Coronavírus e Peste Suína Africana aumentam demanda internacional por carne suína brasileira

Publicado em 12/05/2020 09:26

A disputa internacional entre os Estados Unidos e a China, aliada ao surto da Peste Suína Africana (PSA) impactaram fortemente o mercado internacional das commodities. Em 2019, o Brasil registrou um incremento de, aproximadamente, 13% nas vendas e na receita com as exportações de carnes para a China. Entretanto, em relação à soja, houve um decréscimo de 21% com as exportações para aquele país. O Brasil vem se consolidando como o maior exportador de carnes bovina e de aves, e ampliando sua participação também no mercado internacional de carne suína. Em 2019, foram 249 mil toneladas de carne suína exportadas para a China, um aumento de 59% em relação a 2018. Este ano, a estimativa é de 300 mil toneladas a serem enviadas para o mercado chinês.

Por outro lado, a soja segue com quedas de volumes exportados para a China, em decorrência do surto da Peste Suína Africana (PSA) que levou ao abate de milhares de animais no continente asiático para evitar a propagação do vírus pelo mundo e também às disputas e negociações de acordos entre China e Estados Unidos. A soja exportada é usada principalmente para a alimentação animal.

A pandemia da Covid-19 tornou-se um dos desafios para o agronegócio mundial e para o brasileiro, em particular. Embora o comércio global de alimentos dê a impressão de normalidade, em meio à forte demanda de importações para a China ocorridas em março e abril, as agências internacionais de risco demonstram em seus relatórios analíticos preocupação com possíveis interrupções na cadeia de suprimentos em decorrência das medidas de contenção da Covid-19, como, por exemplo, no escoamento da produção em portos para exportação.

Os dados são da agência RaboResearch, Food & Agribusiness, departamento vinculado ao Rabobank, instituição líder em serviços de financiamento para alimentação, agronegócio e sustentabilidadee integram estudo recente da Embrapa intitulado “Eclosão do coronavírus na china, o alastramento da peste suína africana na Ásia e o acordo comercial EUA-China: riscos e oportunidades para o agronegócio brasileiro”, publicado pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (SIRE). 

O estudo foi elaborado pelo pesquisador Mário Alves Seixas, do Departamento de Análises e Estudos Estratégicos. Seixas reuniu e analisou dados de um conjunto de agências internacionais sobre a PSA e os impactos no continente asiático e as janelas de oportunidades para o Brasil, incluindo neste cenário a pandemia mundial pelo coronavírus.

Acesse aqui a matéria Embrapa divulga estudo sobre tendências e novos desafios do agro com a Covid-19

Altamente contagiosa, a Peste Suína Africana, ou PSA, tem sido observada desde o início do século 20, inicialmente no continente africano. É causada por um vírus, sendo exclusiva de suídeos domésticos e selvagens, como porcos e javalis. Trata-se de uma enfermidade diferente da peste suína clássica e é uma doença hemorrágica. Só este ano, de acordo com o último boletim da Organização Mundial de Saúde Animal, entre os dias 10 e 29 de abril foram notificados 742 novos surtos em países do continente asiático e europeu, totalizando neste período do levantamento perdas de 34.556 animais.

“A Peste Suína Africana não atingiu apenas a China, mas todo o continente asiático, incluindo Vietnã, Filipinas, Laos, Camboja, Mianmar, Coreia do Sul, Indonésia e Mongólia. No ano passado, por exemplo, a Coreia do Sul eliminou cerca de 450 mil animais de criação, que representam cerca de 4% de seu rebanho”, destacou Seixas. O especialista acrescentou, ainda, que o surto já atingiu, inclusive, a produção de suínos na Europa. “A Alemanha firmou medidas preventivas, já que surtos foram confirmados na Polônia, em dezembro de 2019, apenas 21 quilômetros da fronteira com a Alemanha”.

Na China, a endemia da PSA se soma aos problemas vivenciados pelo setor agrícola em decorrência do surto da Covid-19. Por isso, em um cenário mundial, estima-se que as importações de carne suína pelo país asiático aumentem em torno de 30% a 40%, atingindo 4,25 milhões de toneladas, uma vez que foi identificada uma retração do mercado interno em torno de 20%. Este percentual corresponde ao total de animais que foram dizimados e sacrificados, nos últimos meses, em decorrência da pandemia da PSA. E com o surto da Covid-19, a China vem encontrando dificuldades para o repovoamento de seu rebanho suíno.

No caso brasileiro, de acordo com a RaboResearch, Food and Agribusiness, como os custos de alimentação animal devem permanecer estáveis, as margens de lucro ao longo da cadeia de produção serão positivas, em 2020. O agravamento da PSA na China e no continente asiático foi fator-chave do rápido crescimento das exportações brasileiras, em 2019.

Os Estados Unidos, país concorrente do Brasil, junto ao mercado asiático, também têm previsão de aumentar o seu volume de exportação de carne suína para a China, principalmente porque agora o país entra na Fase-Um do acordo comercial EUA-China. Portanto, a expectativa de exportação do produto para o país asiático será de 300 mil toneladas, o mesmo previsto para o mercado de produção de suínos no Brasil.

