Na FOLHA: Pedro Barusco confirma que repassou US$ 300 mil para campanha de Dilma

Publicado em 10/03/2015 18:51
"Eu recebi o dinheiro e repassei (...) para o João Vaccari Neto"

No primeiro depoimento da CPI da Petrobras na Câmara, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que admite o recebimento de propinas e a divisão delas com o PT, detalhou seu relacionamento com o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, citando jantares em hotéis e contatos por mensagens telefônicas.

Disse que recebeu um pedido de reforço financeiro de Vaccari e que, por isso, providenciou o repasse de US$ 300 mil para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.

Sobre o reforço à campanha de Dilma, afirmou: "Em 2010 foi solicitado à [empresa holandesa] SBM um patrocínio de campanha, mas não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei (...) para o João Vaccari Neto". A informação já havia sido citada por Barusco em sua delação premiada.

Os detalhes do relacionamento com o tesoureiro, caso confirmados com registros como câmeras internas dos hotéis e dados telefônicos, podem comprovar pela primeira vez a proximidade entre Barusco e Vaccari.

Repetindo informações já dadas em sua delação premiada ao Ministério Público Federal, Barusco reafirmou nesta terça-feira (10) que havia um acordo para que um percentual dos contratos firmados na diretoria de Serviços, na qual atuava, fosse destinado ao PT, e que o responsável pelo recebimento era Vaccari.

Esse percentual era uma propina paga por um cartel de empresas a funcionários da Petrobras, que era repassada em parte a legendas aliadas, de acordo com as investigações da Operação Lava Jato.

Barusco, porém, disse que só conversava com ele sobre a divisão da propina enão sabia a destinação que seria dada ao dinheiro. "Isso cabia ao João Vaccari gerenciar. Ele que era responsável. Não sei como ele recebia, para quem ele distribuía, se era oficial, extra-oficial. Cabia a ele naquele percentual uma parte."

HOTÉIS

Os hotéis onde Barusco relatou se encontrar com Vaccari eram os mesmos onde o tesoureiro do PT e o ex-diretor de Serviços e superior de Barusco, Renato Duque, disseram à Polícia Federal que conversavam. As conversas, segundo Barusco, ocorriam nos restaurantes do hotel Windsor, no Rio, e do Meliá, em São Paulo.

"Os encontros demoravam uma hora, uma hora e meia e eventualmente a gente jantava, alguma coisa assim. Eu não comparecia a todos os encontros, comparecia a alguns, geralmente quem ia era o Duque", afirmou.

Segundo ele, nas reuniões já era marcado quando seria o próximo encontro e, pouco antes, a confirmação era feita por telefone. "Um pouco antes a gente mandava um SMS [mensagem via telefone celular]", relatou Barusco.

O ex-gerente também revelou que o Ministério Público está fazendo o levantamento dos registros telefônicos, para fazer o cruzamento e comprovar esse elo com Vaccari. O telefone que usava na época, porém, era seu funcional, e não pessoal –por isso diz não ter mais detalhes.

FHC

Um dos delatores da Operação Lava Jato, Barusco despertava interesse do PT e do PSDB porque havia relatado à Polícia Federal que começou a receber propina entre 1997 e 1998, época da gestão Fernando Henrique Cardoso, por parte da empresa holandesa SBM Offshore.

Frustrando expectativas do PT, porém, Barusco não aprofundou as declarações dadas anteriormente, sob o argumento de que esse caso ainda está sob investigação.

"Estou sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pela Justiça holandesa. Então nesse tema aqui, eu já fiz todas as declarações. O aprofundamento eu estou fazendo para o Ministério Público Federal."

Questionado se possuía autonomia para favorecer a empresa, porém, Barusco disse que não. "Não, inclusive esses contratos não eram fechados por mim", afirmou.

