Em crise com Maia, governo Temer pode ver caducar até 14 MPs (inclusive a do Funrural)

Publicado em 15/10/2017 20:02
Rodrigo Maia, presidente da Câmara, diz que votará MPs após PEC que regula tramitação (no Poder360)


O displicência do governo para votar a medida provisória que permite ao Banco Central realizar acordos de leniência causou  mal-estar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado disse que não pautará mais MPs até que a Casa vote uma PEC (proposta de emenda à constituição) que regulamenta a tramitação das medidas. Com isso, o governo corre o risco de ver caducar 14 matérias até o fim de 2017.

O desgaste veio depois de o governo priorizar a tramitação da denúncia contra Michel Temer na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara e esvaziar a sessão que analisaria a MP da leniência. Após a sessão, Maia fez críticas duras ao governo.

Só neste ano, 14 medidas provisórias ainda podem perder validade. Entre elas está a que estabelece uma reforma do Fies e a que muda o Funrural e cria  o refinanciamento de dívidas passadas referentes à contribuição.

PEC PODE MUDAR TRAMITAÇÃO

Atualmente, Câmara e Senado têm até 120 dias para aprovar uma medida provisória antes de ela perder validade. MPs têm valor de lei e são editadas pelo presidente da República. Posteriormente, precisam ser aprovadas por deputados e senadores para terem valor definitivo.

Mas, atualmente, não há um intervalo reservado a cada Casa. Os deputados costumam utilizar quase todos os dias da tramitação. Os senadores recebem o texto na última hora e ficam sem tempo para fazerem alterações nos textos. A PEC (eis a íntegra) propõe a seguinte divisão:

FOCO NA DENÚNCIA

Por se tratar de uma emenda à Constituição, a proposta precisa de 308 votos para ser aprovada na Câmara. Enquanto a denúncia contra Michel Temer estiver sendo analisada, é improvável que o governo se mobilize para votar a PEC na Casa.

Como a matéria foi originada no Senado, basta que ela seja aprovada na Câmara sem modificações para que seja promulgada pelo Congresso. O texto é de autoria do ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) e foi aprovado pelo Senado em 2017.

Deputados aproveitam denúncia para cobrar cargos no governo

O momento de fragilidade do presidente Michel Temer, denunciado pela Procuradoria Geral da República por obstrução de Justiça e organização criminosa, tem sido usado por deputados e políticos para barganha. Além da pressão de deputados pela liberação de emendas, partidos políticos têm feito demandas ao Planalto para ocupar cargos estratégicos na administração pública.

PP e PR cresceram o olho, recentemente, para cima da Secretaria de Desenvolvimento e Infraestrutura do Ministério do Planejamento. A divisão comanda as obras do PAC (Pacote de Aceleração do Crescimento).

O atual secretário, Hailton Madureira de Almeida, é funcionário de carreira. Foi nomeado por Romero Jucá (PMDB-RR) em 2016, quando o peemedebista ainda chefiava a pasta, no início do governo Temer.

O PR também sondou uma demanda pela Secretaria dos Portos, chefiada por Luiz Otávio Oliveira Campos, indicado com a chancela dos senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) e Renan Calheiros (PMDB-AL).

  1. As demandas nos cargos de 1º escalão –chefias de ministérios, secretarias e autarquias– não têm sido atendidas pelo governo pela dificuldade em agradar a todos os integrantes da base de apoio no Congresso.

  2. Muitos políticos, porém, têm feito pedidos altos ao governo e ao receber negativas, pedem algo abaixo –como se fosse 1 “prêmio de consolação”. É assim que a base de apoio ao governo no Congresso tem conseguido recursos e alguns cargos em 3º escalão na administração pública.

O PSC, partido do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (SE), também fez pedidos a Michel Temer. O presidente da legenda, Pastor Everaldo, se reuniu com o presidente na última semana. Pediu ao peemedebista apoio em sua base local –o Rio de Janeiro.

O partido ajudou o governo ao ceder uma de suas vagas na CCJ (Constituição e Justiça) da Câmara, comissão responsável por fazer uma análise prévia sobre a admissibilidade da denúncia contra Temer e seus ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral). Agora, o Partido Social Cristão cobra a fatura do apoio ao governo.

