No El País: Efeito dominó da seca afetará toda a economia, começando pela alface
A máxima no maior entreposto de abastecimento da América Latina diante da maior crise hídrica de que se recorda é se encomendar a Deus. Os produtores e vendedores na Ceagesp, na zona oeste de São Paulo, tentam superar as dificuldades típicas dos verões, mas a falta de água os empurra ao precipício: sem chuva, 60% dos produtores da região, dizem, desistiram de plantar suas safras e, para não comprometer os reservatórios, o Governo do Estado vai restringir a irrigação nas bacias do Alto Tietê e do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), o que pode afetar os cultivos responsáveis por 50% do abastecimento de hortifrútis do Estado, segundo cálculos do jornal Valor Econômico.
“Se não chover até maio de Minas Gerais para cima, não vamos ter com que trabalhar”, anuncia Antônio Bernardo, pequeno produtor e vendedor de frutas. “Estamos preocupadíssimos, e já trazendo mercadorias do Chile, do Peru, da Argentina. Como vamos sustentar nossas famílias?”, questiona. “Ainda não estamos vendo as consequências, mas 60% dos produtores não estão plantando ou plantaram muito menos pela falta de água, e isso vai se sentir daqui a um mês nos preços, quando a produção vai ser muito menor”, alerta Maurício Fraga, que vende por dia quatro toneladas de hortaliças folhosas –rúcula, alface, repolho ou brócolis–, principal cultivo dos abastecidos pelas captações da bacia do Alto Tietê, hoje com 10,6% da sua capacidade.
O que os vendedores contam entre caminhões, caixas e calculadoras está sendo sentido pelos especialistas que, sem água, já preveem um aumento dos preços, especialmente dos alimentos, mas também na conta de água e de luz que, em um efeito cascata, vão acabar impactando na cadeia produtiva e na economia do país. “Parte desse aumento nós estamos percebendo nas frutas, verduras e legumes, cujos preços já acumulam alta de 8% de média no último mês”, explica André Chagas, economista da Fundação do Instituto de pesquisas Econômicas (Fipe). “Se pegarmos apenas as verduras, esse aumento chega a 10%, a alface, por exemplo, já acumula 16%, enquanto nossa expectativa oficial era que o aumento não superasse 5%”.
Marcio Salvato, coordenador da Graduação em Ciências Econômicas do Ibmec, como os demais especialistas consultados, acredita que o impacto econômico da falta de água vai acabar afetando a economia nacional. “Os índices de inflação ao consumidor irão subir, e é claro que à medida que existe uma expectativa de subida, o Banco Central vai responder a isso com juros elevados, o que vai provocar ainda um maior desaquecimento da economia”, afirma o economista.
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