Embrapa orienta sobre controle da mela em feijão-vagem
O comunicado técnico Mela em feijão-vagem, que a Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) acaba de disponibilizar ao público, permite aos produtores e extensionistas identificarem e controlarem de maneira adequada uma das doenças que mais causa prejuízos nas lavouras de vagem, hortaliça bastante cultivada no Brasil.
Originário das Américas do Sul e Central, o feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.), é rico em fibras e quantidades expressivas de vitaminas B1 e B2, além de apresentar fósforo, flúor, potássio, cálcio, ferro e vitaminas A e C. Como ainda não existe cultivar (variedade melhorada por método científico) de vagem resistente à mela – doença também conhecida como murcha da teia micélica – a principal medida de controle recomendada é a prevenção. Acesse a publicação.
Estudos já revelaram que as doenças do feijão-vagem são causadas principalmente por fungos, bactéria e vírus. No caso da mela, o patógeno (agente causal da doença) é o fungo Rhizoctonia solani (=Thanatephorus cucumeris). Em 2019, foram identificados sintomas da doença em feijão-vagem no estado do Pará causados por R. solani com características de ramificação específicas (associadas ao grupo de anastomose AGI-1).
O fungo da mela nas plantas de feijão-vagem é um micro-organismo que pode sobreviver anos no solo, disseminando-se por meio de sementes infestadas, do próprio patógeno já estabelecido no solo e de restos das culturas. Existe o risco de epidemias ocorrerem em período de alta pluviosidade (muita chuva), umidade relativa e temperaturas elevadas.
Manejo preventivo
“Precisamos evitar que o agente causador da doença entre na área de cultivo, e isso podemos fazer por meio do uso de sementes sadias. Porém, se o fungo já se estabeleceu, conseguimos reduzir sua presença no campo com práticas de manejo adequadas, eliminando os restos culturais após a última colheita e fazendo rotação de culturas, com milho e sorgo por exemplo”, alerta a pesquisadora Alessandra de Jesus Boari, da Embrapa Amazônia Oriental, uma das quatro autoras do comunicado técnico.
A pesquisadora também orienta que o cultivo seja feito em período de baixa pluviosidade (pouca chuva). As chuvas intensas favorecem a ocorrência da mela, portanto, nos períodos de alta pluviosidade, é recomendado o cultivo protegido com cobertura plástica e laterais abertas.
Outra recomendação técnica para driblar a mela é utilizar cultivares de feijão-vagem de porte ereto ou tutoradas, pois, na posição vertical, “escapam” parcialmente da doença já que ficam molhadas menos tempo em comparação às cultivares de porte prostrado (deitado).
As demais autoras de Mela em feijão-vagem são Ayane Ferreira Quadros, engenheira-agrônoma mestranda da Universidade Federal de Viçosa (MG); Kátia de Lima Nechet, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e Caterynne Melo Kauffmann, graduanda de Agronomia da Universidade Federal da Amazônia (Belém, PA). O trabalho descreve aspectos da sintomatologia, epidemiologia, agente causal e manejo da mela do feijão-vagem.
Todo esse conteúdo encontra-se disponível no Portal Embrapa, para consultas e downloads, neste link de acesso.
Identificando os sintomas
O feijão-vagem é suscetível de contrair as mesmas doenças do feijão-comum no Brasil, sendo que a mela pode ocorrer também nas plantações de feijão-caupi, soja e milho, particularmente em regiões quentes e úmidas, de baixa latitude, conforme descrito na publicação.
Como atestaram os estudos, de uma forma geral o patógeno da mela causa tombamento em plântulas, o chamado damping-off. “Entretanto, em regiões de alta umidade relativa e temperatura alta, a doença ataca a parte aérea das plantas em qualquer fase da cultura, causando graves perdas na produção, que podem atingir 100%”, explica a pesquisadora Alessandra Boari.
O comunicado técnico da Embrapa contém fotografias da planta, da cultura do fungo e de microscopia, que ilustram com clareza a aparência do patógeno e a evolução da doença no vegetal. No início, a mela se caracteriza pelo aparecimento, nas folhas, de pequenas lesões circulares de coloração parda com borda marrom, que aumentam de tamanho e se juntam. Quando em condições de alta umidade, as lesões evoluem rapidamente e se coalescem (se unem), necrosando totalmente as folhas, pecíolos, vagens e hastes.