Em novo depoimento, marqueteiros Santana e Mônica reafirmam a Moro caixa 2 da Odebrecht a Lula

Publicado em 05/02/2018 18:30
Delatores, marqueteiros prestaram depoimento como testemunhas em processo que trata de sítio de Atibaia, supostamente reformado por empreiteiras em benefício de Lula (na Veja)

O casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura prestou depoimento nesta segunda-feira ao juiz federal Sergio Moro em um processo da Operação Lava Jato que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os réus. Santana e Mônica, ambos delatores da Lava Jato, falaram a Moro na ação sobre o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que era frequentado por Lula e foi reformado por empreiteiras investigadas no petrolão ao custo de 1 milhão de reais. Ao magistrado, os marqueteiros reafirmaram o conteúdo de suas delações a respeito de pagamentos de caixa dois à campanha de Lula, em 2006, pela Odebrecht, uma das empresas que teriam financiado as benfeitorias na propriedade no interior paulista.

Segundo Mônica, os serviços do casal na campanha de reeleição de Lula custaram 18 milhões de reais, dos quais 10 milhões foram pagos em caixa dois e os 8 milhões restantes, oficialmente. A prestação de contas à Justiça Eleitoral em 2006 mostra, no entanto, que a campanha petista declarou 13,75 milhões de reais em pagamentos à Pólis Propaganda e Marketing, empresa do casal de marqueteiros.

“A Odebrecht efetuou várias vezes [pagamentos de caixa dois], durante alguns anos, sempre encaminhado pelo Partido dos Trabalhadores e seus candidatos. Recebíamos através de uma conta na Suíça, a Shellbill, e outra parte também, em espécie, para o custeio do dia a dia de campanha. Eram esses dois formatos”, disse João Santana, responsável pelo marketing político das campanhas presidenciais de Lula, em 2006, e Dilma Rousseff, em 2010 e 2014.

Especificamente sobre a campanha que reconduziu o ex-presidente ao Palácio do Planalto, no ano seguinte ao escândalo do mensalão, o casal citou ter se preocupado com o recebimento de valores não contabilizados, mas que aceitou o caixa dois depois de o ex-ministro Antonio Palocci alegar que não seria possível bancar integralmente o trabalho dos publicitários de modo oficial.

“Nosso primeiro contato com a Odebrecht foi na campanha de reeleição do presidente Lula, em 2006. Nessa eleição, já recebemos uma parte oficial e uma parte caixa dois. A Odebrecht pagou essa parte de caixa dois, uma parte no Brasil e uma parte em contas no exterior”, afirmou Mônica Moura. Diante de Sergio Moro, ela ainda declarou que “não existe campanha política no Brasil sem dinheiro não contabilizado. Não se faz. Se alguém disser que faz, não é verdade”.

Sem citar valores, João Santana relatou que a Odebrecht assumiu as dívidas da campanha de Lula com os marqueteiros e pagou a eles “valores substanciais, algo em torno de 20% 30% do preço oficial da campanha”.

Indagado pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre com quem mantinha contato dentro do PT durante a campanha, Santana respondeu que se relacionava com Lula, Palocci e a cúpula do partido. “Antonio Palocci também sempre era um interlocutor estratégico e cumpria um papel paralelo de organização financeira com Mônica, mas não diretamente comigo”, completou.

João Santana ressaltou que não tinha o costume de tratar do financiamento da campanha com o ex-presidente, mas que procurou o petista algumas vezes para cobrar dívidas. “O que eu me referi com ele, tempos depois, foi cobrando atrasos de pagamentos que estavam ocorrendo, quando Palocci falhava. Era um degrau, entrei duas ou três vezes e falei com o presidente. ‘Tem um atraso grande e nós estamos entrando em um quadro de desequilíbrio econômico e financeiro’. Ele sempre se mostrava surpreso: ‘não, vamos resolver’. Isso no intervalo do primeiro para o segundo turno da campanha dele”, declarou o publicitário.

