ESTADÃO (exclusivo): Em delação, Odebrecht confirmou que Lula é 'Amigo' na planilha das propinas

Publicado em 08/03/2017 05:34
Colunista Vera Magalhães revela que depoimento do empresário é 'arrasador' para ex-presidente, o que justificaria pressa em lançar candidatura à Presidência (em O Estado de S. Paulo)

O amigo é Lula (Marcelo Odebrecht confirmou identidade do ‘amigo') -- por VERA MAGALHÃES, (em O Estado de S. Paulo)

Marcelo Odebrecht confirmou nos depoimentos que integram sua arrasadora delação premiada que o “amigo” ou “amigo de EO” que aparece em trocas de e-mails e planilhas do grupo é mesmo Luiz Inácio Lula da Silva. Procuradores que acompanharam a colaboração atestam: as revelações de Odebrecht são “arrasadoras” para o petista – o que ajuda a explicar a pressa em lançar sua candidatura à Presidência em 2018.

Apesar do extraordinário crescimento que o grupo experimentou nos governos do PT, Odebrecht descreve a amizade entre o pai, Emílio, e o ex-presidente como um estorvo. Se queixa de que o pai cedia demais aos pedidos de Lula, o que obrigava a empresa a fazer investimentos desvantajosos.

A delação do herdeiro é fulminante também para duas outras figuras de proa do petismo: Antonio Palocci e Guido Mantega. “Os dois morrem”, resume um integrante do Ministério Público, segundo o qual “não restará outra possibilidade de defesa” para o “Italiano” que não seja propor colaboração judicial para entregar a cadeia de comando dos favores que prestou e do dinheiro e distribuiu.

A LISTA 1

Janot deve evitar denúncias em ‘pacote’ da Odebrecht

Em fase de finalização dos procedimentos que encaminhará ao Supremo Tribunal Federal, Rodrigo Janot deve jogar na retranca e repetir o que fez em 2015: até agora não há nenhuma denúncia no pacote, só pedidos de abertura de inquérito. O procurador-geral da República quer evitar ser acusado de denunciar políticos com base apenas em delações, e vai pedir a produção de novas provas e a realização de diligências. 

A LISTA 2

Para MPF, Supremo inviabilizou doação eleitoral como ‘álibi’

Às voltas com a finalização dos pedidos a partir da delação da Lava Jato, a PGR comemorou a decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal que tornou réu o senador Valdir Raupp. As novas peças têm um arrazoado longo para sustentar que não importa se a destinação de recursos foi a campanha para determinar o crime, e sim se ele foi fruto de contrapartidas em favores. Os crimes de corrupção e lavagem independem da destinação dada ao dinheiro, dirão as peças.

A LISTA 3

Bloco ‘paulista’ de delações atinge tucanos e Kassab

Os tucanos são atingidos com intensidade diferente pelas delações da Odebrecht, principalmente pela de Benedicto Júnior, o BJ, que foi presidente da empreiteira. Embora mencione Geraldo Alckmin, os procuradores ainda não têm segurança sobre a “gravidade da conduta” que será imputada ao governador de São Paulo. Já José Serra será implicado diretamente. O ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, é citado em mais de um episódio.

 

ELEIÇÕES 2018

Mais um obstáculo para o PT: procura-se marqueteiro

Além da Lava Jato no calcanhar de Lula, a rejeição recorde ao ex-presidente e o fato de o PT não contar mais com a poderosa máquina pública das últimas campanhas, a nova candidatura do ex-presidente esbarra na dificuldade de encontrar um marqueteiro. Depois da prisão de João Santana, dois nomes da “primeira divisão” das campanhas disseram não a sondagens da cúpula para encarar a empreitada. Um terceiro profissional, das divisões de base, também recusou.

