Balança comercial bate recorde em março e no primeiro trimestre; inflação deve ficar pouco acima dos 4% neste ano

Publicado em 05/04/2017 05:14
Há bons sinais da economia, apesar dos maliciosos e “miliciosos” (análise de REINALDO AZEVEDO, em VEJA.COM)

Será que chegaremos à eleição de 2018 com o ambiente ainda crispado como está hoje em dia, com os fascistoides de esquerda e de direita se engalfinhando nas redes sociais, no campeonato asqueroso da boçalidade? Será que o país vai degenerar em hordas de paisanos maliciosos e “miliciosos”, ora vestidos de vermelho, ora vestidos com as cores pátrias, expressando todos, em qualquer caso, seu desprezo pela democracia liberal, seu despreparo intelectual, sua intolerância com as diferenças?

Talvez a gente até tenha algum motivo para otimismo, apesar dos vigaristas. Uma ondinha de esperança, ora vejam, chega da economia, não da política.

Ainda que a coisa doa aos ouvidos de especuladores mixurucas, que resolvem apostar alto na queda de Michel Temer e no desastre do seu governo, há sinais de que as coisas não vão por aí.

Pode parecer incrível. Pode parecer coisa do outro mundo. Mas o fato é que há uma retomada do crescimento em curso, ainda lenta. Os sinais já começam a se mostrar.

A balança comercial teve em março um superávit recorde para o mês, desde 1989: US$ 7,1 bilhões. As exportações somaram US$ 20 bilhões no período, o que representa um crescimento de 20% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já as importações ficaram em US$ 12,9 bilhões, uma elevação de 7% ante março de 2016.

Nem a Operação Carne Franca — que deveria ser chamada de “Operação Vaca Louca” — conseguiu atrapalhar o desempenho da economia. A exportação de carnes em março, na comparação com 12 meses passado, cresceu 9%. A venda de carne bovina, no entanto, saiu prejudicada: uma queda de 6%. Ainda assim, convenham, a coisa parece beirar o milagre.

O governo agiu de modo rápido e eficiente no caso da carne. Planejou-se um desastre de grandes proporções. À medida que as “interpretações” da PF foram caindo no ridículo, o mercado foi se recuperando. Mas é claro que há perdas acumuladas quando se compara com o ritmo em que vinha crescendo o setor.

O saldo positivo da balança no primeiro trimestre deste ano também é histórico: superávit de US$ 14,4 bilhões.

Os números são compatíveis com as previsões do mercado financeiro, que voltou a revisar para baixo a previsão da taxa básica de juros para o fim deste ano. Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, a Selic encerrará 2017 em 8,75%. Há uma semana, a projeção era de 9%.

Para 2018, a estimativa foi mantida em 8,5% pela segunda semana seguida. A previsão para o IPCA, no fim deste ano, colabora para a queda na projeção da Selic. Pela quarta semana consecutiva, os analistas reduziram suas estimativas para a inflação, que passaram de 4,12% para 4,1%. Para o ano que vem, os economistas continuam esperando que o indicador fique em 4,5%, que é o centro da meta do governo tanto para 2017 como para 2018. No mesmo relatório Focus, o mercado manteve ainda suas previsões para a economia brasileira neste ano: crescimento de 0,47% do PIB. Para o ano que vem, um crescimento modesto, mas robusto para quem sai do abismo: 2,5%.

Ué, mas inflação mais baixa agora do que no ano que vem? Sim, estamos falando de uma economia que está tentando sair da recessão. Aliás, quando a inflação é mais baixa numa economia deprimida do que numa economia em expansão, é sinal de que as coisas estão no lugar; evidência de que o conjunto faz sentido.

Impossível era aquele país de Dilma, que ia para o abismo da recessão, mas com inflação nas alturas e juros nos cornos da lua.

