Setembro teve o menor número de focos de incêndio desde 2013, constata o INPE
Por Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - O número de focos de incêndio na floresta amazônica registrou redução de 36% em setembro em relação a agosto, e ficou bem abaixo da média histórica de 20 anos para o mês, mediante condições climáticas melhores e uma operação de combate às chamas deflagrada pelas Forças Armadas.
Os incêndios na Amazônia atingiram em agosto o nível mais alto desde 2010 nos primeiros oito meses do ano, de acordo com dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), o que resultou em uma pressão internacional sobre o Brasil pela preservação da maior floresta tropical do mundo, que representa um baluarte contra as mudanças climáticas.
Mas setembro teve o menor número de focos de incêndio desde 2013, reduzindo a quantidade de queimadas no acumulado do ano em comparação aos anos anteriores, segundo o Inpe. De 1º de janeiro a 3 de outubro, este ano agora é o pior em termos de incêndios na Amazônia apenas desde 2017.
Os incêndios na Amazônia são em grande parte causados pelo homem, provavelmente provocados por agricultores para limpar a terra para o plantio, de acordo com especialistas. Na estação da seca --aproximadamente de maio a setembro, embora varie de ano para ano--, os incêndios geralmente escapam do controle, uma vez que a vegetação está seca e não há chuva suficiente para ajudar a reduzir as chamas.
A queda em setembro se deve em parte ao fato de o presidente Jair Bolsonaro ter enviado militares para combater as queimadas como parte de uma operação lançada em 24 de agosto, e também pelas melhores condições de chuvas, disse Maria Silva Dias, professora da Universidade de São Paulo (USP), que estuda a interação entre incêndios florestais e o clima.
Nas áreas mais populosas, pode ter um efeito maior da atuação do Exército extinguindo incêndios e fazendo com que pessoas que queimariam a terra para limpá-la se preocupem com a dimensão do fogo, disse Maria Dias. Mas a Amazônia é tão vasta que os militares são incapazes de combater incêndios em grande parte da floresta, disse ela.
"O tempo ajudou de alguma maneira. Onde choveu, apagou os incêndios", disse a professora de ciências atmosféricas.
A estação das chuvas, que normalmente começa em 20 de setembro com precipitação regular, está um pouco atrasada este ano, disse ela. Mas há mais alívio a caminho, com previsão de chuvas dispersas em toda a região nos próximos cinco dias.
"Provavelmente teremos uma chance mais regular de chuva em todos os lugares, então parece que está aumentando", disse Dias.
Focos de incêndio na Amazônia caíram 16% em setembro (Agência Brasil)
Em setembro, foram registrados 32.602 focos de calor nos nove estados que formam a Amazônia Legal, área composta por todos os estados da Região Norte, mais o Mato Grosso e o Maranhão. O número foi 16% menor do que o verificado em agosto, 39.177 focos de calor. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A tendência de redução dos focos de calor ainda ao final de agosto foi antecipada pela Agência Brasil.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o período é que assiste o maior número de queimadas. "Historicamente, 95% dos incêndios que ocorrem em todo o país se concentram no segundo semestre de cada ano, principalmente entre agosto e outubro. O pico ocorre geralmente em setembro”, detalha nota publicada na última quinta-feira (3) pelo MMA.
O ministério atribui a queda à “presença de mais de mil brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo)”. Além dos brigadistas, o governo federal mobilizou o Exército para combater o fogo na Amazônia e liberou R$ 38 milhões para ações de controle dos incêndios. O presidente Jair Bolsonaro assinou decreto proibindo queimadas na região por 60 dias.
Na nota, o MMA informa que “o Ibama manterá 1.550 brigadistas contratados pelo menos até o fim de outubro para garantir a tendência de redução dos focos de incêndio e garantir a proteção de áreas federais prioritárias, principalmente terras indígenas e quilombolas”.
Operação Verde Brasil
Segundo balanço publicado pelo Ministério da Defesa, que coordena a Operação Verde Brasil, 1,7 mil focos de incêndios foram combatidos nos últimos 40 dias, 73 pessoas foram detidas e 237 termos de infração lavrados, que totalizam R$ 55 milhões em multas a serem arrecadadas.
A operação teve início em 24 de agosto. Desde então, os militares embargaram mais de 12 mil hectares, destruíram 18 acampamentos ilegais, apreenderam 143 veículos e mais de 24 mil litros de combustível que serve para combustão e para abastecer equipamentos usados no desmatamento, como escavadeiras, motosserras e motobombas.
Os focos de calor são monitorados pelo Inpe por meio de um conjunto de imagens fornecidas por quase uma dezena de satélites geoestacionários. As imagens servem ao Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), que apoia à fiscalização e controle do desmatamento e degradação na Amazônia.
A consolidação anual dos dados e a confirmação de que os focos de calor resultaram em desmatamento só ocorre por meio Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).
Além desses dois sistemas, o Inpe conta com o TerraClass, realizado a cada dois anos em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Esse sistema permite a identificação do uso e cobertura das áreas apontadas como desmatadas pelo Prodes.