ECONOMIA

Meirelles venderá discurso otimista em reunião do G20

O discurso de que o PIB desastroso de 2016 é apenas o “retrovisor” do governo Dilma, ensaiado ontem na reunião do Conselhão, será repetido, com doses maiores de otimismo, por Henrique Meirelles no encontro dos ministros da Fazenda do G20, na Alemanha, semana que vem. O auxiliar de Michel Temer vai defender que “fundo do poço” da crise já passou e que o Brasil é hoje a única grande economia a promover reformas estruturais, com concessões à iniciativa privada e redução dos gastos com a Previdência.

GOVERNO

Temer aposta em inauguração de obra para tentar bater bumbo

Temer decidiu transformar a inauguração do Eixo Leste da transposição do Rio São Francisco em um grande acontecimento. Transferiu o evento do próximo sábado para sexta-feira para poder levar parlamentares. Também decidiu fazer duas solenidades: uma para liberar água para o município de Sertânia (PE) e outra para Monteiro (PB). Assim, pretende faturar em dois Estados.

STF acerta 1 – E Bolsonaro segue réu por incitar crime de estupro (por REINALDO AZEVEDO)

A Primeira Turma do STF, ora com quatro membros (Alexandre de Moraes ainda não tomou posse), rejeitou recurso do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), tornado réu sob a acusação de injúria e incitação ao crime de estupro contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

Andam a fazer lambança por aí. Não se fez nenhum juízo de mérito. A alegação da defesa foi considerada inepta pelos quatro ministros: Marco Aurélio, Luiz Fux, Rosa Weber e Roberto Barroso. DESTAQUE-SE PARA QUE FIQUE AINDA MAIS CLARO: Marco Aurélio havia votado contra a recepção da denúncia. Será que ele mudou de ideia? Provavelmente, não!

A questão é técnica. Nos embargos de declaração — quando se cobra que os ministros esclareçam e dirimam eventuais obscuridades —, a defesa alegou que a fala de Bolsonaro estava protegida pela imunidade parlamentar.

Ocorre que essa é a tese da própria defesa. E se trata de um juízo de mérito. A questão já estava vencida. O tribunal já havia entendido, por 4 a 1 (à época, Luiz Fachin estava na Primeira Turma), que falas de Bolsonaro não estavam resguardadas pela imunidade. Embargo de declaração não serve para isso, ora bolas! Daí que até Marco Aurélio, que talvez vote pela absolvição de Bolsonaro, tenha recusado o expediente. Agora a ação penal será efetivamente aberta, e o deputado irÁ a julgamento na Primeira Turma.

Agora o mérito

Os ministros não entraram no mérito, mas eu entro, nos termos abordados neste blog no dia 22 de junho de 2006. E reconstruo a história, que está sendo falsificada pelos bolsonaristas.

A boçalidade
No dia 9 de dezembro de 2014, Bolsonaro protestava contra conclusões que eu também considerava absurdas da chamada “Comissão da Verdade”. Quando ele discursava, Maria do Rosário levantou-se para sair. E ele disparou: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí! Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.

Não! Não havia sido “há poucos dias”. Mas fica para outro post.

Ele achou pouco. O bolsonarismo tem um espírito insaciável para a baixaria, a brutalidade e o fascismo da vulgaridade. Em entrevista posteriormente concedida ao jornal “Zero Hora”, a sangue frio, sem qualquer incitação pelo calor do momento, disse placidamente, como quem anuncia que hoje é terça-feira: “[Maria do Rosário] não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”.

Palavras fazem sentido
É uma pena que as palavras façam sentido — ao menos para o deputado e sua grei. Se alguém disser, leitor amigo, que sua mãe, sua mulher ou sua irmã (ou você mesma, se leitora for) “não merecem” ser estupradas porque muito feias, então está dizendo que, fossem bonitas, já seriam merecedoras de tal distinção — embora Bolsonaro, claro!, negue ser um estuprador.

É curioso! Sou capaz de apostar que boa parte dos bolsonaristas seja favorável àquilo que chamam “fim do foro privilegiado”, não é mesmo? Não obstante, para defender seu líder, tentam argumentar que as falas dos parlamentares, quaisquer que sejam, estariam protegidas pela imunidade parlamentar. Sim, são estatutos distintos. Fala-se aqui de paradigma.

