Na FOLHA: Em delação, Cerveró diz que Dilma mentiu sobre compra de Pasadena

Publicado em 02/06/2016 19:15
Levantamento feito pelos repórteres MÁRCIO FALCÃO, AGUIRRE TALENTO, GABRIEL MASCARENHAS e RUBENS VALENTE, da sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo

Em sua delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró acusou a presidente afastada, Dilma Rousseff, de ter mentido sobre a compra da refinaria de Pasadena e disse supor que a petista sabia que políticos do PT recebiam propina da estatal.

O conteúdo do depoimento foi tornado público nesta quinta (2). O ex-diretor da área internacional da Petrobras acertou a colaboração premiada em novembro passado, depois que sua defesa entregou evidências de que o senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), tentou, em conluio com o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, fazer com que ele não fechasse acordo com a Justiça.

Condenado na Lava Jato, Cerveró está preso desde janeiro de 2015.

Segundo Cerveró, "não corresponde à realidade" a afirmação de Dilma de que aprovou a compra da refinaria, adquirida pela Petrobras em 2006, porque não tinha informações completas. Na época, Dilma era presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

Cerveró disse que "houve certa pressa" na aprovação do projeto pelo conselho.

"Que o declarante conhece há muito tempo a presidente da República Dilma Rousseff [...] Que Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a refinaria de Pasadena; que o Conselho de Administração não aprova temas com base em resumo executivo; que o projeto foi aprovado na Diretoria Executiva da Petrobras numa quinta e na sexta o projeto foi aprovado no Conselho de Administração; que esse procedimento não era usual", disse.

"Que sempre que havia dúvidas sobre algum tema a ser analisado, o Conselho de Administração solicitava, esclarecimentos, que não foi solicitado nenhum tipo de esclarecimento quanto à aquisição da refinaria de Pasadena; que isso indica que não havia dúvida nenhuma quanto à aquisição da refinaria de Pasadena", diz.

E completou: "que não corresponde à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição porque não sabia dessas cláusulas; que o declarante não tem conhecimento de irregularidade na aprovação da aquisição da refinaria pelo Conselho de Administração da Petrobras".

Cerveró disse que não tem conhecimento de que recebimento de propina por integrante do conselho.

Em depoimento para o juiz auxiliar do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato, Cerveró reforçou sua versão sobre Pasadena.

"Eu fui... No ano passado eu permaneci muito em evidência por conta da afirmativa da presidente Dilma que eu tinha feito a apresentação sobre uma refinaria que foi comprada nos Estados Unidos e que ela... –que a responsabilidade de aprovação é dela, é do Conselho– e que ela disse que só tinha aprovado porque não tinha as informações suficientes, o que não é verdade. Mas isso, eu estou só me permitindo um recuo", contou.

INTIMIDADE

Cerveró afirmou que Dilma acompanhava, de "perto os assuntos referentes" à Petrobras, frequentando constantemente a empresa, e que "conhecia com detalhes os negócios" da estatal.

"Que o declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrobras, que, no entanto, o declarante nunca tratou diretamente com Dilma, sobre o repasse de propina, seja para ela, seja para políticos, seja para o PT."

MENINOS

Cerveró também afirmou aos investigadores que ouviu de seu advogado que Delcídio do Amaral teria lhe dito que Dilma agiria para tirá-lo da prisão assim como o ex-diretor da estatal Renato Duque, considerado operador do PT.

Segundo Cerveró, Delcídio relatou que Dilma teria dito que "cuidaria dos meninos".

HISTÓRICO

Em 2006, a Petrobras comprou do grupo belga Astra metade da refinaria de Pasadena por US$ 360 milhões, aí incluídos estoques de petróleo. Os sócios brigaram por causa do custo da reforma que a Petrobras queria fazer na refinaria, que chegavam a US$ 2,5 bilhões, considerado alto pela Astra.

A Petrobras então enviou proposta de US$ 550 milhões pelo restante de Pasadena, mas a Astra queria US$ 1 bilhão. Os sócios acabaram fazendo um acordo de US$ 788 milhões. Mas sem aprovação do conselho da estatal brasileira, ele não foi fechado, o que levou a uma disputa judicial nos EUA.

No final, após uma batalha judicial encerrada em 2012, a Petrobras acabou pagando US$ 885 milhões pelo 50% da refinaria. No total, a estatal brasileira desembolsou US$ 1,25 bilhão por um negócio comprado pela Astra por apenas US$ 42,5 milhões em 2005. O ex-presidente da Estatal, José Sérgio Gabrielli, diz que a Astra fez investimentos de US$ 360 milhões na refinaria após a aquisição de 2005.

Em 2014, quando o TCU (Tribunal de Contas da União) apurava os prejuízos nessa aquisição, Dilma afirmou que o Conselho de Administração, que ela presidia, não teve conhecimento de todos os atos tomados pelos diretores e que algumas cláusulas do contrato não forma informadas aos conselheiros, responsabilizando os diretores pelo prejuízo.

Ao fim da apuração, o TCU considerou que as operações para adquirira Pasadena deram um prejuízo US$ 792 milhões à estatal e está exigindo a devolução desses recursos a 14 ex-diretores. No julgamento, os ministros entenderam que os conselheiros não poderiam ser apontados como responsáveis pelo dano, mas que isso poderia vir a ocorrer na fase atual do processo, onde cada diretor está se defendendo.

