O Globo: A corrupção escancarada; assista aos vídeos com a delação de Marcelo Odebrecht

Publicado em 13/04/2017 09:58
Reduzir ao caixa dois o que fez a quadrilha petista é absurdo e só interessa mesmo aos próprios petistas (por RODRIGO CONSTANTINO)

RIO - Os depoimentos em vídeo dos delatores da Odebrecht jogaram luz de maneira inédita sobre como funcionavam as engrenagens da corrupção operada pelos dirigentes de empreiteiras e pelos principais líderes políticos do Brasil. Os relatos divulgados ontem atingem o alto escalão dos governos Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer, além da cúpula da Câmara e do Senado.

Temer e US$ 40 milhões

A delação do ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva aponta que o presidente Michel Temer comandou, em 15 de julho de 2010, reunião que serviu para sacramentar acordo que previa o pagamento de cerca de US$ 40 milhões de propina ao PMDB em troca de contratos da Diretoria Internacional da Petrobras. Segundo Faria, Temer, à época candidato à vice na chapa de Dilma Rousseff, delegou a Eduardo Cunha e a Henrique Eduardo Alves, então deputados e presentes ao encontro, a tarefa de fazer os repasses, que representavam uma taxa de 5% sobre o valor dos contratos.

A reunião ocorreu no escritório político de Temer em São Paulo, sendo que o peemedebista não discutiu nenhum detalhe sobre o acordo financeiro, limitando-se a conversas triviais sobre política. Em nota, o Planalto afirmou que Temer “jamais tratou de valores com o senhor Márcio Faria”. “A narrativa divulgada hoje não corresponde aos fatos e está baseada em uma mentira absoluta”.

'Lula e Dilma sabiam do caixa 2'

Marcelo Odebrecht disse que os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva sabiam da dimensão das doações via caixa 2 para suas campanhas. Marcelo contou que, em 2015, levou a Dilma a quantidade total dos depósitos feitos irregularmente pela Odebrecht, alertando que isso poderia contaminar a campanha da petista.

"No que tange a questão de caixa 2, tanto Lula quanto Dilma tinham conhecimento do montante, não necessariamente do valor preciso, mas tinham conhecimento da dimensão de todo o nosso apoio ao longo dos anos. A Dilma sabia que grande parte do nosso apoio estava direcionada para João Santana (publicitário da campanha da petista). Várias vezes, ao longo do tempo, ainda que não fosse ela que pedisse o pagamento a João Santana, porque foi pedido por Guido (Mantega, ex-ministro da Fazenda), várias vezes em nossas conversas se mencionou a questão. Ela sabia do apoio que eu dava para o amigo dela, essas coisas todas", relatou.

Leia a íntegra no site do jornal O Globo.

Reduzir ao caixa dois o que fez a quadrilha petista é absurdo e só interessa mesmo aos próprios petistas (por RODRIGO CONSTANTINO)

A República do Caixa Dois ficou exposta com a “Lista de Fachin”, que colocou inúmeros políticos do alto escalão sob suspeita e investigação. Nunca antes na história deste país a classe política gozou de tão pouca credibilidade. A Odebrecht, ao que tudo indica, não era bem uma empreiteira, mas um centro de distribuição de propina e recursos ilícitos para campanhas políticas. “Não se salva um, meu irmão.”

Mas, em que pesem os indícios de corrupção generalizada, cabe perguntar: a quem interessa misturar tudo e todos num grande saco podre? Que nossa política faz uso de caixa dois há anos, todos sabem. Que isso é crime e não deve ficar impune, idem. Mas daí a reduzir ao caixa dois o que fez a quadrilha petista, em conluio com a própria Odebrecht, isso é absurdo e só interessa mesmo aos próprios petistas.

Foi Lula quem, em 2005, tentou assumir esse delito menor para livrar sua turma dos crimes maiores. O mensalão tinha estourado, um esquema de compra de deputados para o controle da máquina estatal por um só “partido”, e Lula, o “amigo” da Odebrecht, reconheceu o erro do caixa dois, o que todos faziam antes dele. Do “nunca antes” foi para o “sempre antes”, e tentou com isso blindar seu PT de acusação bem mais grave.

Caixa dois, repito, é crime e deve ser punido. Não é brincadeira, subverte o conceito da democracia. Enriquecimento pessoal com contas na Suíça também é crime, e igualmente grave. Mas o PT no poder não fez “só” isso; fez muito mais! E coisa muito pior: tentou destruir a nossa democracia, levar o Brasil na direção da Venezuela, instaurar em nosso país um regime totalitário, aparelhando a máquina estatal inteira, controlando tudo. A corrupção foi o meio; o fim era mesmo o socialismo.