Eu, por exemplo, acho que um deputado deve, sim, ter foro especial — aliás, Bolsonaro o exerce no momento, certo? Acho que é preciso proteger os parlamentares de sanhas justiceiras. Mas, por óbvio, a imunidade parlamentar não pode cobrir a incitação ao crime.

Foi o que fez Bolsonaro. E acho que tem de ser punido por isso. Pelo Supremo! Pelo foro especial contra o qual lutam seus soldados. Ou será que prefeririam que o mestre fosse julgado pela Primeira Instância?

E não! Não acabei. Vem outro post para desfazer a mentira de que Bolsonaro só estava respondendo a uma agressão de Maria do Rosário. Aliás, a entrevista ao Zero Hora já é uma evidência disso, não? Ele achou pouco dizer uma vez que estupro de mulheres bonitas é matéria de merecimento.

Então ele disse duas!

Que seja condenado!

STF acerta 2 – Sem defesa, Bolsonaro perde mandato e candidatura (REINALDO AZEVEDO)

Os bolsonaristas espalham a farsa de que, naquele dia 9 de dezembro de 2014, quando Bolsonaro associou pela primeira vez estupro a uma distinção a que só as bonitas estariam afeitas, ele apenas respondia a uma agressão de Maria do Rosário.

Tanto é assim que ele disse: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí! Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.

 

Como? Há poucos dias?
A questão é antiga. Quando Bolsonaro disse “há poucos dias, você me chamou de estuprador”, estava sendo impreciso. Aquilo tinha ocorrido em 2003, HAVIA JÁ, PORTANTO, 11 ANOS. Olhem a prova aqui.

Em 2003, de fato, foi Maria do Rosário quem primeiro ofendeu o adversário — como ela costuma fazer, diga-se. A petista interrompeu uma entrevista que Bolsonaro concedia à Rede TV!, em que defendia a maioridade penal aos 16 anos (tese com a qual concordo), e o chamou de “estuprador”.

É evidente que se trata de uma boçalidade e de um crime. Ocorre que a resposta de Bolsonaro, naquele 2003, foi também boçal (e ele viria a repetir a frase 11 anos depois):

— Eu jamais iria estuprar você porque você não merece.

Ela o ameaçou com uma bofetada:

— Olhe eu que lhe dou uma bofetada!

— Dá, que eu lhe dou outra.

E, na sequência do bate-boca, o deputado acabou por xingar Maria do Rosário de “vagabunda”. Então tá! Ela pode chamar um colega de “estuprador”? Não! Ele pode afirmar que o estupro é matéria de “merecimento” — e, o que é mais estarrecedor, nota-se que ele trata essa violência como uma distinção positiva? É claro que não! Está tudo errado.

Atenção! A ação que corre no Supremo não se refere ao caso de 2003, mas os de 2014.

Digamos que eu considere a dupla, para usar uma expressão de uma jornalista amiga, “imprópria para o consumo humano”. Mas vá lá, no calor da hora, Maria do Rosário optou pela canalhice e o chamou de “estuprador”; ele deu uma resposta igualmente canalha.

O que justifica, no entanto, que, 11 anos depois, Bolsonaro repita a mesma agressão, do nada? Ah, vai ter de explicar ao Supremo o que quis dizer exatamente. Seus partidários — deveria dizer “sicários”? — não conseguem expor, digamos, em perífrases, qual é o sentido virtuoso, ou ao menos neutro, de “[Maria do Rosário] não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria.

Agressão ampla
Bem entendido: a agressão não está em dizer que Maria do Rosário não merece ser estuprada, como querem alguns sofistas de fancaria, mas em sugerir, então, que muitas mulheres, que Maria do Rosário não são, merecem.