Vídeos de Funaro abrem nova crise Temer-Maia (ESTADÃO)

A divulgação dos vídeos da delação premiada do operador Lúcio Funaro causou um novo confronto entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente Michel Temer. Para interlocutores do Palácio do Planalto, a medida é mais uma ação de Maia para tentar constranger o governo e mostrar descolamento do presidente. O governo avalia que o deputado não tinha a obrigação de colocar os vídeos no site da Câmara.

O episódio levou a um bate-boca público entre Maia e a defesa de Temer, justamente na semana em que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara vai analisar o relatório da segunda denúncia contra o presidente, por obstrução da Justiça e organização criminosa no caso J&F. Neste sábado, 14, o advogado Eduardo Carnelós publicou nota para criticar “vazamentos criminosos”. Maia contra-atacou e disse que o defensor é “incompetente”. Carnelós recuou e, também em nota, disse que “jamais” imputou “a prática de ilegalidade” ao deputado.

Os vídeos da delação de Funaro foram divulgados no site da Câmara com documentos relacionados à segunda denúncia contra Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). O material foi enviado pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, com ofício expedido em 21 de setembro, uma semana após a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar a segunda denúncia contra Temer.

Segundo a presidência da Câmara, no ofício não há menção ao sigilo do material. Neste domingo, 15, por meio de assessoria, Cármen Lúcia afirmou que apenas oficiou Maia e o relator do inquérito, Edson Fachin, é a autoridade máxima e única no processo. Segundo o gabinete de Fachin, a delação de Funaro não teve o sigilo retirado em nenhum momento.

O secretário-geral da Mesa Diretora, Wagner Soares, que é subordinado a Maia, determinou, porém, que os vídeos fossem divulgados no site da Câmara. O material subiu na íntegra no dia 29 de setembro, uma semana depois de o presidente da Câmara disparar duras críticas a Temer e ao PMDB em razão do assédio dos peemedebistas a parlamentares do PSB com os quais o DEM negociava filiação.

Os vídeos vieram a público somente nesta sexta-feira, 13, com reportagem do jornal Folha de S.Paulo. A primeira nota de Carnelós com acusação de “vazamento criminoso” irritou Maia, que fez chegar a Temer sua insatisfação. “Não teve vazamento. O advogado é incompetente”, disse o presidente da Câmara à Coluna do Estadão. Em nota, Maia disse ainda ver com “perplexidade muito grande” ter sido tratado de “forma absurda” pelo advogado, “depois de tudo que fiz pelo presidente, da agenda que construí com ele, de toda defesa que fiz na primeira denúncia”. 

Embora as imagens de Funaro impressionem o Planalto e tenham impacto no governo, a avaliação é de que essa nova polêmica com Maia pode trazer mais problemas para o presidente do que o conteúdo dos vídeos. No Planalto, o teor da primeira nota de Carnelós foi considerado um “tiro no pé”. Temer, então, mandou seu advogado distribuir a segunda nota, na qual ele negou ter imputado “crime” a Maia, para amenizar a tensão com o deputado.

Temperatura. A temperatura entre Temer e Maia já havia subido em razão do episódio do “assédio” a parlamentares do PSB. Maia disse que foi atingido com uma “faca nas costas” pelo PMDB. Desde então, houve mais problemas.

Na semana passada, por exemplo, Maia, em desacordo com o Planalto, abriu a sessão da Câmara para votar a Medida Provisória (MP) sobre acordos de leniência de bancos. A base, porém, não apareceu na votação por articulação do governo, que tinha pressa em votar o relatório pelo arquivamento da segunda denúncia. Maia, então, sentiu-se derrotado na intenção de votar a MP e acusou o Planalto de não ter prioridade em suas pautas.

O Planalto já estava atento às ações de Maia e a desconfiança de parte a parte só tem crescido. Para o governo, parlamentares que se dizem indecisos poderão aproveitar o impacto dos vídeos para fazer novas cobranças ao Planalto. A avaliação é de que isso poderia aumentar o impacto dos apoios, mas não inviabilizar o arquivamento da denúncia. / COLABOROU BRENO PIRES

Se vídeo com Funaro tivesse algo relevante, Janot o teria incluído na patética denúncia, certo? (blog REINALDO AZEVEDO)

O vazamento tem apenas o propósito de escandalizar e de tentar constrangedor os deputados; mais uma vez, um escroque vira um ator político

É claro que é tudo muito impressionante.

