Celso de Mello não segue STF e toma decisão que pode repercutir na Lava-Jato

Publicado em 04/07/2016 15:07
Ministro ignora entendimento da maioria do Supremo — e não era obrigado a segui-lo — e decide que pena só pode ser executada depois do trânsito em julgado (REINALDO AZEVEDO). Em coletiva de imprensa, Roberson Henrique Pozzobon criticou as medidas legislativas que preveem mudanças na colaboração premiada e pediu o engajamento da sociedade no combate à corrupção... Por: Eduardo Gonçalves, de veja.com

POR REINALDO AZEVEDO:

Vem debate dos bons por aí. E as mentalidades conspiratórias vão se exacerbar. A minha opinião está dada, apesar das porradas que levei. Fazer o quê? Se tivesse nascido artista, é possível que nem sempre buscasse só aplausos. Qual é o ponto?

Celso de Mello, decano do Supremo, mirou a Constituição e suspendeu a execução da pena determinada pelo Tribunal de Justiça de Minas. Segundo o ministro, “ninguém, absolutamente ninguém, pode ser tratado como se culpado fosse antes que sobrevenha contra ele condenação penal transitada em julgado [sem chance de recurso]”.

E daí? Bem, teremos de voltar a uma decisão do plenário do STF do dia 17 de fevereiro. Prestem atenção!

Naquele dia, por sete votos a quatro, o tribunal decidiu modificar entendimento anterior e autorizar a execução da pena de um condenado após julgamento em segunda instância — isto é, feito por um colegiado. A segunda instância é composta pelos Tribunais de Justiça, no caso dos Estados, e pelos Tribunais Regionais Federais, no caso da União. Vale dizer: permanecesse tal entendimento, um condenado não poderia mais recorrer em liberdade ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Votaram a favor desse entendimento em fevereiro os ministros Teori Zavascki — relator da Lava Jato e do pedido de habeas corpus que ensejou a questão —, Edson Fachin, Roberto Barroso, Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. Opuseram-se à tese Rosa Weber, Marco Aurélio, o próprio Celso de Mello, que toma essa decisão agora, e Ricardo Lewandowski, presidente da Corte.

Onde está o busílis? No Inciso LVII do Artigo 5º da Constituição, onde está escrito:

“Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

Pois é… A questão agora é saber o que se entende por “trânsito em julgado”, sempre lembrando que o Artigo 5º da Constituição é uma cláusula pétrea, por disposição do Artigo 60 da Constituição, não pode ser alterado nem por meio de emenda.

Nota 1 antes que continue: a decisão tomada naquele 17 de fevereiro não era vinculativa e não obrigava os tribunais inferiores a segui-la. Logo, entende-se que um ministro do próprio Supremo, como fez Celso de Mello, poderia discordar no voto em caso específico.

Nota 2: já recorreram contra aquela decisão do tribunal, que determina a execução da pena de prisão já a partir da segunda instância, a OAB e o Partido Ecológico Nacional. Os especuladores de votos alheios dizem que Dias Toffoli e Edson Fachin podem mudar entendimento anterior. A ver.

O princípio legal e suas implicações
Vamos ver. O blog fez dez anos. Há dez anos, nesta página, eu não gosto de Supremo que legisla. Em área nenhuma. E já não gostava antes, quando trabalhava na Primeira Leitura, na Folha…

Eu tenho horror às feitiçarias esquerdopatas de um tal neoconstitucionalismo, em que juízes vão tirando decisões da cachola… Só entendo as decisões tiradas das leis. E, quando estas não são claras ou explícitas, procuro o seu espírito. Acho, em regra, um bom caminho.

No caso em questão, vamos ser claros: nem se trata de interpretar. O texto constitucional é explícito.

Impunidade e Lava-Jato
O princípio constitucional, no entanto, pode ser usado, às vezes, para apenas protelar a execução da sentença? Sim! O caso do ex-senador Luiz Estevão, pesquisem, era um exemplo gritante disso.

Assim, quando a maioria do STF decidiu pela execução da pena já em segunda instância estava tomando, do ponto de vista mais pragmático, uma decisão contra a impunidade? A resposta é “sim”. Toda ação contra a impunidade é defensável? A resposta: depende do valor que ela eventualmente ofenda.

