Dólar fecha praticamente estável ante real; Bolsa brasileira segue mau humor no exterior e cai 1,5%

Publicado em 06/02/2017 17:19
Reuters e Folha de S. Paulo

Por Claudia Violante

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou praticamente estável nesta segunda-feira, com as expectativas de ingresso de recursos após recentes captações de empresas sendo compensadas por compras pontuais de investidores atraídos pelo nível de 3,10 reais.

O dólar avançou 0,08 por cento, a 3,1260 reais na venda, depois de ter encerrado a semana passada com baixa acumulada de 0,90 por cento, sétimo período de queda seguido. Na mínima deste pregão, marcou 3,1051 reais.

O dólar futuro subia cerca de 0,15 por cento no final desta tarde.

"O dólar acabou se estabilizando nesse patamar em torno de 3,12 reais. Os investidores tentam ir além, furar os 3,10 reais, mas faltam novidades de peso", resumiu o diretor da mesa de câmbio da corretora Multi-Money, Durval Corrêa. "Daí, compradores aproveitam e montam posições".

Especialistas entendem que a pressão sobre o dólar é de queda, diante de expectativas de entradas de recursos de fora diante de captações feitas por empresas. Nesta sessão, foi a vez da Vale, que pretende emitir bônus no exterior com vencimento 2026, ainda sem valor fechado.

Na semana passada, foi a empresa de alimentos JBS, que levantou 2,8 bilhões de dólares por meio de uma linha de crédito garantida. Antes dela, vieram a Petrobras e a Raizen, por exemplo.

"O investidor não vai ficar comprado (apostando na alta) em dólar se sabe que o fluxo vai deixar o dólar mais barato", justificou um operador de câmbio de uma corretora nacional.

O volume negociado nesta sessão foi fraco, o que contribuiu para o vaivém da moeda no período da tarde.

No exterior, o dólar também mudou de trajetória e favoreceu a leve correção doméstica. A moeda norte-americana passou a subir ante os pesos mexicanos e chileno e exibia também leve alta ante uma cesta de moedas.

Na maior parte da sessão, entretanto, o dólar recuou sobre moedas emergentes. Na sexta-feira, dados do mercado de trabalho norte-americano mostraram, apesar do forte crescimento na criação de vagas em janeiro, ganhos salariais mais tímidos, o que enfraqueceu um pouco as apostas para as altas de juros nos Estados Unidos.

Pesquisa da Reuters com os principais bancos em Wall Street indicou que as perspectivas são de que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, vai elevar a taxa básica de juros do país em duas ocasiões neste ano e viam apenas modesto risco para que o Fed seja pressionado a adotar ritmo mais agressivo de aperto da política monetária. No final de 2016, a autoridade estimou três elevações dos juros em 2017.

Juros mais altos nos Estados Unidos tendem a atrair para a maior economia do mundo recursos hoje aplicados em outras praças, como a brasileira.

O Banco Central brasileiro não anunciou qualquer intervenção no mercado de câmbio local nesta sessão. Recentemente, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que a autoridade pode rolar apenas parcialmente ou até mesmo não rolar o swap cambial tradicional --equivalente à venda de dólares no mercado futuro-- de março, equivalente a quase 7 bilhões de dólares.

Bolsa brasileira segue mau humor no exterior e cai 1,5%; dólar sobe a R$ 3,12 (na FOLHA)

A Bolsa brasileira refletiu o aumento da aversão a risco no exterior e recuou nesta segunda-feira (6), enquanto o dólar registrou leve alta e encerrou o dia cotado a R$ 3,12. O dia foi marcado pelo aumento da preocupação dos investidores com eleições na Europa e com o protecionismo nos Estados Unidos.

O Ibovespa teve queda de 1,48%, para 63.992 pontos. O volume financeiro negociado no pregão foi de R$ 6,35 bilhões, levemente abaixo da média diária no ano, que é de R$ 6,99 bilhões.