Naquela primeira semana em que vazou o diálogo que não existiu entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista, a quase unanimidade dos jornalistas decretou o fim do presidente. E, no entanto, ele está aí, no comando de um país que já volta a crescer. Mas a política vive dias de terra arrasada.

Lembram-se? Detalhes vinham a público da delação de Joesley Batista, e mais escandalizado ficava o país. Ai daqueles que ousassem opor óbices aos métodos de doutor Rodrigo Janot. Sei o que me custou a crítica àquele patriota. Agora está claro: a delação do açougueiro multibilionário, um medalhão do mundo dos negócios, reunia uma impressionante coleção de crimes e canalhices.

Não restou nada da segunda denúncia de Janot depois da defesa apresentada por Eduardo Carnelós, advogado de Temer, e do relatório de Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Até a oposição ficou constrangida. Bem, então era preciso fazer alguma coisa.

Setores do Ministério Púbico Federal que certamente não aceitam se submeter à disciplina de Raquel Dodge resolveram pôr para circular vídeo com um dos depoimentos que compõem a delação de Lúcio Funaro. Notem: ficamos sabendo como são feitas as salsichas quando o delator é um dos maiores empresários do mundo. Dá para imaginar como se deu a de um escroque confesso como Funaro.

É estupefaciente que se possa dar crédito a um sujeito com a sua trajetória, especialmente quando Janot anunciou a quem quisesse ouvir que havia aberto uma espécie de licitação pública entre ele e Eduardo Cunha: ganhava o direito à delação aquele que atingisse com mais dureza o presidente da República. E Funaro levou o troféu. A coisa é tão constrangedora que ele aproveita para fazer acusações novas contra o ex-deputado, o concorrente.

Volta à baila uma acusação antiga contra José Yunes, ex-assessor de Temer. Funaro diz ainda que o presidente atuou em favor de empresas portuárias. E como ele sabe? Ora, segundo diz, foi Cunha quem lhe contou. Sim, Cunha é aquele em quem ele se ancora ao fazer as acusações, mas também um de seus alvos.

Notem: esse vídeo traz o material que Janot usou para fazer a denúncia contra o presidente. Quem lê a dita-cuja não encontra lá uma única prova. Tem-se apenas a palavra dos delatores — além do próprio Funaro, também Joesley e outros da JBS. O que a peça acrescenta ao caso? Nada. Seu vazamento serve apenas ao propósito de escandalizar. Houvesse lá algo de relevante, o ex-procurador-geral o teria empregado em sua denúncia patética.

Vamos ver até quando aceitamos ficar reféns de bandidos sob o pretexto de combater a corrupção.

GOLPISMO 1: Fachin, Cármen, Maia, Janot! Fantasmas da 1ª fase da ação golpista estão de volta!

Ninguém aí me surpreende. Cumprem uma vocação. Nunca temam, a ambição talentosa. Mas todo cuidado é pouco com a mediocridade ambiciosa. “Isso vale para quem, Reinaldo?” Para todos eles!

Impressionante! Três dos personagens do quiproquó envolvendo a divulgação dos vídeos com depoimentos do escroque Lúcio Funaro são rigorosamente os mesmos que estrelaram, de forma consciente e por espontânea vontade, o primeiro ato da tentativa de golpe contra o presidente Michel Temer. Naquela jornada, um quarto entrou na história mais tarde, na periferia, e depois se percebeu que ambicionava o papel principal.

Vamos dar os respectivos nomes destes ilustres. A nenhum deles se pode pespegar a pecha de inocente, de ingênuo, aquilo que os franceses tratam por “naïfe”. Estamos falando de quatro cobras criadas: o trio inicial, como se sabe, era composto de Rodrigo Janot, Edson Fachin e Cármen Lúcia. E Rodrigo Maia é o que pega carona — antes, de forma dissimulada; agora, de modo escrachado.

