Petrobras anuncia que vai cortar em 10% o preço do diesel durante 15 dias

Publicado em 23/05/2018 19:37
Petrobras confirma perdas de R$ 350 milhões em receita

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras reduzirá em 10 por cento o valor do diesel nas refinarias a partir de quinta-feira, em uma decisão "excepcional" devido aos protestos dos caminhoneiros, que deve resultar em perda de 350 milhões de reais em receita para a companhia.

Em meio às manifestações, que afetam as exportações e o abastecimento interno do país, a empresa anunciou ainda que a nova cotação média do diesel, de 2,1016 reais por litro (sem tributos), será mantida por 15 dias. O valor representa uma redução de 0,2335 real por litro.

A medida, disse o presidente-executivo da Petrobras, Pedro Parente, visa permitir um diálogo entre governo e representantes dos caminhoneiros diante dos recentes protestos, mas não foi muito bem recebida pelo mercado.

As ADRs da Petrobras, negociadas em Nova York, caíram mais de 6 por cento no pós-mercado.

"Foi uma medida em caráter excepcional e não representa uma mudança na política de preços da Petrobras, e acreditamos que seja possível ao governo e caminhoneiros encontrar essa solução definitiva para o diesel no Brasil", disse Parente a jornalistas, após o anúncio.

Ele ressaltou ainda que não foi pressionado pelo governo a reduzir os preços.

"Foi uma decisão que nós tomamos sem pressão de lado nenhum, porque queríamos gerar essa contribuição para normalizar a situação da vida do país... não estamos aqui atendendo a pressão nem chantagem de ninguém."

Após o período de 15 dias, a companhia promete retomar gradualmente sua política de preços, iniciada em julho do ano passado e que prevê reajustes quase que diários, em linha com mercado internacional e o câmbio.

Parente salientou que a redução nas bombas dos postos pode chegar a 25 centavos por litro, considerando questões tributárias e dependendo do repasse pela cadeia distribuidora e revendedora.

"A independência da Petrobras não foi arranhada", destacou ele, acrescentando que as operações da empresa também têm sido afetadas pelos protestos.

Parente ressaltou que a decisão sobre o diesel "não abre espaço para redução da gasolina".

Desde julho, quando a petroleira iniciou sua política de reajustes diários, a gasolina acumula alta de 46,7 por cento nas refinarias, ao passo que o diesel, 33,4 por cento, já considerando a redução de quinta-feira.

PERDAS

O presidente da Petrobras explicou que a queda de receita com a redução do preço do diesel será de 350 milhões de reais, com um impacto no caixa da empresa de 100 milhões de reais.

Mais cedo, a empresa havia dito que reduziria a partir de quinta-feira o valor do diesel nas refinarias em 1,15 por cento, após uma queda no dólar na véspera.

Representantes do movimento dos caminhoneiros não responderam de imediato sobre se continuarão os protestos após o anúncio da Petrobras.

Mais cedo, haviam dito que continuariam com os bloqueios em rodovias que atingiram a maior parte dos Estados brasileiros.

COMBUSTÍVEL EM CONGONHAS ACABA HOJE, DIZ INFRAERO

Além do aeroporto de Brasília, Congonhas também pode ficar sem combustível em razão da greve dos caminhoneiros, informa a Infraero.

Relatório da estatal indica que o aeroporto paulistano e os aeroportos de Palmas, Recife, Maceió e Aracaju só têm combustível suficiente para abastecer suas aeronaves até hoje, quarta-feira (23).

Outros sete aeroportos geridos pela Infraero –Santos Dumont (Rio), Goiânia, Teresina, Campo Grande, Ilhéus, Foz do Iguaçu e Londrina– têm combustível para um ou, no máximo, dois dias.

Infraero agora nega falta de combustível amanhã

Depois da divulgação de relatório mostrando que o combustível para Congonhas acabaria hoje, a Infraero veio a público dizer que não há risco de a greve dos caminhoneiros afetar as operações amanhã nos aeroportos geridos pela estatal.

A empresa, porém, recomendou que os passageiros consultem as companhias aéreas para saber a situação de seus voos antes de embarcar.

Entre os aeroportos administrados pela Infraero, além de Congonhas, estão o Santos Dumont e os de Recife, Maceió e Aracaju, entre outras capitais.

Nível de estoques de diesel no Brasil ficou mais crítico em meio a protestos, diz ANP

SÃO PAULO (Reuters) - O nível de estoques de diesel no Brasil ficou "mais crítico" de terça para esta quarta-feira devido aos impactos dos protestos de caminhoneiros, disse o diretor Aurélio Amaral, da reguladora ANP.

Segundo ele, a situação de abastecimento de combustível é mais crítica no Rio de Janeiro, Recife e Aracaju e também há problemas nos aeroportos de Brasília e Congonhas, na capital paulista.

Ele acrescentou que a ANP vai estender isenção de mistura de biodiesel no diesel para grandes consumidores de cidades que solicitarem. A medida começou a vigorar no Rio, afirmou.

