Secretaria de Agricultura viabiliza cultivo de uva para produção de vinhos finos nas condições paulistas
O Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realiza pesquisas em viticultura envolvendo a dupla poda, a safra de inverno, o cultivo protegido em Y e o melhoramento genético da videira. As duas primeiras técnicas possibilitaram a viticultura no estado de São Paulo com qualidade para produção de vinho fino contribuindo para superar as dificuldades em relação ao clima e à identidade de bebida desenvolvida nas regiões produtoras paulistas. Já a técnica do cultivo protegido em Y viabiliza redução de até 70% na aplicação de defensivos agrícolas e aumento de produtividade de até 100%, podendo ser maior, dependendo da especialização do produtor.
"Atualmente, há uma produção paulista de vinhos de qualidade, viabilizada pela adoção, pelos viticultores, de técnicas introduzidas e desenvolvidas pelo Instituto Agronômico", avalia José Luiz Hernandes, pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). Ele comenta que o vinho comum já é produzido no estado há bastante tempo.
Há cerca de 8.200 hectares paulistas com cultivo de uva. "Em São Paulo, cerca de 90% da produção são destinados ao mercado de uvas para mesa. O cultivo para vinho vem aumentando recentemente, devido aos novos conhecimentos e técnicas adotadas", explica Hernandes.
A produção nacional é de 1.446 milhão de toneladas de uvas, por ano, destinadas ao mercado de frutas de mesa e de produção de vinho. No entanto, entraves de caráter técnico ainda dificultavam o aproveitamento do mercado de vinhos, justamente por conta de restrição climática e identidade da bebida. A superação desses gargalos tem sido possível graças à ciência paulista.
De acordo com Hernandes, a dupla poda altera o ciclo natural da videira, desviando o período de maturação da uva para o inverno. A técnica consiste no primeiro corte dos galhos da videira, em agosto ou setembro, para formação de ramos, e o segundo, em janeiro ou fevereiro, para produção.
As frutas de clima temperado só produzem em ramos novos, por isso nessas regiões de clima tropical ou subtropical é necessária a realização da poda de ciclo normal, no inverno, seguida da segunda poda, no verão, para a produção das uvas no inverno. "Em regiões de São Paulo com déficit hídrico durante o inverno, existem boas condições de maturação da uva, com dias quentes e noites frias, que possibilitam boa qualidade da fruta" e, consequentemente, do vinho", diz. Esse cenário é encontrado em grande parte dos municípios paulistas.
O perfil dos produtores paulistas de vinho é heterogêneo. Há desde pequenos e informais, até membros de associações e novos viticultores, principalmente, na Serra da Mantiqueira. O enoturismo está melhor estruturado nas regiões de Jundiaí e São Roque.
O Y da questão
Outra tecnologia IAC relevante para o setor é o cultivo protegido em Y. A técnica consiste na implementação de uma cobertura impermeável, que funciona como guarda-chuva sobre a videira. A proteção evita o acúmulo de água, reduzindo o período de molhamento das folhas e dos cachos, consequentemente, diminuindo a infestação de fungos causadores de doenças. A técnica também protege a videira de chuvas de granizo e ataque de pássaros.
"Na produção em Y os ramos ficam quase na horizontal e deitam-se naturalmente sobre os arames, posição que reduz a necessidade de amarrio e desestimula a brotação de ramos laterais improdutivos", explica o pesquisador.
De acordo com Hernandes, o excesso de ramos laterais provoca competição pelos nutrientes com os cachos. Essa situação reduz a produtividade e a qualidade, além de deixar a copa das plantas muito enfolhadas e abafadas, aumentando as condições de infestação por fungos e reduzindo a eficiência da aplicação dos defensivos.
O sistema Y foi pensado para produtores de uva Niagara Rosada porque esta é a principal uva produzida em São Paulo. Outra razão é o enfrentamento por parte dos produtores de problemas de valorização da terra, escassez de mão-de-obra e aumento de custos de produção, devido à crescente urbanização e industrialização do estado. O sistema de condução em Y e o cultivo protegido, no entanto, podem ser utilizados para produção de qualquer tipo de uva, sejam rústicas ou finas, para mesa ou para indústria.
Apesar de a técnica proporcionar grande salto de produtividade e redução brusca no controle químico, sua implantação requer investimentos mais elevados, que podem ultrapassar os 70% em relação ao sistema convencional em espaldeira. Por isso, sua adoção deve ser avaliada de acordo com a região de produção.
Mais informações sobre o sistema de condução em Y e o cultivo protegido da videira podem ser acessados no link: https://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/arquivos/iacbt211.pdf.
Novos Horizontes da Viticultura
Esses e outros temas do setor foram debatidos durante o evento Novos Horizontes da Viticultura, realizado em novembro de 2020, com apresentação de panoramas, tecnologias e desafios.
No mesmo evento, a pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Adriana Verdi, apresentou um panorama da produção paulista e nacional. Em comparação ao ranking de área de produção de uva de 2015 e 2018, houve uma queda de três posições no ranking. "Ocupávamos a 19º posição em área de produção de uva, em 2015. Hoje, estamos na 22º colocação, mas em volume de produção só caímos uma posição. Isso ocorre porque estamos bem equipados e com suporte técnico", o que permitiu o aumento da produtividade no período, afirma.
A disseminação de conhecimento também foi discutida no evento. O engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), Carlos Eduardo Antunes, acrescentou que as redes sociais colaboraram na divulgação e esclarecimento. "Os grupos de WhatsApp possibilitaram que as demandas dos próprios produtores e o conhecimento tecnológico fossem compartilhados, criando uma integração", diz.
Os interessados podem assistir as apresentações no link: https://www.youtube.com/watch?v=DN-Gbf3yhtU