 

EM VEJA: 

Propina financiou campanha de Dilma em 2010, diz delator

Pedro Barusco, delator do propinoduto na Petrobras, afirmou à CPI da Petrobras que pediu 300.000 dólares à holandesa SBM Offshore para a campanha

 

O DELATOR FALA – Pedro Barusco presta depoimento à CPI da Petrobras (Ueslei Marcelino/Reuters)

Em depoimento de cinco horas na CPI da Petrobras, o delator Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal, voltou a colocar as contas do PT no centro do escândalo de corrupção: ele afirmou à comissão que foram solicitados 300.000 dólares do megaesquema de lavagem de dinheiro para serem injetados na campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010.

Aos parlamentares, Barusco repetiu o que havia afirmado em delação premiada à Justiça: Renato Duque, que exercia a função de diretor de Serviços da Petrobras, fez o pedido de dinheiro diretamente à empresa holandesa SBM Offshore. "Foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha, só que não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas em outro recebimento. Foi para a campanha presidencial em 2010, na que teve José Serra e Dilma Rousseff. [A doação] foi ao PT, pelo João Vaccari Neto", afirmou.

Leia mais: Propinoduto foi 'institucionalizado' no governo Lula

Embora tenha afirmado não ter tratado diretamente de indicações políticas com os diretores da Petrobras, o executivo afirmou que, internamente, "havia rumores que o PT, através de José Dirceu, teria indicado Renato Duque, e que o PP, através do deputado José Janene, havia indicado o Paulo Roberto".

Após a sessão, o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), disse que o depoimento de Barusco comprova que não há razão para incluir o governo FHC na investigação. "O depoimento reforça a ideia de que a CPI deve se focar no seu objeto. Ele deixou claro que recebeu propina entre 1997 e 2002 por uma iniciativa individual', afirmou.

Vaccari - O depoimento de Barusco comprova o envolvimento direto do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no esquema de corrupção da Petrobras. Em acordo de delação premiada, o executivo já havia apresentado uma estimativa de Vaccari ter recebido de 150 a 200 milhões de dólares em propina entre 2003 e 2013. "Como na divisão da propina cabia ao PT receber o dobro ou um pouco mais, eu estimo que o partido deve ter recebido o dobro do que eu", afirmou. "Eu sei que existia uma reserva de propina para o PT receber", continuou. No acordo de delação premiada, Barusco aceitou devolver à Justiça 97 milhões de dólares de dinheiro ilegal.

Nos corredores da Petrobras, Vaccari era conhecido como um dos operadores da propina, ao lado dos empresários Mário Goes e Shinko Nakandakari. O tesoureiro, conforme detalhou Barusco nesta terça-feira, chegou a se encontrar com os diretores para negociar os pagamentos na própria estatal. "Vemos aí o tesoureiro do PT se reunindo com diretores para colher doações ao partido. É um verdadeiro assalto à Petrobras", afirmou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), durante a sessão.

Vaccari também pegou dinheiro do Gasene, uma rede de gasodutos construída entre o Rio de Janeiro e a Bahia. As obras foram questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Eu sei que a propina foi destinada a mim, ao Duque e à parte relativa ao PT. A gente sempre combinava esse tipo de assunto com o Vaccari. Ele era o responsável", disse o ex-gerente da Petrobras. O delator deixou claro que a participação de Vaccari não era por conta própria, mas sim em nome do partido. "O rótulo era PT", resumiu.

"Eu não sei quem deu procuração para o Vaccari atuar nas empreiteiras, mas o fato é que ele atuava. Os empresários todos o conheciam. Ele tinha interlocução com todos", afirmou Barusco. O executivo também disse que encontrava Vaccari e Duque normalmente no hotel Windsor Copacabana, no Rio de Janeiro, e no hotel Sofitel Sena Madureira e no Meliá em São Paulo. Barusco detalhou ainda o clima de naturalidade na negociação de pagamento de propina: "Com os empresários, Vaccari e Duque, eram conversas negociais. Não houve extorsão nem constrangimento", afirmou.

Fonte: Folha de S. Paulo + VEJA

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