Derivados de madeira desequilibram as contas na avicultura do Paraná

Publicado em 28/08/2023 14:41
Levantamento do custo de produção realizado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR mostra que gasto com aquecimento das granjas onera o bolso do produtor

O aquecimento das granjas tem pesado no bolso do avicultor paranaense, segundo levantamento dos custos de produção realizado em maio pelo Sistema FAEP/SENAR-PR. Os preços dos derivados de madeira, que incluem lenha, pellet, briquet, maravalha e cavaco, tiveram a maior alta deste ano, chegando a mais de 25% em algumas regiões, como Sudoeste e Campos Gerais, reflexo de um cenário de desequilíbrio.

O valor da madeira vinha caindo desde 2012, o que causou desestímulo ao plantio de espécies de árvores utilizadas para o aquecimento, principalmente a lenha. Isso levou à redução da oferta nos últimos anos, elevando os preços. A alta demanda pelas indústrias também contribuiu para a elevação das cotações da lenha. Até mesmo fatores extraordinários acabaram influenciando, como a guerra na Ucrânia, que vem causando aumento pela procura de lenha em meio às ameaças à infraestrutura energética do país.

“O aquecimento é o nosso calcanhar de Aquiles”, define Carlos Eduardo Maia, avicultor em São João do Caiuá, no Norte do Paraná. “Já até ouvi produtor dizer que seria melhor não alojar aves no inverno com o preço que está a madeira”, complementa o produtor, que está à frente da Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec) de Santo Inácio e faz parte da Comissão Técnica (CT) de Avicultura da FAEP.

Na avaliação de Maia, é preciso buscar eficiência na gestão do negócio para se manter na atividade, como antecipar a compra de madeira em grande escala, reutilizar recursos e investir em energia fotovoltaica. A diversificação de atividades dentro da propriedade é outra aposta para reduzir os custos e equilibrar as contas. “Uma atividade ajuda o desenvolvimento da outra em momentos ruins”, aponta Maia, que também investe em gado de corte, mandiocultura e plantio de eucalipto em sistema de integração.

No caso do produtor, o eucalipto faz sombreamento para o gado e também é extraído para virar a lenha que promove o aquecimento para as 600 mil aves alojadas em 14 aviários. Como a propriedade ainda não é autossuficiente em lenha, o produtor compra floresta em pé de vizinhos parceiros. A cama de aviário faz a adubação das pastagens e da lavoura de mandioca e o excedente, comercializado. Implementos e mão de obra da propriedade também são compartilhados entre os manejos das atividades.

O incentivo ao plantio de floresta é uma demanda discutida na Cadec da Santo Inácio. Com o resultado do levantamento dos custos deste ano, os produtores terão argumentos sólidos para debater com a indústria. “A ideia é que a indústria ofereça alguma forma de incentivo ao produtor para o plantio de floresta”, adianta. “Algumas indústrias têm exigido manejos específicos que demandam um maquinário mais caro. Tudo isso vai encarecendo o nosso custo de produção”, justifica.

 

Mudança na metodologia do levantamento

Neste ano, a rodada dos painéis de levantamento de custos de produção da avicultura passou a ser segmentada por Cadec. Nos trabalhos anteriores, a pesquisa era realizada regionalmente, em locais onde há expressiva produção de frangos de corte. Desta vez, participaram 15 Cadecs de 13 municípios nas regiões Sudoeste, Oeste, Noroeste, Norte, Norte Pioneiro e Campos Gerais. Os resultados por Cadec foram agrupados de acordo com as regiões produtoras a fim de viabilizar o comparativo com o último levantamento, realizado de outubro de 2022.

 

Equilibrando as contas

Com base no levantamento realizado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, na maioria dos modais das principais regiões do Paraná, a receita cobre apenas os custos variáveis, ou seja, as despesas ligadas diretamente à produção do lote. Isso não inclui a depreciação das instalações, dos equipamentos e a remuneração sobre o capital investido.

