Crise com caminhoneiros expõe fragilidade de Temer e agrava dificuldade de candidatura governista

Publicado em 29/05/2018 05:46
Análise da Reuters

SÃO PAULO (Reuters) - A crise provocada pela paralisação dos caminhoneiros, que chegou ao oitavo dia nesta segunda-feira, expôs a fragilidade e a desarticulação do governo do presidente Michel Temer e complicou ainda mais a já difícil situação de uma eventual candidatura governista na eleição presidencial de outubro, respingando também nas chamadas candidaturas de centro.

A resposta do governo à paralisação da categoria, que provocou desabastecimento em todo o país, foi alvo de críticas em reservado até mesmo de parlamentares de partidos que já foram da base aliada de Temer e gerou o que analistas ouvidos pela Reuters chamaram de tentativas de capitalizar eleitoralmente com o episódio.

"Um processo que expôs a desarticulação da base governista em continuidade ao fenômeno que a gente já observava, um governo com baixo poder de agenda e refém de temas negativos", disse à Reuters o analista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez.

Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, a resposta do governo à crise "foi um desastre", pois o Palácio do Planalto fracassou ao não se antecipar aos problemas e, quando a crise estourou, ter entrado em pânico.

"Ele não protegeu o acionista da Petrobras, ele não protegeu o cidadão comum, ele não protegeu o caminhoneiro também, que continua insatisfeito", disse Melo, que vê no atual episódio um precedente preocupante.

"O governo se mostrou fraco e ruim de negociação e eu acho que ele abriu um flanco muito perigoso para todas as outras corporações. Não à toa os petroleiros estão falando em greve e você pode esperar outras corporações também falando em greve."

O desempenho do governo também foi alvo de críticas duras de parlamentares que já foram alinhados ao Palácio do Planalto na gestão Temer.

Para o líder de um partido da base, que falou na condição de anonimato, trata-se de um "desgoverno".

"O governo já estava assim (fraco). Nessa questão, entregou tudo sem garantia de que os caras vão responder", disse esse líder. "O Congresso vai ter que fazer o que já vem fazendo, vamos tocar nossa vida, cuidar das pautas que temos. Não há necessidade de negociação com esse governo."

Um outro líder parlamentar adotou posição similar e fez ainda avaliação de que a fragilidade do Planalto permitiu que grupos tirassem vantagem dessa vulnerabilidade.

Apesar de parlamentares criticarem a postura de Temer --que no auge da greve em evento com entrega de veículos para o Conselho Tutelar no Rio chegou a dizer que aquilo era a coisa mais importante que faria no dia--, analistas também viram falhas no papel desempenhado pelo Legislativo neste processo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), patrocinou, contra a vontade do Planalto, a inclusão no texto da reoneração da folha de pagamento da isenção do PIS/Cofins para o diesel, cometendo um erro de cálculo no impacto que a medida teria nas contas públicas.

Já o presidente do Senado, na quinta-feira, conforme os episódios de desabastecimento se acumulavam, deixou Brasília em direção a seu Estado natal, o Ceará. No entanto, diante da exposição sofrida pela ausência, acabou retornando à capital.

Melo, do Insper, classificou como "um horror" a atitude de Eunício, enquanto Cortez, da Tendências, avaliou que a atitude de Maia pode ter sido motivada por "um certo oportunismo de tentar transformar essa crise em algum ganho eleitoral". Maia é pré-candidato à Presidência pelo DEM.

IMPROBALIDADE GOVERNISTA

O cenário de fragilidade do governo, que agrava a impopularidade de Temer e de sua administração --batuques de panelas puderam ser ouvidas durante o pronunciamento do presidente no domingo-- tem ainda o efeito de tornar ainda mais improvável a empreitada de uma candidatura governista ao Planalto, atualmente encampada pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB).

"A greve dos caminhoneiros derrubou o único pilar que o governo tinha para defender um projeto eleitoral em 2018, que seria a reconstrução da política econômica... Dificilmente essa ideia de continuidade vai prevalecer no comportamento eleitoral, o que significa que o eleitor vai olhar para alguém distante do governo", disse Cortez.

"Me parece que tal cenário sinaliza a improbabilidade de um projeto presidencial do MDB e, mais do que isso, há o risco de 'sarneyzação' crescente do processo de 2018, quando candidatos e nomes ligados ao status quo tiveram muita dificuldade em convencer o eleitorado", acrescentou, referindo-se à sucessão de José Sarney em 1989.

Nesse cenário, candidatos não identificados com o governo podem se beneficiar. Incluem-se neste grupo o pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e nomes mais à esquerda, como Ciro Gomes (PDT).