A primeira coisa a destacar no imbróglio é que o barulho gerado pelos vídeos de Funaro chega a ser estúpido. Atenção! Tudo o que lá vai serviu para a embasar a segunda denúncia de Janot, que acusa o presidente Michel Temer de obstrução da investigação e de integrar organização criminosa, imputação esta que atinge também os ministros Moreira Franco (Secretaria de Governo) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Logo, tudo o que há no vídeo e não integra a denúncia foi considerado inútil até por Janot — ao menos no que diz respeito a Temer, Franco e Padilha. Divulgar os depoimentos antes da votação da CCJ, na quarta, serve a qual propósito? É evidente que se busca, com o mero alarido, interferir no resultado da votação.

A Folha foi quem primeiro divulgou os vídeos. A verdade é que ninguém sabia que eles estavam disponíveis no site da Câmara. Na sexta, o jornal informou o seguinte, conteúdo repetido na edição impressa de sábado: “O depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República), de 23 de agosto deste ano, foi registrado em vídeo, ao qual a Folha teve acesso.” Notem: a expressão “ter acesso”, como sabem os jornalistas, costuma indicar uma exclusividade que, não raro, deriva de vazamento. A reportagem não informava que o material estava à disposição no site da Câmara. Aliás, não admitiu ter sido essa a fonte nem na edição de domingo.  Lá se lê: “A Folha obteve os vídeos por meio de fontes oficiais e não por vazamentos.” O site na Câmara é uma página pública, não uma fonte oficial. E que se note: não tem obrigação nenhuma de revelar suas fontes.

Nem Eduardo Carnelós, advogado de Temer, nem a imprensa (e, insisto, a Folha não disse ter sido o site da Câmara a sua fonte) sabiam que os vídeos estavam disponíveis. Até porque a todos era evidente que Fachin, relator do caso JBS no STF, havia determinado sigilo. E foi isso que levou Carnelós, um experiente criminalista e, à diferença do que diz Maia, um advogado competente, a classificar, em nota, de “criminoso” o vazamento. Logo, é claro que não tentou ofender nem o presidente da Casa nem seus funcionários. Escreveu ele em nota, a meu ver com correção, entre outras coisas:
“É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no País (…). Autoridades que têm o dever de respeitar o ordenamento jurídico não deveriam permitir ou promover o vazamento de material protegido por sigilo.” Ora, ora, ora… Maia resolveu se abespinhar. Chamou Carnelós de “incompetente”. E, mais uma vez, fez questão de lembrar que, se quisesse, teria derrubado Temer por ocasião da primeira denúncia. E emendou: “Esperava do presidente uma atitude contundente com o advogado. Infelizmente isso não aconteceu. Ser tratado como criminoso é muito difícil”.

É mentira! Maia não foi tratado “como criminoso” por ninguém. Não ainda. Em nova nota, o advogado explicou, e é fato:
“Quando divulguei nota ontem [sábado], referindo-me a vazamento que qualifiquei como criminoso, eu desconhecia que os vídeos com os depoimentos de Funaro estavam disponíveis na página da Câmara dos Deputados. Aliás, considerando os termos da decisão do ministro Fachin, eu não poderia supor que os vídeos tivessem sido tornados públicos. Somente fiquei sabendo disso por meio de matéria televisiva levada ao ar ontem”.

Maia, claro, como agitprop da tentativa de golpe, disse não aceitar a explicação. O presidente da Câmara afirma ter recebido o material do gabinete de Carmen Lúcia, com a ressalva de que somente seria sigiloso o conteúdo da Petição 7099. O gabinete de Fachin informa que os vídeos, que integram a Petição 7210, também estavam sob proteção porque esta é parte da 7099. Fato é que Maia se encontrou com Cármen para definir o que poderia ser tornado público. A presidente do Supremo, então, chamou Fachin para tirar as dúvidas.  E a dupla entendeu que os vídeos poderiam ser postos no ventilador, se é que me entendem…

Aqui se diz tudo, não? Fachin, como sabem, foi feito relator do caso JBS por decisão de Rodrigo Janot, que rasgou a Constituição e fraudou o princípio do juiz natural. Carmen, primeiro nome pensado para substituir Temer — já que a aposta era a de que ele seria deposto —, concordou com a patuscada, referendada depois por todos os ministros do STF nas asas do chamado “espírito de corpo”. E Maia é aquele que aproveitou a ausência de Temer, na primeira denúncia, para se apresentar como seu sucessor, embora dissesse que não. A imprensa divulgava até seu futuro ministério. E ele lá, tomando sopinha com deputados, com ares de estadista.

