Delatores vão passar a noite na carceragem da PF (no Estadão)

Publicado em 10/09/2017 15:32
por Valmar Hupsel Filho e Andreza Matais, de O Estado de S. Paulo em Brasília

O advogado do empresário Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, confirmou há pouco que o dono e o diretor da JBS vão passar a noite deste domingo na superintendência da Polícia Federal em São Paulo.

Segundo o defensor, os dois serão transferidos para Brasília nesta segunda-feira, 11. Joesley e Saud se entregaram na tarde deste domingo, após terem prisão decretada pelo ministro Edson Fachin, na sexta (8). O pedido havia sido feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em razão da violação do acordo de colaboração premiada e omissão de informações.

Joesley e Saud chegaram acompanhados de seus advogados na sede da PF por volta das 13h. Cerca de duas horas depois os defensores deixaram o prédio. A expectativa é de que Joesley e Saud sigam para o Instituto Médico Legal para fazer exame de corpo de delito. Em nota, Joesley Batista e Ricardo Saud afirmam que não mentiram nem omitiram informações no processo que levou ao acordo de colaboração premiada e que estão cumprindo o acordo.

Joesley chorou ao chegar na cela da superintendência da PF (coluna do ESTADÃO)

O delator Joesley Batista chorou no momento em que os agentes abriram a cela da carceragem da superintendência da Polícia Federal em São Paulo para que ele entrasse após se entregar na tarde deste domingo. A Coluna apurou que Joesley e o executivo da JBS Ricardo Saud devem ser transferidos para Brasília na segunda-feira, 10, em aeronave da Polícia Federal.

Os dois foram presos por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo, atendendo a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Eles são acusados de omitir informações no acordo de delação premiada.

O ministro Edson Fachin, além de determinar a prisão temporária pelo prazo de 5 dias do empresário Joesley Batista, também decidiu suspender, em caráter cautelar, os benefícios acordados entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) e esses dois delatores.

‘Janot, nessa escola sua eu fui professor’

No polêmico áudio de quatro horas, de 17 de março, que provocou reviravolta do caso JBS, Joesley Batista revela irritação e diz ao executivo Ricardo Saud, seu braço direito, que Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, é 'idiota'

Em um trecho do polêmico áudio de quatro horas que provocou a reviravolta do caso JBS, o empresário Joesley Batista conversa com o executivo do grupo Ricardo Saud e ataca a Operação Carne Fraca, deflagrada naquele dia 17 de março. Joesley diz que é ‘uma operação idiota’ e acrescenta. “Janot, nessa escola sua eu fui professor.”

“Eu queria estar frente ao Janot e dizer. ‘Janot, para. Isso é coisa de menino. Para. Uma operação idiota dessa, você bota mil e cem homens na rua, em troca de nada, achando que vai me amedrontar. Achando que vai…para! Tá louco.”

Joesley e Saud disseram na quinta-feira, 7, à Procuradoria-Geral da República que o diálogo daquele 17 de março foi ‘uma conversa de bêbados’. Não convenceram. Janot pediu a prisão de ambos e ainda do ex-procurador da República Marcello Miller, sob suspeita de fazer jogo duplo – ele estaria ajudando o grupo empresarial nas negociações para o acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República quando ainda estava no exercício das funções no Ministério Público Federal.

Naquele 17 de março, a Polícia Federal e a Procuradoria deflagraram Carne Fraca, que pegou frigoríficos por supostamente colocarem no mercado produtos estragados.

“É porque ele (Janot) não sabe com quem ele tá lidando”, seguiu Joesley no bate papo com Saud. “É que ele tá achando que tá lidando com um menino amarelo. Aí eu vou chegar lá e dizer. ‘Janot, nessa escola sua eu fui professor. Você tá tendo aula e eu fui professor. Para! Que que é isso…Que brincadeira, Para! Eu tô achando até engraçado. To achando até ridículo isso. Para! Ricardinho, ele na cadeira dele conosco, ele num…Ricardinho, na escola que eles estudam, nós é professor. Para!”

