NEM ESTADO “MAGNÂNIMO”, NEM ESTADO “PLANEJADOR”: PRECISAMOS DE LIVRE MERCADO!

Publicado em 26/11/2017 07:22
por RICARDO CONSTANTINO, na Gazeta do Povo

É curioso como certas crenças demoram a morrer. A esquerda nacional flertou (e flerta) por décadas com a ideia de um estado “magnânimo”, onipotente e clarividente, que poderia ser a locomotiva do progresso e da “justiça social”. Um estado, enfim, totalitário mesmo, nos moldes marxistas. Teve apenas decepções com a aproximação a este modelo, como era de se esperar. Mas qual a reação? Enterrar de vez a fé no estado como solução?

Claro que não! Abandona-se parcialmente a crença na capacidade infinita do estado, mas jamais a ponto de entender que ele pode ser mais o problema do que o remédio. E não falo da extrema-esquerda, ainda existente e forte em nosso país (hoje mesmo temos um debate se Guilherme Boulos será candidato pelo PSOL a presidente, um sujeito que lidera invasores de propriedade!). Falo da esquerda light, tucana, que sequer é considerada esquerda pela mídia.

Em sua coluna de hoje no GLOBO, Ana Maria Machado fala do desânimo daqueles que acreditaram no estado “magnânimo”, em tom de melancolia. Mas claramente a escritora não foi capaz de fazer o luto, e insiste em crenças irracionais de que caberá ao estado “ótimo” ser eficiente e cuidar, ainda, da economia, da “justiça social”, por meio de planejamento (pensamos em JK, nos militares, no PT e, claro, nos soviéticos). Diz ela, fazendo concessões indevidas ao extremismo de esquerda:

O nacional-desenvolvimentismo pode ter sido bom logo depois da Segunda Guerra Mundial, propiciando a industrialização, a construção de rodovias, a modernização. Tudo muito bem. Só que nos deu um país estranho, capaz de construir Brasília em cinco anos, com as belezas de Niemeyer e tudo, mas incapaz de botar as crianças na escola ou dar habitação, saneamento, segurança, cobertura decente de saúde a nossa gente.

[…]

Também a centralização estatal e o dirigismo econômico do regime militar podem ter tido méritos no desenvolvimento aqui e ali, apesar das reservas de mercado que nos atrasaram, e da consolidação de um regime de benesses a escolhidos — modelo parcialmente retomado e exacerbado no segundo mandato de Lula, em visão sempre disposta a chamar de neoliberal o que não dissesse amém para sua cartilha de opções ideológicas limitadas. Mas serviu para inchar a máquina pública de maneira irresponsável, jogando riqueza fora, em multiplicação exponencial. Desembocou na nova matriz econômica de Dilma, com a teimosia autoritária de escolher, subsidiar e proteger os tais campeões nacionais, garantindo-lhes a falta de concorrência.

[…]

É obvio que, para sair do pântano, vai ser necessário mudar. Redefinir o papel e a função do Estado. Não se trata de uma discussão sobre seu tamanho, nem de defender o Estado mínimo ao combater o Estado máximo, em busca do Estado ótimo, menos prepotente e mais eficiente. Mas as propostas para um novo governo que faça bem ao país devem tratar da função do Estado na economia. Ele não deve se meter a querer produzir ou fazer o que não lhe compete. Nem mesmo se avocar o dever de financiar a produção. Há que reduzir o endividamento público. Gastar menos e melhor. Talvez o capital atualmente alocado em empresas e bancos públicos e nas estatais possa ser melhor empregado após algumas privatizações — isso não precisa ser tabu.

Até aqui, o leitor desatento quase acha estar diante de uma liberal. Mas as concessões absurdas aos modelos atrasados que atrasaram nosso país já demonstram o perigo dessa conclusão precipitada. Só que tem mais. Chegando perto de sua conclusão, a escritora deixa transparecer que quer apenas “modernizar” um pouco essa crença no estado como um messias, mas se sente incapaz de abandonar de vez as ilusões esquerdistas:

O que o Estado tem obrigação de fazer, isso sim, é regular e fiscalizar a economia, livrando as agências reguladoras do aparelhamento partidário para que, ocupadas por técnicos, possam funcionar bem. E planejar essa economia: ter um objetivo, mostrar o mapa e dar o rumo. Desempenhar o papel que lhe cabe, tanto no planejamento econômico e social quanto na garantia de proteção real ao meio ambiente e aos direitos dos cidadãos.

Há muito a ser discutido. Cada eleitor de boa vontade pode partir dessa lista, aumentá-la, debater pontos específicos com amigos que não receiem pensar e trocar ideias. A regeneração da nossa democracia terá de passar por muitos desses itens, certamente. É bom irmos construindo opiniões bem assentadas para fundamentar nossas escolhas. E para pressionar candidatos, exigindo compromissos nítidos com a definição do papel do Estado em uma agenda econômica clara e planejada.

