Mercado do feijão movido por medo e ganância, por João Henrique Bosco

Publicado em 26/10/2016 11:52

Por João Henrique Bosco

O Notícias Agrícolas tem feito uma série de reportagens sobre o feijão mostrando os elos de toda cadeia. O ano de 2016 foi emblemático para quem sobrevive deste mercado. Houve escassez do feijão carioca e os preços subiram chamando a atenção dos consumidores e da mídia em geral. A leguminosa acabou na vitrine, situação que escancarou alguns problemas históricos e apontou na direção de novas oportunidades. Em Feira de Santana, na Bahia, foi a vez de conversarmos com um empacotador que entrou neste mercado há vinte anos. Reginaldo Rocha falou ao Notícias Agrícolas sobre a relação com a cadeia, produção, combinação de preços e até da credibilidade da Bolsinha de São Paulo. Uma conversa franca ao repórter João Henrique Bosco,  que merece ser lida por todos que se dedicam a cultura do feijão.

 

      
 

João Bosco  - OS PREÇOS ESTÃO CAINDO NÃO É? ISTO É BOM OU RUIM PARA O EMPACOTADOR?

Reginaldo Rocha - O mercado acabou cedendo um pouco devido ao pânico causado na cadeia produtiva e compradora. O mercado de feijão sempre foi movido a medo e ganância. O preço abaixo de R$ 200,00 a saca de 60 kg não é benéfico a ninguém. Nem ao setor produtivo, nem ao comprador, nem a nós embaladoras e muito menos aos nossos representantes que ganham comissão. Os nossos custos fixos são altíssimos. Ficamos anos com preços do feijão defasado na gôndola entre R$ 3,00 a R$ 3,50. Acreditamos em preços justos para nós e também para o consumidor em torno de R$ 7,00 a  R$ 8,00. Se compararmos a uma cerveja que custa R$ 8,00 o feijão é pechincha. Sabemos muito bem quanto custa para os nossos produtores produzirem um kg de feijão e serem tão desvalorizados pelos governantes e pela sociedade em geral.

João Bosco - POR QUE OS PREÇOS ESTÃO CAINDO TANTO?

Reginaldo Rocha - Olha sou um homem que veio do campo. Não nasci empresário e venho deste segmento desde 1996. Historicamente tenho vivido e acompanhado este mercado ao longo destes anos. Sou muito novo comparado a vários que estão aí há 50 anos vivenciando tudo isto.Volto a repetir, o que move o mercado de feijão é medo e ganância. A única explicação para uma variação tão grande nos preços foi o pânico gerado por boatos do que pode acontecer na cadeia daqui 5 meses. Hoje existe um consumo catalogado a nível de Brasil em torno de 4 milhões de sacas de feijão de todas variedades. E temos cerca de 1.500 pessoas ou empresas que vivem de comprar e vender feijão no BRASIL.. Hoje olho para o histórico de anos anteriores e não vejo oferta maior que demanda. Estamos chegando numa época do ano em que existe uma grande demanda de feijão para cestas básicas. Empresas que vinham trabalhando com estoques mínimos possíveis para 8 dias, agora passaram a trabalhar para 20 dias e como falamos, quem comprava uma carreta vai comprar três.. Por isso não vejo motivo para o mercado abaixo de R$ 200,00. Nosso Brasil é gigante. Imagine 1.500 pessoas, cada uma comprando 3 carretas por semana ou mesmo por mês ? Como ficaria este mercado ?


João Bosco - VOCÊ SE BASEIA E ACREDITA NAS COTAÇÕES DA BOLSINHA DE SÃO PAULO?

Reginaldo Rocha - Olha, jamais seria leviano de falar que não acredito em algo que existe há mais de 60 anos, que não faço as minhas análises por ela. Mesmo que eu pessoalmente não acreditasse em tudo que acontece no BRÁS, tenho que ver, ouvir e acompanhar. Milhares de produtores ainda tomam suas decisões baseado no que acontece ou deixa de acontecer no BRÁS. Eu mesmo, antes do mercado se tornar dinâmico, fazia as minhas aquisições no BRÁS para levar até nosso NORDESTE e por isto, sempre sou grato aquele mercado.


João Bosco - OS EMPACOTADORES CONVERSAM, COMBINAM O PREÇO QUE VÃO PAGAR AO PRODUTOR?

Reginaldo Rocha - Olha, somos um grupo de pessoas que só temos parceiros no nosso segmento. Nós aprendemos dentro da casa do nosso pai o "processo do ganha". Ganhar com todos ganhando é maravilhoso, benéfico para todo mundo. E seguimos esta missão. Trocamos ideias, nos falamos todos os dias. Mas ainda somos uma classe desorganizadas que não consegue combinar nada; cada um por si e DEUS por todos!


João Bosco - COMO O PRODUTOR PODE AJUDAR A MELHORAR OS PREÇOS?

Reginaldo Rocha - Produzindo grãos de qualidade, variedades que tenham boa aceitação, ou seja, produtos que demorem a perder a cor. Também fazendo uma análise dos anos anteriores, históricos de cada período do ano. Tomando suas decisões sem medo e sem ganância.
 

Fonte: João Henrique Bosco

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