Estão todos de volta. Fachin, para não variar, está fazendo lambança com sigilo. Quando menos, é ambíguo. Cármen conhece todos os absurdos derivados da divulgação desses depoimentos, que só servem para inflamar a opinião pública, mas deixou que a coisa fluísse. E Maia, ora vejam!, resolveu abrir uma crise artificial com a defesa de Temer e com o próprio presidente.

Querem saber? Fachin, Cármen e Maia… Ninguém aí me surpreende. Os três cumprem uma vocação. Nunca temam, a ambição talentosa. Mas todo cuidado é pouco com a mediocridade ambiciosa. “Isso vale para quem, Reinaldo?” Para todos eles: Fachin, Maia, Cármen e, por óbvio, Janot.

Golpismo 2: O ataque de Maia a advogado é covardia; divulgação de vídeos pela Câmara é ilegal

Quem conhece a trajetória de presidente da Câmara não se surpreende; ciclotimia deixa ressabiados setores que o consideravam uma voz sensata

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passou a exercer um papel detestável na política desde que decidiu usar o peso do seu cargo para tentar turbinar o DEM, partido que, justiça se faça, colaborou para quase destroçar. Assim que se viu reeleito para o comando da Casa (contra a Constituição e o Regimento Interno), depois de cumprir um pedaço do período que cabia a Eduardo Cunha, assoberbou-se no grande Varão de Plutarco da República. Sagrou-se vitorioso contra Rogério Rosso (PSD-DF), também da base aliada. E isso só aconteceu porque contou com a ajuda do governo Temer! Amigos próximos me disseram então: “Ah, melhor ele do que Rosso, ligado ao Centrão!” discordei. E comentei com jornalistas: “Ele tem vocação para se voltar contra aliados da véspera”. Retomo esse ponto mais tarde.

Na sexta, como sabem, a Folha Online divulgou o conteúdo de vídeos da delação de Lúcio Funaro. O que há de relevante lá, falso ou verdadeiro, que não esteja na denúncia? Nada! O que há de novo para quem leu aquela porcaria redigida por Rodrigo Janot? Também nada. Mas é evidente que a fala do bandido, no que parece ser um ato de contrição, serve para armar os espíritos contra os acusados — no caso, o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência). Aliás, o ex-deputado Eduardo Cunha também apanha bastante. É o fim da picada. Janot, como sabem, havia aberto uma concorrência pública entre os dois para saber quem mais atacaria Temer. Funaro ganhou. E, para escândalo da decência em delações, diz ter ouvido de Cunha todas as acusações que faz contra Temer. Entenderam? Quem confere, digamos, “força” a seu depoimento é aquele a quem derrotou no campeonato indecente de que o ex-procurador-geral foi juiz. É asqueroso. Isso, por si, já fala um tanto sobre a seriedade do procedimento.

Mas voltemos a Maia. Os vídeos divulgados pela Folha estavam no site da Câmara. Ninguém sabia. Nem a imprensa. O próprio jornal, na prática, informa que sua fonte é outra. Lê-se, por exemplo, na edição desta segunda, que “as gravações também foram disponibilizadas no site da Câmara”. Eduardo Carnelós, advogado de Temer, um criminalista respeitado, divulgou, então, uma nota no sábado chamando de “criminoso” o que considerou “vazamento”. E por quê? Ora, segundo o gabinete do ministro Edson Fachin, tais depoimentos estão sob sigilo.

Vai aqui um testemunho. Liguei para Carnelós na sexta:
— A quem o senhor atribui o vazamento?

