Ibovespa fecha estável de olho no exterior; maioria das siderúrgicas cai com tarifa nos EUA

Publicado em 01/03/2018 19:17

SÃO PAULO (Reuters) - O principal índice da bolsa paulista fechou praticamente estável nesta quinta-feira, passando para território positivo nos ajustes, em sessão que teve as ações de empresas siderúrgicas como destaques negativos, após o presidente dos Estados Unidos anunciar que vai tarifar as importações de aço no país.

O Ibovespa fechou com variação positiva de 0,03 por cento, a 85.377 pontos, após subir pouco mais de 1 por cento na máxima e cair 0,84 por cento na mínima do dia. O giro financeiro somou 12,2 bilhões de reais.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que seu governo vai impor tarifas de 25 e 10 por cento nas importações de aço e alumínio, respectivamente, na próxima semana.

"Essa campanha de restrição de importação pelos EUA é ruim para mercados emergentes porque todos os países que exportam para lá e têm superávits que impulsionam suas economias podem sofrer algum impacto", disse um analista de uma corretora nacional.

O movimento de cautela também ganhou respaldo das preocupações com a alta de juros pelo Federal Reserve, banco central dos EUA, após o presidente do Fed de Nova York, William Dudley, em visita ao Brasil, afirmar que quatro altas de juros nos EUA configurariam um aperto "gradual" da política monetária. Mais cedo, o chair do Fed, Jerome Powell, afirmou que não há evidências de que a economia dos Estados Unidos está superaquecendo.

Localmente, dados divulgados nesta quinta-feira mostraram que a economia brasileira ficou praticamente estagnada no final de 2017, com expansão de 0,1 por cento no quatro trimestre ante os três meses anteriores. Sobre o quarto trimestre de 2016, o crescimento foi de 2,1 por cento. Pesquisa Reuters apontava alta de 0,4 por cento do PIB no quarto trimestre de 2017 em relação ao terceiro e de 2,5 por cento sobre um ano antes.

DESTAQUES

- USIMINAS PNA caiu 4,22 por cento e CSN ON perdeu 4,43 por cento, pressionadas com a notícia de tarifa de importação de aço nos EUA. GERDAU PN foi na contramão e subiu 3,19 por cento, liderando a ponta positiva do Ibovespa, já que tem atuação nos EUA e terá menos impacto negativo das medidas.

- ECORODOVIAS ON teve queda de 8,16 por cento e liderou as perdas do índice, em meio receios de envolvimento de concessionárias em corrupção.

- VALE ON caiu 1,33 por cento, anulando a tentativa de recuperação vista mais cedo, quando a ação chegou a subir cerca de 1,3 por cento na máxima, e engatando a terceira sessão negativa após perdas de 4,8 por cento apenas na véspera.

- PETROBRAS PN caiu 2 por cento e PETROBRAS ON teve baixa de 1,64 por cento, em dia de perdas para os preços do petróleo no mercado internacional.

- AMBEV ON subiu 1,55 por cento, depois de reportar alta de 23,2 por cento no lucro líquido ajustado do quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado pelo desempenho de venda de cervejas no Brasil.

- FLEURY ON subiu 0,66 por cento, antes da divulgação do resultado da empresa, que saiu após fechamento do mercado nesta quinta-feira.

- ITAÚ UNIBANCO PN teve alta de 1,49 por cento e BRADESCO PN ganhou 0,57 por cento, ajudando a segurar o índice no azul devido ao peso em sua composição.

Lucro da B3 cai no 4ºtri, mesmo com receitas maiores

SÃO PAULO (Reuters) - A B3 anunciou nesta quinta-feira que teve lucro líquido recorrente de 635,8 milhões de reais no quarto trimestre, uma queda de 5,6 por cento ante mesma etapa de 2016.

O resultado operacional da companhia medido pelo Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado somou 672,9 milhões de reais entre outubro e dezembro, aumento de 12,2 por cento ano a ano.

Brasil deverá recorrer de decisão de Trump sobre tarifas de aço

SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deverá recorrer se a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de tarifar importações de aço e alumínio dos Estados Unidos for confirmada na próxima semana, afirmaram produtores de aço locais e o Ministério da Indústria e Comércio Exterior, nesta quinta-feira.