OUTRO LADO

Sobre Pasadena, a presidente Dilma já afirmou anteriormente que aprovou o negócio porque não sabia da existência de duas cláusulas que causaram prejuízo e que não constavam no resumo apresentado por Cerveró ao Conselho de Administração da Petrobras.

Petrobras orientou negócio com firma ligada ao filho de FHC, diz Cerveró

Em sua delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró revelou que a presidência da Petrobras durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso lhe orientou que fechasse contrato com uma empresa ligada ao filho de FHC, Paulo Henrique Cardoso.

Segundo ele, o caso ocorreu entre os anos de 1999 e 2000, quando era subordinado ao ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) na diretoria de Gás e Energia da Petrobras.

Cerveró contou que foi procurado pelo lobista Fernando Soares, o Baiano, que representava a empresa espanhola Union Fenosa, interessada em se associar à Petrobras na termoelétrica do Rio de Janeiro (Termorio).

"Fernando Antônio Falcão Soares e os dirigentes da Union Fenosa acreditavam que o negócio estava acertado, faltando apenas a assinatura para a finalização. Que, no entanto, o negócio já estava fechado com uma empresa vinculada ao filho do presidente da República Fernando Henrique Cardoso, de nome Paulo Henrique Cardoso", afirmou o ex-diretor.

Segundo Cerveró, a empresa se chamava PRS Participações. "O negócio havia sido fechado pelo próprio declarante, por orientação do então presidente da Petrobras, Philippe Reichstul", disse.

O ex-diretor contou que Fernando Soares e os empresários da Union Fenosa "ficaram surpresos e bastante contrariados" e que Delcídio também ficou contrariado com a situação.

"Delcídio do Amaral ficou contrariado com o fato de o fechamento do negócio ter sido determinado pela presidência da Petrobras sem o conhecimento da diretoria de Gás e Energia", revelou Cerveró.

Em seu depoimento, Cerveró não cita se houve envolvimento direto de FHC no negócio.

Ele disse ainda que recebeu propina da empresa responsável pela Termorio, a NRG, no valor de 300 mil dólares em uma conta na Suíça, mas não explicou o motivo do pagamento de propina nem a relação com o filho de FHC.

PERÍODO TUCANO

Ainda sobre o período tucano, Cerveró contou sobre o recebimento de propina da Alstom e da General Eletric, fatos que já haviam sido relatados por Delcídio em sua delação.

Ambas empresas forneceram turbinas para a geração de energia termoelétrica em um programa criado por FHC. Segundo Cerveró, a aquisição do material era urgente e por isso não houve licitação.

Em seu relato, ele conta ter recebido entre US$ 600 mil e US$ 700 mil dólares pelo negócio, mas que estima que Delcídio recebeu cerca de US$ 10 milhões.

"Apesar de todo o esforço, em 2001 faltou energia, tendo havido necessidade de racionamento de energia elétrica", afirmou Cerveró.

Outro relato de irregularidade no período de FHC foi a aquisição, pela Petrobras, da empresa Perez Companc, no final do ano de 2002, ordenada pelo então presidente da estatal, Francisco Gros.

Cerveró disse que chamou sua atenção o fato de a Petrobras ter pago US$ 1 bilhão no negócio e que a transação rendeu uma propina de US$ 100 milhões "destinada ao governo de Fernando Henrique Cardoso".

Delator diz que Planalto pagou dívida de campanha de Dilma, afirma revista ÉPOCA

O empresário Benedito Oliveira Neto, conhecido como Bené, afirmou em delação que dinheiro desviado do Palácio do Planalto foi usado para pagar dívidas de campanha da presidente afastada Dilma Rousseff, noticiou nesta quinta-feira (2) a revista "Época".

Segundo Bené, citado pela publicação, a operação teria sido feita entre 2014 e 2015 para pagar um débito com a agência Pepper, que atuou na campanha presidencial da petista em 2010. A negociação teria sido intermediada pelo do assessor de Dilma, Giles de Azevedo.

O esquema teria consistido em antecipar, a pedido da Pepper, um contrato do Palácio do Planalto com a agência Click no valor de R$ 44,7 milhões. De acordo com Bené, a Pepper teria participação na agência – a Click negou o fato à revista.

O delator teria dito que não participou da negociação, mas que ouviu o relato sobre o pagamento do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que, por sua vez, teria se reunido com Giles pouco tempo antes.

Bené está preso pela Polícia Federal pela Operação Acrônimo, que investiga irregularidades na campanha de Pimentel, de quem é amigo.

Ainda segundo a "Época", a delação de Bené também acusa Pimentel de repassar R$ 5 milhões em propina às campanhas do PT. O dinheiro teria vindo da JHSF como compensação pelo lobby que Pimentel teria feito para que a empresa pudesse operar no aeroporto Catarina, em São Roque.

OUTRO LADO

Procurado pela reportagem, o advogado Roberto Pagliuso, que defende Bené, afirmou que não vai comentar o assunto.

Giles de Azevedo, por meio de nota, diz que "que desconhece o teor da colaboração premiada do senhor Benedito Oliveira" e afirma que "os fatos indicados na matéria são inverídicos e não encontram respaldo na realidade, além de serem baseados em narrações de "ouvir dizer" de terceiros". A nota ainda diz que Giles "nunca foi responsável por gestão ou negociação de contratos de publicidade da SECOM (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) e tampouco conhece os representantes e/ou prepostos da Agência Click".

O advogado de Danielle Fonteles não quis comentar a reportagem. A defesa do governador de Minas Fernando Pimentel não foi encontrada. 

Fonte: Folha de S. Paulo

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