Mundo está à beira de pontos de inflexão ambientais, diz ONU
Por David Stanway
CINGAPURA (Reuters) - O mundo está caminhando em direção a uma série de "pontos de inflexão" ambientais que podem causar danos irreversíveis ao abastecimento de água e a outros sistemas de sustentação da vida, alertou um braço de pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira.
As mudanças climáticas e o uso excessivo de recursos têm colocado o mundo à beira de seis pontos de inflexão interconectados que "poderiam desencadear alterações abruptas em nossos sistemas de sustentação da vida e abalar os alicerces das sociedades", disse o Instituto de Meio Ambiente e Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas (UNU-EHS).
"Quando esses limites são ultrapassados, o sistema deixa de funcionar normalmente e surgem novos riscos em cascata, que podem ser transferidos para outros sistemas", disse o pesquisador Jack O'Connor, autor do relatório.
"Devemos esperar que essas coisas aconteçam porque, em certas áreas, elas já estão acontecendo."
O relatório Interconnected Disaster Risks (Riscos de Desastres Interconectados), publicado antes das negociações climáticas da COP28 no próximo mês, identificou taxas aceleradas de extinção, esgotamento de águas subterrâneas, derretimento glacial e calor extremo como as principais ameaças interconectadas.
O documento alertou que 1 milhão de plantas e animais poderiam ser dizimados "dentro de décadas", com a perda de espécies importantes podendo "desencadear extinções em cascata de espécies dependentes" e aumentar a probabilidade de colapso do ecossistema.
Muitos dos maiores aquíferos do mundo já estão se esgotando mais rapidamente do que podem ser reabastecidos, com a Arábia Saudita, a Índia e os Estados Unidos já enfrentando graves riscos. Os escoamentos do derretimento de geleiras também estão em declínio.
"O calor está nos levando a extrair mais água subterrânea por causa da seca", disse Caitlyn Eberle, outra autora do estudo. "Muitas dessas geleiras nas Montanhas Rochosas, no Himalaia e nos Andes alimentam esses rios e sistemas de águas subterrâneas, portanto, à medida que essas geleiras desaparecem, há menos água disponível."
Os pesquisadores também alertaram sobre os riscos crescentes apresentados pelos detritos espaciais, com colisões que podem tornar a órbita da Terra "inutilizável" e impossibilitar futuras atividades espaciais, incluindo o monitoramento por satélite de ameaças ambientais.
Em outro ponto de inflexão, a piora dos riscos climáticos está tornando os seguros inacessíveis, com meio milhão de residências somente na Austrália que não poderão ser seguradas até 2030, segundo eles.
"Quando esse ponto é ultrapassado, as pessoas ficam sem uma rede de segurança econômica quando ocorrem desastres", disse o relatório.