Reparem no detalhe: cada leitor pode ficar à vontade para aumentar essa lista de funções do estado. Diminuir, nem pensar! Achar que não cabe ao estado o papel de planejar economia coisa alguma é “radicalismo” demais, pelo visto. São os tecnocratas apontados por políticos que sabem melhor qual rumo a economia deve seguir, naturalmente.

Fica evidente o desconhecimento do liberalismo econômico, de como a alocação eficiente de recursos escassos realmente deve ocorrer numa sociedade. Falta entender Hayek, e sobra Keynes nas premissas. Economia planejada é música para ouvidos estatizantes, para quem quer meter a mão nos recursos produzidos pela sociedade, controlar tudo de cima para baixo.

Mas é o terror dos liberais que entendem como a economia efetivamente funciona, e que esse planejamento estatal é sinônimo de ineficiência, corrupção e atraso, não progresso. Roberto Campos já tinha resumido bem o equívoco dessa mentalidade: “O estado é melhor como jardineiro, que deixa as plantas crescerem, do que como engenheiro, que desenha plantas erradas”.

Rodrigo Constantino

POR QUE AS ENERGIAS EÓLICA E SOLAR JAMAIS SUBSTITUIRÃO OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS?

Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

No dia 21/11, o Jornal Nacional mostrou uma longa reportagem sobre energia renovável no Nordeste, focando as fontes eólica e solar. Tudo dentro do padrão global de qualidade e enganação do espectador desavisado. Vendo matérias desse tipo, você pode ficar com a impressão de que aquelas fontes de energias alternativas estão contribuindo de forma importante na geração de energia do mundo hoje. Ledo engano. Sua contribuição ainda é, depois de décadas de desenvolvimento, ínfima, irrelevante mesmo, como explicou Matt Ridley, num artigo há seis meses.

Em conjunto, a energia eólica e a energia solar fotovoltaica estão fornecendo menos de 1% da demanda global de energia. Segundo a Agência Internacional de Energia, o vento forneceu 0,46% do consumo global de energia em 2014, enquanto a energia solar, combinada com a das marés, forneceu 0,35%. Vale lembrar que estamos falando de energia total, e não apenas de geração de eletricidade, que é menos de um quinto de toda a energia consumida no mundo.

Esses números, embora fáceis de encontrar, não figuram nas indefectíveis reportagens sobre energia renovável, como aquela do Jornal Nacional. E, quando aparecem, se escondem atrás da afirmação de que algo em torno de 14% da energia do mundo é renovável. O que eles também não dizem é que, na verdade, a grande maioria (3/4) da energia renovável é biomassa (principalmente madeira). Ou seja, bastaria uma pesquisa rápida na internet para descobrir a enganação, o que me faz pensar que há interesses poderosíssimos, sugadores vorazes de dinheiro público, por trás dessa lengalenga.

Mesmo nos países ricos que “brincam” com vento e energia solar subsidiados, uma enorme fatia da energia renovável vem da madeira e das hidrelétricas. Enquanto isso, a demanda mundial por energia vem crescendo cerca de 2% por ano, há quase 40 anos. Entre 2013 e 2014, o consumo mundial cresceu perto de 2.000 terawatts/hora.

Suponhamos que, num esforço concentrado para mudar a matriz energética mundial, quiséssemos que apenas turbinas eólicas abastecessem esse crescimento anual de demanda. Quantas turbinas precisariam ser construídas a cada ano? Quase 350.000, uma vez que uma turbina padrão de dois megawatts é capaz de produzir cerca de 0,005 terawatts/hora por ano. Parece fácil? O problema é que isso é praticamente uma vez e meia de tudo que foi construído no mundo, desde o início dos anos 2000.

Mas as dificuldades não param por aí. Partindo da densidade típica dos parques eólicos atuais, de cerca de 50 acres por megawatt, a instalação dessas turbinas ocuparia, anualmente, uma área equivalente à metade do tamanho das ilhas britânicas, incluindo a Irlanda. Caso se mantivessem esses níveis de produção por 50 anos, uma área igual à metade do tamanho da Rússia seria ocupada com parques eólicos. Lembre-se: tudo isso seria necessário apenas para atender às novas demandas anuais de energia, e não para substituir o vasto fornecimento de energia dos combustíveis fósseis, que atualmente fornecem 80% das necessidades energéticas globais.

E não pensem que as turbinas eólicas poderiam se tornar mais eficientes. Existe um limite para a quantidade de energia que você pode extrair de um fluido em movimento, e esse limite já foi quase atingido pelas atuais turbinas. De fato, as turbinas eólicas já são bastante eficientes. O problema é o próprio recurso eólico, e não podemos mudar isso (pelo menos enquanto a presidente Dilma não descobrir uma forma de estocar o vento), pois trata-se de um fluxo flutuante de energia de baixa densidade.