A propósito: no ano que vem, inflação de 4,5% e Selic de 8,5%? Juros reais de 4%? Bem, caros, não sei como a Rússia estará em 2017, mas o Brasil, ainda assim, estará disputando com aquele país o pódio dos juros reais mais elevados do mundo. É preciso ver se isso faz sentido. Agora os meus amigos conservadores se arrepiam — por alguma razão, os liberais viraram “amiguchos” dos juros altos: eu acho que não faz sentido.

Mas encerro. A crispação de agora pode perder força numa economia que volte a crescer, a gerar empregos, a criar esperanças. Para a infelicidade dos fascistoides de direita e de esquerda. (REINALDO AZEVEDO, em VEJA.COM).

Sem hesitação (EDITORIAL DO ESTADÃO)

Os números são avassaladores, mas é preciso levar em conta, em primeiro lugar, que nenhum presidente seria popular no atual cenário

Políticos, é claro, são movidos a voto, razão pela qual trabalham sempre tendo em vista a ampliação de seu capital eleitoral e evitam, tanto quanto possível, situações que erodam sua popularidade. Mas há circunstâncias excepcionais, como esta crise que tumultua o País, em que fica bem claro quem são os politiqueiros – aqueles que não se importam com o País e se empenham somente em proteger seu capital eleitoral – e quem são os líderes políticos de verdade, aqueles que honram seu ofício ao ter coragem de contrariar a opinião pública e demonstrar à sociedade quais devem ser as prioridades neste grave momento.

Assim, a grande impopularidade do presidente Michel Temer, aferida por diversas pesquisas nos últimos dias, não pode ser argumento para fazer o governo titubear diante do imenso desafio de reparar os fundamentos econômicos do Brasil, arruinados pelo desastroso governo petista.

É evidente que a impopularidade atrapalha muito, especialmente porque dá munição para os adversários políticos e para os mesmos irresponsáveis que tanto mal causaram ao País quando estiveram no governo, e que agora julgam que a solução para os problemas está em persistir nos erros.

E as pesquisas são eloquentes. O Ibope apurou que a gestão do presidente Michel Temer é considerada ruim ou péssima por 55% dos entrevistados. Em dezembro, esse porcentual era de 46%. Já a fatia dos que avaliam o governo como ótimo ou bom caiu de 13% para 10%. O modo como Temer governa foi reprovado por 73%, uma alta de 9 pontos porcentuais em relação à pesquisa anterior, e os eleitores que não confiam nele passaram de 72% para 79%. Em outro levantamento, do Ipsos, 90% dos entrevistados disseram considerar que o Brasil está no rumo errado.

Os números são avassaladores, mas é preciso levar em conta, em primeiro lugar, que nenhum presidente seria popular no atual cenário, especialmente com a deterioração do mercado de trabalho – o total de desempregados atingiu 13,5 milhões, o maior número desde 2012, e a perspectiva é de lenta retomada do crescimento e das contratações. Logo, popularidade não deve ser a principal preocupação de Temer, pois não há o que possa ser feito no curto prazo para recuperá-la.

Considerando-se que o mandato de Temer termina em pouco mais de um ano e meio – e considerando-se que ele não será candidato a continuar no cargo, como asseverou diversas vezes –, o presidente não tem outra coisa a fazer a não ser manter o rumo e fazer o que é preciso ser feito, mesmo que, num primeiro momento, os efeitos dessas medidas aprofundem ainda mais a sua impopularidade.

Entre as medidas imprescindíveis estão as reformas trabalhista e previdenciária, que, ao lado do desemprego, ajudam a desgastar a imagem de Temer. Afinal, ninguém gosta de discutir a supressão ou a racionalização de benefícios sociais e de direitos trabalhistas, em especial numa situação de crise no mercado de trabalho. A Confederação Nacional da Indústria, que encomendou a pesquisa do Ibope, entende que a baixíssima aprovação a Temer é justamente “o custo político de colocar a economia nos trilhos” e de “promover as reformas necessárias para impulsionar o crescimento do País”.