A desvalorização da Bolsa brasileira acompanhou a queda dos mercados na Europa e nos Estados Unidos, causada pela preocupação dos investidores com as eleições na Europa —em especial na França, onde a líder da extrema-direita no país, Marine Le Pen, apareceu na primeira colocação em pesquisas de intenção de voto

Le Pen, que se lançou candidata neste domingo (5), possui um discurso nacionalista e anti-imigração semelhante ao do recém-empossado presidente americano, Donald Trump. Ela já afirmou que pretende realizar um referendo para definir se a França continua ou não na União Europeia, a exemplo do que o Reino Unido fez no ano passado e que determinou a saída do país do bloco europeu.

Em Londres, o índice FTSE-100 recuou 0,22%. Em Frankfurt, o índice DAX caiu 1,22%. Em Paris, o CAC-40 perdeu 0,98%. Em Milão, o FTSE/MIB teve desvalorização de 2,21%. Em Madri, o índice Ibex-35 registrou baixa de 1,11%. Em Lisboa, o PSI-20 se desvalorizou 0,56%.

Os investidores também monitoram as políticas de Trump, após a Justiça americana impor nova derrota ao presidente americano ao manter liminar que derruba o decreto do republicano que veta a entrada de cidadãos de sete países de maioria islâmica, anunciado em 27 de janeiro.

"Há uma dúvida sobre quais políticas serão adotadas pelo novo governo dos Estados Unidos e qual o impacto na economia como um todo. Está se falando muita coisa, mas nada foi colocado em prática", afirma Marcio Cardoso, sócio-diretor da corretora Easynvest.

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones caiu 0,09%. O S&P 500 teve queda de 0,21% e o índice da Bolsa Nasdaq se desvalorizou 0,21%.

Aqui, as ações de Petrobras, Vale e bancos pesaram sobre o índice. Os papéis preferenciais da Petrobras caíram 2,48%, para R$ 14,96. As ações ordinárias tiveram queda de 2,26%, para R$ 15,97. As ações da estatal acompanharam a desvalorização dos preços do petróleo no exterior. O barril do Brent, de Londres, recuou 1,78%, para US$ 55,80. O barril do WTI, de Nova York, teve queda de 1,39%, para US$ 53,08.

Os papéis preferenciais da Vale recuaram 1,41%, para R$ 28,60, e as ações ordinárias caíram 2,25%, para R$ 29,92. A mineradora informou que vai lançar papéis no exterior e usar o dinheiro para pagar títulos já emitidos e que vencem em março de 2018.

A empresa também prevê uma baixa contábil de US$ 1,2 bilhão com a venda de ativos de fertilizantes realizada no fim do ano, o que pode deixar em segundo plano o impacto positivo de preços mais altos do minério de ferro nos resultados líquidos da companhia.

As ações do setor financeiro fecharam o dia com desvalorização. Os papéis do Itaú recuaram 0,73%. As ações preferenciais do Bradesco perderam 2,07% e as ordinárias fecharam com queda de 2,03%. Os papéis do Banco do Brasil tiveram baixa de 2,49% e as units —conjunto de ações— do Santander Brasil caíram 1,21%.

DÓLAR

O dólar fechou em alta em relação ao real. O dólar à vista subiu 0,31%, para R$ 3,122. O dólar comercial teve alta de 0,06%, para R$ 3,126. Das 31 principais divisas internacionais, 19 perderam força em relação ao dólar nesta sessão.

Para Mauricio Nakahodo, economista do Mitsubishi UFJ Financial Group —holding do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil—, a tendência do real ainda é de se valorizar em relação ao dólar, principalmente pela perspectiva de entrada de recursos no país devido à captação de empresas brasileiras no exterior. Além da Vale, recentemente Embraer, Petrobras e JBS anunciaram emissões lá fora.

No cenário político, as notícias também ajudam na valorização do real. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, sinalizou que vai trabalhar para aprovar a reforma de Previdência na Casa até junho.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados fecharam em baixa nesta segunda. O DI com vencimento para abril recuou de 12,400% para 12,375%. Os contratos com vencimento em julho de 2017 passaram de 11,740% para 11,735%.

Os contratos para janeiro de 2018 se mantiveram estáveis em 10,820%, e os DI com vencimento em janeiro de 2021 saíram de 10,470% para 10,450%.

O CDS (credit default swap) de cinco anos brasileiro, espécie de seguro contra calote e termômetro de risco, caiu 0,47%, para 238,158 pontos. 

Fonte: Reuters + Folha

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