Dólar passa a cair ante real com alta do petróleo; cautela local persiste

Publicado em 02/06/2016 15:30

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar passou a recuar frente ao real nesta quinta-feira conforme os preços do petróleo voltaram a subir, mas operadores continuavam adotando cautela diante de sinais mistos sobre a governabilidade do presidente interino Michel Temer e as perspectivas para o ajuste fiscal no Brasil.

Às 15:26, o dólar recuava 0,21 por cento, a 3,5804 reais na venda, após subir a 3,6118 reais na máxima da sessão e cair a 3,5784 reais na mínima.

O dólar futuro, que havia reduzido as perdas após o fechamento do mercado à vista na sessão passada em meio a preocupações com o cenário político brasileiro, recuava cerca de 0,7 por cento.

"Os mercados externos melhoraram um pouco e isso se refletiu aqui, mas o 'driver' principal continua sendo o fator político", resumiu o operador de uma corretora internacional.

Os preços do petróleo voltaram a subir no início da tarde desta quinta-feira, com o Brent superando 50 dólares por barril, após dados mostrando queda nos estoques dos Estados Unidos ofuscarem a decisão da Opep de não estabelecer um limite para a produção.

O dólar havia operado em alta na primeira parte da sessão na esteira do tombo dos preços do petróleo e após a Câmara dos Deputados aprovar reajustes salariais de diversas categorias do setor público, medida que terá impacto bilionário no Orçamento. [nL1N18U0B6]

"(A medida) vai na contramão do ajuste fiscal, mas pode contar pontos na questão da governabilidade. No líquido, o resultado pode não ser de todo negativo", disse o superintendente regional de câmbio da corretora SLW João Paulo de Gracia Corrêa, referindo-se à possibilidade de o governo interino ter conquistado mais apoio político com a aprovação da medida.

Só a proposta que reajusta salários de servidores do Judiciário tem impacto orçamentário para 2016 de 1,160 bilhão de reais, de acordo com a Agência Câmara Notícias. Segundo levantamento do jornal O Globo, o impacto dos reajustes no Orçamento será de cerca de 64 bilhões de reais até 2019.

Por outro lado, a Câmara também aprovou em primeiro turno a recriação de 2016 a 2023 da Desvinculação de Receitas da União (DRU), mecanismo que permite ao governo usar livremente 30 por cento de todos os impostos e contribuições sociais e econômicas federais.

O projeto ainda precisa passar por um segundo turno na Casa antes de ser enviada ao Senado para mais uma votação em dois turnos. Ainda assim, operadores encararam a aprovação como mais um sinal de apoio ao governo no Legislativo.

Muitos operadores vêm expressando preocupação com a possibilidade de Temer enfrentar dificuldades para angariar apoio a medidas de austeridade fiscal no Congresso, especialmente após escândalos ligados à operação Lava Jato levarem à queda de dois de seus ministros em uma semana.

Pesquisa da Reuters mostrou que a incerteza política no Brasil deve ajudar a levar o dólar a 3,82 reais daqui a 12 meses. A perspectiva de aumentos de juros nos Estados Unidos também deve pesar sobre a moeda, já que tende a atrair para o mercado norte-americano recursos atualmente aplicados aqui.

"Neste momento, a crise política é o tema mais importante para qualquer investidor no Brasil", resumiu o operador da corretora Intercam Glauber Romano.

O Banco Central não anunciou qualquer intervenção cambial para esta sessão, mantendo-se ausente do mercado pela segunda sessão seguida.

(Por Bruno Federowski; Edição de Patrícia Duarte e Camila Moreira)

Fonte: Reuters

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