Além da disposição para encarar esse custo político sem fraquejar, o governo de Michel Temer precisa urgentemente melhorar sua comunicação. O presidente e seus auxiliares devem se empenhar ao máximo em explicar aos brasileiros que, ao contrário do que apregoam os petistas, não há soluções mágicas para a crise.

Paralelamente, Temer precisa começar a enfatizar, sempre que possível e em voz alta, que a situação atual é resultado da inépcia dos presidentes petistas Lula da Silva e Dilma Rousseff, os mesmos que hoje pretendem dar lições sobre como tirar o País da crise que eles mesmos criaram.

Dilma e seu criador, Lula, já têm lugar garantido na história como os responsáveis pelo maior desastre econômico da história brasileira. Como contraponto ao desastre populista, Temer precisa seguir adiante com as reformas, sem se deixar guiar por pesquisas.

Dilma diz que gosta de João Santana e rebate acusações de Odebrecht (por MÔNICA BÉRGAMO, na FOLHA)

A ex-presidente Dilma Rousseff diz que gosta "muito" do marqueteiro João Santana e que vai ter "muita dificuldade" se ele "falar coisas que não são reais" sobre ela numa delação premiada. Nesta terça (4) o procurador-geral eleitoral, Nicolau Dino, tornou público que o depoimento do jornalista já foi homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ele será agora ouvido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

ELES & ELA
Dilma, que esmiuçou o depoimento de Marcelo Odebrecht ao TSE e fez por escrito comentários sobre cada item, diz acreditar que existia uma conta-corrente, mas não entre o empreiteiro e a campanha dela e sim entre Odebrecht "e quem dirigia a operação do João Santana, que todos diziam que era a Mônica Moura [mulher do marqueteiro]".

FLUXO
Ela chegou à conclusão por trechos do depoimento em que Odebrecht "fala que pagava o João Santana dois, três anos depois [de serviços prestados em campanhas eleitorais]. Se é verdade isso, há uma conta corrente porque tem fluxo constante de caixa", afirma.

QUE SENTIDO?
Ela refuta também a afirmação do empreiteiro de que R$ 20 milhões foram pagos a Santana no caixa dois pelo marketing da campanha presidencial de 2014. "Por que eu pagaria R$ 70 milhões para o João Santana em caixa um [valor declarado oficialmente ao TSE] e R$ 20 milhões em caixa dois? Por que, hein?", questiona.

ATÉ A PRÓXIMA
E o advogado de Santana, Fábio Tofic, renunciou à defesa do marqueteiro depois da divulgação de que o depoimento dele já tinha sido homologado pelo STF. Tofic é contra delação premiada e não conduziu as negociações.

Marqueteiros de Dilma, João Santana e Mônica Moura fecham delação (na VEJA.com):

O publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, fecharam acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). O anúncio foi feito nesta terça-feira pelo vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, durante o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ainda nesta terça, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin homologou o acordo e remeteu os autos à PGR. Os depoimentos citam autoridades que têm foro privilegiado — por isso, precisavam da autorização do Supremo.

O casal foi responsável pelo marketing da campanha de Dilma Rousseff (PT) nas eleições de 2010 e 2014. Apesar de estar em sigilo, a informação foi anunciada para justificar a inclusão de depoimentos do casal de publicitários no processo em que o PSDB pede a cassação da chapa formada pela petista e pelo presidente Michel Temer (PMDB), decidida no julgamento de hoje.

“Se afigura não menos importante que se inquiram também o senhor João Santana, a senhora Mônica Moura e o senhor André Santana [auxiliar do casal]. Digo isso diante da recentíssima notícia de que as pessoas agora nominadas celebraram acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República, acordo esse que se encontra submetido ao Supremo Tribunal Federal (STF)”, disse Dino no julgamento.

Santana e Mônica Moura foram presos na 23ª fase da Operação Lava Jato, em fevereiro do ano passado, por determinação do juiz federal Sergio Moro, mas foram soltos após pagarem fiança de 31,4 milhões de reais e ficarem proibidos de atuar em campanhas eleitorais até uma nova decisão sobre o caso.

