento de 50 por cento sobre um ano antes, para 39 mil unidades.

As vendas de ônibus quase dobraram em julho ante junho, a 2.289 unidades, avançando 56 por cento no comparativo anual.

 

Fonte: Reuters

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