O início da guerra comercial e as consequencias para o Brasil (análises da FOLHA e ESTADÃO)

Publicado em 16/06/2018 08:01 e atualizado em 16/06/2018 08:31
O estopim da Guerra Comercial foi lançado por Trump. O mercado em Chicago vê a soja norte-americana sendo um dos alvos chineses desta retaliação. E a soja brasileira?

O estopim da Guerra Comercial foi lançado por Trump. O mercado em Chicago vê a soja norte-americana sendo um dos alvos chineses desta retaliação.

(Abaixo as análises da FOLHA  e do ESTADÃO sobre as consequencias da guerra comercail para o Brasil)

Tarifa pode gerar um prêmio sobre o preço da soja brasileira, diz Abiove (na FOLHA)

Entre as retaliações anunciadas pela China está a tarifa de 25% sobre a soja americana. Os EUA exportam US$ 14 bilhões em soja por ano para os chineses. Para André Nassar, presidente-executivo da Abiove, que reúne empresas do setor, ninguém conseguiria preencher a lacuna da soja americana na China. Mas a tarifa pode gerar um prêmio sobre o preço da soja brasileira.

Os EUA exportaram 33 milhões de toneladas de soja em grão em 2017 para a China. Segundo Nassar, o Brasil conseguiria, no máximo, aumentar a produção em 5 milhões de toneladas em um ano. E mesmo assim, só no ano que vem, porque a maioria da soja brasileira de 2018 já foi escoada. Mais de 70% da soja brasileira é escoada até junho, enquanto os EUA vendem a partir de setembro.

Além disso, segundo Nassar, existe um desincentivo para aumentar a área plantada, por causa da alta no custo do frete

Brasil exportou US$ 29 bilhões em soja para a China no ano passado, segundo a Abiove —o país fornece 46% da soja em grão comprada pela China, e os EUA, cerca de 41%. A Argentina responde por 10%.

"Vai ocorrer um ajuste: preços internos da soja nos EUA vão ter que cair, preços vão subir um pouco na China e haverá um prêmio para a soja brasileira", diz Nassar.

Mas com a perda de boa parte do mercado chinês, os EUA vão ocupar parte dos mercados da soja brasileira, como a UE. Mesmo assim, trata-se de uma demanda muito menor? A China compra 53,8 milhões de toneladas de soja brasileira, e a UE, 5,2 milhões.

Marcos Jank prevê Brasl prejudicado (no ESTADÃO)

O Brasil não tem a ganhar com a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e corre o risco de pagar parte da conta caso as duas maiores economias do mundo cheguem a um acordo para ampliar as exportações americanas para o país asiático, avaliou Marcos Jank, presidente da Aliança Agro Ásia-Brasil, entidade criada no ano passado para promover a imagem do agronegócio brasileiro na Ásia.

Jank acredita que Washington e Pequim estão medindo forças com o anúncio de tarifas e de retaliações. Em sua opinião, os dois lados acabarão chegando a um entendimento, que envolverá o aumento das compras chinesas de produtos agroindustriais dos EUA, em detrimento de competidores diretos, como o Brasil.

O movimento nessa direção já começou a ocorrer, ressaltou, com a imposição de medidas antidumping pela China contra a importação de frango brasileiro, na semana passada. O produto nacional havia conquistado espaço no país asiático depois da suspensão de embarques de frango dos EUA, em 2010, e da adoção de medidas antidumping em 2015, lembrou Jank. Segundo ele, ao impor a barreira ao Brasil, a China abre espaço para ampliar as compras de frango dos EUA. “A estratégia de Trump é apertar para forçar uma negociação. O meu temor é o que pode sair dessa negociação”, disse Jank em entrevista da Austrália por telefone.

O executivo lembrou que o Brasil é o principal concorrente dos EUA em vários segmentos do agronegócio, entre os quais mencionou soja, carne bovina, frango e suco de laranja. “Se houver um grande acerto, isso terá impacto em vários setores, mas para o agronegócio brasileiro ele pode ser muito ruim”, observou Jank, que vive em Cingapura. “O Brasil é o terceiro maior exportador agrícola do mundo e é um forte concorrente dos Estados Unidos.”

A tentativa de aplacar Trump com possíveis concessões no setor vai além da China, disse Jank. Em abril, o Japão flexibilizou exigências de emissões de combustível à base de etanol, o que beneficiou os produtores americanos em detrimento dos brasileiros.

O cenário de uma prolongada guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo também será ruim para o Brasil, já que reduziria o ritmo global de crescimento da economia e do comércio, avaliou. “Quando os elefantes brigam, quem apanha é a grama. Nós somos a grama nessa história.”

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Fonte: FOLHA/ESTADÃO

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