"Esse clima, essa radicalização, não chama por moderação. Ela atende aos extremos... Isso joga água no moinho do Bolsonaro. Agora, também a esquerda, por conta da radicalização, do mau momento, também é favorecida", disse Melo.

"Eu sei é que o centro moderado e sobretudo o centro identificado com o governo é o que mais perde. O desastre foi no centro."

Alckmin fica numericamente atrás de Bolsonaro em SP, mas em empate técnico, diz Ibope

SÃO PAULO (Reuters) - O pré-candidato do PSDB à Presidência e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, aparece numericamente atrás do pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, no Estado, mas em empate técnico, apontou pesquisa Ibope encomendada pela TV Bandeirantes e divulgada nesta segunda-feira.

De acordo com a pesquisa, no cenário em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece como candidato, Bolsonaro fica numericamente atrás do petista, mas também em empate técnico.

Em todos os três cenários para a Presidência pesquisados, a soma dos que se declararam indecisos e dos que disseram ter intenção de votar branco ou nulo supera o percentual do líder.

No cenário com Lula, o petista lidera com 23 por cento das intenções de voto, seguido por Bolsonaro com 19 por cento, e Alckmin com 13 por cento. Em seguida vêm Marina Silva (Rede) com 9 por cento, Ciro Gomes (PDT) com 3 por cento, e Alvaro Dias (Podemos) com 2 por cento. Neste cenário, quatro candidatos chegam a 1 por cento cada. Outros sete candidatos não chegam a 1 por cento. A soma de brancos, nulos e indecisos é de 26 por cento.

Quando Lula é substituído pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como candidato do PT, Bolsonaro lidera com 19 por cento, seguido por Alckmin com 15 por cento, Marina com 11 por cento, Ciro com 7 por cento, Dias e Haddad com 3 por cento cada, e Henrique Meirelles (MDB) com 2 por cento. Neste caso, nove candidatos chegam a 1 por cento e um não atinge este patamar. Brancos, nulos e indecisos somam 31 por cento.

No cenário em que o ex-governador da Bahia Jaques Wagner aparece como candidato petista, Bolsonaro aparece à frente com 20 por cento, seguido de Alckmin com 15 por cento, Marina com 12 por cento, Ciro com 7 por cento, Dias com 3 por cento e Meirelles com 2 por cento. Nove candidatos chegam a 1 por cento e dois deles, entre eles Wagner, não atingem este patamar. Brancos e nulos somam 31 por cento.

O Ibope ouviu 1.008 pessoas no Estado de São Paulo entre os dias 24 e 27 de maio. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais.

Ibope: Bolsonaro na frente em São Paulo

Na pesquisa eleitoral feita pelo Ibope em São Paulo, para a Band, Jair Bolsonaro lidera entre os candidatos em liberdade, sem condenação em segunda instância, dentro do preconizado pela Lei da Ficha Limpa.

Eis os resultados:

Jair Bolsonaro: 19%;

Geraldo Alckmin: 13%;

Marina Silva: 9%;

Ciro Gomes: 3%.

Ibope: Suplicy e Datena lideram em São Paulo para o Senado

Na pesquisa eleitoral feita pelo Ibope em São Paulo, para a Band, Eduardo Suplicy lidera a corrida para o Senado.

Eis os resultados:

Eduardo Suplicy: 30%;

José Luiz Datena: 24%;

Marta Suplicy: 18%.

Lembrando que, neste ano, serão eleitos dois senadores por estado.

Ibope: Doria lidera para o governo de São Paulo

Na pesquisa eleitoral feita pelo Ibope em São Paulo, para a Band, João Doria lidera nas intenções de voto para o governo do estado.

Eis os resultados:

João Doria: 22%;

Paulo Skaf: 15%;

Luiz Marinho: 4%;

Márcio França: 3%.

Doria bateria quase todos os adversários no segundo turno, de acordo com a pesquisa. Está em empate técnico com Paulo Skaf. O tucano tem 31% e o emedebista, 30%.

Bolsonaro diz que caminhoneiros esticaram a corda

Jair Bolsonaro teme que o caos gerado pelos caminhoneiros acabe favorecendo a esquerda, que só quer tirar Lula da cadeia.

Leia o que ele disse para a Folha de S. Paulo:

“Ninguém quer o caos. Quem quer o caos é a esquerda, acusar os latifundiários, os empresários, os americanos. Querem pretexto. No que depender de mim, ninguém vai dar pretexto de fazer uma falta. Não tem uma bandeira vermelha [entre os manifestantes], estão de parabéns. Se querem ir para a frente de quartel, tudo bem. Quem garante a liberdade e a democracia são os militares.

Ele venceria Márcio França por 35% a 22% e Luiz Marinho por 37% a 21%.

Fonte: Reuters

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