Dólar termina segunda-feira abaixo de R$ 3,743 com maior apetite por risco no exterior

Publicado em 04/06/2018 17:04

Por Claudia Violante

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar encerrou a segunda-feira em queda e abaixo dos 3,75 reais, acompanhando a trajetória da moeda norte-americana ante outras divisas no exterior em dia de maior busca pelo risco.

O dólar recuou 0,62 por cento, a 3,7434 reais na venda, após ter marcado a mínima de 3,7266 reais. O dólar futuro tinha queda de cerca de 0,60 por cento.

"Os recentes dados econômicos positivos ao redor do mundo, que mostram um crescimento global ainda saudável e relativamente robusto, parecem estar dando suporte ao humor global ao risco", escreveu o chefe de multimercados da gestora Icatu Vanguarda, Dan Kawa, em relatório.

Na sexta-feira, os dados mais fortes do mercado de trabalho norte-americano deram força ao dólar ante outras divisas, uma vez que alimentam, na visão de economistas, uma atuação mais forte do banco central dos Estados Unidos neste ano.

Nesta segunda-feira, esses números ofuscavam as preocupações de que a guerra comercial entre EUA e o resto do mundo poderia retardar o crescimento da economia global. Além disso, o fortalecimento do euro com a redução das preocupações com a Itália também favoreceu a busca pelo risco.

O dólar caía ante a cesta de moedas e também ante moedas emergentes, como o rand sul-africano e a lira turca.

O euro subia ante o dólar com sinais de menos incertezas na Itália, após notícias de um acordo sobre um governo de coalizão, evitando eleições potencialmente desestabilizadoras.

Internamente, os investidores seguiram monitorando os desdobramentos da saída de Pedro Parente do cargo de presidente-executivo da Petrobras e sua substituição por Ivan Monteiro, e também da greve dos caminhoneiros e como será a condução da política de preços da petroleira a partir de agora.

O Banco Central fez nesta sessão leilão de novos swaps cambiais tradicionais --equivalentes à venda futura de dólares-- e vendeu a oferta integral de até 15 mil contratos, totalizando 1,5 bilhão de dólares neste mês.

A autoridade também vendeu integralmente as ofertas de até 8.800 contratos de swap cambial tradicional, tanto na sexta-feira quanto nesta sessão, rolando 880 milhões de dólares do total de 8,762 bilhões de dólares que vence em julho. Se mantiver esse volume até o final do mês, rolará integralmente o total de 8,762 bilhões de dólares que vence em julho.

Ações da CSN saltaram quase 15%, compensando perdas durante paralisação de caminhoneiros (na FOLHA)

A Bolsa brasileira subiu, e o dólar caiu ante o real nesta segunda-feira (4), em movimento alinhado com a menor aversão ao risco no exterior e impulsionado pelas ações Petrobras, que recuperaram parte das perdas do último pregão.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas por aqui, subiu 1,76%, para 78.596,06 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,6 bilhões, influenciado pela compra da Eletropaulo pela italiana Enel por R$ 5,5 bilhões —foram negociadas 122,7 milhões ações a R$ 45,22 cada.

O dólar comercial caiu 0,63% ante o real, para R$ 3,744. O dólar à vista perdeu 0,42%, cotado a R$ 3,7429.

Apesar de ter segurado uma alta de 0,63% na sexta-feira (1º), dia de mercados abalados com a renúncia de Pedro Parente da presidência da Petrobras, o índice acumulou queda de 5,4% desde 21 de maio, quando teve início a paralisação dos caminhoneiros.

A Petrobras, que perdeu quase 15% só na sexta e 31,6% desde o começo da paralisação, recuperou parte das perdas neste pregão. Os papéis preferenciais avançaram 8,48%, para R$ 17,53, e os ordinários, 5,83%, cotados a R$ 19,98. As ADRs (recibos de ações negociadas nos Estados Unidos) avançaram 5,63% nesta sessão, a US$ 10,70.

Investidores receberam bem a indicação de Ivan Monteiro para a presidência da petroleira, mas não se dissipou a possibilidade de haver mudanças na política de preços da empresa —hoje, eles podem ser definidos até diariamente, em paridade com o mercado internacional.

"O mercado gostou do nome do Ivan Monteiro, mas ainda está meio difícil falar sobre a política de preços. Embora o governo e a Petrobras digam que não vão mexer nisso, pode vir ao menos uma mudança na periodicidade dos ajustes", avalia Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.

A Petrobras já sinalizou ao governo que aceita debater a revisão da política de reajuste diário do preço da gasolina, desde que a cotação internacional do combustível continue a servir de referência para o preço no mercado interno.

A Guide Investimentos vê continuidade entre a gestão de Parente e Monteiro, mas recomendou cautela para os papéis da estatal. "​A possibilidade de interferência política na gestão da empresa, e novas alterações na fórmula da nova política de preços, é algo que tende a pressionar os papéis no curto prazo", disse a corretora em relatório.

