Faep: Suinocultura reduz perdas, mas segue no vermelho
A suinocultura paranaense esboçou uma reação no segundo semestre de 2022. A leve queda registrada nos custos e a tímida melhora nos saldos deram um respiro à atividade, que reduziu perdas acumuladas ao longo dos últimos dois anos. Ainda assim, o setor permanece no vermelho, principalmente na terminação, que apresentou resultados na contramão das demais fases. É o que revela o levantamento dos custos de produção realizado no início de novembro pelo Sistema FAEP/SENAR-PR junto às três principais regiões produtoras do Paraná: Sudoeste, Oeste e Campos Gerais.
O levantamento foi feito a partir da metodologia de painel de custos, em que suinocultores, revendedores de insumos, representantes de agroindústrias e de instituições financeiras se reúnem para apurar o desenvolvimento de uma propriedade modal – com as características mais comuns na região. O estudo levou em conta cinco modalidades produtivas: Unidade Produtora de Desmamados (UPD), Unidade Produtora de Leitões (UPL), Crechário (UC) e Unidade Produtora de Terminados (UPT), além de ciclo completo – nesta última houve a participação apenas de produtores independentes.
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De modo geral, os suinocultores que se dedicam às fases UPD, UPL e UC observaram a redução dos custos operacionais e totais. Com isso, esses produtores conseguiram ficar no azul no que diz respeito ao saldo dos custos variáveis (valor que o produtor precisa desembolsar para produzir um lote). No entanto, essas modalidades permanecem no vermelho em relação ao saldo dos custos operacionais (que levam em conta a depreciação das plantas e equipamentos) e ao saldo dos custos totais (que considera, ainda, a remuneração sobre o capital investido). O prejuízo diminuiu em relação ao apontado pelo levantamento anterior (realizado em maio), mas ainda deixa o produtor com dificuldade de se manter na atividade no médio e longo prazos.
No caso da UPD, no Sudoeste do Paraná, por exemplo, os custos totais recuaram de R$ 47,48 por cabeça, em maio, para R$ 43,57, em novembro. No mesmo período, os suinocultores conseguiram um reajuste de 0,50% no valor recebido por leitão entregue. Na UPL, na região Oeste, o movimento foi parecido: os custos totais caíram de R$ 66,04 para R$ 64,58 por cabeça, enquanto os produtores tiveram um aumento de 0,70% no valor que embolsam por animal.
“Nós percebemos que nos modelos integrados de produção, as fases UPD, UPL e UC tiveram uma redução nos custos e, consequentemente, um melhor cenário nos seus saldos. Ainda assim, eles continuam no vermelho. Por mais que tenha havido uma melhora, o produtor ainda não consegue pagar suas contas, fazer as reformas e manutenções e, assim, manter uma rentabilidade. É um resultado que tende a ser insustentável no médio prazo”, observa Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, que acompanha a cadeia da suinocultura no Paraná.
“Tivemos pequenas melhoras na questão dos custos de produção. Sei que as margens da empresa a qual estou integrado também são pequenas e, desta forma, os dois elos ainda estão em dificuldades. Na nossa região [Sudoeste], existe menos concorrência entre empresas integradoras. As que ainda permanecem na atividade, estão passando por graves problemas de fluxo de caixa e, muitas vezes, não cumprem o que previamente foi estipulado”, aponta o suinocultor Miguel Thomas, que mantém uma UPL com capacidade para 700 matrizes.
Nos modos de produção terminação e ciclo completo não foi possível estabelecer uma comparação, já que produtores dedicados a esses modelos não participaram do levantamento anterior, realizado em maio. Na terminação, os produtores ficaram no vermelho em todos os saldos. Os destaques negativos foram o aumento dos custos fixos e queda do valor pago pelo suíno entregue.
Por outro lado, no caso do ciclo completo, o levantamento leva em conta os resultados obtidos por apenas uma granja, que se manteve no azul, apesar do momento sensível da atividade. “Nessa unidade a atividade está sustentável, na contramão da suinocultura paranaense, que está em crise há dois anos”, destaca Nicolle. “Não podemos considerar esses resultados como padrão para granjas em ciclo completo, mas como um modelo de referência. A situação desta granja expressa a eficiência produtiva, na qual o suinocultor precisou se reinventar dentro da atividade, identificando seus gargalos, reduzindo custos e buscando alternativas”, acrescenta.
Realizado semestralmente pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, o levantamento é imprescindível para que o suinocultor mantenha seu negócio da ponta do lápis. Além disso, os dados servem de subsídio para os integrados negociarem melhores condições com as agroindústrias, no âmbito das Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs).