Tornou-se um consenso, embora isso não tenha sido mensurado, que aquela votação do dia 17 de fevereiro está na raiz de delações premiadas que fizeram e podem fazer barulho, a saber: a de Sergio Machado e a de Marcelo Odebrecht.

O primeiro, enquanto buscava atrair seus interlocutores para o buraco, criticava abertamente o Supremo por ter mudado o seu entendimento. Sobre o segundo, não há aspas a respeito, mas apenas conjecturas.

Não é simples
Não é uma questão simples. Aquela decisão do dia 17, reitero, contribui para combater a impunidade? A resposta explícita é “sim”. Por outro lado, há sempre um risco quando um tribunal decide contra a letra explícita da lei? A resposta também é “sim”. Não existe sociedade organizada sem segurança jurídica. E a segurança está em seguir o que está pactuado.

Façam as suas escolhas, sempre lembrando que, quando nos entregamos ao arbítrio de terceiros, independentemente do que está escrito, tendemos a achar justa a decisão com a qual concordamos e absurda aquela de que discordamos.

Fazendo uma escolha ou outra, só não abram mão de optar pelo pensamento. Sem sanguinolência argumentativa. Celso de Mello, o ministro que tomou a decisão de agora, não é um crápula, um bandido nem está tentando destruir a Lava-Jato.

 

Governo Temer retira urgência de pacote anticorrupção de Dilma (na FOLHA)

O presidente interino, Michel Temer, deu aval nesta terça-feira (5), à retirada da urgência na tramitação do pacote de medidas anticorrupção de Dilma Rousseff, informou nesta noite o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE).

O pacote, lançado em março de 2015 como resposta às manifestações de rua, é composto por três propostas: criminalização de caixa dois em atividades ilícitas nas contas de partido político ou campanha eleitoral; alteração do Código de Processo Penal para incluir medida cautelar de indisponibilidade de bens, direitos e valores obtidos com recursos de origem ilícita; tipificação do crime de enriquecimento ilícito de funcionários públicos, inclusive políticos.

Segundo André Moura, Temer concordou com a retirada da urgência Constitucional desses e de outros dois projetos que também estavam nesse regime de tramitação e tratavam de práticas de corrupção.

O líder disse que a iniciativa se justifica devido a necessidade de se discutir com mais atenção aos propostas, o que poderá ocorrer na comissão especial para onde os textos serão enviados.

A ideia é que os três projetos do pacote de Dilma passem a tramitar junto com as 10 medidas de combate à corrupção de iniciativa popular encaminhadas ao Congresso numa comissão especial a ser instalada.

O Ministério Público encaminhou as medidas ao Congresso em 29 de março deste ano, mas até o momento ainda faltam líderes de alguns partidos para indicarem integrantes para compor a comissão especial.

Em reunião na tarde desta terça com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, líderes da base e da oposição que ainda não fizeram suas indicações –PP e PT– se comprometeram, conforme André Moura, a fazê-lo até semana que vem.

Num momento em que a Operação Lava Jato avança cada vez mais sobre os políticos, Janot convidou as lideranças para pedir celeridade na tramitação das medidas. Ainda falta a indicação de 14 membros da comissão especial. 

 

'A quem interessa o desmonte da delação', questiona procurador da Lava Jato

Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato fizeram nesta segunda-feira um discurso enfático contra as medidas legislativas que preveem alterações no instituto da delação premiada e nos acordos de leniência. Em coletiva de imprensa convocada para detalhar a 31ª fase da operação, a Abismo, deflagrada hoje, os procuradores pediram o engajamento de toda a sociedade no combate à corrupção e voltaram a fazer campanha pelas dez medidas propostas pela Ministério Púlico contra crimes de colarinho branco, que tramitam no Congresso, e pela reforma política.

Em sua fala, o procurador Roberson Henrique Pozzobon citou as operações Turbulência, Custo Brasil, Saqueador, Tabela Periódica e a Abismo, deflagradas nos últimos quinze dias, como exemplo da contribuição das delações às investigações e de como a corrupção está "alastrada no país". Segundo Pozzobon, os agentes políticos são, na maioria dos casos, os destinatários finais da propina e o "topo da cadeia alimentar" dos esquemas.

