BC vê inflação menor em 2017 e 2018, mas sinaliza de novo que vai cortar menos os juros

Publicado em 22/06/2017 08:37

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central reduziu suas previsões sobre inflação neste ano e no próximo, mas reafirmou que a redução moderada do ritmo de corte na Selic deve se mostrar adequada diante do cenário de incerteza que envolve a economia, em meio à intensa crise política que enfrenta o governo do presidente Michel Temer.

Segundo Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira, o BC passou a ver a alta do IPCA em 3,8 por cento em 2017 e em 4,5 por cento em 2018 pelo cenário de mercado, sobre 4 e 4,6 por cento vistos no comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de maio.

"Em função do cenário básico e do balanço de riscos avaliados em sua última reunião, o Copom entendeu que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado naquela ocasião deveria se mostrar adequada em sua próxima reunião, em julho", escreveu o BC.

No mês passado, o BC cortou a Selic em 1 ponto percentual, a 10,25 por cento ao ano, ciclo de afrouxamento que começou em outubro passado. No relatório, reafirmou que o ritmo de flexibilização daqui para frente continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.

E acrescentou: "O Copom reitera sua preferência por explicitar condicionalidades sobre a evolução da política monetária, o que melhor transmite a racionalidade econômica que guia suas decisões".

Para analistas, o BC continuou apontando que deve cortar menos a taxa básica de juros daqui para frente, em meio à crise política, mas a manutenção do ritmo de redução de 1 ponto não estava totalmente descartada.

"A crise provavelmente gera efeitos desinflacionários, mas isso não implica aumentar os estímulos monetários porque aumentaram os riscos em relação ao cenário de 2018", avaliou o economista-chefe da corretora Votorantim, Roberto Padovani, que prevê redução de 0,75 ponto nos juros em julho, com a Selic fechando o ano em 9 por cento.

No relatório, a autoridade monetária repetiu a mensagem do aumento das incertezas diante da crise política, e reiterou que o resultado líquido desse quadro pode ser tanto desinflacionário, em função do impacto negativo sobre a atividade econômica, quanto inflacionário, com mudanças na formação de preços e sobre as estimativas da taxa de juros estrutural.

"Existe também a possibilidade de os efeitos se compensarem e a trajetória prospectiva da inflação não ser impactada. Não há, portanto, relação direta e mecânica entre o aumento de incerteza e a política monetária", reforçou.

No mercado de juros futuros, as apostas majoritárias continuavam em corte de 0,75 ponto na Selic em julho, segundo dados da Reuters.

A inflação vem mostrando sinais favoráveis, com o IPCA somando nos 12 meses até maio alta de 3,60 por cento, bem abaixo do centro da meta de inflação de 4,5 por cento para este ano e o próximo, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

No documento, o BC também calculou inflação em torno de 4,3 por cento nos 12 meses até o segundo trimestre de 2019.

A equipe econômica quer reduzir a meta de inflação para 2019, decisão que tomará na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na semana que vem. A ideia é cortar o centro da meta, estabelecido em 4,5 por cento desde 2005, para algo entre 4 e 4,25 por cento.

O BC também manteve sua perspectiva para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano a 0,5 por cento, justificando que colocou na balança resultados favoráveis de indicadores de atividade recentes que, se mantidos, levariam a uma revisão de alta, mas também ao maior ambiente de incertezas, que pode ter efeito negativo sobre a economia.

(Reportagem adicional de Camila Moreira, em São Paulo)

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Ações sobem após dados de inflação, mas acumulam queda na semana
Dólar cai após BC vender US$7 bi e Senado aprovar pacote fiscal
Taxas futuras de juros voltam a ceder com aprovação do pacote fiscal e comentários de Lula
Transição com Galípolo mostra que BC técnico permanece, diz Campos Neto
Ações europeias têm pior semana em mais de três meses, com queda no setor de saúde
Presidente do Fed de NY diz que BC dos EUA segue no caminho certo para cortes de juros
undefined