A resposta que me deu está praticamente resumida em sua primeira nota. Asseguro, meus caros: Carnelós não tocou nem remotamente no nome de Rodrigo Maia. Até porque, reitere-se: ninguém sabia que o site da Câmara havia tornado disponível material sigiloso. Assim, quando o advogado emitiu a sua nota de repúdio, o alvo não era Maia. Leiam, a propósito, a nota da defesa de Temer:
O vazamento de vídeos com depoimento prestado há quase dois meses pelo delator Lúcio Funaro constitui mais um abjeto golpe ao Estado Democrático de Direito. Tem o claro propósito de causar estardalhaço com a divulgação pela mídia como forma de constranger parlamentares que, na CCJC da Câmara dos Deputados, votarão no dia 18 o muito bem fundamentado parecer do relator, deputado Bonifácio de Andrada, cuja conclusão é pela rejeição ao pedido de autorização para dar sequência à denúncia apresentada contra o Presidente Michel Temer pelo ex-Procurador-Geral da República.
É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no País, por meio da instauração de ação penal para a qual não há justa causa. Só isso explica essa divulgação, ao final de uma semana em que a denúncia formulada pelo ex-Chefe do MPF foi reduzida a pó pelo parecer do deputado Bonifácio de Andrada.
Autoridades que têm o dever de respeitar o ordenamento jurídico não deveriam permitir ou promover o vazamento de material protegido por sigilo. É igualmente inaceitável que a imprensa dê publicidade espetaculosa à palavra de notório criminoso, que venceu a indecente licitação realizada pelo ex-PGR para ser delator, apenas pela manifesta disposição de atacar o Presidente da República.
As afirmações do desqualificado delator não passam de acusações vazias, sem fundamento em nenhum elemento de prova ou indiciário, e baseadas no que ele diz ter ouvido do ex-deputado Eduardo Cunha, que já o desmentiu e o fez de forma inequívoca, assegurando nunca ter feito tais afirmações. Assim como o fizeram todos os demais mencionados pelo delator em sua mentirosa história, que lhe serviu para a obtenção de prêmio.

A reação
Ocorre que Maia resolveu ser usuário da moral do lobo quando quer comer o cordeirinho. Acusa o pobrezinho de turvar a sua água, embora o lanoso beba rio abaixo. Vencido pelos argumentos da futura vítima, o lobo o come mesmo assim. O deputado não precisa de motivos para atacar Temer. Ele vive em busca de pretextos. Como esquecer a entrevista que concedeu no último dia de sua interinidade acusando o presidente de trair compromissos?

Saiu vociferando contra um profissional sério, que, objetivamente, não procurou atingi-lo. Chamou-o de “incompetente”. Pediu a sua cabeça. À Folha, Maia dirigiu uma ameaça ao presidente da República, três dias antes da votação da denúncia na CCJ:
Incompetência é pouco pra justificar as agressões do advogado. A defesa do presidente recebeu todos os documentos. Nunca imaginei ser agredido pelo advogado do presidente Temer. Depois de tudo que eu fiz, essa agressão não faz sentido. Daqui para frente vou, exclusivamente, cumprir meu papel institucional, presidir a sessão. Ser tratado como criminoso é muito difícil.

É mentira! Não foi agredido por ninguém. Também não foi chamado de criminoso. Pior. Voltou a posar de grande herói porque, sugeriu, se tivesse abandonado Temer na primeira denúncia, o presidente teria caído. Já falou isso umas 300 vezes. Vive repetindo isso por aí. Ademais, é uma verdade pela metade. Maia ensaiou, sim, aderir ao golpe. Recuou quando viu que não teria sustentação. Assistiu, em silêncio, até à publicação de seu futuro ministério. Já afirmei aqui, e vocês sabem. Ele tem ciência de que a denúncia dificilmente passará pela Câmara. Seu esforço é para fabricar um resultado pior nesta jornada.

O advogado do presidente divulgou uma segunda nota. À diferença do que diz a imprensa, ele não se retrata. Porque ninguém se retrata do que não fez. Carnelós apenas diz a verdade. Leiam.
Tendo em vista as especulações surgidas após a divulgação de minha nota ontem, esclareço que:
No dia 25 de setembro deste ano, requeremos ao Ministro Fachin acesso aos autos do inquérito 4327, bem como a todos os anexos que o compõem, inclusive delação de Lúcio Funaro e os termos de declarações que a integram. S. Ex.ª deferiu nosso pedido, mas limitou o acesso à delação à parte dela que dissesse respeito ao Presidente da República.

