Mínimas históricas das águas do Mississippi e do Canal do Panamá já prejudicam e interferem na decisão de negócio do produtor americano

Publicado em 08/09/2023 15:29

Às vésperas do início da colheita de uma nova safra de grãos nos Estados Unidos a logística talvez seja agora um dos pontos de maior preocupação entre os produtores rurais e que se estende para os demais elos da cadeia de abastecimento. O rio Mississippi já reflete os meses de chuvas abaixo da média no país e um dos modais mais utilizados para o escoamento da produção norte-americana está bastante comprometido. As hidrovias têm recebido comboios de barcaças com menos volume de grãos, enquanto os valores dos fretes têm disparado e já marcam um aumento de 85% em relação à média dos últimos três anos, de acordo com dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). 

De acordo com uma matéria reportada pela agência de notícias Bloomberg, as preocupações entre os produtores norte-americanos com este quadro se intensificam frente a um cenário já de perda de potencial produtivo - também em função das adversidades climáticas - e da concorrência cada vez mais acirrada com o Brasil - na soja e no milho - e com a Rússia, no caso do trigo. Um quadro parecido se deu no ano passado.

"Em 2022, os níveis extremamente baixos das águas do Mississippi encalharam mais de duas mil barcaças, comprometendo o comércio na principal hidrovia do país", traz a reportagem, que segue reforçando o número de 45% das exportações agrícolas dos Estados Unidos que passam por ela. Baixando desde meados de junho, as águas deverão testar recordes de níveis mais baixos ainda e mais uma vez, segundo afirmamou o analista de mercdo Patrick Tyler Brown à agência Dow Jones. 

Barcaças nas baixas águas do Missisisippi - Foto: Rory Doyle/Bloomberg

E estes recordes poderão vir à medida em que as previsões climáticas forem se confirmando, com pouca ou nenhuma chuva nos radares para regiões-chave do leito do Mississippi que poderiam provocar uma recuperação dos níveis. 

E além das preocupações crescentes com um dos rios mais importantes dos Estados Unidos, o Canal do Panamá também está no radar, haja visto que os níveis de suas águas também estão nas mínimas históricas. De acordo com informações compartilhadas pela agência Reuters Internacional, os níveis das águas do canal não se recuperaram o suficiente desde o final da última estação chuvosa. Dessa forma, as autoridades do Canal do Panamá - por onde passam 5% do comércio global - já afirmaram que ficarão mantidas as restrições de transportes impostas neste início de ano, o que dá ainda mais espaço ao encarecimento dos custos logísticos no mundo todo. 

Petroleiro em trânsito no Canal do Panamá - Foto: Aris Martinez/Reuters

As medidas já resultaram em grandes filas de navios esperando para passar pelo canal, com o tempo de espera tendo dobrado no mês passado. 

"O Canal do Panamá está passando por grandes interrupções contínuas na cadeia de abastecimento de transporte marítimo devido a restrições ao tráfego relacionadas aos níveis de água muito baixos. Isto é o resultado das condições de seca que se desenvolveram rapidamente desde o início do ano até junho e que se mantiveram estáveis desde então. Na verdade, 2023 teve o início mais seco entre Janeiro e Julho desde 2015, que teve uma taxa de precipitação semelhante", explica Isaac Hankes, analista sênior de clima da London Stock Exchange Group. 

Gráfico: MarineInsight

O que poderia mudar este quadro são chuvas esperadas, segundo o especialista, para as próximas duas semanas,  podendo trazer algum alívio à via. "Infelizmente, é provável que as chuvas intensas sejam temporárias, uma vez que a segunda quinzena de Setembro deverá registar novamente uma seca generalizada em todo o Panamá. Além disso, as previsões sazonais até ao final do ano sugerem que o tempo seco poderá persistir. Isto significa que os níveis de água do Canal do Panamá provavelmente permanecerão excepcionalmente baixos nos próximos meses, apesar das melhorias de curto prazo nas previsões", explica o analista. 

Assim, os impactos na competitividade das exportações norte-americanas já começam a se mostrar mais evidantes, segundo explicam analistas e consultores de mercado. 

"Os produtores até conseguiriam conseguir colher cedo, aproveitar preço, mas a logísitca, de fato, de entregar, dar a volta no porto, voltar, está comprometida. Já é algo que estamos vendo, que está impactando na tomada de decisão", explica o consultor de mercado Aaron Edwards, da Roach Ag Marketing. "Para mim, o que é interessante, é que a logística não afeta o quadro de oferta e demanda, mas está sim afetando a competitividade do grão brasileiro. Se é mais caro pegar o grão norte-americano,  haverá mais demanda pelo grão brasileiro. Temos visto exportações de milho fortes, o fortalecimento cada vez mais da soja disponível do Brasil. Então, acredito que tem sim, especialmente no grão disponível, impacto na formação de preços no Brasil por ser mais competitivo em função do frete mais caro nos Estados Unidos". 

Para que os reflexos em Chicago possam ser sentidos de forma mais intensa, o quadro logístico eria de impactar o volume de exportação de grãos norte-americanos. "A demanda está muito fraca. E se o mercado de exportação continuar fraco ou enfraquecer ainda mais, pode pesar sobre os mercados. Não acredito que isso esteja acontecendo ainda, eu acho que por enquanto é um desafio logístico que está se ajustando em preços de frete, prêmios, em diferentes regiões. Então, não está mexendo na bolsa hoje, mas no mover do grão e nos custos entre comprador e produtor, não na bolsa", complementa Edwards.

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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