Já em alguns modais de regiões como os Campos Gerais e Norte Pioneiro, a receita não cobre os custos variáveis. Poucos modais conseguiram resultado positivo sobre o custo total. Nesse caso, aviários maiores, de 165x18m e 200x18m, o que mostra a possibilidade de diluição dos custos com o maior alojamento de aves na propriedade, obtendo ganhos em escala.

Assim como nos levantamentos anteriores, a venda da cama de aviário ajuda a reduzir o saldo negativo da atividade – mesmo com a redução dos preços nos últimos meses, que acompanham as cotações do adubo. Em algumas regiões, a receita com a comercialização deste item foi determinante para cobrir os custos variáveis.

“Quem conseguiu equilibrar as contas entre as compras de insumo e a venda de subprodutos, como a cama de aviário, sentiu menos os resultados negativos. A avicultura depende do contexto em que o produtor está inserido. Uma região agrícola, que demanda cama de aviário, oferece mais possibilidades para o avicultor”, observa Fábio Mezzadri, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.

Assim como o coordenador da Cadec de Santo Inácio, Mezzadri destaca a importância da diversificação da propriedade rural, o investimento no plantio de floresta e a geração de energias alternativas para garantir eficiência na atividade. “O uso do gás como alternativa à lenha e pellets tem crescido nos aviários, principalmente por causa da queda nos preços. Mas a viabilidade depende das condições do produtor, já que é um investimento alto”, elenca. Em algumas regiões, como Sudoeste e Campos Gerais, o custo do gás reduziu mais de 15%.

“Apesar das dificuldades, o sistema de integração ainda oferece segurança para o produtor investir. Estamos na luta diária por melhores remunerações e melhores condições de trabalho. Produzimos uma proteína acessível ao consumidor e que, por isso, tende a ser uma excelente alternativa para a alimentação. Isso nos dá garantia de comercialização”, destaca Maia, da Cadec de Santo Inácio.

 

Descompasso na produção

O avicultor Juarez Pompeu, que mantém dois aviários com cerca de 27 mil animais alojados em Chopinzinho, no Sudoeste, aponta que os reajustes no valor pago pela indústria não acompanham a oscilação dos preços dos insumos, como o milho, principal matéria-prima para ração das aves, que passou por uma disparada nos preços na última safra, causando alta generalizada nos custos de produção. Dessa forma, mesmo que a receita com a venda dos lotes tenha crescido nas principais regiões produtoras do Estado em relação ao ano passado, o custo total também subiu, continuando a estreitar as margens de lucro. Ele alega que o valor recebido atualmente está no mesmo patamar pago há 15 anos.

“Todas as cobranças que a indústria faz, a gente cumpre. Nossa qualidade de produção é fantástica, pois o avicultor faz um trabalho formidável, entrega um produto perfeito e quando ganha um reajuste, é mínimo. A gente entende que a indústria tem custos altos, mas merecemos um retorno justo”, afirma Pompeu, que atua na coordenação das Cadecs de Itapejara D’Oeste e de Pato Branco.

O coordenador da Cadec de Cianorte, na região Noroeste, José Carlos Spoladore, reforça a importância de um reajuste mais atualizado com as demandas dos avicultores. “Nosso reajuste vem cobrindo a inflação, o que deixa menos ruim, mas não cobre o mínimo do custo de produção. A tendência é que os produtores saiam da atividade se continuar nessa situação”, avalia o produtor, que aloja 120 mil aves em quatro aviários.

De acordo com o levantamento, os avicultores do Noroeste tiveram que desembolsar mais com lenha, que subiu 11,11%; briquet, com alta de 1,18%; e gasolina, com 15,72%. No Sudoeste, os gastos com pellets aumentaram 34,5%; com cavaco, 27,1%; maravalha na casa dos 25,6%; e lenha, 10%. A gasolina também entrou na lista, com aumento de 18,7%. Junto com aquecimento, energia elétrica e gasolina, a mão de obra também aparece entre os itens que mais pressionaram os custos de produção.