Durante as investigações, em depoimento ao juiz, Mônica, que era responsável pela parte financeira da empresa de marketing do casal, informou que recebeu 4,5 milhões de dólares em uma conta offshore na Suíça. Segundo ela, o repasse era referente a uma dívida por serviços de marketing político prestados ao PT durante a campanha de Dilma em 2010.

Após o depoimento, o PT garantiu que todas as “operações do partido foram feitas dentro da legalidade”. O partido também ressaltou que as contas de campanha eleitoral de 2010 foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Recuo de Herman Benjamin garante dupla vitória política a Michel Temer no TSE

NA PAINEL (DA FOLHA DE S.PAULO)

Dois coelhos Herman Benjamin entrou no TSE nesta terça (4) sabendo que seria derrotado. Era consenso que, se insistisse em negar o prazo pedido pela defesa, o caso poderia ser anulado. Por isso, o relator da ação que pode cassar o mandato de Michel Temer recuou. Só não contava que abriria espaço para o encaixe de novas testemunhas, o que vai alongar o processo. No fim, Temer obteve dupla vitória: tempo e a certeza de que nomeará não só um, mas dois dos nomes que julgarão sua cassação.

Consenso O Planalto e a cúpula do Congresso já esperavam uma mudança na rota do processo do TSE. Um ex-ministro consultado por uma das partes do caso resumiu o escorregão de Benjamin. É ponto pacífico, explicou, que juiz pode dar mais prazo para a defesa, mas nunca restringir o especificado em lei.

Incógnita Políticos de diversos partidos passaram o dia especulando sobre o que levou Nicolao Dino, representante da Procuradoria Eleitoral, a abrir, durante o julgamento no TSE, o acordo de delação firmado pelo publicitário João Santana e sua mulher, Mônica Moura.

Tese vencedora A maioria acredita que Dino o fez para reforçar as conclusões que havia apontado em seu parecer anterior, quando isentou Temer de responsabilidade na captação irregular de recursos. Santana prestava serviços a Dilma, o que deve fazer da petista o foco de sua colaboração premiada.

TSE pede ao STF permissão para ouvir marqueteiro João Santana e sua mulher (por JOSIAS DE SOUZA, do UOL)

O ministro Herman Benjamin, relator do processo sobre a cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral, pedirá autorização ao Supremo Tribunal Federal para interrogar o marqueteiro da campanha vitoriosa em 2014, João Santana, e sua mulher Mônica Moura. A dupla assinou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato. E o acordo se encontra no Supremo, responsável pela homologação.

“Vou oficiar ao ministro Edson Fachin”, disse Herman Benjamin ao blog. “Farei exatamente como fiz em relação aos depoimentos da Odebrecht.” Fachin é o relator da Lava Jato no Supremo. Como os depoimentos dos delatores se encontram sob sigilo, Benjamin precisa da autorização dele para dar cumprimento à decisão tomada na manhã desta terça-feira pelo plenário do TSE, na sessão inaugural do julgamento da ação que pode resultar na cassação de Michel Temer e na inelegibilidade de Dilma Rousseff.

Benjamin não sabia que João Santana, Mônica Moura e um filho do marqueteiro, André Santana, haviam se tornado colaboradores da Justiça. Tomou conhecimento da novidade por meio do vice-procurador-geral Eleitoral Nicolao Dino, que defendeu durante a sessão do TSE a necessidade de que os três fossem ouvidos no processo que pode resultar na cassação do mandato de Michel Temer.

Disse Nicolao Dino: “Afigura-se não menos importante que se inquiram também o senhor João Santana, a senhora Mônica Moura e o senhor André Santana. Digo isso diante da recentíssima notícia de que as pessoas agora nominadas celebraram acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República, acordo este que se encontra submetido ao Supremo Tribunal Federal.”

