Suínos: Alta nos custos de produção deixa margem negativa aos produtores no começo de 2016
A alta nas cotações do milho e do farelo de soja - principais componentes da ração animal -, tem impactado nos custos de produção do setor de suínos e muitos produtores já trabalham com margens ajustadas neste início de ano. Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) a elevação nos preços do milho é reflexo da escassez de oferta em muitas regiões produtoras.
Reivindicando medidas para amenizar esse cenário, a Associação realizou na tarde desta terça-feira (19) reunião com o Ministério da Agricultura. Na ocasião o ministro-interino de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, André Nassar firmou o compromisso de realizar ações incisivas contra a forte elevação e a escassez de milho nos polos de produção.
Entre as medidas reivindicadas pelo setor está à importação da matéria prima de outros países, venda de estoques governamentais e a criação de uma política de controle de comercialização dos grãos.
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Com a taxa de câmbio favorecendo as vendas externas, o Brasil exportou volumes recordes do cereal em 2015, deixando o mercado interno com restrição no abastecimento, especialmente as localidades próximas aos portos. Com isso, os preços do milho no mercado interno tiveram uma guinada nos últimos meses, chegando a bater R$ 44,00 saca no Porto de Paranaguá.
Atualmente a ração é responsável por aproximadamente 80% dos custos dos granjeiros no país. Com a elevação nos preços do farelo de soja e milho em centros de produção da avicultura e da suinocultura, a relação de troca medida pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) atingiu em janeiro patamar abaixo de 7 kg, o que segundo o pesquisador Augusto Maia, é um fator preocupante.
De acordo com a pesquisa realizada pelo Centro, atualmente é possível comprar com o valor de 1 kg do animal vivo, o equivalente a 6,10 kg de milho. No igual período de 2015 essa relação de troca era de 9,7 kg. "Há relatos de muitos produtores com dificuldade de adquirir os insumos, e pelo que ouvimos do setor, se esse cenário se estender por mais dois a três meses, podemos ver planteis fechando e produtores saindo da atividade", ressalta Maia.
Segundo ele, o ingresso da safra de verão nos próximos meses poderá amenizar a pressão sobre as cotações no mercado interno, no entanto, o volume de milho produzido na primeira safra tem reduzido drasticamente nos últimos anos, não sendo uma oferta capaz de derrubar preços. Além disso, é preciso considerar que os indicadores econômicos apontam elevações ainda maiores na taxa de câmbio, com isso a rentabilidade exportadora se torna mais atraente e o abastecimento interno pode ficar comprometido.
O preço do milho somente nos primeiros vinte dias de 2016, saiu de R$37,30 a saca para R$ 43,36/sc nesta semana. Esse valor é equivalente a uma alta de 13,98% no indicador Cepea, referência na praça de Campinas (SP). Já o preço médio do farelo de soja, segundo levantamento da Scot Consultoria, apresentou alta de 14,0% neste inicio de ano em comparação a 2015, em São Paulo, a tonelada do alimento concentrado está cotada, em média, em R$1.324,80, sem o frete.
No Rio Grande do Sul, os suinocultores já trabalham com margens ajustadas desde o final do ano passado. De acordo com o presidente da Acsurs (Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul), Valdecir Folador, o custo médio para produzir um quilo do animal vivo gira em torno de R$ 3,40 sendo o preço pago ao produtor independente de R$ 3,53/kg.
"Poderemos ver uma retração no investimento com os produtores tentando diluir os custos. Estamos bastante apreensivos com o cenário que se desenha no primeiro trimestre do ano, a expectativa é de um período bastante difícil, o que deve amenizar serão as exportações", ressalta o presidente.
Em Santa Catarina, maior região produtora do país, a situação é ainda mais grave. De acordo com Maia, a produção do milho no Estado não tem sido suficiente para atender a demanda do setor de carnes e muitos produtores precisam arcar com frete para trazer a matéria prima de outras regiões.
O presidente da ACCS (Associação Catarinense de Criadores de Suínos), Losivanio Luiz de Lorenzi, conta que os produtores já trabalham com margens negativas neste inicio do ano. Enquanto o custo de produção chega a R$ 3,70/kg o preço pago ao produtor independente não ultrapassa R$ 3,40kg.
"Estamos com dificuldade para conseguir o milho porque os produtores estão com expectativas de novas altas nos preços e acabam retendo a mercadoria. Nossa preocupação é que até o momento o suinocultor ainda consegue arcar com o milho na casa de R$ 43,00/sc, o problema é que se os preços subirem novamente, poderemos ter a oferta, mas o granjeiro não vai conseguir arcar com esses valores", explica Lorenzi.
No Mato Grosso a Associação dos Criadores de Suínos (Acrismat) entrou com medida preventiva junto a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) solicitando a abertura de leilões de milho no período de entressafra.
O setor está preocupado com a falta do grão, devido ao grande volume que tem saído do Estado para outras regiões, especialmente para o sudeste. Segundo o presidente da Acrismat, Raulino Teixeira Machado, a situação é alarmante não somente para suinoculturores como também para as cadeias de aves e bovinos confinados.
Segundo ele, a situação só se estabilizará com a colheita da safrinha, porém até meados de junho não há perspectiva da entrada de grandes volumes do cereal no estado. "A demanda necessária até o mês de maio é de aproximadamente 1 milhão de sacas para a suinocultura”, afirma Machado.
Para o presidente da Asemg, Antônio Ferraz, mesmo com a entrada da oferta de primeira e segunda safra, boa parte da produção foi comercializada antecipadamente e não deve chegar a atender em sua totalidade a demanda nacional do mercado de carnes.
"Boa parte da produção, principalmente no Centro-Oeste, já foi comercializada antecipadamente, então esses volumes não vão atender o mercado de suínos. Nós precisamos de políticas de regulação que controlem o percentual de venda e as exportações, afinal é muito mais vantajoso que o Brasil exporte a carne - com valor agregado - do que o milho ou a soja", ressalta Ferraz.
Em Minas Gerais, o custo de produção alcançou neste início de ano R$ 4,40 por quilo, enquanto o bolsa de suínos definiu nesta semana preço de R$ 4,20/kg do animal vivo pago ao produtor independente. Com isso a relação de custo e preço chega a R$ 0,20 negativo e o produtor pode perder até R$ 30,00 sobre o valor final do animal inteiro.
O cenário se agrava devido ao período de baixos preços para a carne suína. Tradicionalmente no primeiro trimestre de cada ano o consumo interno enfraquece, e neste ano devido à descapitalização da população, a demanda tem sido ainda mais baixa, pressionando as cotações em todas as regiões produtoras.
Mesmo com a expectativa de melhora nas exportações - com a abertura de mercado a Coreia do Sul - as vendas externas acabam representando apenas 15% da produção nacional, não sendo suficiente para escoar o excesso de produto no mercado interno.
Outro fator negativo para 2016 é a projeção de aumento em torno de 2% a 3% na produção de carne suína no Brasil, segundo a ABPA. Para Lorenzi esse fator torna o quadro da suinocultura ainda mais grave, pois “teremos um excedente no mercado em 2016”, afirma.
"A dúvida é se conseguiremos ter competitividade no mercado internacional para atender os novos mercados com esses custos em alta", alerta Lorenzi.