“Os produtores não podem trabalhar no escuro. Esses levantamentos são importantes para dar uma referência e do que podem melhorar dentro da porteira, além de termos uma ferramenta importante de negociação com a indústria e para adotarmos estratégias em nível estadual”, diz a presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP, Deborah Gerda de Geus.
“Não está tão ruim para quem fez a lição de casa”, diz produtor
Em Toledo, Oeste do Estado, o suinocultor Udo Herpich mantém duas granjas dedicadas à fase de Crechário, com capacidade conjunta para alojar 11,5 mil leitões. O pecuarista destaca a necessidade de os produtores buscarem um nível de excelência, com vistas a atingir níveis zootécnicos mais elevados e bater metas afixadas pelas agroindústrias, que implicam em melhor remuneração.
“Na nossa integração, temos produtores que recebem R$ 6 por cabeça, enquanto outros ganham R$ 14. A diferença está nos resultados zootécnicos que cada um consegue. O produtor que se dedica, que atinge as metas, está colhendo bons resultados. Não está tão ruim para quem fez a lição de casa. Está bom”, ressalta Herpich.
O produtor menciona o caso concreto da agroindústria à qual está integrado. Após negociações na Cadec, a empresa passou a classificar os leitões entregues ao Crechário com base em índices zootécnicos, estabelecendo metas de conversão alimentar diferentes para cada faixa. Isso tornou a remuneração mais justa, premiando os suinocultores que conseguirem manter o padrão esperado.
“Os leitões classificados como classe A, por exemplo, têm melhor conversão alimentar e ganham mais peso. Para eles, vai se exigir que tenham índices melhores que os leitões classe B. A agroindústria está pagando melhor o mérito do suinocultor. Ficou mais justo”, diz o Herpich.
Como o modelo de integração está menos suscetível às oscilações de mercado – tanto para cima, quanto para baixo –, o produtor também destacou que é imprescindível que o suinocultor se planeje, para conseguir manter seu negócio sustentável no médio e longo prazo. “A integração não tem uma resposta imediata em relação ao mercado. Quando está positivo, o produtor não colhe todos os lucros. Quando o mercado se retrai, não perde tanto. Com isso, o produtor precisa se planejar, de acordo com seu desempenho padrão”, orienta.
Mão de obra é o principal gargalo da atividade
Há 23 anos, a família de Geni Bamberg mantém uma granja de suínos voltada à terminação dos animais, em Toledo, Oeste do Paraná, em sistema de integração com uma agroindústria da região. Para manter a unidade, com capacidade para alojar 1,7 mil animais, a produtora precisa recorrer a trabalhadores temporários. E a mão de obra tem sido o principal gargalo da suinocultura, exercendo peso em todas as fases produtivas do modelo integrado.
“Como estamos em uma região muito produtiva em várias atividades pecuárias, enfrentamos a escassez de mão de obra capacitada. Isso puxa para cima os salários, tornando os custos mais elevados”, observa Geni, que coordena a Comissão para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec) local e preside a Associação Regional de Suinocultores do Oeste (Assuinoeste).
Na avaliação de Nicolle Wilsek, do DTE do Sistema FAEP/SENAR-PR, esse fenômeno não se restringe à UPT nem ao Oeste do Paraná. A mão de obra exerce peso significativo em todas as regiões e fases produtivas. “Este é um dos grandes obstáculos nas atividades confinadas. O produtor tem dificuldade de encontrar um bom profissional, com disponibilidade de trabalhar de domingo a domingo. Com isso, além de ter que pagar salários maiores, o produtor também se vê onerado por horas-extras e adicionais noturnos”, explica.
Além da mão de obra, proporcionalmente a alimentação e os gastos com genética estão entre os insumos que mais pressionam a produção. Esses itens aparecem com peso significativo em todos os modais produtivos, embora com variação percentual. Nas fases
UPD, UPL e ciclo completo, a alimentação é o insumo mais significativo, chegando a responder por mais de 70% dos custos produtivos. No caso do UC e da UPT, o que mais pesou sobre o produtor foi o custo do leitão, que correspondeu a mais de 40% dos desembolsos.
“Na análise dos gastos, vemos que muitos insumos subiram de preço, como energia elétrica e combustíveis, além da mão de obra”, aponta Nicolle. “Os custos continuam elevados, principalmente em relação ao valor recebido por suíno entregue”, destaca Geni.