Embrapa Gado de Leite: Preços em queda no mercado de leite
Os preços de insumos e produtos na cadeia de lácteos continuaram a apresentar forte oscilação no mês de agosto de 2022. Os preços do leite pago ao produtor acumularam alta de 51,3% nos últimos doze meses, alcançando R$ 3,57 na média Brasil. Tal elevação, que ajudou a recuperar as margens dos produtores, foi reflexo da sua recente escassez no mercado. O custo de produção de leite, medido pelo ICPLeite/ Embrapa, registrou variação de 10,4% nos doze meses finalizados em agosto. Embora tenha sofrido algum aumento em relação a julho, este dado, comparado com a evolução dos preços pagos aos produtores, sinalizou uma melhoria dos termos de troca para o pecuarista. No entanto, os dados divulgados pelos Conseleites para o pagamento de setembro indicam que esta alta chegou ao fim.
O mercado spot registrou queda de 37,6% no preço praticado no mês de agosto, fechando a segunda quinzena a R$ 2,83/ L. É uma rápida mudança de tendência em relação aos últimos meses, demonstrando que começou a haver maior quantidade de leite disponível para a indústria. Esta maior disponibilidade é explicada pelo aumento da produção de leite, em resposta aos estímulos proporcionados pelos preços mais elevados pagos aos produtores e ao período de safra no sul brasileiro. Também ocorre por conta do aumento das importações de lácteos que atingiram o equivalente a 172 milhões de litros em agosto, um aumento de expressivos 63,3% em relação a julho e 129,9% em comparação com agosto de 2021.
O mercado atacadista, após alta observada em julho, registrou forte queda dos preços. O preço do leite UHT caiu 23,5% no mês de agosto e o queijo muçarela, 15,7%. Os preços continuam em queda nesta primeira quinzena de setembro, embora os últimos dias pareçam esboçar alguma estabilidade nestes preços. A queda da demanda por leite também ajudou a puxar para baixo as cotações. A inflação comprometeu o poder de compra dos salários, mostrando a dificuldade de o mercado assimilar o aumento dos preços, causando uma redução significativa da demanda.
Os preços dos lácteos no varejo, após o salto verificado em julho, subiram apenas 0,4% em agosto, com destaque para a queda de 1,8% do preço do leite UHT. O consumidor já começou a perceber a desaceleração ou mesmo queda dos preços dos lácteos no varejo. Este movimento tende a se intensificar em setembro e outubro, pelos sinais advindos do mercado spot, dos preços no atacado e maiores importações.
O aumento da oferta de leite, que tradicionalmente acontece no segundo semestre do ano, também irá contribuir para este cenário baixista. Por sua vez, o aquecimento da economia neste segundo semestre e a distribuição de auxílios financeiros aos menos favorecidos deve ajudar nas vendas de produtos alimentícios básicos, reforçando a demanda por leite UHT e outros produtos mais essenciais.
O crescimento da economia brasileira está sendo revisado para cima, e já se aproxima dos 2,5% de acordo com a última previsão disponibilizada pelo Banco Central. O desemprego está em 9,1%, o menor nível desde 2016. Por outro lado, a conjuntura global se mostra desafiadora para os próximos meses. Os efeitos da guerra da Ucrânia têm disseminado a inflação e a crise energética em diversas regiões do mundo. A Europa, principalmente, mas também os Estados Unidos podem entrar em recessão já no final deste ano. A crise imobiliária tem minado progressivamente a capacidade de crescimento da China que, para muitos analistas já pode ser inferior a 4% neste ano.
A oferta de leite continua restrita no mundo por questões climáticas, pelo aumento de custo de produção, entre outras. O preço dos lácteos no mercado internacional, no entanto, ainda que acima dos patamares médios observados nos últimos anos, têm caído nos últimos meses e refletem a menor demanda da China e de outros importantes mercados importadores. O atento acompanhamento do mercado será fundamental para se posicionar estrategicamente nos processos de produção e gestão do agronegócio do leite. A tendência de preços do leite é de recuo, mas deve-se atentar para o fato de os custos de produção se manterem elevados. Isso implica que quedas mais acentuadas de preços podem comprometer a rentabilidade nos sistemas de produção de leite e ocasionar novo desequilíbrio de oferta.