Marcos Valério presta depoimento sobre tentativa de frustrar delação, diz PF (na FOLHA)
O publicitário Marcos Valério presta depoimento na Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (18), em Belo Horizonte, para esclarecer tentativas de frustrar sua delação premiada.
O acordo de delação foi fechado com a PF no mês passado. O acerto ainda aguarda homologação no STF (Supremo Tribunal Federal).
Segundo delegado da PF, foram detectadas movimentações de citados na delação para cooptar testemunhas. Valério foi intimado para ajudar a esclarecer os fatos.
"Tivemos informações de que a organização criminosa envolvida nessa delação está agindo para criar obstáculos", disse Marcílio Miranda Zocrato, delegado regional de investigação e combate ao crime organizado em Minas Gerais.
"Investigados estão cooptando testemunhas. Os envolvidos estão se movimentando com a finalidade de não tornar efetiva a delação", completou.
O depoimento de Valério sobre a suposta obstrução de justiça será enviado ao STF.
O publicitário está preso em Sete Lagoas (MG) e chegou à sede da PF em BH por volta das 9h40.
Valério foi condenado a mais de 37 anos de prisão pelo escândalo do mensalão e é réu no mensalão tucano, esquema de desvios para a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas em 1998.
Em sua delação, Valério narra detalhes sobre a compra de apoio parlamentar no governo Lula e fala de caixa dois para campanhas presidenciais.
O acordo chegou a ser proposto para o Ministério Público de Minas Gerais e para a Procuradoria-Geral da República, mas não foi aceito.
Escândalo do mensalão volta a rondar siderúrgica Usiminas
Em março de 2016, o sindicalista Luiz Carlos de Miranda Faria, acusado pela CPI dos Correios de ter sacado R$ 68.541,84 do chamado "valerioduto" em 12 de agosto de 2004, foi eleito para uma vaga no Conselho de Administração da empresa.
No relatório da CPI que investigou o mensalão, o nome de Miranda aparece entre os eventuais prestadores que sacaram dinheiro da SMP&B, de Valério, sem que tivessem seus serviços comprovados. Em acareação feita pelos parlamentares, o sindicalista foi apontado como entregador para o PTB.
Na época, os ex-deputados Romeu Queiroz (então no PTB) e Roberto Brant (então no PFL) admitiram terem recebido, em 2004, cerca de R$ 100 mil da Usiminas via Valério para campanhas municipais em Minas.
Segundo a delação e a investigação da CPI, o contrato de publicidade entre a siderúrgica mineira e a SMP&B abasteceu campanhas, inclusive presidenciais, de 1998 a 2004.
O relatório da CPI identifica R$ 2,9 milhões em pagamentos da Usiminas à SMP&B, feitos em agosto e setembro de 2004, sem que houvesse comprovação do serviço prestado. Os saques, no período, totalizam quase R$ 2 milhões.
Miranda, atual conselheiro da Usiminas, foi deputado estadual pelo PDT em Minas e é secretário-geral do Solidariedade no Estado. Um dos fundadores da Força Sindical, ele comandou o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa) por mais de 20 anos -de 1985 a 1994 e de 2000 a 2013.
À Folha, Miranda afirmou que o valor sacado era uma contribuição da Usiminas com a festa do 1º de Maio realizada pelo sindicato.
Em 2010 e 2011, ele foi alvo de duas ações civis do Ministério Público do Trabalho acusado de desviar recursos do sindicato e receber doações das empresas da base do Sindipa em troca de fechar acordos menos favoráveis aos trabalhadores.
Para dar fim às ações, Miranda acertou um acordo com o MPT. Em 2012, se comprometeu a nunca mais concorrer ou assumir cargos no Sindipa.
Miranda era próximo de Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas à época do esquema e morto em 2011. Concorreu a deputado estadual em 2006 e 2010, quando alcançou a suplência e, mais tarde, o mandato na Assembleia. Atualmente tenta criar um novo sindicato em Ipatinga.
O fato de Miranda ocupar um cargo estratégico gerou incômodo e questionamento no ambiente interno da Usiminas. Além de compor o colegiado de 11 pessoas que define os rumos da empresa, ele também acompanha o atual presidente, Sérgio Leite, em diversos compromissos institucionais.
OUTRO LADO
Procurado pela Folha, Miranda disse que "não conhece Marcos Valério" e que "não cometeu ilegalidade". Afirmou que ficou surpreso ao ser citado na CPI e que sacou a quantia no Banco Rural por orientação da direção da Usiminas.
"O sindicato recebeu uma ajuda da Usiminas, como sempre fez, para fazer o 1º de Maio. Esse dinheiro foi tirado do Banco Rural e entrou na contabilidade do sindicato, que foi registrada em cartório. Levei toda a documentação à CPI e à Polícia Federal. Eu não tenho dinheiro público, mensalão é dinheiro público, eu não era político", diz.
Em nota, a Usiminas afirmou que os fatos "ocorreram há cerca de 20 anos, sendo que nenhum administrador da companhia à época é administrador da atualmente".
Sobre a delação de Marcos Valério, a empresa diz que não teve acesso aos documentos e desconhece a veracidade dos fatos.
"A Usiminas reitera seus elevados padrões de governança e compliance, que garantem a total observância da legislação brasileira anticorrupção", afirma a nota.