Quanto aos impactos ambientais, os efeitos visíveis das turbinas – matança de pássaros e morcegos e fundações de concreto em terras selvagens – já seriam ruins o suficiente. Mas fora da vista há alguns outros problemas, a começar pela poluição gerada no interior da Mongólia pela mineração de metais das terras raras, necessários para os ímãs das turbinas. Isso gera resíduos tóxicos e radioativos em escala épica.

Mas o que já é ruim pode ficar pior. As turbinas eólicas são feitas principalmente de aço, com bases de concreto. Elas precisam de cerca de 200 vezes mais material por unidade de capacidade que uma moderna turbina a gás de ciclo combinado. O aço é produzido com carvão, não apenas no fornecimento de calor para fundição de minério, como para o carbono da liga. O cimento também é feito com carvão. A maquinaria das energias renováveis ​​”limpas”, portanto, é feita a partir de combustíveis fósseis e, em grande parte, do “pior” deles: carvão.

Esses dados demonstram que é totalmente inútil, em bases atuais, sequer pensar que as energias eólica e solar podem contribuir de forma significativa para o fornecimento global de energia, sem implicações gravíssimas para o próprio meio ambiente que se pretende preservar. Questão de aritmética, pura e simples. Mas quem se importa com isso?  O jornalismo engajado é que não… (João Luiz Mauad).

A 'mão do gato' ameaça as exportações brasileiras (por Marcos Sawaya Jank)

As questões geopolíticas voltaram à ordem do dia: grandes levas de refugiados, novas formas de terrorismo, conflitos no Oriente Médio, disputas no entorno da China e o jeito Trump de governar.

O multilateralismo consensual do pós-guerra dá lugar às ameaças via Twitter e porrete. E, como era de esperar, já começa a afetar as correntes de comércio e investimentos no mundo.

No início do mês, Trump passou pela Ásia para discutir a questão da Coreia do Norte e reequilibrar o deficit comercial dos EUA com países-chave da região, incluindo, se necessário, a oportuna venda de armas americanas.

No total, os EUA importam quase US$ 1 trilhão da Ásia, acumulando o gigantesco deficit comercial de US$ 533 bilhões com o continente. O deficit americano varia de US$ 13 bilhões a US$ 33 bilhões com países como Indonésia, Taiwan, Tailândia, Índia, Malásia, Coreia do Sul e Vietnã. Chega a US$ 70 bilhões com o Japão e a incríveis US$ 347 bilhões com a China. Trump está obcecado com isso e ameaça: abram-se para os EUA ou haverá retaliações.

Na mesma linha, multiplicam-se os contenciosos comerciais. Novas regulações desenhadas "ad hoc" e contenciosos de impacto começam a atingir as exportações brasileiras nos setores em que somos mais competitivos. No agronegócio, estamos enfrentando conflitos no acesso do açúcar e da carne de frango à China, etanol para o Japão e questões complexas com Rússia, Hong Kong, Indonésia, União Europeia e EUA.

Vale destacar ainda o impacto da proteção à indústria doméstica brasileira, o que inclui o próprio agronegócio. Continuamos sendo um dos países mais fechados do mundo ao comércio. Aço, trigo, café, bananas, camarão e pescados são exemplos de produtos nos quais a proteção contra importações de pequena monta já prejudica grandes volumes de exportações potenciais.

Falamos das nossas grandezas, queremos acessar o mundo, mas na hora de negociar não oferecemos quase nada em troca aos nossos parceiros. Estaremos perdendo cada vez mais oportunidades de exportação em razão disso.

Isso sem contar a crise de imagem que vivemos, gerada pela percepção de um país tomado pela corrupção, violência e instabilidade política, incapaz de se explicar de forma simples e didática. O mundo tem dificuldade de entender o que está acontecendo no Brasil.

Nesse contexto, noto que a "mão do gato" contra as nossas exportações se faz cada vez mais presente, dentro do próprio país ou escondida atrás da porta, na concorrência nos países-destino.

Já se foi o tempo em que exportávamos simplesmente porque havia demanda e éramos competitivos. Num mundo dominado pelo mercantilismo do "toma lá dá cá", com interesses geopolíticos exacerbados e arbitrariedades regulatórias se multiplicando, é fundamental manter um olho no peixe e o outro no gato.

A complexidade do mundo exige uma melhor definição do interesse público do país, tomando decisões com base no impacto socioeconômico das medidas, e não em favor de quem grita mais alto.

Exige estratégias bem montadas para lidar com a crescente agressividade geopolítica e comercial do mundo.

Exige maior coordenação dentro do governo e entre este e o setor privado, para não perder mercados e oportunidades. Precisamos também estar mais presentes no cenário internacional, muito além da representação oficial do governo, construindo relacionamentos estáveis e duradouros com nossos parceiros comerciais, que aumentem a confiança entre as partes.

Estratégia, representação e organização são a única receita de sucesso ante a imensa complexidade do mundo atual.

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio.

 

A 'mão do gato' ameaça as exportações brasileiras

 

Fonte: Blog Rodrigo Constantino (GP)

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