"Nós precisamos estar atentos para as críticas que se fazem a esses acordos de delação e leniência. Serão elas razoáveis? Qual é o pano de fundo dessas críticas? O que nós vemos hoje e o que devemos nos perguntar é: a quem interessa o desmonte do instituto do acordo de colaboração e do acordo de leniência? A quem investiga ou a quem por meio desses acordos é investigado?", indagou Pozzobon.

O procurador também pregou a união entre os órgãos de investigação e a população para evitar que a "grande corrupção" invista contra as apurações. "Essas quatro operações somadas à de hoje nos mostram de uma forma muito clara que a corrupção está alastrada no nosso país e que não há como enfrentar o crime organizado no país de forma desorganizada. Precisamos cada vez mais que o MP, a polícia, o judiciário e a sociedade formem uma grande rede de combate à corrupção", disse o procurador. "O povo brasileiro já não aguenta mais agentes políticos que flertam e se casam com a corrupção", completou.

Na coletiva, o procurador Julio Motta ainda lembrou que a corrupção não se restringe a agentes públicos, mas também envolve o setor privado. Como exemplo, citou a revelação feita na Abismo de que um consórcio de empreiteiras pagou 18 milhões de reais à WTorre para ela abandonar a licitação do Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes), no Rio. O contrato de 850 milhões de reais para erguer o Cenpes é o principal alvo desta ação da Lava Jato. "A corrupção também se alastrou no setor privado. Essa é uma cultura que precisa ser mudada, tanto no ambiente privado como no público. Isso não pode ser a regra do jogo", afirmou o procurador.

Procurador da República Roberson Henrique Pozzobon durante coletiva sobre a Operação Vício, 30ª fase da operação Lava Jato, no auditório da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba - 24/05/2016(Guilherme Artigas/Fotoarena/Folhapress)

“Sépsis” é mais do que o nome de uma fase; trata-se de uma leitura política

Vocábulo designa organismo tomado por uma infecção, que pede, necessariamente, um remédio pesado (por REINALDO AZEVEDO):

Por que o nome da nova fase da operação Lava-Jato é “Sépsis”? É uma boa questão. Isso traduz menos uma especificidade desta fase do que uma avaliação que é de caráter político. Explico. “Sépsis” significa a presença de elementos patogênicos num organismo, especialmente aqueles que provocam pus. Um bom sinônimo é infecção. Eis a origem da palavra septicemia, que é a infecção generalizada. Na origem grega, o vocábulo designa “putrefação”.

A fase “Sépsis”, como vocês poderão constatar, é espalhada, infesta o organismo todo, tem vários focos. Num possível eixo, há Fábio Cleto, um homem ligado a Eduardo Cunha, mas não só. A febre vem também de outros lugares.

Um dos delatores, por exemplo, Nelson Mello, afirmou ter doado, por meio de contratos fictícios, R$ 5 milhões em caixa dois para a campanha do senador Eunício Oliveira ao governo do Ceará em 2014. O pagamento teria ocorrido a pedido do lobista Milton Lyra, que foi alvo de buscas determinadas pelo Supremo Tribunal Federal nesta sexta. Ele é ligado à cúpula do PMDB no Senado.

Em acordo de delação premiada, Mello contou ainda que procurou a Lava-Jato de moto próprio, depois de perceber que “ultrapassara os limites morais e éticos” ao efetuar pagamentos a Lyra. Segundo o delator, ao tomar consciência dos erros, ele teria ficado incomodado e resolveu procurar o Ministério Público. Data vênia, acho história da carochinha. Mas não me perco nisso agora.

A dita fase “Sépsis” expressa uma convicção e uma leitura da realidade: todo o organismo político brasileiro está contaminado, nada escapa. Notem que a Lava-Jato vai virando uma matrioska, aquela boneca russa, mas com uma singularidade: de dentro de uma, sempre sai outra, como a original, mas ela também gera rebentos novos.

A cada dia, o encaminhamento das investigações e das delações — e os procuradores dizem que não se investigou nem a metade — aponta para a inexistência de partidos e políticos ao mesmo tempo viáveis e honestos. É a infecção. É o corpo doente. É a putrefação.

O Ministério Público Federal, ou parte dele, julga ter o remédio adequado, o único antibiótico cabível, que são as suas 10 Medidas Contra a Corrupção — ainda volto ao ponto. Algumas delas não vigoram nem em ditaduras. Mas a mensagem está dada: se querem salvar o corpo doente, tem de ser um remédio radical.