Com isso em mente, a questão que surge é esta: por que tanta gente tem tentado misturar tudo, como se o ato de um candidato receber recursos de campanha por fora fosse igual ao assalto direto do PT à nossa democracia? E justo numa época em que Lula parece mais perto da prisão?

Guilherme Fiuza escreveu em seu Twitter: “Companheiro Fachin honrando sua patente petista, embaralhando as cartas e tentando igualar todo mundo às vésperas da prisão de Lula. Em vão”. Será que o respeitado jornalista tem um ponto? Será que ele está certo, e que tudo isso soa estranho num momento desses?

Que nossa política está podre, isso é um fato. Que a “Lista de Fachin” explica posturas aparentemente estranhas de “opositores” do PT, pusilânimes demais porque tinham o rabo preso, isso também está evidente. Mas essa tentativa de melar o jogo e embaralhar as cartas novamente é o sonho de quem estava perdendo feio, não é mesmo? E isso bem na hora em que o PT afundava de vez, e o governo de transição tentava, ao menos, aprovar algumas reformas necessárias para impedir que o Brasil todo afunde junto. Estranho.

A reação a esse clima de podridão geral é preocupante. Alguns sonham com um salvador da Pátria, um messias que vai consertar a bagunça toda de cima para baixo, bem ao estilo paizão que o brasileiro adora, e que sempre foi nossa maior desgraça. O terreno para outro caudilho populista foi adubado. Ao mesmo tempo, como esperar alguma mudança séria vindo de dentro desse sistema corrompido?

Que dilema! Um liberal deveria estar lutando pelo fortalecimento de nossas instituições republicanas, que devem ser mais fortes do que indivíduos, e pela redução do Estado, cujo poder demasiado é o grande convite às moscas corruptas. Mas o resultado desse “melou o jogo” pode ser o oposto disso.

Por outro lado, é inaceitável ser cúmplice de uma anistia geral, da impunidade para aqueles que praticaram o crime de caixa dois ou receberam propina. Seria enfraquecer as tais instituições. Tempos perigosos à frente.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.

No Estadão: Assista à delação premiada de Marcelo Odebrecht

O empresário Marcelo Odebrecht, condenado na Operação Lava Jato, revelou em delação premiada à força-tarefa do Ministério Público Federal como operava o setor de propinas do grupo que presidiu até ser capturado por ordem do juiz federal Sérgio Moro.

Em longos e sucessivos relatos a uma numerosa equipe de procuradores da República, o mais poderoso empreiteiro do País escancarou negociatas, tráfico de influência, fraudes em licitações bilionárias, conluios e a corrupção que atingiu as mais altas instâncias do poder público.

Os depoimentos de Odebrecht, gravados em áudio e vídeo pela Procuradoria-Geral da República, compõem a base dos 76 inquéritos que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, mandou abrir porque envolvem deputados, senadores, governadores, ministros e outros políticos que detêm foro privilegiado.

Outras investigações serão abertas em graus inferiores da Justiça – nestes casos, os investigados são ex-políticos ou agentes públicos que não desfrutam do foro especial.

Os vídeos da delação de Marcelo Odebrecht foram liberados pelo STF nesta quarta-feira, 13.

Veja:

Na Folha: A lista coloca o Brasil no abismo, sem rede, por Clóvis Rossi

A lista do ministro Luiz Edson Fachin coloca o sistema político brasileiro pendurado em um abismo horrendo, sem rede de proteção e sem prazo para ser atravessado.

Por mais que a lista não seja propriamente uma grande novidade, o fato é que ela representa uma espécie de consolidação do elenco da corrupção e, como tal, causa a sensação de que "não sobrou ninguém honesto e correto para que o povo tenha um mínimo de esperança", como escreveu o leitor Victor Claudio para o Painel do Leitor desta quarta-feira (12).

É um exagero, claro, mas é uma sensação inescapável quando se verifica, por exemplo, que estão citados todos os presidentes do período democrático, à exceção de José Sarney, que tem lá seus próprios problemas, e de Itamar Franco, que já morreu.

Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff –estão todos lá.

Sobre o governo de Michel Temer, que já não tem legitimidade eleitoral, pode-se dizer que perde legitimidade de ação. Em qualquer lugar (civilizado) do mundo, fica inteiramente desacreditado um presidente que tem todos os seus quatro homens mais próximos e de mais confiança fulminados por suspeitas de corrupção.

No Brasil de Temer, não são apenas quatro os seus auxiliares que figuram na lista, mas boa parte de sua base de sustentação (65% dos citados pertencem à base do governo atual ).