Greve dos caminhoneiros afeta ônibus em SP

Cerca de 40% da frota de ônibus da cidade de São Paulo não deve circular amanhã por causa da paralisação dos caminhoneiros em todo o país, informa a rádio BandNews.

Com isso, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego paulistana) confirmou que o rodízio municipal de veículos está suspenso amanhã.

Cade pede investigação sobre atuação da Petrobras no setor de gás natural


BRASÍLIA (Reuters) - O plenário do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pediu à superintendência-geral do órgão abertura de inquérito administrativo para apurar supostas irregularidades praticadas pela Petrobras no fornecimento de gás natural a termelétricas, informou o Cade nesta quarta-feira.

A ideia é investigar se a empresa tem adotado condutas que prejudicam outras companhias que atuam na geração de eletricidade a partir do gás natural, como discrimininação anticompetitiva.

“A instauração do inquérito foi motivada por notícias de que a suposta conduta restritiva por parte da Petrobras seria prática disseminada, destinada a produzir efeitos econômicos benéficos para a estatal ao criar condições mais favorecidas de fornecimento de gás para termelétricas de sua propriedade”, diz a nota do Cade.

Um coquetel explosivo (em O Antagonista)

Com a decisão de intervir politicamente no preço do diesel para aliviar a pressão dos caminhoneiros, Pedro Parente deu um tiro no pé.

Para uma empresa que está em pleno processo de venda de ativos (refinarias e pontos de distribuição), é o tipo de medida que afugenta potenciais interessados.

Baixar o preço na marra também não resolve o problema, pois o barril do petróleo e a cotação do dólar continuarão a subir – pressionando o caixa.

O problema dos combustíveis no Brasil, além da própria existência da Petrobras, é a tributação muito alta. O valor na refinaria é cerca de 30% a 40% do preço na bomba, o resto é margem de distribuição e impostos.

É um coquetel explosivo.

Perda de 90 milhões de reais por dia

Pedro Parente avalia que a Petrobras, numa hipótese extrema, poderá perder 90 milhões de reais por dia, com a diminuição do preço do diesel por 15 dias.

Na hipótese não extrema, afirmou ele, a queda de receita da estatal nesses 15 dias será da ordem de 350 milhões de reais.

Pedro Parente cedeu à pressão do Palácio do Planalto

Pedro Parente fala em gesto de “boa vontade”, para criar um bom clima nas negociações com os caminhoneiros, mas a redução de 10% no preço do diesel é uma ação política.

O Planalto pressionou fortemente o presidente da Petrobras, como deixou claro Eliseu Padilha ao declarar que o cargo de Parente “é de confiança” de Michel Temer.

O executivo não pareceu tão incomodado em seguir às ordens de Brasília. “Não foi uma decisão fácil, uma decisão simples. Mas vou dormir bem esta noite.”

Roberto Campos, sobre a Petrossauro: “A falsa identificação entre interesse da empresa e interesse nacional”

Já reproduzimos uma vez, em 2015, um artigo magnífico de Roberto Campos sobre a Petrobras, publicado originalmente em 1999.

Neste momento, vale a pena reproduzi-lo de novo. Quase vinte anos depois, ele continua atual na sua essência.

Com vocês, Roberto Campos:

“Quando for escrita a história econômica do Brasil nos últimos 50 anos, várias coisas estranhas acontecerão. A política de autonomia tecnológica em informática, dos anos 70 e 80, aparecerá como uma solene estupidez, pois significou uma taxação da inteligência e uma subvenção à burrice dos nacionalistas e à safadeza de empresários cartoriais. Campanhas econômico-ideológicas como a do ‘o petróleo é nosso’ deixarão de ser descritas como uma marcha de patriotas esclarecidos, para ser vistas como uma procissão de fetichistas anti-higiênicos, capazes de transformar um líquido fedorento num ungüento sagrado. Foi uma ‘passeata da anti-razão’ que criou sérias deformações culturais, inclusive a propensão funesta às ‘reservas de mercado’.
A criação do monopólio estatal de 1953 foi um pecado contra a lógica econômica. Precisamente nesse momento, o ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, mendigava um empréstimo de US$ 300 milhões ao Eximbank, para cobertura de importações correntes (inclusive de petróleo). A ironia da situação era flagrante: de um lado, o país mendigava capitais de empréstimos que agravariam sua insolvência, de outro, pela proclamação do monopólio estatal, rejeitava capitais voluntários de risco. Ao invés de sócios complacentes(cuja fortuna dependeria do êxito do país), preferíamos credores implacáveis (que exigiriam pagamento, independentemente das crises internas). Esse absurdo ilogismo levou Eugene Black, presidente do Banco Mundial, a interromper financiamentos ao Brasil durante cerca de dez anos (com exceção do projeto hidrelétrico de Furnas, financiado em 1958). Houve outros subprodutos desfavoráveis.
Criou-se uma cultura de ‘reserva de mercado’, hostil ao capitalismo competitivo. Surgiu uma poderosa burguesia estatal que, protegida da crítica e imune à concorrência, acumulou privilégios abusivos em termos de salários e aposentadorias.
Criou-se uma falsa identificação entre interesse da empresa e interesse nacional, de sorte que a crítica de gestão e a busca de alternativas passaram a ser vistas como traição ou impatriotismo.
Vistos em retrospecto, os monopólios estatais de petróleo, que se expandiram no Terceiro Mundo nas décadas de 60 e 70, longe de representarem um ativo estratégico, tornaram-se um cacoete de países subdesenvolvidos na América Latina, África e Médio Oriente. Nenhum país rico ou estrategicamente importante, nem do Grupo dos 7 nem da OCDE, mantém hoje monopólios estatais, o que significa que os monopólios não são necessários nem para a riqueza nem para a segurança estratégica.
Essas considerações me vêm à mente ao perlustrar os últimos relatórios da Petrossauro. Ao contrário de suas congêneres terceiro-mundistas, que são vacas-leiteiras dos respectivos Tesouros, a Petrossauro sempre foi mesquinha no tratamento do acionista majoritário. Tradicionalmente, a remuneração média anual do Tesouro, sob a forma de dividendos líquidos, não chegou a 1% sobre o capital aplicado. Após a extinção de jure do monopólio, em 1995 (ele continua de facto), e em virtude da crítica de gestão e da pressão do Tesouro falido, os dividendos melhoraram um pouco, ma non troppo.
Muito mais generoso é o tratamento dado pela Petrossauro à Fundação Petros, que representa patrimônio privado dos funcionários.
A empresa é dessarte muito mais um instituto de previdência, que trabalha para os funcionários, do que uma indústria lucrativa, que trabalha para os acionistas. Aliás, é duvidoso que a Petrossauro seja uma empresa lucrativa. Lucro é o resultado gerado em condições competitivas. No caso de monopólios, é melhor falar em resultados. Quanto à Petrossauro, se fosse obrigada a pagar os variados tributos que pagam as multinacionais aos países hospedeiros — bônus de assinatura, royalties polpudos, participação na produção, Imposto de Renda e importação — teria que registrar prejuízos constantes, pois é alto seu custo de produção e baixa sua eficiência, quer medida em barris/dia por empregado, quer em venda anual por empregado.
Examinados os balanços de 1995 a 1998, verifica-se que o somatório dos dividendos ao Tesouro (pagos ou propostos) alcançam R$ 1,606 bilhão, enquanto que as doações à Petros atingiram 2,054 bilhões.
Considerando que o Tesouro representa 160 milhões de habitantes e vários milhões de contribuintes, enquanto que a burguesia do Estado da Petrossauro é inferior a 40 mil pessoas, verifica-se que é o contribuinte que está a serviço da estatal e não vice-versa.
Nota-se hoje no Governo uma perigosa tendência de postergação das privatizações seja na área de petróleo, seja na área financeira, seja na eletricidade. É um erro grave, que põe em dúvida nosso sentido de urgência na solução da crise e nossa percepção dos remédios necessários. A privatização não é uma opção acidental nem coisa postergável, como pensam políticos irrealistas e burocratas corporativistas.É uma imposição do realismo financeiro. Há duas tarefas de saneamento imprescindíveis. A primeira consiste em deter-se o ‘fluxo’ do endividamento (o objeto mínimo seria estabilizar-se a relacão endividamento/PIB). Essa é a tarefa a ser cumprida pelo ajuste ‘fiscal’.
A segunda consiste em reduzir-se o estoque da dívida. Esse o objetivo da reforma ‘patrimonial’, ou seja, a ‘privatização’.
Não se deve subestimar a contribuição potencial da reforma patrimonial para a solução de nosso impasse financeiro.
Tomemos um exemplo simplificado.
Apesar da crise das Bolsas, a venda do complexo Petrossauro-BR Distribuidora poderia gerar uma receita estimada em R$ 20 bilhões.
Considerando-se que a rolagem da dívida está custando ao Tesouro 40% ao ano, uma redução do estoque em R$ 20 bilhões, representaria uma economia a curto prazo de R$ 8 bilhões. Isso equivale a aproximadamente 20 anos dos dividendos pagos ao Tesouro pela Petrossauro na média do período 1995-1998 (a média anual foi de R$ 401,7 milhões).
Se aplicarmos o mesmo raciocínio à privatização de bancos estatais e empresas de eletricidade, verificaremos que a solvência brasileira dificilmente será restaurada pela simples reforma fiscal. Terá que ser complementada pela reforma patrimonial.
É perigosa complacência a atitude governamental de que a reforma fiscal é urgente e a reforma patrimonial postergável. É dessas complac
ências e meias medidas que se compõe nossa lamentável, repetitiva e humilhante crise existencial.”
Fonte: O Antagonista

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Auxílio a produtores e fomento à tecnologia marcam 1º semestre da Comissão de Agricultura
Negociadores de Mercosul e UE se reunirão em setembro sobre acordo comercial
Taxas futuras de juros caem no Brasil em novo dia de alívio no câmbio
Wall Street sobe com alívio em ações de tecnologia
Ibovespa avança na abertura com aval externo e balanços em foco
Negociadores de Mercosul e UE se reunirão em setembro em sinal de movimento sobre acordo comercial