Além de enviar ofício a Fachin, Benjamin disse que marcará a data da inquirição de Guido Mantega. A pedido da defesa de Dilma, o ex-ministro petista da Fazenda também foi incluído no rol de novas testemunhas por decisão do plenário do TSE. Inicialmente, o relator do processo havia indeferido a providência. Mantega deve ser ouvido nesta quinta-feira (6).

TSE: Por que acertei? Porque opino com os fatos, não com o fígado(REINALDO AZEVEDO, em veja.com) 

Os idiotas dizem que Gilmar Mendes me conta tudo... É mesmo? Vai ver o presidente do TSE previu que Herman Benjamin mudaria de ideia...

Fazer o quê, né? Acertei em cheio sobre qual seria a decisão do TSE na primeira sessão do julgamento que vai decidir sobre o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer.

Algumas bocas de aluguel, ávidas por uma pouco mais de irrelevância barulhenta, saem por aí a proclamar que só acerto porque, afinal, Gilmar Mendes, presidente do TSE, me conta tudo.

É evidente que se trata só de uma mentira ressentida, mas trato, por hipótese, a coisa como verdadeira para que se evidencie a sua natureza mentirosa e dolosa.

Eu estou enganado ou o ministro Herman Benjamin, relator do caso, recuou? Eu estou enganado, ou ele próprio reconheceu que o legal era conceder cinco dias de prazo para a defesa de Dilma, entre outras coisas?

Não foi o que afirmei aqui e em toda parte? Mas há mais.

Enquanto os tolos — “PRECISA CHAMAR DE TOLOS, REINALDO?” RESPOSTA: SIM! — aplaudiam a decisão de Herman de convocar testemunhos de diretores da Odebrecht, eu fiz a advertência: “Ora, isso vai atrasar o processo”. Eis aí.

Os depoimentos, que ele convocou em razão de vazamentos publicados pela imprensa, iriam, por óbvio, suscitar outros tantos. Afinal, existe uma coisinha básica do direito, nas democracias, que é o tal “contraditório”…

Mais um pouco? Sem acesso às delações e provas, que estão sob sigilo no STF, o doutor resolveu solicitar provas para o TSE. A Odebrecht entregou mais de três mil páginas, que não foram compartilhadas com a defesa.

Ora…

Bem, qual é o resultado? O processo volta à fase de instrução porque é evidente que, se Benjamin convoca o testemunho de quem potencialmente concorre para a condenação da chapa, forçoso é que também faça o contrário.

Haverá, em data a ser marcada, os depoimentos do ex-ministro Guido Mantega, do marqueteiro da campanha de 2014, de João Santana, de sua esposa, Mônica Moura, e de André Santana, apontado como um emissário de João Santana.

Depois disso tudo, o doutor terá de fazer um novo relatório. Aí, sim, as respectivas defesas contarão com os cinco dias — aqueles, vocês se lembram? — que eram uma exigência legal?

Recuo

Sim, Benjamin recuou. E, ora vejam, por sete votos a zero, acatou-se a preliminar apresentada por Flávio Caetano, advogado de Dilma. O que o placar indica? Que ele teria sido derrotado por 6 a 1 se insistisse em suas teses heterodoxas.

Já escrevi aqui que Benjamin fez dois processos: um para a imprensa condoreira e outro de verdade.

Os condoreiros, pisando nos astros distraídos, acharam que os diretores da Odebrecht seriam a pá de cal na chapa. E, afinal, é preciso ser muito duro e coisa e tal…

Vocês sabem como a direta xucra pensa com os cascos!

Já os que se importam com a verdade dos fatos — eu, por exemplo — advertiram para o óbvio: as transgressões cometidas pelo ministro acabariam por retardar o processo.

Ou por outra: aquele que atuou para se mostrar o chicote da lei contra Dilma e Temer acaba, assim, como um “aliado objetivo” dos dois.

