Amazônia deve ser explorada com sustentabilidade e ter viabilidade econômica, diz Heleno
Por Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - As riquezas da Amazônia brasileira precisam ser exploradas para impulsionar o desenvolvimento e a viabilidade econômica da região, mas seguindo todos os princípios da sustentabilidade, disse à Reuters o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
"Essa viabilidade tem que ser buscada explorando com sustentabilidade, com sentimento muito claro de que nós não podemos causar desastres ambientais na Amazônia. Tem de ser preservada", disse o ministro em entrevista na terça-feira.
"Agora, o que pode trazer benefício para o país tem que ser explorado. De forma ordeira, seguindo todos os princípios de preservação do meio ambiente, mas se tem ouro vamos explorar ouro. Não vamos deixar que os contrabandistas explorem e você não ganhe nada", afirmou.
A política ambiental do governo Bolsonaro tem sido um dos principais pontos de crítica de organismos e governos estrangeiros, a ponto de cientistas europeus terem sugerido a seus governos a imposição de barreiras a produtos brasileiros com suspeita de serem produzidos com riscos ao meio ambiente.
As ideias difundidas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que é possível facilitar a liberação de licenças ambientais, construir novas hidrelétricas e estradas na Amazônia e rever áreas de parques e reservas preocupam os ambientalistas, mas ecoam visões colocadas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.
Mais cuidadoso, o ministro do GSI defende o cumprimento do regramento ambiental e um desenvolvimento feito de maneira sustentável, mas se incomoda também com a intervenção de órgãos internacionais.
Ex-comandante militar da Amazônia, o general da reserva é um defensor nacionalista da região e se irrita com a ideia, vendida especialmente por órgãos internacionais de meio ambiente, de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade.
"A Amazônia brasileira não é patrimônio da humanidade como as pessoas dizem. A Amazônia brasileira é um patrimônio do Brasil. E nós sabemos o que temos que fazer com a Amazônia. É a mesma coisa que as Montanhas Rochosas, que são um patrimônio dos EUA", disse Heleno.
"Nós temos obrigação de cuidar, de fazer um desenvolvimento sustentável da Amazônia, mas ela é um patrimônio do Brasil. Essa é uma posição que não abro mão."
A posição de Heleno chegou a gerar uma disputa com o Vaticano quando um sínodo (assembleia de bispos da Igreja Católica) foi marcado para discutir a situação da Amazônia. Chegou-se a noticiar que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estava monitorando a organização, o que o governo negou.
À época, Heleno admitiu preocupação com os temas que iriam ser tratados e com a visão dos bispos. "O sínodo quer falar de terra indígena, quer falar de exploração, de plantação, quer falar de distribuição de terra. São assuntos do Brasil. O Brasil não dá palpite no deserto do Saara, na floresta das Ardenas, no Alasca”, disse à época.
O encontro acontecerá em outubro e está mantido, mas o governo se absteve de novas críticas.
INDÍGENAS
O ministro também dirige críticas fortes à Fundação Nacional do Índio (Funai) e à política indigenista brasileira, que classifica de "desastrosa".
"A Funai até hoje não cumpriu seu papel. Temos que mirar com muito carinho a população indígena. Eles querem ser cidadãos, não querem viver excluídos da sociedade", defendeu.
Heleno conta que, durante seu tempo na Amazônia, visitou mais de 300 comunidades indígenas e diz que o pedido que recebia em todas elas era por acesso à energia elétrica.
"Isso aí de acordo com os mais preciosistas contraria a preservação da cultura indígena. Bobagem. Hoje é impossível se manter isolado, é muito raro as etnias que se mantêm isoladas, isso é uma lenda, são pouquíssimos. Todos os que têm contatos com a civilização querem todas aquelas vantagens e não significa que vai acabar com sua cultura", afirmou.
"Eles podem perfeitamente preservar a cultura e estar integrados à sociedade e serem cidadãos, terem aceso ao ensino superior, eletricidade, internet. Isso tem que ser oferecido, e tenho certeza que as comunidades vão aceitar. Eles querem integrar a sociedade e querem preservar sua cultura, o que é uma coisa absolutamente razoável e factível."
O próprio presidente Jair Bolsonaro já defendeu mudanças na política de demarcação e de exploração das terras indígenas. Ele quer a liberação da exploração econômica, de plantações e também de mineração, com autorização das comunidades, que poderiam receber royalties.
A medida tem a simpatia de alguns líderes indígenas, que chegaram a ser levados ao Planalto e gravaram um vídeo com o presidente, mas é criticada por indigenistas e por outras lideranças indígenas. Até agora, no entanto, o governo não chegou a mexer na legislação que trata da exploração das terras.