Por outro lado, de acordo com o pesquisador Mário Seixas, esse incremento nas exportações americanas para a Ásia se depara também com limitações já que o aumento esperado na produção ultrapassará a capacidade da indústria de embalagens daquele país. “A grande demanda de exportação e as estimativas de forte incremento em 2020 dificilmente poderão ser efetivadas pelos setores de processamento e embalagens, apontam as agências internacionais RaboResearch, Food & Agribusiness”, esclarece Seixas.

O novo acordo internacional EUA e China e os reflexos para o Brasil

O estudo elaborado pela Embrapa aponta que a eclosão do coronavirus (Covid-19), o alastramento da peste suína africana na Ásia e o novo acordo comercial EUA-China são fontes de riscos e oportunidades para o agronegócio global e brasileiro, em particular.

A conjugação dos efeitos da epidemia da PSA, conjuntamente com os desafios da disputa comercial EUA-China, fez de 2019 um ano difícil para a soja, frequentemente visto como um barômetro para o agronegócio brasileiro em geral. No entanto, em que pese esses eventos, 2019 foi extremamente compensador para as culturas do milho e do algodão brasileiros:o Brasil se tornou o segundo maior exportador global de algodão e consolidou sua posição como o segundo maior exportador global de milho.

Porém, o acordo EUA-China, assinado no começo deste ano, em sua primeira fase, aumentará as vendas de bens e serviços dos Estados Unidos para a China, pois o país asiático deverá comprar entre este ano e o próximo, US$ 32 bilhões adicionais daquele país. “De acordo com as projeções das agências internacionais, a China terá de comprar grandes quantidades de produtos agrícolas como carnes, frutos do mar, laticínios e algodão para compensar a diferença”, exemplifica Seixas. Entre os produtos previstos para aumento de exportação estão milho, soja, trigo, sorgo e etanol.

“A soja é o ponto focal no comércio agrícola entre EUA e China. Como resultado da guerra comercial e da demanda deprimida devido à PSA, as importações chinesas de soja dos EUA caíram significativamente em 2018-2019, entre 15,0 a 20,0 milhões de toneladas. Ao longo de 2020 e 2021, é provável que o governo chinês crie um mecanismo para incentivar o agronegócio chinês a comprar grãos dos EUA, em detrimento dos fornecedores do Brasil”, ressalta o estudo da Embrapa.

Por isso, o volume de exportação de grãos de soja dos EUA, para a China, tem o potencial de atingir mais de 40 milhões de toneladas por ano, a partir de 2020. Em relação à carne bovina, também se estima que haja um crescimento robusto dos embarques de carne bovina dos EUA para a China, em 2020, em detrimento de outros países exportadores, inclusive o Brasil.

Seixas chama atenção, no entanto, que o choque extremo do surto da Covid-19 nos setores econômicos da China, particularmente nos segmentos de alimentação e agronegócios, está induzindo a fortes mudanças na forma de como se fazem negócios nesse país. “Muitas das tendências podem ser novos desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro”, ressalta o pesquisador Mário Seixas.

“Neste ano, o surto da epidemia de coronavirus (Covid-19) veio se somar aos condicionantes anteriores, passando a constituir-se em um terceiro e importante desafio ao agronegócio brasileiro em sua trajetória de consolidação como uma das principais forças-motrizes do agronegócio global”, enfatizou o pesquisador.

Estima-se que o Brasil continuará sendo o maior exportador mundial de carnes de aves e o segundo maior exportador de carne bovina (a produção e exportação de carne suína, embora crescendo, ainda é uma indústria relativamente pequena para o Brasil). Estima-se que a produção de carne bovina, suína e de aves aumente 5,9%, 4,5% e 2,5%, respectivamente, com uma produção ao redor de 10,8 milhões, 4,15 milhões e 13,97 milhões de toneladas, respectivamente, em 2020.

O estudo publicado faz parte da Série Diálogos Estratégicos – Mercados Internacionais e integra o Sistema Agropensa - Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa dedicado a produzir e difundir conhecimentos e informações em apoio à formulação de estratégias de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para a própria Empresa e instituições parceiras.

Para conhecer os dados completos acesse:

Nota Técnica 31: “Eclosão do coronavírus na china, o alastramento da peste suína africana na Ásia e o acordo comercial EUA-China: riscos e oportunidades para o agronegócio brasileiro”

Fascículos:

O alastramento da Peste Suína Africana (PSA) e seus efeitos globais

A eclosão do coronavírus e seus efeitos no agro

Conteúdo técnico: Pesquisador Mário Alves Seixas, Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (SIRE)

Fonte: Embrapa

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Frango: estabilidade domina as cotações nesta segunda-feira (29)
Estabilidade prevalece nesta segunda-feira (29) para as cotações no mercado de suínos
Perto de julho chegar ao fim, exportações de carne de frango ainda não 'empataram' com os resultados de julho do ano passado
Carne suína exportada até a 4ª semana de julho supera dados de julho do ano passado com tranquilidade
Carne suína do Paraná chega a 70 países; exportações têm 2º melhor 1º semestre da história
Sorologia confirma sanidade de suínos na Bahia