Podem escrever: não se conclui esse julgamento neste ano. Acho que vai se arrastar por uns quatro ou cinco meses do ano que vem. Em razão de tramoias dos ministros? Resposta: não!

É que o aparente excesso de rigor, fora dos limites da lei, e o hábito de jogar para a torcida sempre acabam ou em injustiça ou em justiça tarda.

Isso não quer dizer que os xucros aprendam alguma coisa. (REINALDO AZEVEDO).

Não houve nenhum traço de austeridade fiscal de 2012 a 2016, por ALEXANDRE SCHWARTZMAN (na FOLHA)

Na luta acirrada para produzir fatos alternativos, keynesianos de quermesse teimam em afirmar que a atual recessão, a maior dos últimos 85 anos, se deve à austeridade adotada no período pós-2014.

Desemprego, miséria, fome, guerra, peste e até unha encravada são atribuídos à política neoliberal e ao desmonte do Estado, patrocinados inicialmente pela presidente Dilma Rousseff (pausa para gargalhada incontrolável) e, mais recentemente, pelo presidente Temer.

Refeito do acesso de riso, minha reação óbvia é: "Austeridade? Onde?". Não é segredo para ninguém que tenha o hábito saudável -ainda que infelizmente pouco difundido- de olhar os dados que não há quaisquer sinais de austeridade, pelo menos do lado fiscal. Ao contrário, o que se vê é um processo contínuo de aumento do gasto público.

É verdade que os números foram bastante poluídos por "pedaladas" e "despedaladas" e que a própria crise econômica realimentou o fraco desempenho fiscal, dado que receitas tributárias costumam flutuar em linha com o crescimento econômico. Fica assim mais difícil avaliar o que tem ocorrido com a política fiscal, mas não chega a ser uma tarefa intransponível.

Recentemente, por exemplo, a Instituição Fiscal Independente, órgão do Senado que tem produzido pesquisa de boa qualidade, apresentou estimativas do desempenho fiscal que buscam dar uma base numérica mais sólida a essa variável, seguindo metodologia proposta pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

O primeiro procedimento consiste em "limpar" receitas e despesas extraordinárias, para que possamos observar os números fiscais ditos "recorrentes".

Assim, por exemplo, retira das receitas itens atípicos, como a repatriação de recursos no ano passado, antecipação de dividendos, concessões etc.; já do lado das despesas, desconsideram-se fenômenos como a capitalização da Petrobras, em 2010, e a correção das pedaladas, em 2015, entre outras.

Dessa forma, enquanto os dados oficiais apontam para um superavit primário médio do governo federal de 2011 a 2014 de 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto), o superavit recorrente no mesmo período é estimado em apenas 0,5% do PIB, bem abaixo do oficial. Já em 2015 e 2016, o deficit oficial atingiu 2,5% do PIB, mas o deficit recorrente foi ainda maior: 3,5% do PIB.

Como notado, parte da piora fiscal dos dois últimos anos reflete a recessão, requerendo um segundo procedimento, que busca corrigir as perdas fiscais (principalmente de receitas) daí originadas, chegando ao chamado "resultado estrutural", isto é, limpo tanto de receitas e despesas extraordinárias como dos efeitos do ciclo econômico.

Assim, se o resultado estrutural estiver se reduzindo de um ano para outro (isto é, quando o deficit aumenta ou o superavit cai), a política fiscal é dita "expansionista"; caso contrário, é "contracionista".

Os números são eloquentes: de 2012 a 2016, houve contínua expansão fiscal, equivalente a 0,9% do PIB em média. Nos últimos dois anos, essa atingiu 0,6% e 1,5% do PIB, respectivamente.

Em português, não houve nenhum traço de austeridade, pelo contrário. Num mundo ideal, os defensores da ideia de que a austeridade causou a crise teriam que enfiar o rabo entre as pernas; no nosso continuam a dizê-lo, movidos, é claro, a doses cavalares de desonestidade intelectual.

Fonte: VEJA + ESTADÃO + FOLHA + UOL

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