Que tal a sua mãe, leitor amigo? Ou a sua irmã? Ou a sua mulher? Ou a sua namorada? Ou você mesma, eleitora bolsonarista e, claro, bela (as feias fiquem tranquilas)…

Eis uma evidência que os, digamos, “bolsonaretes” não conseguem negar, não importa a que falácia se apeguem ou a que argumento apelem, saído da pena do “çábio” construtor de falácias, o velho perdigueiro desdentado.

Bolsonaro considera Maria do Rosário desprezível, certo? Tão desprezível, diz ele, que não mereceria nem mesmo ser estuprada. Logo, para este senhor, sofrer um estupro é um merecimento de quem exibe as devidas qualidades para tanto. Quais, senhor parlamentar? Quando é que uma mulher “MERECE” ser estuprada?

É uma fala asquerosa, pela qual, que eu saiba, ele nem mesmo se desculpou. Estou doido para ler a sua defesa. Quero que esclareça o que quis dizer quando associou o estupro à meritocracia.

Cultura do estupro
Já entrei num debate renhido aqui e em toda parte sobre a chamada “cultura do estupro”, que teria se revelado num episódio ocorrido no Rio em 2016. É claro que isso é uma farsa inventada pelas esquerdas supostamente modernizadas. Queriam só fazer um pouco de política. Por que os mesmos setores não se mobilizaram em defesa da garota que foi violentada por quatro menores no Piauí? Não se ouviu um pio. Afinal, ali se tratava de “proteger” menores…

Inexiste cultura do estupro no país. Isso é só coisa de militância destrambelhada. O fato de eu ter essa opinião não deve se confundir com a defesa da impunidade para pessoas que dizem as boçalidades que diz Bolsonaro.

A mulher que concordar com o deputado tem de concordar que, sob certas circunstâncias, qualquer uma “merece” ser estuprada, inclusive ela própria. O homem que concordar com Bolsonaro terá de concordar que, sob certas circunstâncias, sua própria parceira, filha ou mãe merecem ser estupradas. Mais do que isso: terá de concordar que, sob condições tais e quais, qualquer homem pode dar o que a tal mulher “merece” — sendo, pois, um estuprador em potencial.

Será condenado. E 2018
Bolsonaro, entendo, não tem saída. Não vejo como possa ser absolvido. E, como se nota no embargo declaratório, sua defesa não tem argumento a não ser aquele que já foi rejeitado.

Se for condenado, perde o mandato, torna-se inelegível e não poderá se candidatar à Presidência da República…

“Ah, é isso o que você quer, né, Reinaldo?”

Não!

Os meus quereres nesse caso nada têm a ver com a candidatura deste senhor, que não considero uma ameaça. Eu só o vejo como sintoma. Acho que tem de ser punido porque cometeu um crime.

Em 2016, no estilo característico, ele disse: “Me fodi. Tomei de quatro a um [quatro ministros votaram contra ele e um a favor]. Estão querendo me tornar inelegível para as próximas eleições. Vou pagar pelo estupro coletivo daquela menina no Rio.”

Errado! Ele se deu mal porque associou estupro a mérito; porque estabeleceu categorias de mulheres que merecem e não merecem ser violadas.

Ofendeu Maria do Rosário porque Maria do Rosário é mulher. Mas ofendeu a todas as mulheres que Marias do Rosário não são.

Encerro
Ah, sim, eu poderia estar aqui vibrando em silêncio — “afinal, ele divide a direita” —, mas superestimando o estatuto da imunidade parlamentar, quietinho, para os bolsonaretes não saírem por aí atirando.

Pois é… Só sei fazer isso dizendo o que penso. E penso que um criminoso tem de ser punido. Pouco me importam o jogo eleitoral e a guerrilha promovida na Internet pelos sicários.

