Tensão entre EUA e China beneficia vendas de grãos do Brasil, diz autoridade
Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - Exportadores brasileiros de grãos devem se beneficiar das crescentes tensões comerciais entre Estados Unidos e China, após o presidente Donald Trump anunciar planos de tarifas para aço e alumínio, disse uma autoridade de Mato Grosso, maior produtor agrícola do Brasil, em uma entrevista nesta sexta-feira.
O Brasil é o maior exportador global de produtos agrícolas como soja, carne bovina e de frango, açúcar e café. E a China é o maior importador de soja, comprando no ano passado 95,5 milhões de toneladas da oleaginosa, mais da metade do país sul-americano
"Os sinais de tensionamento entre os EUA e a China podem ser uma grande oportunidade para o Brasil, visto nossa vocação para produzir grãos como soja e milho", disse Carlos Fávaro, vice-governador de Mato Grosso.
Fávaro, também agricultor, acrescentou que o Brasil pode expandir os laços comerciais com a China, observando que os mesmos têm crescido constantemente nos últimos anos, uma vez que a China investiu fortemente no setor agroindustrial brasileiro e em projetos de infraestrutura.
"A China precisa de nossas matérias-primas e nós precisamos de fortes laços comerciais com eles, mantendo a nossa soberania."
O Brasil exportou no ano passado 110,8 milhões de toneladas de produtos como soja, farelo de soja e milho, segundo dados da agência marítima Williams. A unidade brasileira da chinesa Cofco está entre os cinco maiores exportadores, com 9,3 milhões de toneladas, segundo os dados.
Fávaro afirmou que o Brasil pode se beneficiar do crescente protecionismo dos EUA, embora ele tenha dito que é cedo para dizer como a situação vai se desenvolver.
Jason Hafemeister, conselheiro comercial do secretário da Agricultura dos EUA, disse à Reuters na semana passada que os norte-americanos temem que a China possa impor barreiras comerciais às vendas de grãos nos EUA se as relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo piorarem.
No momento, uma posição comercial mais dura dos EUA em relação ao México beneficiou os agricultores brasileiros, que exportaram dez vezes mais milho para os mexicanos no ano passado, diante de temores de que as negociações do Nafta pudessem prejudicar seus suprimentos do cereal, de acordo com dados do governo e comerciantes de grãos.
O secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, disse que não vê uma ameaça do Brasil para as vendas de milho dos EUA ao México, porque os agricultores americanos gozam de vantagens em áreas como a logística que os agricultores brasileiros não têm.
Mesmo que determinados produtos se beneficiem, o Brasil em geral sofreria no caso de uma guerra comercial mais ampla, porque o país se baseia em regras de comércio globais estáveis e previsíveis, como uma nação com influência limitada em comparação com os grandes "players", disse Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais na Fundação Getulio Vargas em São Paulo.
"Acima de tudo, aumenta o risco", disse Stuenkel.
(Reportagem adicional de José Roberto Gomes e Jake Spring)