O marqueteiro entende que, ao ser cobrado pelos atrasos, o ex-presidente sabia que se tratava de valores não contabilizados no caixa oficial de campanha. “Primeiro, não conheci nenhum candidato que não soubesse detalhes da administração financeira de sua campanha. Segundo, os pagamentos oficiais sempre tiveram margem pequena de atraso, sempre tinha atraso, mas não tanto. Então, quando se referia a atraso, inclusive os que ficavam para depois da campanha, estava implícito que era caixa dois”, disse a Moro.

Outra cobrança a Lula relatada pelo publicitário foi referente à campanha do ex-presidente de El Salvador, Maurício Funes, em 2009. De acordo com João Santana, o petista o orientou a procurar o empresário Emílio Odebrecht, que encaminharia os pagamentos. Odebrecht teria tratado com Antonio Palocci sobre a dívida, que foi paga.

Por meio de nota, a defesa de Lula afirma que “os depoimentos coletados hoje deixaram claro que a também essa terceira acusação apresentada pelo Ministério Público Federal contra o ex-Presidente Lula perante a Justiça de Curitiba é manifestamente improcedente. A denúncia faz referência a 9 contratos da Petrobras e a reformas realizadas em um sítio em Atibaia. Nenhuma das testemunhas hoje ouvidas confirmou a acusação”.

Processo investiga sítio em SP

João Santana, Mônica Moura e o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada foram as primeiras testemunhas ouvidas no processo que trata do sítio de Atibaia, supostamente reformado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin em benefício de Lula. Os três foram arrolados como testemunhas de acusação pelo Ministério Público Federal.

Em maio de 2017, Lula foi denunciado pela força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso envolvendo obras na propriedade. De acordo com os procuradores, o ex-presidente foi beneficiado ilicitamente com cerca de 1 milhão de reais nas reformas, que incluíram a construção de anexos e benfeitorias no sítio, como a instalação de uma cozinha de alto padrão. Odebrecht e OAS teriam arcado com 870.000 reais das obras e a Schahin, por meio do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista, teria pago 150.500 reais.

João Santana diz que cobrava de Lula atrasos da Odebrecht (em O Antagonista)

Questionado por Sergio Moro, João Santana confirmou que cobrou de Lula por atrasos em pagamentos da Odebrecht, em sua campanha e na de Dilma Rousseff.

“Falei duas ou três vezes, cobrando atrasos de pagamentos que estavam ocorrendo. Ele dizia: ‘Vamos resolver’. Isso no intervalo do primeiro para o segundo turno da campanha dele e depois da campanha e na primeira eleição da presidente Dilma.”

O publicitário disse que deduz que Lula sabia exatamente do que estavam tratando.

“Não conheci nenhum candidato que não soubesse dos detalhes financeiros de sua campanha. Os atrasos, o que ficava para depois da campanha, eram sempre caixa 2.”

No ESTADÃO

Segundo Santana, após deixar a sociedade com o marqueteiro Duda Mendonça, voltou somente a trabalhar com campanhas petistas em 2006, quando Lula tentava a reeleição.

Ele diz ter conversado, inicialmente, com o então ministro Antonio Palocci, sobre a possibilidade de receber por meio de doações contabilizadas junto ao Tribunal Superior Eleitoral.

“Queria repetir que quando tava em negociar o contrato, eu falei com Antonio Palocci que, tendo em vista a crise que eles tinham vivido por financiamento ilegal [Mensalão] de campanha, era fundamental que essa campanha fosse toda e não tivesse nenhum tipo de caixa dois. Ele concordou na primeira conversa, na forma diplomática de Palocci jeitoso de ser, mas, no decorrer, sentou com Mônica e começou a dizer que teria dificuldade de se cumprir tudo oficialmente, então dois meses depois ele conversa comigo e perguntou: olhe, É impossível cumprir o pagamento de forma oficial, mas tem uma forma segura de recebimento da parte não oficial”.

De acordo com Santana, Palocci sugeriu a Odebrecht e os pagamentos teriam sido tratados com o então executivo da construtora, Álvaro Novis. A contabilidade teria ficado a cargo de sua mulher, Mônica Moura, que confessou ter feito uso de uma conta na suíça, a Shelbill, para receber os repasses da empreiteira.