PS – Sem dúvida, os bolsonaretes prefeririam que o “Bolsomito” fosse julgado pela Primeira Instância, né? Iria demorar uma enormidade até a segunda instância ao menos…

Pô, que contradição, né? Eles são favoráveis ao fim do foro especial porque, afinal, acham o STF o reino da impunidade…

Era uma vez no Oeste do PT: Ladrões amadores e máfia organizada (REINALDO AZEVEDO)

Ora, qual é o erro que têm cometido esses que chamo “direita xucra”, sob os auspícios da Lava-Jato? Considerar que todos são igualmente criminosos

Os dados que vazaram das delações de diretores da Odebrecht ao TSE são assombrosos. O ex-diretor Humberto Mascarenhas, que respondia pelo tal “Departamento de Operações Estruturadas”, que fazia os pagamentos ilícitos, afirmou que o grupo movimentou, entre 2006 e 2014, a estratosférica quantia de US$ 3,39 bilhões — mais ou menos R$ 10,5 bilhões, querido leitor. Desse total, de US$ 500 milhões (R$ 1,548 bilhão) a US$ 600 milhões (R$ 1,858 bilhão) eram caixa dois de campanha. O setor também pagava propinas e atendia a urgências de funcionários no exterior, submetidos, muitas vezes, a ameaças.

Por que o título deste post é “Era uma vez no Oeste do PT”? Faço uma alusão ao magnífico filme “Era Uma Vez do Oeste”, de Sérgio Leone, de 1968, que tem de ser visto por quem não conhece. Quatro medalhões do cinema contracenam com brilho invulgar:Jill McBain (Claudia Cardinale), o bandido Cheyenne (Jason Robards), o pistoleiro de aluguel Frank (Henry Fonda) e um homem apelidado apenas de “Harmônica” (Charles Bronson).

O filme trata da chegada da ferrovia ao Oeste dos Estados Unidos, a terra ocupada por aventureiros, pistoleiros e justiceiros. O empreendedor é um milionário sem escrúpulos chamado Morton (Gabrielle Ferzetti). Cheyenne é um bandido, um ladrão, um assassino. Mas faz o gênero bonachão e romântico. Seu antípoda, no mundo da pistolagem, é Frank — este, sim, despido de qualquer limite ou escrúpulo. Todos eles se cruzam naquelas vastas solidões de areia. O magnata dos trilhos decide, então, contratar Frank para forçar um homem a vender suas terras, que seriam brutalmente valorizadas pela chegada da estrada de ferro. Bem, meus caros, assistam ao filme. É uma dica cultural imperdível. Só a espetacular música de Ennio Morricone já vale o seu tempo.

O que há de essencial nesse filme? Assiste-se ali à passagem da bandidagem amadora, seja bonachona ou brutal, para o crime organizado, para a organização mafiosa. Eis Morton: ele é o pistoleiro que não anda armado. Ele é o pistoleiro profissionalizado. Onde antes havia improviso e até certa audácia criminosa individual, passa a haver um método.

E isso marca, sim, a diferença entre a corrupção havida no passado, desde tempos imemoriais, e aquela praticada pelos companheiros. Ora, qual é o erro que têm cometido esses que chamo “direita xucra”, sob os auspícios da Lava-Jato? Considerar que todos são igualmente criminosos; que todos têm a mesma culpa no cartório; que todos são bandidos da mesma cepa. Em um dos vazamentos, informou-se que Marcelo Odebrecht afirmou ter repassado, entre 2008 e 2014, nada menos de R$ 300 milhões ao PT. Segundo Hilberto, no ano de 2014, o da reeleição de Dilma, foram repassados US$ 14 milhões ao marqueteiro João Santana.

Sim, resta evidente, e já se sabe, em razão de múltiplos vazamentos, que o PT não foi o monopolista dos recursos ilícitos. É claro que não. Que se apure tudo, sem restrições. Mas comete um crime contra a história quem ignora a centralidade que teve o partido na profissionalização da corrupção. Os companheiros a transformaram num método de gestão. Mais um pouco, viraria uma categoria de pensamento. É mesmo uma pena que Marilena Chaui não tenha tido tempo de refletir sobre o tema à luz das nervuras do real de Espinosa.

Alexandrino Alencar, o ex-diretor do grupo mais próximo a Lula, afirmou, por sua vez, que Edinho Silva, hoje prefeito de Araraquara e tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, pediu R$ 30 milhões pelo caixa dois. O dinheiro teria sido empregado para pagar o apoio dos partidos da coligação “Com a Força do Povo”.