Trump anunciou mais cedo que os EUA vão impor tarifas de importação de 25 por cento sobre aço e de 10 por cento sobre alumínio na próxima semana, o que causou repercussão imediata ao redor do mundo.

"O governo brasileiro não descarta eventuais ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral, para preservar seus interesses no caso concreto" dos produtos brasileiros serem incluídos na medida de proteção comercial norte-americana, afirmou o ministério em nota.

O ministro da pasta, Marcos Jorge, esteve em Washington na terça-feira com o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, para afirmar que as exportações de produtos siderúrgicos do Brasil não representam ameaça ao país. Segundo o ministério, Ross manifestou "disposição para buscar soluções positivas e que eventual decisão de aplicação da sobretaxa poderia ser recorrida pelos países interessados".

Em 2017 o Brasil exportou 4,8 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos para os EUA, das quais 3,7 milhões em produtos semiacabados, que precisam ser reprocessados em usinas locais antes de serem usados em produtos finais como carros, máquinas e eletrodomésticos.

O volume representa uma fração da produção siderúrgica norte-americana, que segundo a Associação Mundial de Aço, foi de 81,6 milhões de toneladas em 2017. A China produziu 831,7 milhões de toneladas, o Japão 104,7 milhões e a Índia, 101,4 milhões.

A decisão de Trump "é um tiro no pé, porque a indústria norte-americana não é autossuficiente. Ela importa produto semiacabado", disse o presidente-executivo do IABr, entidade que reúne as principais siderúrgicas brasileiras, Marco Polo de Mello Lopes. "Vai prejudicar a indústria (dos EUA), o Brasil e o consumidor norte-americano", acrescentou.

Apesar dos EUA perderem importância nas exportações de produtos siderúrgicos brasileiros nos últimos anos, as ações de Usiminas e CSN recuaram mais de 4 por cento, respectivamente, nesta quinta-feira. Além de dificultar exportações brasileiras, o mercado avalia que as sobretaxas norte-americanas poderão elevar o excedente mundial de aço, o que pode pressionar os preços internacionais da liga e diminuir o preço de aço importado no Brasil.

Em 2017, as exportações totais de aço da Usiminas somaram 585 mil toneladas, de um total de vendas de 4 milhões de toneladas. As vendas externas no quarto trimestre da empresa somaram 196 mil toneladas, 60 por cento delas para Argentina e Alemanha. Os EUA não aparecem como destino das exportações da empresa.

Já a CSN, que ainda não divulgou resultados do quarto trimestre, no terceiro trimestre exportou 5 por cento de um total vendido no período, de 1,3 milhão de toneladas de aço.

As ações da Gerdau, porém, fecharam em alta de 3 por cento. O grupo siderúrgico da família Johannpeter obtém parte relevante de seus resultados a partir de operações da empresa nos EUA. No quarto trimestre, por exemplo, as operações norte-americanas da Gerdau foram responsáveis por 40 por cento da receita líquida e quase 20 por cento do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) do grupo.

Em valores, as exportações brasileiras de aço aos EUA em 2017 equivaleram a 2,6 bilhões de dólares. Enquanto isso, o Brasil importou 1 bilhão de dólares em carvão dos EUA, disse Lopes, do IABr.

"O Brasil deveria ficar de fora (das sobretaxas norte-americanas)... Caso o Brasil seja enquadrado na 232, vamos entrar com recursos nos EUA para sermos excluídos", disse Lopes, que acompanhou a comitiva brasileira em Washington nesta semana.

Ele se referiu ao mecanismo usado pelo governo Trump para justificar as sobretaxas, a seção 232 da "Lei de Expansão Comercial", de 1962. O dispositivo refere-se a ações comerciais para proteger a segurança nacional dos EUA.

Os EUA citam questões de segurança nacional na definição das tarifas, afirmando que o país precisa de oferta doméstica de aço e alumínio para seus tanques e navios de guerra. O Departamento de Defesa norte-americano já vinha recomendando tarifas direcionadas para aço e um adiamento nas que envolvem alumínio.

"O governo brasileiro espera trabalhar construtivamente com os Estados Unidos para evitar eventual aplicação (de tarifas), o que traria prejuízos significativos aos produtores e consumidores de ambos os países", informou o ministério, citando diálogo de Marcos Jorge com o secretário de Comércio dos EUA.

Fonte: Reuters

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