Como não há hipótese de que se faça uma eleição direta mais ou menos imediata, o governo Temer estará suspenso no abismo até 2018.

Leia a coluna na íntegra no site da Folha de S. Paulo.

Eles não se emendam, EDITORIAL DO ESTADÃO (sábado)

Os partidos políticos estão se mobilizando para sensibilizar a Justiça Eleitoral a aceitar o dinheiro do Fundo Partidário como meio para quitar as multas que lhes foram impostas por mau uso desse mesmo fundo.

Não contentes em malversar os recursos públicos a eles destinados pelo Fundo Partidário, esses partidos agora pretendem driblar sua responsabilidade atribuindo ao contribuinte a obrigação de lhes financiar a multa devida por seu péssimo comportamento.

O argumento para tão espantosa demanda é que os partidos, em resumo, estão sem dinheiro. Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o financiamento eleitoral não poderia mais ser feito por empresas, mas apenas por pessoas físicas, as agremiações partidárias vêm encontrando dificuldades para fechar suas contas. O dinheiro fácil das grandes companhias, que fez a alegria daqueles que transformaram a política em negócio, estava destruindo a essência da democracia – afinal, o cidadão nada podia, com seu voto, diante do imenso poder de persuasão das grandes empresas, especialmente das empreiteiras. Foi contra isso que agiu o Supremo, para impedir que os partidos se transformassem de vez em meras subsidiárias dessas empresas.

Perdidos diante dessa nova realidade, os partidos, em lugar de pensar em estratégias para convencer seus eleitores a financiá-los, continuam a torcer para que o erário lhes venha em socorro. Dizendo esperar que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, tenha “sensibilidade para entender o momento”, o deputado Alex Manente (SP), da direção nacional do PPS, explicou que, em razão da crise econômica, “temos muita dificuldade para que filiados façam doações, mesmo que pequenas”. O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), por sua vez, disse que “estabeleceu-se um impasse” e que, “se as multas forem pesadas, elas serão impagáveis”.

Para o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), da Executiva Nacional do PMDB, a decisão do Supremo a respeito das doações para os partidos obriga a Justiça Eleitoral a mudar também as regras para o pagamento das multas. “Não foram os partidos que mudaram a regra, mas o STF. Logo, a regra para multas precisa mudar também. Se não temos recursos próprios, vamos pagar como? Não somos empresa, não temos receita própria”, disse Vieira Lima. Ora, esse dilema não existiria se, em primeiro lugar, os partidos não tivessem usado o dinheiro do Fundo Partidário para pagar jatinhos e caipirinhas, razão pela qual foram multados.

Para Vieira Lima, o Fundo Partidário “é a receita da democracia”. Com esse raciocínio, os deputados querem fazer acreditar que a democracia, em si, depende do Fundo Partidário, o que é um absurdo. O Fundo Partidário é essencialmente antidemocrático, pois obriga os contribuintes a colaborar para a manutenção de partidos com os quais não têm nenhuma afinidade. Esse fundo só existe porque os partidos são hoje incapazes de se apresentar como representantes do eleitor comum, do qual deveriam vir, por livre vontade, os recursos que lhes assegurassem a existência. Assim, em vez de lutarem para se tornar partidos políticos de verdade, as atuais agremiações empenham-se em encontrar maneiras cada vez mais criativas de manter sua relação de dependência com o dinheiro público. 

É nesse contexto que surgiu também a ideia de um “Fundo Especial de Financiamento da Democracia”, incluída na proposta de reforma política relatada pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP). “A democracia tem seu custo”, argumentou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Não há dúvida que a atividade partidária, especialmente as campanhas eleitorais, tem um custo, mas esse custo havia atingido um nível tal que não podia mais ser bancado senão com o dinheiro de empresas. Agora sem esses recursos, os partidos podem optar por fazer campanhas mais baratas e mais próximas dos eleitores, sem a caríssima infraestrutura marqueteira que foi paga com dinheiro sujo por diversos partidos. O que não podem é continuar a acreditar que, façam o que fizerem, serão sempre credores compulsórios dos cofres públicos.

Fonte: O Globo + Estadão + Folha

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Disputa por taxa de fim de mês impulsiona dólar ante real em dia de Fed e Copom
S&P 500 e Nasdaq sobem com alta do setor de chips, após Fed sinalizar próximo corte de juros
Ibovespa avança 3% em julho com endosso do Fed a aposta sobre corte de juros
Taxas futuras de juros caem no Brasil com decisão do Fed e antes do Copom
Vendas de diesel no Brasil batem recorde no 1º semestre; gasolina recua
Corte de juros em setembro pode estar em jogo se inflação cair em linha com expectativas, diz Powell