Essa matrioska apresenta ainda outra particularidade. A de verdade tem uma última bonequinha. A Lava-Jato não! É claro que a Sépsis vai levar a novos criminosos, que, por sua vez, podem fazer delação, comprometendo outros tantos. Em breve, será preciso fazer o Manual das Operações de Nomes Significativos da Força-Tarefa.  Mais um pouco, o Brasil vira a Casa Verde de Itaguaí, do conto “O Alienista”, de Machado de Assim. Quase não sobra ninguém fora da cela.

“Ah, então vamos parar tudo?” Não! Que se investigue tudo. Mas talvez seja o caso de um pouco de método. É só uma consideração. Pessoalmente, não me importo que vá até o último homem…

Só acho que é preciso tomar cuidado com a ideia da “Sépsis”. Já escrevi aqui uma vez: eu nunca gosto quando questões que dizem respeito à política e à sociedade são associadas a doenças, especialmente as que costumam ser acompanhadas de amputações, né?

Melhor é a gente achar, e lutar por isto, que as coisas têm remédio. E que, como dizia Padre Vieira, é sempre bom ter o remédio que remedeia os remédios.

 

No ESTADÃO: Operação Lava Jato

Moro aponta ‘caráter serial’ de crimes contra a administração

No despacho em que mandou deflagrar a Operação Abismo, 31.ª fase da Lava Jato, juiz federal sustenta que corrupção e lavagem de dinheiro em grau elevado 'reclama a tomada de remédios amargos para prevenir reiteração delitiva'

O juiz federal Sérgio Moro apontou, ao mandar deflagrar a Operação Abismo – 31.ª fase da Lava Jato – para o que classifica de ‘caráter serial da prática de crimes contra a Administração Pública e de lavagem de dinheiro’.

Moro sustenta que a corrupção sistêmica e as investigações sobre propinas de R$ 39 milhões nas obras do Centro de Pesquisas da Petrobrás, no Rio, reclamam ‘a tomada de remédios amargos para prevenir reiteração delitiva’.

“Embora as prisões cautelares decretadas no âmbito da Operação Lava Jato recebam pontualmente críticas, o fato é que, se a corrupção é sistêmica e profunda, impõe-­se a prisão preventiva para debelá-­la, sob pena de agravamento progressivo do quadro criminoso. Se os custos do enfrentamento hoje são grandes, certamente serão maiores no futuro. O país já paga, atualmente, um preço elevado, com várias autoridades públicas denunciadas ou investigadas em esquemas de corrupção, minando a confiança na regra da lei e na democracia”, destacou Sérgio Moro.

“A corrupção sistêmica é produto de uma prática criminosa serial e não um ato isolado no tempo e espaço. Não raramente os casos de corrupção descobertos constituem apenas uma amostragem de atividades criminosas muito mais extensas”, alerta.

O magistrado reporta-se ao primeiro grande escândalo do governo Lula, o Mensalão, que levou à prisão quadros importantes do PT, inclusive o ex-ministro-chefe da Casa Civil do petista, José Dirceu, e o ex-presidente do partido, José Genoino.

“O fato, aliás, é bem ilustrado pela constatação de que vários dos acusados ou condenados na conhecida Ação Penal 470 reapareceram como acusados ou condenados no âmbito da assim denominada Operação Lava Jato, inclusive provado que pelo menos dois deles, ex­-parlamentares já condenados, recebiam propinas mensais enquanto estavam sendo julgados pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal na referida ação penal”, assinalou o juiz federal.

Na decisão em que mandou deflagrar a Abismo, Moro observou que já havia decretado a prisão preventiva de Paulo Ferreira no início de junho, antes mesmo que seu colega de São Paulo, o juiz federal Paulo Bueno de Azevedo, autorizasse a Operação Custo Brasil.

“Diante dos fatos supervenientes, ratifico a decisão de 7 de junho de 2016, na qual, a pedido do Ministério Público Federal, decretei a prisão preventiva de Paulo Adalberto Alves Ferreira, para o fim de reforçar os elementos probatórios indicativos de seu envolvimento, em cognição sumária, na prática serial de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, indicando risco de reiteração delitiva, e para o fim de agregar o risco à investigação e à instrução aos fundamentos da prisão cautelar.”

