China inicia colheita de safra de grãos comprometida e mercado já reflete maior necessidade de importações
Nesta quarta-feira (23), o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma venda de 258 mil toneladas de soja. Foram 132 mil toneladas para a China e 126 mil para destinos não revelados. O volume é todo da safra 2020/21.
Números apurados pela Agrinvest Commodities mostram que, nos últimos dois meses, há um total de vendas dos EUA para a nação asiática de 11,22 milhões de toneladas de soja e 10,25 milhões de toneladas de milho. Os dados, mais uma vez, reforçam a necessidade dos chineses de recomposição de estoques, garantia da segurança alimentar e tentativa de cumprir as metas da fase um do acordo comercial firmado entre Washington e Pequim.
As importações chinesas de produtos agrícolas de janeiro a julho aumentaram 13% em relação ao mesmo período do ano anterior e totalizaram US$ 96,2 bilhões. As informações partem do Ministério da Agricultura e Assuntos rurais do país. Em contrapartida, suas exportações agrícolas apresentaram uma queda de 3,3% e somaram US$ 41,9 bilhões.
Pela primeira vez, o volume financeiro dos produtos pecuários - US$ 28,3 bilhões - superou o total com a importação de oleaginosas de US$ 23,8 bilhões, também como informa o ministério. Ainda de acordo com a pasta, essa diferença e este aumento de 42,2% na receita das importações se deu diante do expressivo déficit na oferta de carne no país gerado, principalmente, pelos surtos de Peste Suína Africana que dizimaram boa parte dos planteis suínos que agora estão sendo recompostos.
Ainda de acordo com os números do ministério, as importações chinesas de carne suína nos primeiros sete meses de 2020 foram de 2,5 milhões de toneladas, 150% maiores do que em 2019, neste intervalo. De carne bovina, as compras somaram 1,2 milhão de toneladas, 41,5% acima do ano passado.
Na soja também foram registrados aumentos, com as importações somando 55 milhões de toneladas e superando em 17,6% de janeiro a julho de 2019. Entre os óleos vegetais, estabilidade em 6 milhões de toneladas, informou o ministério chinês.
As importações de milho pela nação asiática este ano são outro destaque, dadas também as perdas provocadas pelo clima, além da demanda maior. Nos primeiros sete meses de 2020, a China importou 4,57 milhões de toneladas, 30,7% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Boa parte deste aumento se deve as perdas expressivas na safra chinesa de milho em função do clima muito adverso. O vídeo abaixo, do South China Morning Post, mostra os estragos causados pelas cheias e demais problemas de clima.
Vídeo mostra os estragos causados pelas inundações na China - Fonte: South China Morning Post
A província de Heilongjiang, uma das principais regiões produtoras do cereal na China, sofreu com três tufões que provocaram quebras muito severas. "Estimo uma perda de metade da minha produção este ano", diz o produtor rural Zhao Ge ao portal local South China Morning Post. E Zhao acredita que teve sorte, já que boa parte de seus vizinhos perderam ainda mais.
Campo de milho deitado na província de Heilongjiang, na China, após tempestades das últimas semanas
Foto: Orange Wung/South China Morning Post
A colheita dos grãos na China deverá começar em cerca de duas semanas e, nesta quarta-feira, Han Changfu, Ministro da Agricultura e Assuntos Rurais, afirmou que o país espera um salto na produção do país, resultado de boas condições de plantio e de um aumento de área estimado em, aproximadamente, 8%.
Na análise do ministro, as perdas na produção chinesa de milho em função dos tufões foram limitadar por conta do avabçado estágio de desenvolvimento dos campos de milho que foram atingidos. Mais do que isso, disse ainda que os fenômenos promoveram "apenas" uma mais custosa e cara colheita aos produtores e que, no norte chinês as lavouras de milho se mostravam "melhores do que o normal".
No entanto, ao percorrer áreas rurais em Heilongjiang, a maior província produtora de milho da China, é possível ver inúmeros campos de milho deitados, prejudicados pelos tufões e tempestades das últimas semanas. As perdas e os danos estão "espalhados" e variam de acordo com a localidade, segundo relata o South China Morning Post.
Há consultorias estimando perdas de até 20% na produção chinesa de milho, ainda de acordo com a publicação do país. Com isso, os preços do grão na nação asiática vem subindo fortemente e, há poucas semanas, alcançou seus mais elevados patamares em cinco anos. E tudo isso acontece em meio a ações do governo chinês para garantir a segurança alimentar.
Os três principais grãos que estão no "topo da lista" de prioridades para a segurança alimentar na China são arroz, milho e trigo. Para isso, o governo mantém, além de aumento consecutivo de sua produção, cotas de importação dos itens para manter elevado o grau da segurança.
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Com informações do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais, blog Dim Sums e South China Morning Post