Infelizmente para a história e para a verdade, o país está perdendo de vista o que significou o petismo na centralização e na estruturação do assalto aos cofres. Não, senhores! Cheyenne, o bom bandido, era diferente de Frank, o bandido mau. E os dois eram obsolescências perto de Morton, o mafioso profissional.

No filme, quase tudo acaba bem, com uma perda ou outra. Nada indica, até agora, que será assim na vida real.

PS: Ah, sim. O título da obra em italiano é “C’era una volta il West”. Ou: “Era uma vez o Oeste”. Foi erroneamente traduzido para o inglês por “Once Upon a Time in the West”, e a tradução literal virou o título em português: “Era uma vez NO Oeste”.

O título em italiano retrata melhor a obra. O que o filme mostra é o fim do Oeste até então conhecido. O PT também mudou o Brasil, se é que me entendem. A depender do que venha pela frente, o nome do filme será “Era uma vez o Brasil”.

Senado pede nova diplomacia (EDITORIAL DO ESTADÃO)

Lula da Silva impôs ao Itamaraty uma política externa dedicada a viabilizar sua delirante ambição de transformar-se em líder mundial

Ao longo de seus dois mandatos de presidente da República, de 2003 a 2010, Lula da Silva impôs ao Itamaraty uma política externa dedicada a viabilizar sua delirante ambição de transformar-se em líder mundial. Para tanto, aliou-se, no continente, ao então incipiente – e hoje em plena decadência – “bolivarianismo” inventado pelo caudilho venezuelano Hugo Chávez e, mundo afora, aos regimes autoritários que se opunham ao “imperialismo ianque”.

Vangloriando-se, lá fora, de ter eliminado “a fome e a miséria” no Brasil, Lula anunciava, aqui dentro, que estava expandindo nossas fronteiras para fortalecer o comércio exterior e beneficiar ainda mais nossa economia. Enquanto isso, ao pé do ouvido dos novos aliados internacionais que tentava conquistar, cabalava votos para eleger o Brasil membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Parte essencial da estratégia diplomática de Lula foi a forte expansão das representações diplomáticas do Brasil, de modo especial, no Caribe e na África. Das 66 representações diplomáticas criadas por Lula a partir de 2003 44 são embaixadas.

Os resultados da aventura lulopetista falam por si. Lula não acabou com a fome e a miséria no Brasil, mas os programas sociais que desenvolveu obtiveram resultados positivos de duvidosa serventia, porque não tiraram as pessoas da pobreza, mas fizeram-nas estacionar em diferentes níveis de carência. E mesmo parte significativa dessas conquistas foi tragada pelo desastre econômico em que o lulopetismo mergulhou o País.

No plano internacional, a ONU jamais considerou seriamente a possibilidade de abrir vaga em seu Conselho de Segurança, o que privava a reivindicação brasileira de sentido.

Do ponto de vista econômico, enquanto o mercado internacional mantinha o preço das matérias-primas em alta, o governo Lula surfou nos substanciais superávits comerciais e julgou que não precisava de parceiros desenvolvidos para consolidar o processo de inserção do País no sistema econômico mundial. Em consequência, recusou todas as ofertas de associação comercial com países economicamente interessantes, a começar da Alca, e vinculou-se precariamente às economias ditas “do Sul”, que nada ou quase nada podiam oferecer. Com isso, foram perdidas oportunidades que talvez não se repitam.

O desperdício de recursos com a implantação de embaixadas em países de importância econômica e geopolítica secundária, no entanto, pode ser prontamente estancado. A conveniência de manter representações em Burkina Faso, Dominica, Guiné, Libéria, Mali, Mauritânia e Serra Leoa deverá ser decidida a partir de um amplo estudo aprovado em dezembro pela Comissão de Relações Exteriores do Senado. Esse estudo, elaborado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e aprovado pela comissão então presidida pelo agora chanceler Aloysio Nunes (PSDB-SP), faz uma ampla e circunstanciada análise da ação do Itamaraty.