FOLHA: Lava Jato troca delegados, mas nega desmanche ou pressão externa

Três delegados que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná serão afastados da investigação. A Polícia Federal, porém, nega "desmanche" e diz que a troca pretende "oxigenar o grupo" e dar "um novo fôlego" à investigação.

Luciano Flores, que integra a Lava Jato desde o princípio e conduziu o interrogatório do ex-presidente Lula (PT) em março, foi afastado a pedido, para atuar na Olimpíada. Ele voltará ao grupo após o encerramento do evento.

Os outros dois delegados que saem são Eduardo Mauat e Duílio Mocelin Cardoso. Eles voltam às suas bases no Rio Grande do Sul e em Rondônia, respectivamente.

"São opções estratégicas da coordenação, com apoio irrestrito da equipe de investigação", informou a PF em nota, lida durante a coletiva de imprensa da31ª fase nesta segunda (4).

"Não é verídica a informação de que a força-tarefa passa por um desmanche. Em momento algum sofremos qualquer tipo de pressão interna ou externa para substituição desse ou daquele delegado", afirma a nota.

Com a saída, passam a integrar a equipe os delegados Rodrigo Sanfurgo, que chefiou a delegacia de combate a crimes financeiros em São Paulo, Roberto Biasoli, que trabalhou no departamento de cooperação internacional do Ministério da Justiça, e Luciano Menin. 

TEMER: "A Lava Jato não vai abalar meu governo"

O presidente em exercício diz que é “zero” a chance de as investigações provarem algo contra ele e que a economia vai melhorar depois da definição do impeachment (NA VEJA, edição desta semana)

Michel Temer: ‘Nunca soube que alguém pudesse dar verbas fora da doação oficial’(Cristiano Mariz/VEJA)

Perto de completar dois meses na Presidência da República, o presidente em exercício, Michel Temer, tem trabalhado até dezessete horas por dia - preço que paga por liderar um governo montado em prazo bíblico. Foram sete dias ao todo, segundo ele, um tempo exíguo que não foi definido apenas pelas circunstâncias, mas também por um distanciamento do poder que ele se autoimpôs às vésperas da votação do impeachment na Câmara para evitar a pecha de conspirador - já que, como diz, "o vice é sempre o principal suspeito".

De segunda a sexta, o peemedebista continua morando no Jaburu, o belo palácio que Oscar Niemeyer projetou para parecer "uma casa de fazenda", e que lembra mesmo uma, mais ainda quando as galinhas que ciscam à beira do lago comparecem de surpresa às reuniões que o presidente em exercício faz na sala envidraçada voltada para o jardim. Lá, em entrevista a VEJA, ele defendeu as privatizações de tudo "o que for possível", revelou ser contrário à criação de normas para "disciplinar" as delações premiadas, mas disse considerar "discutível" a decisão que prevê a prisão imediata dos réus condenados em segunda instância. Ao comentar a possibilidade de o deputado Eduardo Cunha renunciar à presidência da Câmara, contou que o aconselhou a "meditar a respeito". Sobre ele próprio, afirmou ser "zero" a chance de ter uma acusação comprovada na Lava-Jato. Reclamou da "campanha" dos adversários e elogiou a mulher, Marcela, a quem julga "preparadíssima" para entrar na vida pública. A estreia, disse, se dará assim que ela se mudar para Brasília com o filho do casal, Michelzinho, o que deve acontecer em agosto, se tudo correr como se prevê e o hoje presidente em exercício se tornar o 37º presidente da República do Brasil. Leia um trecho da entrevista:

De zero a 10, qual é a possibilidade de a Lava-­Jato abalar seu governo? Zero. Convenhamos, em 45 dias resolvemos o problema federativo no país com a dívida dos estados, aprovamos a Desvinculação de Receitas da União, a DRU, em duas semanas... No caso das estatais, o projeto estava parado no Senado. Votamos na Câmara. São exemplos de que a Lava-Jato não atrapalha em nada.

E qual é a possibilidade de a Lava-Jato atingi-lo pessoalmente? O que houve é que fui presidente do partido por muitos anos. Entravam doações, todas oficiais. Há uma tendência para criminalizar as doações oficiais. É preciso separar bem o que é propina do que foi doação legal.