Em outro trecho, Joesley fala do ‘jogo do Ministério Público’.

“Dentro do jogo do MP com não sei o quê, é um carteado, né? Uma aposta. Eu posso estar completamente enganado. Ricardo, eu…um jogo, né? Um carteado. Eu duvido que esse Janot não queira a nossa delação. Mas eu duvido assim…eu aposto 100 para um. Não é 10 para um, não. É 100 para um. Aí eu fico vendo toda essa confusão de…Pensa o que eles fizeram hoje. Uma operação idiota, enfiando nós. Isso é de dar risada. Ricardo, o que eles fizeram hoje é de dar risada. Eu queria estar em frente ao Janot e dizer. ‘Janot, para.”

Tchau, Janot, por VERA MAGALHÃES

Lambança da delação de Joesley e companhia macula atuação de PGR e mina a Lava Jato, em O Estado de S.Paulo

Há alguns meses escrevi uma coluna sobre como era difícil traçar uma linha condutora do comportamento de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria-Geral da República. 

Aquele personagem tímido, quase secundário, que se encontrava fora da agenda com José Eduardo Cardozo e era alvo de desconfiança da força-tarefa de Curitiba se transmudou por ocasião da primeira lista do Janot, criou um grupo de trabalho que passou a se dedicar apenas aos processos de políticos com foro implicados na operação, afastou a fama de engavetador e teve seu ápice com a delação do núcleo da J&F, quando se transformou no arqueiro-geral da República. 

A penúltima semana no cargo, no entanto, tratou de desconstruir essa última versão heroica de Janot. A lambança verificada justamente na mãe de todas as delações não macula apenas sua passagem pela chefia do Ministério Público Federal. Pior: constitui o maior ataque aos fundamentos da Lava Jato e fornece munição àqueles que tentam enfraquecê-la.

No afã de construir seu personagem heroico, Janot deixou enredar a si próprio, à instituição que comanda e ao próprio Supremo Tribunal Federal numa trama barata de filme de gângsteres do interior de Goiás.

As gravações de horas de conversas entre os desqualificados Joesley Batista e Ricardo Saud mostram a instrumentalização vulgar da delação premiada, um dos pilares para que a Lava Jato fosse um marco para mudar o histórico de impunidade de crimes de colarinho branco no Brasil.

Assim como engolfaram todo o mercado de proteína animal no Brasil à custa de subsídios generosos e propinas fartas, Joesley et caterva viram uma forma de amalgamar todos os benefícios das delações feitas antes deles fornecendo a Janot sua “joia da Coroa”: uma colaboração que atingisse em cheio o Executivo e o Judiciário, uma vez que o Legislativo já estaria f..., como eles dizem numa das muitas passagens memoráveis da conversa.

Assim foi armada, com a ajuda valiosa de Marcelo Miller, um dos mais destacados integrantes do GT do Janot, a delação que atingiu Michel Temer em cheio e que pretendia fazer também um strike no STF, o que não foi adiante porque o modus operandi que valeu com o presidente não foi capaz de enredar a “isca” escolhida, o ex-ministro José Eduardo Cardozo.

Não adianta Janot correr para denunciar Temer, Lula, Dilma, o PMDB do Senado, Miller, Joesley e a torcida do Flamengo nessa reta final, numa luta desesperada contra o tempo que ainda lhe resta no cargo. A gravidade de o acordo com os irmãos Batista e sua quadrilha ter sido fechado nos termos em que foi, e nas condições de bastidores agora reveladas, macula de forma inexorável seu mandato.

Denúncias apresentadas em cima do laço, nessas circunstâncias em que não é de todo irrazoável suspeitar que ele próprio tivesse algum nível de conhecimento das urdiduras entre Miller e a J&F – os diálogos dão a entender que sim em vários momentos – só servem para enfraquecer o Ministério Público e fornecer argumentos aos investigados de que são alvo de uma atuação política e de autossalvação do procurador-geral.

