Agroconsult vê exportação crescente de grãos do país; mais perdas para tradings
Por Roberto Samora
LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, Bahia (Reuters) - O Brasil deverá atingir volumes recordes ainda maiores na exportação de soja em 2018, suprindo uma demanda externa adicional decorrente da quebra de safra na Argentina, enquanto também tem condições de ampliar os embarques de milho, avaliou o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, na noite de terça-feira.
"O Brasil vai passar de 71, 72, talvez 75 milhões de toneladas na exportação de soja", afirmou ele a produtores do oeste da Bahia, durante evento do Rally da Safra, organizado pela própria consultoria.
Em 2017, os embarques da commodity do Brasil somaram 68 milhões de toneladas.
Segundo Pessôa, que no início de março havia estimado as exportações do Brasil em 71,3 milhões de toneladas, os maiores embarques deverão ocorrer com os Estados Unidos destinando um maior volume de grãos para produzir farelo, visando abocanhar um espaço que a Argentina deixará aberto no mercado global.
A Argentina, maior exportador de farelo de soja, sofreu severas perdas na produção de soja e milho, após uma prolongada estiagem.
Ele disse que a indústria de soja do Brasil não é competitiva na exportação de farelo para tomar espaço da Argentina, uma vez que possui um parque fabril antigo comparado com o de seus principais concorrentes, na medida em que ficou para trás após a Lei Kandir resultar em taxas na exportação de derivados, mas não na matéria-prima.
Com a redução da oferta de grãos dos EUA, em função da maior produção de farelo, o Brasil avançaria no mercado de soja dos norte-americanos.
O Brasil é o maior exportador de soja em grão, à frente dos EUA e Argentina.
Simultaneamente, o analista vê a China, maior importador global de soja, comprando históricas 100 milhões de toneladas em 2017/18, ante 93 milhões na temporada anterior, com forte demanda da indústria para a produção de farelo para rações.
O analista afirmou ainda durante sua apresentação que o Brasil deverá exportar 30 milhões de toneladas de milho em 2018, abaixo das 31 milhões do ano anterior, mas que terá condições de exportar mais caso o mercado demande.
Ele disse que os atuais preços do milho no exterior permitem que o Brasil exporte o cereal sem programas de subsídio ao transporte como o Pepro. Destacou também que a tendência é de que as cotações de soja voltem a subir.
"Dá para exportar mais milho, pois viramos a safra passada com 17 milhões de toneladas em estoques."
Ele disse que, ainda que as exportações ganhem força, o consumidor de milho do Brasil terá oferta, mesmo que a preços mais altos, devido a uma queda estimada de 11 milhões de toneladas na produção deste ano ante o recorde da temporada passada, para 88 milhões de toneladas.
No caso da soja, a Agroconsult apontou a safra do Brasil em 117,5 milhões de toneladas, ante 114,6 milhões de toneladas na temporada passada. O número do ciclo atual será revisado em evento final do Rally da Safra, na próxima terça-feira.
TRADINGS
Durante comentários sobre as exportações brasileiras, Pessôa disse que as tradings do setor --incluindo grandes multinacionais-- deverão enfrentar neste ano mais um período de perdas, após quatro anos de desempenho ruim, em meio a margens baixas de negociação.
"Este ano não vai ser diferente", disse o analista, lembrando que atualmente o setor conta com 62 compradores de grãos, enquanto há 15 anos eram dez.
Segundo ele, essas perdas deverão resultar em um movimento de consolidação ou mesmo desaparecimento de algumas companhias, que nos próximos dez anos somariam no máximo 30 empresas.
"Não vão ter cinco ou seis grandes, vão ter três ou quatro... Não dá para um segmento ficar perdendo dinheiro por muito tempo, acho que vai mudar o modelo", declarou, lembrando que os agricultores estão em vantagem em relação aos compradores de matérias-primas.
No final do ano passado, o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Luís Barbieri, já havia dito que o setor precisaria repensar suas atividades, ao se referir à performance ruim das tradings.
Barbieri havia questionado o fato de isso ocorrer em meio a exportações recordes.
As perdas das empresas de tradings ocorrem em meio ao forte avanço de empresas como a chinesa Cofco na exportação de grãos do Brasil.