Greening deve chegar a mais de 50% das áreas do cinturão de SP e MG na temporada 2024-25, avalia consultor
A prevalência de preços baixos nos últimos anos para a caixa de laranja de 40,8 kg está entre as causas do avanço do greening no cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais. Baixas cotações da fruta desmotivaram produtores a investir no controle eficaz da doença e muitos deles até mesmo abandonaram pomares. Esse cenário resultou numa ‘explosão’ do inseto psilídeo-dos-citros (Diaphorina citros), vetor do greening. A análise é do engenheiro agrônomo, entomologista e consultor Gilberto Tozatti, da Tozatti Citrus Consulting.
Especialista em citricultura, membro do GCONCI – Grupo de Consultores em Citros, entidade sem fins lucrativos criada em 1996, formada por 19 agrônomos altamente qualificados -, Tozatti calcula que na safra em andamento o greening deverá avançar de 38% para, possivelmente, mais de 50% dos pomares do cinturão citrícola.
O consultor é coautor, junto aos especialistas Maurício Mendes e Rodolfo Castro, de um modelo matemático desenvolvido com objetivo de antecipar tendências de diminuição de área plantada e produção de laranja no próximo decênio. Atualizado anualmente, o estudo é baseado em dados do PES (Pesquisa de Estimativa de Safras) do Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura. Por meio do modelo, assinala Tozatti, o GCONCI produz informações em apoio a decisões de investimentos da cadeia citrícola, em face do greening e também de outras ocorrências potenciais.
Convivência com a doença e futuro
Segundo estimativa do Fundecitrus, o greening, que hoje empurra para cima o preço da laranja no país, deverá no ciclo 2024-25 da fruta ocasionar perdas de produção da ordem de 24%, para 232,8 milhões de caixas de laranjas. Confirmada a previsão, será o menor resultado da citricultura das últimas dez safras.
Para Gilberto Tozatti, apesar do registro de danos severos aos pomares nos últimos anos, ante a incidência crescente do greening no cinturão citrícola, a doença não inviabilizará a citricultura nessas regiões no médio e longo prazos.
“Havia um certo receio em setores da cadeia produtiva quanto a discutir a convivência com a doença, mas na prática isso já acontece, sobretudo nas áreas mais afetadas pela contaminação. Controlar o vetor do greening, manejá-lo corretamente, tornou-se importantíssimo para evitar reinfecções e aumento dos sintomas”, observa Tozatti.
“Desde que o greening surgiu, há vinte anos, fomos aprendendo com a doença. Temos hoje várias ferramentas que podem proteger a citricultura”, reforça ele.
O “tripé básico” das práticas indicadas ao enfrentamento da doença, adianta Tozatti, contempla a erradicação de plantas sintomáticas, o controle do psilídeo-dos-citros e o uso de mudas protegidas. Outras variáveis importantes ao produtor, ele acrescenta, são o local de plantio de pomares, variedades adotadas (porta-enxertos), a boa nutrição das plantas e a fertilidade do solo.
“Há casos em que não erradicamos plantas, dependendo da idade do pomar, a não ser aquelas que não produzem mais. Precisamos fazer nutrição diferenciada, utilizar fertilizante organomineral, microrganismos de solo, irrigação e a ferti-irrigação”, exemplifica o consultor. “Não podemos perder o que temos de plantel de laranja, não podemos simplesmente arrancar plantas, porque elas produzem, geram renda, empregos e benefícios para a sociedade.”
Um outro estudo conduzido por Tozatti há dez anos, recentemente atualizado, ancorado na gestão do fluxo de caixa de pomares – partindo do momento do investimento no plantio até 18 anos depois -, demonstra, com base no atual cenário do greening no país, que será plenamente viável o citricultor obter retorno financeiro diante de situações de alta pressão da doença.
Monitoramento do psilídeo, o começo
Gilberto Tozatti ressalta ainda que o manejo adequado para contenção do greening começa pelo monitoramento eficaz do psilídeo-dos-citros, o vetor da doença, por meio de armadilhas, inspeções e direcionado, sobretudo, a brotos mais jovens de plantas, nos quais ocorre a ‘oviposição’ do inseto. “Trata-se da parte da planta onde devem se concentrar mais esforços”. Após esta etapa, uma vez necessário, ele complementa, entra-se no pomar com os inseticidas.
Em relação aos agroquímicos, o consultor recomenda o uso dos produtos em sistema de rotação, com objetivo de evitar desenvolvimento de resistência pelo inseto vetor. “Estamos agora em um processo evolutivo, buscando o ‘timing’ de aplicação de inseticidas conforme a fisiologia da planta, fazendo controle mais adequado, mais eficiente, por meio de produtos que atuam sobre ‘ninfas’ e quebram o ciclo do psilídeo, por exemplo. Não deixar que a praga multiplique e se alimente de plantas doentes é o nosso grande desafio”, esclarece Tozatti.
Ainda de acordo com o consultor, o valor desembolsado com inseticidas para manejo do psilídeo-dos-citros corresponde, em média, a aproximadamente 13% do custo total de produção, por safra de citros, na contenção da doença.