“Neste eleição nós já recebemos uma parte oficial e uma parte caixa 2. A Odebrecht pagou exatamente essa parte em caixa 2 nesse ano. Foi o primeiro ano que nós tivemos relacionamento com a Odebrecht. Pagou uma parte no Brasil e uma parte em conta no exterior. Daí por diante, todas as campanhas que fizemos, não só para o PT, gostaria de colocar isso sempre, todas as campanhas que fizemos tivemos este tipo de pagamento”, afirmou.

João Santana ainda afirma ter sido indicado pelo PT a prestar serviços para a campanha do então candidato à Presidência de El Salvador, Maurício Funes, que é casado com a petista Vanda Pignato. “A quantia era pequena, para os padrões nossos, por volta de R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões”.

Santana diz que ‘o PT, o grupo’ bancaria o pagamento e que estava ‘claro’ que o pagamento seria feito por meio de ‘Palocci administrando o fundo com a Odebrecht’.

De acordo com o marqueteiro, ‘na reta final’ da campanha, o dinheiro esgotou. Ele narra ter se reunido, nas proximidades do fim das eleições, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, com o ministro Gilberto Carvalho e com Lula no Palácio do Planalto. “Presidente Lula disse: Você vai ligar para emílio Odebrecht. Eu nunca tinha tido contato com Emílio Odebrecht”.

De acordo com Santana, durante a conversa, Emílio disse ‘já saber do problema’ e que preferia ‘tratar disso com o Italiano’, referindo-se a Antonio Palocci.

“Pelo que eu sei, chegou [dinheiro] pela Odebrecht. Teria sido formalizado pela subsidiária do Panamá, por meio do senhor Campelo”, relata.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, QUE DEFENDE LULA

“Os depoimentos coletados hoje deixaram claro que a também essa terceira acusação apresentada pelo Ministério Público Federal contra o ex-Presidente Lula perante a Justiça de Curitiba é manifestamente improcedente. A denúncia faz referência a 9 contratos da Petrobras e a reformas realizadas em um sítio em Atibaia. Nenhuma das testemunhas hoje ouvidas confirmou a acusação”.

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

“A Odebrecht está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas, assim como qualquer conduta que possa violar a livre concorrência.”

Lula preso em 19 de fevereiro? (em O Antagonista)

A Frente Brasil Popular, do PT e seus satélites, distribuiu um cronograma de ações para os meses de fevereiro e março contra a reforma da Previdência e em defesa de Lula, diz a Folha.

No documento, uma espécie de agenda para fevereiro e março, os lulistas citam o risco de prisão de seu Estimado Líder na semana do dia 19 de fevereiro.

“No que tange à Previdência, existe a sinalização de votação no Congresso da reforma a partir dessa data [19 de fevereiro]. Bem como na mesma semana o TRF-4 poderá expedir o mandado de prisão do presidente Lula”, diz o texto.

Não é “Lula preso amanhã”, mas é “Lula preso daqui a duas semanas”. E nem é O Antagonista que está dizendo.

MST promete impedir prisão de Lula

João Pedro Stedile, entrevistado por uma rádio petista, prometeu impedir a prisão de Lula:

“Vamos fazer vigília em São Bernardo do Campo para impedir maiores perseguições ao companheiro Lula. Isso coincidiu também com o fato de o Tribunal Regional Federal ter marcado uma sessão para o dia 21 de fevereiro onde julgará os recursos que os seus advogados impetraram. Pode ser que no dia 21 o Tribunal reconheça os erros que cometeu ou determine até a prisão do companheiro Lula, de maneira que será uma semana intensa. Por isso propomos uma espécie de vigília democrática em São Bernardo para que as pessoas vão para lá e nos mantenhamos mobilizados em defesa do presidente Lula ser candidato à presidência contra essa injustiça que o Poder Judiciário, de uma forma afrontosa está querendo fazer contra ele, inclusive podendo decretar sua prisão.”

MST promete impedir prisão de Lula

 

Fonte: Veja/O Antagonista

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