Menor crescimento da produção e melhor relação de troca com os principais insumos trazem alento à suinocultura

Publicado em 25/05/2023 16:17

O IBGE publicou dados preliminares de abate do primeiro trimestre de 2023, demonstrando uma tendência que já era percebida na segunda metade do ano passado: a redução do ritmo de crescimento da produção de suínos no Brasil. De janeiro a março de 2023 foram abatidos 14,14 milhões de suínos, totalizando pouco mais de 1,29 milhões de toneladas de carcaças (tabela 1). Isto representou um crescimento em toneladas de somente 3,55% em relação ao primeiro trimestre de 2022, e de 1,27% em relação ao último trimestre do ano passado. A título de comparação, no primeiro trimestre de 2022 o crescimento havia sido de 6,9% em relação ao mesmo período de 2021 e o ano passado fechou com 5,41% de aumento em relação ao ano anterior.

Tabela 1. Dados preliminares de abate publicados pelo IBGE referentes às três proteínas no primeiro trimestre de 2023, comparado com o primeiro e o quarto trimestre de 2022.
Elaborado por Iuri P. Machado com dados do IBGE

Com 43,5 mil toneladas de carne suína in natura embarcadas a mais que o ano passado durante os primeiros quatro meses do ano (tabela 2), as exportações entraram 2023 em bom ritmo (gráfico 1) e estão ajudando a “enxugar” o mercado doméstico, visto que, enquanto a produção no primeiro trimestre cresceu 3,55% em relação ao mesmo período do ano passado, a disponibilidade interna (gráfico 2) cresceu apenas 1,18% (12,2 mil toneladas).

Tabela 2. Volumes exportados totais e para a China de carne suína brasileira in natura de janeiro a abril de 2023 (em toneladas) e comparativo com o mesmo período do ano passado.
Elaborado por Iuri P. Machado, com dados da Secex.

 

Gráfico 1. Exportação trimestral de carne suína in natura brasileira (em toneladas), de 2018 até 2023 (1T).
Elaborado por Iuri P. Machado, com dados da Secex.
Gráfico 2. Disponibilidade interna trimestral de carne suína in natura brasileira (em toneladas), de 2018 até 2023 (1T).
Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do IBGE e Secex.

 Diante deste quadro de desaceleração de crescimento da produção e da disponibilidade interna era esperado um aumento de preço do suíno, o que de fato ocorreu em relação ao início do ano passado, mas ainda assim abaixo das expectativas dos produtores que, em fevereiro deste ano, chegaram a receber mais de 8 reais por quilograma vivo em algumas praças (gráfico 3). Os meses de março e abril foram marcados por recuo nos preços pagos ao produtor, situação que não apresenta reversão até meados de maio.

Gráfico 3. Preço do suíno vivo (R$/kg), nos últimos 2 anos nos estados de SP, MG, PR, SC e RS. Média de maio/23 até dia 19/05. Pico das cotações no período atingido em fevereiro/23.
Fonte CEPEA

Ainda analisando a disponibilidade interna no primeiro trimestre e comparando a carne suína com as demais proteínas (tabela 3) é possível verificar que a carne bovina foi a que mais aumentou a oferta no mercado doméstico este ano, especialmente nos meses de fevereiro e março, quando as exportações desta proteína despencaram em função do caso atípico de “vaca louca”.

Tabela 3. Produção, exportação e disponibilidade interna das três proteínas no primeiro trimestre de 2022 e 2023 e a diferença em toneladas e percentual de um ano para o outro, com o equivalente em consumo per capita ano adicionado em 2023.
Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do IBGE e Secex.

 Esta maior oferta representou um aumento de 2,13 kg per capita/ano no consumo de carne bovina no primeiro trimestre de 2023, quando comparado com o mesmo período de 2022, sendo que a carne de frango teve aumento de 0,42 kg e a suína somente 0,23 kg, totalizando 2,77 kg a mais das três carnes somadas por habitante/ano. Aumento de oferta sem aquecimento da demanda resulta em queda de preço e isto foi bastante agravado no caso do boi gordo que atingiu uma das piores cotações dos últimos anos em maio/23 (gráfico4).

Gráfico 4. Preço do boi gordo (R$/@), nos últimos 2 anos em SP. Média de maio/23 até dia 19/05.
Fonte CEPEA

A consequência desta queda nas cotações do boi gordo é que a carne suína perdeu competitividade e reduziu significativamente a diferença (spread) em relação a carne bovina, o que pode ser visualizado na tabela 4 a seguir, saindo de um spread de 160% nos primeiros cinco meses de 2022 para 81% este ano.

Tabela 4. Preço da carcaça suína especial (SP) e da carcaça do boi gordo (CEPEA/B3) nos primeiros cinco meses de 2022 e 2023, e spread entre as duas. Média de maio/23 até dia 19/05.
Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do CEPEA.

 

Com as cotações do boi gordo em queda e expectativa de maior abate de animais este ano a proteína bovina volta a competir em preço com a carne suína, sendo um aspecto importante para dificultar a reação dos preços pagos aos suinocultores.

Com a colheita de uma segunda safra de milho bastante volumosa se aproximando, e após safra recorde de soja, a grande boa notícia para os suinocultores é a redução das cotações do farelo de soja e do milho, redução esta que se acentuou nos meses de abril e maio/23 (gráfico 5).

Gráfico 5. Preço do milho (R$/SC 60kg) em CAMPINAS-SP, de junho/21 a maio/23 (até dia 19/05/23). Fonte: CEPEA

Tal redução nos custos fez com que o mês de maio/23, até o dia 19/05 apresentasse a melhor relação de troca dos últimos anos, conforme apresentado no gráfico 6 a seguir, em que o preço médio do suíno vivo em Minas Gerais consegue comprar 5,24 kg de um mix de milho e farelo de soja, principais componentes da ração. Uma relação de troca superior a 5 em granjas com produtividade boa garante margens positivas na atividade.

Gráfico 6. Relação de troca do kg do suíno vivo (em Minas Gerais) com o kg de MIX milho (740g) + farelo de soja (260g), em R$/kg, de jan/21 a maio/23 (até dia 19/05/23).
Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do CEPEA.

 

Após alguns anos de desorganização das cadeias de produção, em consequência da pandemia de Covid-19 e da eclosão da guerra da Ucrânia, o ano de 2023 está sendo marcado por uma queda generalizada nas cotações das comodities, e isso inclui também os principais insumos da agricultura e da pecuária. O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, explica que neste cenário de “acomodação de preços” e com a produção suinícola brasileira crescendo, ainda que em ritmo bem menor que anos anteriores, não se pode esperar que a carne suína aumente seu valor significativamente em curto espaço de tempo.

“Nos últimos anos a carne suína conquistou grande espaço na mesa do consumidor brasileiro, ultrapassando os 19 kg per capita/ano, em parte pela competitividade em relação à carne bovina que durante um bom tempo teve seu preço relativamente elevado ‘descolado’ das demais proteínas. Esta situação mudou com uma maior oferta de carne bovina a preços mais baixos. Por outro lado, o custo de produção, desde abril, tem caído mais do que o esperado, permitindo prever um segundo semestre bem melhor para o suinocultor”, conclui.

Fonte: ABCS

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