Câmara rejeita urgência para reforma trabalhista e governo corre risco de ter cronograma atrasado
BRASÍLIA (Reuters) - A Câmara dos Deputados rejeitou nesta terça-feira um requerimento para conferir o regime de urgência à proposta da reforma trabalhista, colocando em risco os planos do governo de vê-la votada na comissão e no plenário na próxima semana.
A ideia do governo é a de votar primeiro a reforma trabalhista, que funcionaria como um termômetro da base, para depois passar para a reforma da Previdência. Mas como o requerimento não alcançou os 257 votos necessários para que fosse aprovado, a proposta de mudanças na legislação trabalhista não poderá, por ora, descumprir um prazo regimental de 7 sessões para que seja iniciada sua votação na comissão especial.
Segundo técnicos legislativos, como a sessão foi encerrada e uma nova foi iniciada, pode ser apresentado um novo requerimento de urgência. Mas lideranças governistas, reunidas em um canto do plenário, ainda decidiam como proceder.
Enquanto transcorria a votação, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) sentou-se na cadeira da presidência da Câmara e referiu-se à reforma da trabalhista, no microfone, como “essa desgraça”.
Diante da cena, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apressou-se em encerrar a sessão. Ainda que mais de 430 deputados estivessem na Câmara, o quórum total da votação foi de 394 parlamentares. Desses, 230 votaram pela aprovação do requerimento e 163 foram contrários.
Na avaliação de um governista, houve erro na condução da votação do requerimento, que pode ter sido induzido pela movimentação da oposição. O próprio Maia, pouco depois de abrir nova sessão, admitiu o erro e afirmou ter encerrado a votação “num momento equivocado”.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)
Planalto reconhece que derrota na reforma trabalhista é mau sinal, mas considera reversível
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto reconheceu que a derrota na votação da urgência para a reforma trabalhista foi um "mau sinal", mas é reversível, e tenta reorganizar a base para tentar votar o requerimento novamente na quarta-feira, disseram à Reuters fontes palacianas.
O presidente Michel Temer se reuniu logo depois do resultado da votação com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, para avaliar o resultado, que deu ao governo apenas 230 votos, quando o mínimo necessário era 257.
"Os líderes da Câmara vão se reunir para avaliar o cenário e se tiver condições põe para votar amanhã novamente", disse uma das fontes.
O Planalto adotou a desculpa dada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que cometeu um erro regimental ao encerrar muito rápido a votação, impedindo que alguns parlamentares chegassem ao plenário.
"Havia quórum na casa. Mas mais de 40 parlamentares não conseguiram chegar para votar", justificou a fonte. A votação foi encerrada em 16 minutos. "Estavam achando que estava fácil, mas teve resistências", completou a fonte.
O governo admite que terá que "discutir a relação" com alguns partidos da base. Titular do Ministério das Minas e Energia com Fernando Bezerra Filho, o PSB deu 19 dos seus 31 votos contra a urgência. O PR, nove de 27. E mesmo no PMDB, partido do presidente, oito de 48 deputados votaram contra a urgência.
"Não tem como não dizer que não é um mau sinal", disse outra fonte, acrescentando, no entanto, que "é reversível".