Trata também o estudo da necessidade de reforma das carreiras diplomáticas e da questão da falta de transparência no trato de assuntos relacionados com a política externa. Boa parte dele é dedicada à tentativa de comparar os resultados políticos e econômicos da política externa brasileira antes e depois de 2003 – quando Lula se tornou presidente com a ideia fixa de se tornar um líder mundial.

Afirma o documento que, com a criação de 66 representações diplomáticas a partir de 2003 “houve uma melhoria marginal nos resultados agregados do comércio. Mas a dispersão é muito grande e, de modo global, o investimento nas novas embaixadas possivelmente não cobre os retornos econômicos auferidos pelo Brasil. Os dados não sugerem causalidade entre a presença de embaixada e resultados econômicos”. Em outro ponto, revela o estudo que “o resultado médio agregado do nível de apoio político dos países que receberam novos postos diplomáticos após 2003 (...) não é necessariamente significativo”. Diplomaticamente, os senadores recomendam que o Itamaraty conserte o estrago.

Recessão histórica (EDITORIAL DA FOLHA)

Na história de que se tem registro, jamais os brasileiros empobreceram tanto num biênio como em 2015-2016. Caso se pretenda fixar tal desastre na memória, com uma pincelada rápida e forte, pode-se dizer que estamos diante de um recorde em muitas décadas.

Conforme os dados recém-divulgados pelo IBGE, a renda média por habitante do país encolheu quase 9% no período —se incluída a queda menos aguda de 2014, atinge-se esse percentual.

No colapso financeiro que apressou o fim da ditadura militar, o PIB per capita diminuiu cerca de 13% no triênio 1981-1983, e o patamar de 1980 só seria recuperado de maneira sustentável 13 anos depois.

Agora, dadas as atuais estimativas de crescimento, apenas em 2023 o país retornaria ao mesmo nível de renda média de 2013, numa década inteira de estagnação.

Previsões econômicas decerto não passam de exercícios. Baseiam-se em relações e comportamentos verificados no passado, que podem ser em parte alterados pela inovação institucional e política.

Dito de outra maneira, as reformas ora em andamento afetarão, a depender de sua profundidade e ambição, as projeções para o futuro —que hoje ainda embutem a expectativa de avanços não mais do que medíocres, aos quais o país não deve acomodar-se.

É fato que os motivos desta recessão são excepcionais, em variedade e força. Houve excesso de endividamento público e privado, em boa parte devido ao exagero de consumo estimulado pelos governos petistas a partir de 2010.

Intervenções governamentais de incompetência inaudita reduziram a rentabilidade dos empreendimentos privados e arruinaram estatais. Uma tentativa atabalhoada de ajustar as contas federais em 2015 acelerou a crise.

Tamanho dano mal começou a ser reparado. Ademais, correntes relevantes da opinião pública ainda não se deram conta da gravidade dos problemas e do risco de encarar reformas como mero lobby de grupos conservadores, tal como se observa no debate sobre as mudanças cruciais na Previdência.

Vislumbram-se sinais de recuperação, mas não está afastado o risco de recaída —de reprise de uma regressão tão profunda e duradoura quanto a dos anos 1980. Nesta hipótese, o drama do retrocesso seria também social e político.

Fonte: ESTADÃO + VEJA + FOLHA

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Disputa por taxa de fim de mês impulsiona dólar ante real em dia de Fed e Copom
S&P 500 e Nasdaq sobem com alta do setor de chips, após Fed sinalizar próximo corte de juros
Ibovespa avança 3% em julho com endosso do Fed a aposta sobre corte de juros
Taxas futuras de juros caem no Brasil com decisão do Fed e antes do Copom
Vendas de diesel no Brasil batem recorde no 1º semestre; gasolina recua
Corte de juros em setembro pode estar em jogo se inflação cair em linha com expectativas, diz Powell