Todos os lados têm suas razões na crise dos caminhoneiros (por FERNANDO DANTAS, no ESTADÃO)

Publicado em 26/05/2018 09:13
A queda de braço tripla entre caminhoneiros, Petrobrás e Tesouro ainda pode ter novos desdobramentos, no clima de caos que tomou conta do País e de pessimismo que contagiou os mercados

Pedro Parente provavelmente está vivendo um dos momentos mais difíceis da sua vida profissional, que inclui desafios complicados, como gerir o apagão de 2001. Para um executivo cioso da reputação de ter reconstruído a Petrobrás depois dos vendavais que atingiram a estatal, deve ter sido doloroso que muitas pessoas tenham pensado que ele foi confrontado pelo governo Michel Temer e cedeu, quando do anúncio da redução do preço do diesel na terça-feira.

Por outro lado, para quem já foi parte de equipes econômicas às voltas com ajustes fiscais, também não é confortável que haja a sensação de que está “empurrando” a conta do diesel mais barato para o Tesouro – além de que a situação o colocou na mira do ataque de diversos políticos. Adicionalmente, a queda de braço tripla entre caminhoneiros, Petrobrás e Tesouro ainda pode ter novos desdobramentos, no clima de caos que tomou conta do País e de pessimismo que contagiou os mercados.

Uma interpretação benigna do gesto inicial de Parente de reduzir o preço do diesel é que o homem público nele falou mais alto que – ou no mínimo tão alto como – o gestor privado. Nessa visão, se a sua intenção fosse apenas de manter a reputação de administrador que maximiza lucros, pedir o chapéu e sair da Petrobrás como vítima do populismo na política de preços de combustíveis teria sido o caminho mais vantajoso do ponto de vista pessoal. Do ponto de vista do País, porém, essa “solução” poderia levar a uma situação ainda mais caótica.

Sejam quais tenham sido as motivações de Parente, o fato é que a crise armada pela greve dos caminhoneiros não tem nada de simples, e não é o tipo de acontecimento em que um lado 100% virtuoso esteja lidando com outro lado 100% sem razão.

De fato, e isso é admitido na Petrobrás, a atual política de preços dos combustíveis torna a vida dos caminhoneiros, já afetados por rotinas pesadas de trabalho, péssimas estradas e risco de violência, muito mais difícil – quando não inviável economicamente. Os contratos de transporte de mercadorias têm duração bem maior que a frequência com que os preços vêm mudando.

É um pouco surpreendente que o governo e a Petrobrás não tenham se debruçado sobre esse problema antes, ainda mais quando na ponta contrária está uma categoria com grande poder de barganha pelo seu papel na logística nacional – e isso não é uma característica apenas do Brasil, embora aqui seja um traço especialmente forte, devido à hipertrofia do modal rodoviário.

Soluções criativas, e que não fossem hostis aos investidores na Petrobrás, poderiam ter sido pensadas. Esta semana, por exemplo, antes da decisão de baixar o preço do diesel, discutiu-se no conselho da Petrobrás a hipótese de os caminhoneiros terem uma espécie de “crédito” para comprar grandes quantidades de diesel quando o preço estivesse mais baixo, pagando à medida que fossem efetivamente utilizando o combustível. A ideia não é uma panaceia e tem complicadores relevantes, mas indica que era possível uma discussão mais serena da questão antes que entrasse em ebulição.

Por outro lado, a importância de que a Petrobrás tenha uma política de preços alinhada à melhor prática internacional do ponto de vista de uma empresa com fins lucrativos é indubitável. A estatal é muito importante para a economia brasileira, e os abalos que sofreu por conta da corrupção e da má gestão são um capítulo relevante dos estragos trazidos pela “nova matriz econômica”. Voltar aos tempos de interferência do Executivo na política de preços da Petrobrás prejudica o interesse difuso do conjunto da sociedade nacional.

Adicionalmente, apesar da justiça de alguns dos seus pleitos, os caminhoneiros estão longe de ser a categoria mais penalizada num país subdesenvolvido e desigual que acaba de passar por uma das maiores recessões da sua história. O único motivo pelo qual estão furando a fila é o seu enorme poder de barganha como peça fundamental da logística do País. Que usem esse poder dentro da lei para exercer pressão é parte do jogo capitalista democrático. Mas bloquear estradas não está nas regras oficiais do jogo de país nenhum do mundo. Este é o ponto em que o pleito legítimo transforma-se em chantagem econômica – e é algo com que o Brasil pós-redemocratização vem lidando mal, com dificuldade em traçar a linha entre liberdade e licenciosidade.

Popularidade negativa (em O Antagonista)

Nos últimos dias, pelo menos três governadores ligaram para Michel Temer manifestando preocupação com a paralisação dos caminhoneiros, diz o Painel da Folha.Eles temiam que a crise de desabastecimento derrubasse “a popularidade não só do governo federal, mas dos políticos de maneira geral.”

Os aviões dos ministros

Mesmo com a paralisação dos caminhoneiros e a crise de combustível, os ministros conseguem usar os aviões da FAB, publica a Coluna do Estadão.

“É que as bases aéreas têm um duto próprio para abastecimento de suas aeronaves.”

Bolsonaro lidera em MG

Jair Bolsonaro lidera na preferência dos eleitores mineiros para o cargo de presidente, segundo a pesquisa do Instituto Paraná:

Jair Bolsonaro: 25,6%

Marina Silva: 18,1%

Ciro Gomes: 10,7%

Geraldo Alckmin: 7,5%

A pesquisa abrange os eleitores do Estado de Minas Gerais. 1.850 eleitores foram entrevistados entre os dias 18 a 23 de maio de 2018.