Quando divulguei nota ontem, referindo-me a vazamento que qualifiquei como criminoso, eu desconhecia que os vídeos com os depoimentos de Funaro estavam disponíveis na página da Câmara dos Deputados. Aliás, considerando os termos da decisão do Ministro Fachin, eu não poderia supor que os vídeos tivessem sido tornados públicos. Somente fiquei sabendo disso por meio de matéria televisiva levada ao ar ontem.
Jamais pretendi imputar ao Presidente da Câmara dos Deputados a prática de ilegalidade, muito menos crime, e hoje constatei que o ofício encaminhado a S. Ex.ª pela Presidente do STF, com cópia da denúncia e dos anexos que a acompanham, indicou serem sigilosos apenas autos de um dos anexos, sem se referir aos depoimentos do delator, que também deveriam ser tratados como sigilosos, segundo o entendimento do Ministro Fachin, em consonância com o que tem decidido o Supremo Tribunal.
Reitero que a divulgação daqueles vídeos pela imprensa causa prejuízos ao Presidente da República. Não se pode admitir o uso da palavra do confesso criminoso para influenciar os membros da Câmara, que votarão na CCJC o muito bem fundamentado parecer do deputado Bonifácio de Andrada, cuja conclusão é pela rejeição à solicitação de autorização para processar o presidente Temer.

Retomo
Para Maia, isso ainda é pouco. Não sei o que ele quer, mas a sua fala, hoje, é a de um chantagista, que investe na crise. Se acha que, assim, se qualifica para voos mais altos, que fique claro: algumas figuras relevantes da cena política e econômica que o viam com bons olhos passaram a considerá-lo ciclotímico e imprevisível, características sempre ruins para um político, especialmente para alguém cuja ambição engordou de forma despropositada nos últimos tempos.

Não! Carnelós não é incompetente, mas a reação de Maia é covarde. Tem a covardia do lobo da fábula. Ele sabe que faz uma falsa imputação a quem nada lhe fez de mal para ter pretexto para levar adiante a sua agenda — seja ela qual for.

Não tenho dúvida de que Maia anda a receber maus conselhos. Deveria trocar seus convivas de jantar. Alguns ao menos. Os que andam a lustrar suas ambições já fizeram estadistas como Sérgio Cabral…

De resto, aqui se diz tudo, não? Em 2007, Jorge Bornhausen o fez presidente do PFL, num processo de renovação. Não passou muito tempo, e Maia estava atuando — alguns diriam “conspirando” — contra Bornhausen. Presidia o DEM, em 2010, quando José Serra disputou a Presidência da República com um vice de seu partido, imposto por ele. Jornalistas não precisavam se esforçar para colher de Maia aspas contra a candidatura que também era de seu partido. Em 2012, juntou-se com Anthony Garotinho para disputar a Prefeitura do Rio. Consumado o desastre — ficou com 3% dos votos válidos —, saiu atirando, em seguida, contra o aliado de véspera. Foi braço direito de Eduardo Cunha quando este exerceu a presidência da Câmara; era o seu “homem” na Casa. Esteve entre os primeiros que voltou as costas ao antigo comandante quando este caiu em desgraça. E, por óbvio, dependeu do apoio do presidente Michel Temer para ser reeleito presidente da Câmara. E, vamos convir, põe a faca no pescoço do aliado como não faria um membro do satanizado “Centrão”.

Vai ver leva a sério uma frase atribuída a Charles de Gaulle: “O primeiro dever do estadista é a traição”. Maia trai sem ser estadista.

Mas, ora vejam!, se querem um Rodrigo Maia a falar como se estadista fosse, um fiscalista contumaz e um homem severíssimo com as contas públicas, coloquem-no para dar palestra a representantes do setor financeiro. Aí ele vira o candidato dos sonhos… Mas só dos operadores de ponta de mesa. Quem já está no centro das decisões reconhece algo de, como direi?, “fake”.

Afinal, não custa lembrar, o Rodrigo Maia que aí está desertou das hostes de Cunha para o flerte, como é sabido, com as esquerdas na Câmara, que têm nele, e com razão, um aliado.

Maia deve desculpas ao advogado Eduardo Carnelós. O segundo homem da República não tem o direito de usar a força do seu cargo para demonizar um profissional sério, que nem remotamente o ofendeu.

De resto, a publicação dos vídeos no site da Câmara, deputado, fere a decisão do ministro-relator. Se a presidente do STF, Cármen Lúcia, fez bobagem, dirija a ela seu descontentamento. Mas essa é a hipótese benigna, certo? Afinal, ela parte do princípio de que o senhor estava procurando apenas ser justo na relação com o cordeiro e não sagaz.

Não sei se me entendeu.

 

 

 

 
Fonte: Poder360 + Reinaldo Azevedo

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