 

Incentivo à energia fotovoltaica

Os investimentos em energia fotovoltaica foram frequentemente citados pelos avicultores como uma alternativa para driblar o alto custo de produção. Na avaliação de José Carlos Spoladore, da região Noroeste, o avicultor que investiu na aquisição de placas solares sente menos os impactos. “Tenho 570 placas. Comecei há dois anos e, recentemente, finalizei o projeto, que custou R$ 600 mil. Hoje praticamente não pago energia”, diz.

No Norte do Estado, há quase dois anos, Carlos Eduardo Maia investiu em 3 mil painéis fotovoltaicos, que suprem toda a energia utilizada nos barracões. Antes dos painéis, a conta de energia vinha em torno de R$ 70 mil por mês. Atualmente, o produtor paga R$ 500 mil por ano em parcelas do financiamento que viabilizou a aquisição dos painéis solares – cerca de 40% a menos do valor que pagava por ano em contas de energia elétrica.

Juarez Pompeu, do Sudoeste, também investiu na geração da própria energia na propriedade. Com um financiamento de R$ 170 mil para ser pago em dez anos, o produtor adquiriu, há dois anos, 100 painéis fotovoltaicos e hoje já tem a conta de energia elétrica praticamente zerada.

O presidente da CT de Avicultura da FAEP, Diener Gonçalves Santana, ressalta os programas de incentivo para a energia fotovoltaica no Paraná, que facilitam o acesso a linhas de crédito com juros mais baixos.

“Quem tem energia fotovoltaica está se sobressaindo. Vários produtores têm pegado

recursos a juros baixos, o que tem dado alívio no custo de produção. Uma vez tendo essa energia, é um custo a menos para os avicultores, que já estão passando por um momento complicado”, resume Santana.

 

Apesar das adversidades, setor cresce em produção e exportação

Por Fábio Mezzadri

Técnico do DTE – Sistema FAEP/SENAR-PR

A avicultura de corte paranaense passa por um período conturbado. Desafios sanitários, mudanças no cenário econômico e a guerra na Ucrânia trazem incertezas ao mercado e contribuem em alta no preço dos insumos, impactando, logicamente, sobre os custos de produção.

A avaliação estadual dos custos, desta vez realizadas por Cadecs e agrupadas de forma regional, demonstra que, na maior parte das regiões, a receita com a venda dos frangos é suficiente para cobrir os custos variáveis, não os totais. Foi observada maior eficiência nos sistemas em que existiu a prática da venda da cama, em consonância a custos baixos com a compra da maravalha.

Neste levantamento, os maiores desembolsos ficaram com produtos oriundos da madeira, usados no aquecimento das granjas, como lenha, maravalha e pellets. Além destes, a energia elétrica também apresentou alta expressiva em algumas localidades.

As principais causas do encarecimento de produtos da madeira estão relacionadas à queda do metro cúbico da madeira observada nos últimos anos, causada pela redução do plantio de florestas, o que agora ocasiona falta de oferta da matéria-prima. Simultaneamente, a guerra na Ucrânia tem ocasionado forte demanda de países europeus pelos nossos produtos florestais, fator que contribuiu decisivamente para a alta nos valores da lenha e, consequentemente, da maravalha utilizada na cama.

A renda e custos na atividade, conforme de monstra as planilhas do levantamento, não são homogêneas no Paraná. Política de bonificação e subsídios das integradoras, eficiência produtiva, escala de produção, número de aviários, compras estratégicas de insumos ou a produção própria destes são fatores que levam a trabalhar no vermelho ou obter lucratividade na avicultura de corte.

Embora os citados desafios do setor, a atividade cresce no Paraná, abates e exportações aumentam e produtores apostam na atividade, principalmente em razão da crescente demanda externa pela nossa carne.

Fonte: Faep

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