Recuperação de estoques de grãos nos portos leva 1 semana após protestos, diz Anec
SÃO PAULO (Reuters) - A recomposição dos estoques de grãos nos portos brasileiros deve demorar mais uma semana, após duas semanas de protestos de caminhoneiros que bloquearam rodovias do Brasil, esgotando os produtos nos armazéns portuários, afirmou nesta quarta-feira o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes.
"Tem mais uma semana para normalizar, em função de os estoques nos portos terem baixado muito", disse Mendes à Reuters, ressaltando que essa normalização ocorrerá desde que as manifestações não voltem a ocorrer nas rodovias.
Desde que tiveram início as manifestações, as rodovias federais brasileiras não registravam um dia tão tranquilo.
A Polícia Rodoviária Federal registrou pela manhã somente quatro manifestações, fora de estradas e sem bloqueios, nesta quarta-feira. No pico das manifestações, mais de cem pontos de rodovias foram bloqueados.
Os protestos minguaram após a presidente Dilma Rousseff sancionar sem vetos a Lei do Caminhoneiro, que alivia pagamento de pedágio, perdoa multas e promete ampliar pontos de paradas para descanso. Além disso, houve acordos para elevar o valor pago pelo frete à categoria.
Os estoques nos portos recuaram devido a um menor fluxo de caminhões descarregando soja e milho nos principais portos exportadores.
As exportações só não foram severamente afetadas porque o produto armazenado garantiu o embarque de mercadorias, na maior parte do tempo. Ainda assim, houve relatos de navios esperando mais tempo para completar a carga antes de partir para o exterior.
O diretor-geral da Anec admitiu, ao ser questionado, que as exportações de grãos do Brasil em fevereiro poderiam ter sido maiores. Mas ele não entrou em detalhes.
As exportações de soja do Brasil no mês passado foram as piores para o mês de fevereiro dos últimos quatro anos, somando 869 mil toneladas.
Ele disse ainda que a associação nunca enviou tantos avisos alertando o mercado sobre os problemas decorrentes das manifestações.
Os manifestantes concordaram em abrir o acesso ao principal porto exportador de carne de aves do Brasil, em Itajaí (SC), informou nesta quarta-feira a administração portuária, pondo fim a um ponto crítico para o escoamento de mercadorias do país após protesto de duas semanas de caminhoneiros.
ABASTECIMENTO DE COMBUSTÍVEIS
Os protestos também afetaram outras empresas e setores, como o abastecimento de combustíveis. Cidades da região Sul do país e em Mato Grosso sofreram com escassez de entregas.
O diretor do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Luciano Libório, disse que até sexta-feira a situação deve ser normalizada. Mas ainda não é possível calcular perdas sofridas pelas distribuidoras.
"O volume que você deixou de vender não volta", afirmou. "Para a gente o impacto é perda de receita, perda de venda."
(Por Roberto Samora; Reportagem adicional de Marta Nogueira)