O senhor presidiu o PMDB durante quinze anos. As investigações mostram que, nesse período, houve pagamentos de propina a José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Cunha... O senhor nunca suspeitou de nada? Eu cuidava das doações oficiais. Nunca soube que alguém pudesse dar verbas fora da doação oficial. E são afirmações que merecem comprovação, não são definitivas, têm de ser comprovadas.

O que a interinidade o impede de fazer no governo? Embora sinta que a confiança no Brasil está começando a renascer, reconheço que o investimento estrangeiro está esperando para ver o que vai acontecer em agosto, na votação do impeachment. Tenho a impressão de que então se abrirá um novo campo. É a única observação que faço em relação ao, digamos, prejuízo da interinidade. Fora isso, só o lado pessoal.

Como assim? Campanhas contra mim, por exemplo. Enquanto existir a interinidade, existe a perspectiva do retorno. E, enquanto existir a perspectiva do retorno, desejosos desse retorno se dedicarão a esse tipo de ação. Tentaram invadir o meu escritório em São Paulo. Outro dia, um grupo se postou em frente à minha casa e começou a gritar palavrões, assustando minha mulher e meu filho. Os dois ficaram chorando, foi muito desagradável.

Do ponto de vista pessoal, sua vida mudou muito depois de o senhor assumir a Presidência?Comecei a compreender que a vida do presidente da República é muito devassada, não há como evitar. Hoje, não vou a cinema, não vou a restaurante, não ando mais na praça como fazia. Se eu for, vão dez seguranças junto.

Privatizações! Eis o remédio mais eficaz para combater o crime de lesa-pátria do PT (REINALDO AZEVEDO)

Que coisa, né? O Brasil poderia agora — na verdade, já deveria tê-lo feito muito antes — estar se preparando para empreender a privatização apenas virtuosa de estatais. Em vez de fazê-lo para minorar a herança maldita do PT, estaria a tanto se dedicando para atrair investimentos, para melhorar a qualidade dos serviços prestados ao distinto público — vale dizer: aos pobres —, para aumentar a eficiência da economia.

Atenção! É claro que uma nova rodada de privatizações terá também todos esses aspectos positivos. Mas não é menos verdade que ela passou a ter uma urgência quase dramática em face de um país que está, obviamente, quebrado.

Segundo https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1788211-governo-preve-arrecadar-ate-r-30-bilhoes-com-privatizacoes-em-2017.shtml reportagem da Folha, o governo Temer espera arrecadar com um programa de privatizações e concessões algo entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões. Acho um volume baixo, o que caracterizaria uma ambição ainda modesta.

Na lista de empresas, diz o jornal, estariam a Caixa Seguridade, o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), participações da Infraero em aeroportos e concessões de rodovias, portos e aeroportos.

É evidente que acho uma boa medida. Para ser ainda mais claro: no meu modelo ideal, não sobra uma só estatal nem para fazer remédio. Nada! Restringiríamos a presença do estado às áreas em que ele se mostra essencial num país com as características do Brasil: saúde, educação e segurança pública — no caso das duas primeiras áreas, o capital privado podendo atuar livremente.

Assim, que o governo privatize à larga, mas é preciso deixar claro que estamos com uma premência: o déficit deste ano está previsto em R$ 170,5 bilhões — terceiro ano consecutivo no vermelho. No ano que vem, os cálculos variam entre R$ 135 bilhões e R$ 150 bilhões negativos. Em 2018, é provável que se estará ainda com déficit. O realismo aponta para a volta do superávit só em 2019.

Eis o que o PT fez com a economia brasileira. A receita derivada da venda de ativos e de concessões servirá para minimizar o desastre. Digam-me: isso é ou não é a cara do petismo? Estamos ou não diante do mais óbvio resultado de uma equação asnal? O partido passou a sua existência demonizando as privatizações, muito especialmente nos 13 anos que em passou no poder. Nesse tempo, elevou à estratosfera os gastos públicos e jogou a economia no abismo.

Agora, as demonizadas privatizações — e a peteza continuará a atacar a proposta, não duvidem — terão de vir não só porque são o melhor para o Brasil e para os brasileiros, não só porque aumentam a eficiência da economia, não só porque atraem investimentos, não só porque geram empregos, riqueza e renda, mas também para minorar os desastres provocados pela companheirada.

A herança que o PT deixa pode, sem exagero, ser chamada de crime de lesa-pátria.

 

 

 

 

Fonte: Veja + Folha

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