Aliança francesa de grãos deve disputar mercados com trigo do Mar Negro
Por Valerie Parent e Gus Trompiz
PARIS (Reuters) - Uma aliança francesa de cooperativas exportadoras de grãos criada para enfrentar a oferta de fornecedores do Mar Negro pode não ser suficiente para impedir que o maior exportador da UE perca o vital mercado argelino para o trigo russo, disseram comerciantes e analistas.
A inauguração neste mês da Grains Overseas, uma aliança inédita pela qual InVivo, Axereal e NatUp combinarão suas exportações de trigo soft e cevada para ração para além da União Europeia, é uma resposta aos crescentes embarques russos e ucranianos.
A ascensão da Rússia para se tornar o maior exportador de trigo do mundo reduziu as vendas francesas em países importadores como Egito e Marrocos, tornando a França mais dependente da Argélia, cujos requisitos para compras na prática impedem negócios com trigo russo.
Na temporada de 2018/19 até 30 de junho, a França embarcou perto de 10 milhões de toneladas de trigo soft fora da UE, em comparação com os níveis de mais de 12 milhões vistos no início desta década.
A Grains Overseas, que envolverá a fusão de mesas de operações e compras conjuntas, tem como objetivo manter grandes volumes de grãos franceses no norte da África, evitando perdas financeiras que prejudicaram as mesas de negociação nos últimos anos.
"Isso pode agitar o setor na França, que percebeu que não está sozinha nos mercados de exportação", disse um trader. "O fato de você ter três grandes cooperativas envolvidas pode forçar o mercado francês a competir com os preços internacionais".
A França também está aceitando o fato de que os fornecedores do Mar Negro geralmente têm uma vantagem em qualidade e preço.
Alguns analistas alertam que a França está praticamente acordando agora para o despertar da região do Mar Negro.
A Rússia planeja investir dezenas de bilhões de dólares até 2035 no setor de grãos e buscar ativamente acesso a países como Argélia e Arábia Saudita, que são cruciais para as exportações da UE.
"No dia em que a Argélia se voltar para a Rússia, os franceses estarão em uma situação complicada", disse um operador do mercado de grãos.
"Até que eles possam competir em qualidade e preço com o Mar Negro, as cooperativas francesas podem se consolidar o quanto quiserem, que isso não mudará nada", acrescentou.
Os envios para a Argélia representaram pouco mais de metade das exportações francesas de trigo soft para fora da UE em 2018/19. Um limite estrito para danos causados por insetos atualmente impede que trigo do Mar Negro seja oferecido em leilões da Argélia.
Restrições orçamentárias e mudanças de funcionários em órgãos ligados às exportações em meio a uma contínua crise política na Argélia poderiam encorajar o país a mudar de rumo e aceitar suprimentos russos mais baratos, dizem alguns operadores.
A InVivo, que aderiu à aliança de cooperativas francesas, reconhece os riscos na Argélia.
"Já que estamos em uma posição frágil hoje, se ganharmos mais dois, três anos (sem a concorrência do Mar Negro) isso ajudaria", disse o presidente-executivo da InVivo, Thierry Blandinieres.
(Reportagem de Valerie Parent e Gus Trompiz em Paris, reportagem adicional de Polina Devitt em Moscou)