Apoio popular e governo fragilizado: por que a greve dos caminhoneiros deu certo? (na Gazeta do Povo)

Paralisação das atividades por redução de impostos e preço dos combustíveis recebeu apoio da população, empresários e pressionou presidência da República, Congresso e Petrobras

A hashtag #EuApoioAGreveDosCaminhoneiros ficou em primeiro lugar dostrending topics do Twitter Brasil durante praticamente toda a última quinta-feira (24). Foi nesse dia, quando a greve dos motoristas de carga completou quatro dias, que a população brasileira começou a sentir mais fortemente os efeitos da paralisação.

Havia filas em postos de gasolina, falta de alimentos em supermercados, frotas de ônibus reduzidas pela metade em diversas cidades e aeroportos restringindo voos por falta de combustível para aeronaves. Ainda assim, o movimento dos caminhoneiros recebia apoio daqueles que eram mais impactados pelo caos instaurado no país pelo desbastecimento. Como explicar isso? Simples: a reivindicação dos caminhoneiros é justa.

Leia também: Após o “vai correr sangue”, líder grevista pede que caminhoneiros desocupem rodovias

A atual política de preços da Petrobras, que provoca reajustes quase que diários nos preços dos combustíveis acompanhando a cotação internacional do barril de petróleo, desagrada a todos os brasileiros – e não é de hoje. Ou seja, a população se viu representada por uma categoria de trabalho que exerce o direito legítimo de se manifestar. E com um detalhe: com alto poder de exercer grande pressão sobre o governo.

Simpatia popular

Ao anunciar na sexta-feira passada (18) que a greve dos caminhoneiros se daria de forma pacífica e sem interromper o fluxo em rodovias – mesmo que não pudesse garantir isso –, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) amenizava eventuais resistências da população. Obviamente, o movimento se radicalizou, mas a semente lançada na largada da paralisação germinou, garantindo a simpatia da maior parte dos brasileiros.

Monitoramento realizado pela empresa Torabit nas redes sociais durante toda a quinta e até o meio-dia desta sexta-feira (25), 52,2% das menções sobre a greve dos caminhoneiros são positivas em relação ao movimento. Outros 37,8% são neutros e apenas 10% dos comentários são negativos. A pesquisa reúne as reações explicitadas no Twitter, Instagram, Facebook e em seções de comentários de blogs e sites.

Quando se analisa o conteúdo das mensagens na internet, 53,4% demonstram apoio explícito ao movimento, enquanto 27,2% são piadas, 8,4% são comentários sobre notícias, 6,5% recontam casos do cotidiano e 4,5% são totalmente contrários à greve.

Outras categorias, como motoboys, motoristas de aplicativos e donos de vans, interessados também na redução dos preços dos combustíveis, também manifestaram apoio à mobilização dos caminhoneiros. Em São Paulo, motoboys realizaram manifestação na Avenida Paulista na terça-feira (22) e, por 15 minutos, interditaram todas as pistas da Marginal Pinheiros na quinta-feira.

Governo frágil 

Pesou a favor do sucesso da greve dos caminhoneiros a fragilidade do presidente Michel Temer na condução do governo. Em fim de mandato e com baixíssima aprovação junto à população, segundo as mais recentes pesquisas de opinião, Temer subestimou a força do movimento e o potencial de bagunçar o país rapidamente.

Uma semana antes de convocar a greve, a Abcam solicitou uma reunião com a Presidência da República para debater as reivindicações da categoria, sob risco de ocorrer uma paralisação nacional. A entidade foi solenemente ignorada. O governo só acordou, de fato, para o problema quando a crise de desabastecimento passou a ocupar as manchetes dos jornais. Mas era tarde demais.

Fragilizado por investigações que o acusam de receber propina de empresas do setor portuário, Temer não teve outra alternativa a não ser chamar os caminhoneiros para negociar. Rapidamente aceitou zerar a Cide sobre o diesel. Em seguida, acatou boa parte das reivindicações da categoria. Na noite de quinta-feira, o governo divulgou os termos de um acordo para suspender a greve dos caminhoneiros por 15 dias, após sete horas de reunião com entidades que representam o setor.

Mas a principal entidade representativa da paralisação, a Abcam, não concordou com a proposta e a greve continuou nesta sexta-feira (25), frustrando as expectativas por uma solução rápida para os protestos. Pior para o governo, que saiu mais uma vez com a imagem arranhada.

Comunicação pelo WhatsApp

Apesar de não ter abrangência nacional, a Abcam diz representar cerca de 700 mil caminhoneiros autônomos, e conta com o suporte de 600 sindicatos distribuídos pelo país, além de sete federações. O uso do WhatsApp e do rádio-comunicador para informar suas representações espalhadas pelo país sobre o direcionamento das ações do movimento foi crucial para a paralisação se espalhar rapidamente pelo país. “Tenho vários grupos espalhados pelo pais que estão se conversando”, contou José da Fonseca Lopes, presidente da associação e principal liderança do movimento grevista.

A greve contou também com o trabalho de mobilização de Selma Regina Santos, de 48 anos. Caminhoneira e casada com um colega de profissão, ela criou três grupos no WhatsApp: Para Frente Brasil, Siga Bem Caminhoneiro e Rainha dos Caminhoneiros – este em homenagem própria. Uma articulação e coesão fundamentais para o sucesso de uma manifestação de tamanha envergadura.

Ao abandonar a reunião da quinta-feira com integrantes do governo para discutir a pauta de reivindicações e o fim da greve, Fonseca utilizou o aplicativo para comunicar, em vídeo, que não concordava com a proposta apresentada, defendeu a manutenção da paralisação e convocou a categoria a manter o movimento. Foi atendido. O poder de mobilização dele se mostrou maior do que se imaginava.

 

Fonte: O Antagonista / Estadão

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