Melhor teria sido que ele dedicasse integralmente as semanas finais a esclarecer essa pantomima joesliana e deixasse a cargo de sua sucessora, Raquel Dodge, que terá mais legitimidade e menos questionamentos sobre seus ombros, a tarefa de concluir as denúncias nos muitos casos deixados em aberto ao longo de seu errático período à frente da instituição.

Lançar flechas a três por quatro, mirando alvos múltiplos, fez com que Janot acertasse não só o próprio pé, mas o coração da Lava Jato. Eis um legado que será bastante deletério para o País num momento crucial.

Joesley contrata Kakay (em O Antagonista)

Joesley Batista e Ricardo Saud, segundo o Jota, arrumaram um novo advogado: Kakay.

Os delatores contrataram um defensor que detona publicamente a Lava Jato?

É um sinal muito claro de que eles decidiram partir para a guerra contra o MPF.

Mediocridade e acaso conduzem Joesley à cana (por JOSIAS DE SOUZA, no UOL)

Joesley Batista é ao mesmo tempo um típico capitalista brasileiro e uma vítima da tecnologia. Conseguiu manusear a senha do cofre do BNDES. Mas não aprendeu a lidar com a tecla On-Off do gravador. O linguajar tosco foi a glória e a derrocada do dono da JBS. Sabia fazer amigos, cúmplices e dinheiro —muito dinheiro. Mas não conseguiu fazer boas frases. Suas últimas palavras antes da decretação de sua prisão foram: “Cê tem certeza que esse troço tá desligado, Ricardinho?!?”

O áudio-trapalhão que Joesley entregou à Procuradoria, aparentemente sem saber, traduz magnificamente o personagem. Mentor da delação mais lucrativa da Era da Lava Jato, Joesley não teve uma sensibilidade à altura do seu feito. Para sorte dos brasileiros, tudo ficou claro na “conversa de bêbado” que o personagem teve com seu empregado Ricardo Saud.

Arrojado, Joesley se auto-impôs uma meta ambiciosa: “Nós temos que ser a tampa do caixão. (…) Nós vai ser quem vai dar o último tiro. Vai ser quem vai bater o prego da tampa.” Desastrado, o empresário contou para o gravador que chegaria à premiação máxima da imunidade penal tomando o atalho da ilegalidade. Pulou para dentro do caixão ao declarar-se “100% alinhado” com um ex-procurador da equipe de Rodrigo Janot, perfeitamente familiarizado com as mumunhas da Lava Jato.

Se adivinhasse o seu destino, Joesley talvez tivesse investido o dinheiro do BNDES numa fábrica de gravadores. Daria menos lucro do que a picanha. Mas produziria equipamentos mais, digamos, confiáveis. Outra alternativa seria a contratação de dublês para substituir os delatores da JBS nas cenas de perigo.

O ministro Edson Fachin talvez poupasse Joesley ‘Stalone’ Batista da cadeia se o protagonista tivesse sido substituído na hora do close defronte do gravador por alguém com menos aptidão para o uísque e melhor dicção.

Quando Ricardinho perguntasse sobre Marcelo Miller, o dublê se espantaria: “Heimmmm? Quemmm?” Na hora em que o empregado mencionasse a hipótese de atrair ministros do Supremo para a lama, o dublê chamaria o garçom: “Água, por favor.”

O que mais assusta no autogrampo que captou a desfaçatez de Joesley e Saud é a sua banalidade perversa. As manobras, os estratagemas, os subterfúgios, nada disso surpreende o brasileiro. A essa altura, a plateia já aprendeu que, no vácuo moral em que trafegam os negócios do Estado, o cinismo é a regra. O que deixa todo mundo transtornado é a constatação de que a punição do bandido depende do acaso.

Joesley e seu subordinado estão sendo encarcerados temporariamente pelo excesso de mediocridade, não por terem sido desmascarados pelo aparato investigatório do Estado. Encrencaram-se porque se portaram como bárbaros embriagados diante de um gravador que não sabiam operar. A plateia se pergunta: quem deterá os usurpadores que souberem a diferença entre ‘on’ e ‘off’?

Fonte: O Estado de S. Paulo/UOL

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