Analistas destacam também notícia do jornal Valor Econômico desta segunda, segundo o qual a ANP (Agência Nacional do Petróleo) teria enviado em abril ao TCU (Tribunal de Contas da União) dados de um laudo que projeta a existência de até 17,2 bilhões de barris de óleo recuperáveis nas reservas excedentes da cessão onerosa do pré-sal, volume quase 15% superior ao divulgado em novembro.

As reservas excedentes serão objeto de leilão no qual o governo espera arrecadar até R$ 100 bilhões. Antes, porém, precisa chegar a um acordo com a Petrobras para a revisão do contrato da cessão onerosa, de 2010. Por ele, a estatal passou a ter direito de explorar regiões do pré-sal mesmo sem a realização de uma licitação. Em troca, a empresa pagou R$ 74,8 bilhões ao Tesouro Nacional.

"O tema da cessão onerosa deve ganhar mais relevância nos próximos dias. A expectativa fica por conta da aprovação, na Câmara, do projeto de lei que autoriza a Petrobras a realizar novas parcerias para a exploração dos barris da cessão onerosa. [...] Caso haja uma decisão favorável para a Petrobras, até o final deste ano, seria extremamente positivo para a estatal, fornecendo assim fôlego financeiro para a companhia", diz o relatório da Guide.

"A cessão onerosa está bem além no prazo e o mercado está esperando por isso. É um dinheiro importante, principalmente para a questão fiscal", afirma Chinchila.

A BRF subiu 4,28%, ainda em meio a expectativas de que Pedro Parente possa assumir a presidência da gigante de alimentos.

AÇÕES

Das 67 ações do Ibovespa, 48 subiram, 17 caíram e duas permaneceram estáveis.

Chinchila destaca que ações que perderam muito nos últimos dias, como de bancos e siderúrgicas, também estão se recuperando e impulsionaram o Ibovespa. "Está acontecendo uma realocação de investimentos em ações de alguns setores que caíram muito."

A CSN subiu 14,93%, tendo como pano de fundo relatório do Credit Suisse elevando a recomendação das ações da empresa. A Usiminas  avançou 6,67%, e a Gerdau ganhou 2,65%. A exceção foi a Vale, que caiu 0,45%.

"Houve um exagero em relação à venda de papéis das siderúrgicas em meio à paralisação de caminhoneiros, por isso eles estão subindo agora. O ponto negativo hoje é a Vale, que cai com o recuo do minério de ferro na China", diz Chinchila.

No setor financeiro, os papéis do Itaú Unibanco subiram 2,17%. As ações preferenciais do Bradesco ganharam 0,97%, e as ordinárias se valorizaram 1,11%. O Banco do Brasil teve alta de 1,44%, e as units —conjunto de ações— do Santander Brasil avançaram 2,08%.

A Eletrobras fechou em alta de 8,87% (preferencial) e 7,33% (ordinária). Na noite de sexta (1º), o governo enviou ao Congresso projeto para destravar a venda das seis distribuidoras da elétrica no Norte e Nordeste.

Na outra ponta, a queda foi liderada pela TIM (-2,37%), que subia mais de 2% há três pregões.

EXTERIOR

Os mercados acionários dos Estados Unidos e da Europa também avançaram nesta segunda.

"O menor risco político na Itália, que consolidou um novo governo após semanas de negociações, e a agenda mais esvaziada do 'lado' macro dão fôlego para os ativos de risco no exterior", avalia a Guide.

O Dow Jones, principal indicador de Nova York, subiu 0,72%, enquanto o S&P 500 avançou 0,45%. O índice de tecnologia Nasdaq ganhou 0,69%.

Os papéis do Facebook caíram 0,78%, após notícia do jornal The New York Times de que a rede social cedia dados de usuários a fabricantes de eletrônicos. A Microsoft subiu 0,45%, após anunciar a compra do GitHub, um site no qual desenvolvedores de software compartilham códigos.

As ações do Walmart subiram 2,5%. A varejista anunciou nesta segunda a venda de 80% da sua operação no Brasil para a empresa de private equity Advent Internacional.

A Bolsa de Londres teve alta de 0,51%, a de Paris subiu 0,14% e o DAX, da Alemanha, avançou 0,37%.

CÂMBIO

O dólar só ganhou de 8 das 31 principais divisas do mundo, sinalizando que os investidores estão menos avessos ao risco.

Na sexta, os dados robustos do mercado de trabalho americano deram força ao dólar ante outras moedas. Os números alimentam a perspectiva de uma atuação mais forte do banco central dos Estados Unidos na elevação dos juros neste ano, o que atrai um fluxo global de dinheiro para o país.

O Banco Central brasileiro fez, novamente, nesta sessão leilão de novos swaps cambiais tradicionais —equivalentes à venda futura de dólares— e vendeu a oferta integral de até 15 mil contratos, totalizando US$ 1,5 bilhão neste mês.

Em relatório publicado nesta segunda sobre a desvalorização cambial na América Latina nos últimos meses, a agência de classificação de risco Moody's destacou que apesar de o Brasil ter registrado pressões cambiais, sua principal vulnerabilidade de crédito é proveniente do ambiente doméstico e está relacionada às dinâmicas fiscais.

Fonte: Reuters/Folha

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