EUA: Nova tempestade de inverno traz mais neve e compromete cadeias agropecuárias
Foto: Allen Meissner/Twitter
O frio intenso continua nos Estados Unidos com essa tempestade de inverno correndo o país, com os mapas ainda sinalizando mais dias de temperaturas baixas recordes, com mais de 20 graus negativos. No setor produtivo, não só as lavouras das culturas de inverno têm sofrido, mas toda a cadeia de distribuição e abastecimenot, dos grãos às carnes, passando por combustíveis e operações logísticas de todas as naturezas.
De acordo com representantes de empresas nos Estados Unidos ouvidos pela agência internacional de notícias Bloomberg, a falta de energia ocasaionada pelas condições climáticas já compromete o embarque de soja e milho, provoca o fechamento de plantas processadoras de carnes e grãos, além de limitar a produção de etanol. Ontem, foram registrados ainda congelamentos de parques de energia eólica no Texas.
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Ainda segundo informações apuradas pela agência, traders já relatam dificuldades em levar grãos aos portos do Pacífico, além do excesso de gelo manter sempre muitos alertas de restrição de navegação no rio Illinois, um dos principais canais hidroviários de escoamento da produção norte-americana.
A Bloomberg reporta ainda redução nas jornadas - para poupar energia, custos e tentar otimizar a produtividade dos dias difíceis - em empresas como a Cargill, a ADM e a Tyson Foods. No entanto, especialistas já relatam alguma preocupação com o atraso de embarques de soja e milho para a China.
Frio intenso e neve no Texas - Fevereiro 2021 - Foto: Allen Meissner/Twitter
"Já estou ouvindo sobre embarques atrasados devido a este inverno extremo. Levar os grãos aos portos do Pacífico tem sido o maior desafio", diz Mike Steenhoek, diretor executivo do Soy Transportation Coalition, um grupo de Iowa, afinal, há excesso de neve e interrupções também nas rodovias e ferrovias em boa parte das regiões produtoras norte-americanas.
Da mesma forma, algumas processadoras de soja e milho, plantas de produção de derivados da oleaginosa e de etanol, em alguns pontos dos EUA, chegaram a reduzir de 50% a 60% de sua atividade buscando economizar suas fontes de energia, como gás natural, por exemplo. Entre os produtores de leite, muitos estão desprezando muitos litros do produto já que o escoamento não será feito e esse leite não chegará ao mercado.
Animais sofrendo com o frio no Texas - Foto: Katelyn Dynneson Larson/AgWeb
A produção de frutas também está sendo bastante comprometida. No Texas, terceiro maior estado produtor de citrus dos EUA, os pomares de grapefruit estão sofrendo com o congelamento. As frutas estão congeladas pelas temperaturas negativas, perdendo parte de sua qualidade a poucos dias do início da colheita. Os prejuízos, porém, ainda não podem ser completamente contabilizados.
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Pomares de grapefruit congelados no Texas - Foto: Yahoo News
INVERNO EXTREMO CONTINUA NOS PRÓXIMOS DIAS
As condições de inverno extremo nos Estados Unidos - e em outros países do Hemisfério Norte - deverão continuar nos próximos dias, de acordo com as previsões mais atualizadas. São 73% do território norte-americano, neste momento, coberto por neve e esse percentual pode aumentar, já que se aproxima dos Estados Unidos a tempestade de inverno Viola, trazendo ainda mais gelo ao país. .
Segundo as informações do The Weather Channel, essa onda de frio intenso ainda deverá durar por muitos dias no Texas e mais estados do Sul antes de trazer algum alívio expressivo aos americanos. São milhões de pessoas sem energia, sem água e sob todos os tipos de alerta.
O canal norte-americano especializado em meteorologia afirma que os recordes de temperaturas frias foram quase todos quebrados nestes últimos dias. Há neve nos 48 estados norte-americanos pela primeira vez desde 2003.
As previsões, portanto, sinalizam um aumento - ainda gradativo - das temperaturas somente a partir do final de semana, e mais intensamente no final de fevereiro na região das planícies.
No mapa abaixo, as áreas em laranja mostram qe há pelo menos 33% de chance de temperaturas acima da média. Nas áreas em cinza, são 33% de chance de temperaturas abaixo. O período em questão é de 22 a 26 de fevereiro.
CHEGADA DA TEMPESTADE VIOLA
A segunda tempestade de inverno que já começa a chegar nos EUA nesta nesta semana, a Viola, deve atingir primeiro o sul do país, trazendo ainda mais neve, e na sequência se mover para o leste, incluindo partes de Nova York.
"Mais neve é esperada nesta quarta-feira do nordeste do Texas, leste de Oklahoma, leste do Kansas até Arkansas, Missouri, oeste e meio do Tennessee, oeste do Kentucky, norte do Mississippi e noroeste do Alabama", informa o The Weather Channel. "É provável que essa tempestade se espalhe pela maior parte da região nordeste na quinta a noite".
RELATOS DE PRODUTORES
Ao portal SuccessfulFarming, produtores relataram como tem sido seu dia a dia diante das atuais condições e das poucas mudanças previstas para os próximos dias. Os três produtores fazem parte de um grupo conhecido como XtremeAg.farm, que reúne alguns dos melhores profissionais do país, os quais buscam compartilhar seus conhecimentos, práticas agrícolas e expertise.
"No geral, estamos apenas no ritmo normal de inverno: cuidando dos negócios. Trabalhando nos equipamentos, despachando alguns grãos e tentando se manter aquecido. Antes que percebamos, a primavera estará aqui de novo - pelo menos, é o que eu continuo dizendo a mim mesmo". Lee Lubbers, Gregory/Dakota do Sul.
"O clima nos permitiu pulverizar nosso trigo com herbicida. Ter dias frios e quentes permite a aplicação de nitrogênio e herbicida. Nos dias quentes, aplicamos herbicida e nos dias mais frios, quando o solo está congelado, aplicamos nitrogênio. Um de nossos focos agora é melhorar nossa infraestrutura de drenagem. As áreas úmidas nos impediram de cultivar uma safra no passado e precisamos explorar opções de drenagem". Chad Henderson, Madison/Alabama.
"É um inverno como os de antigamenteno norte de Illinois, com muita neve e temperaturas negativas nesta semana. Isso Significa apenas que tudo leva mais tempo no frio,tudo é duas vezes mais difícil, mas o estranho é que eu meio que gosto. O ar fresco e limpo faz você se sentir vivo. Parte da agricultura é dedicar tempo para apreciar esta bela terra que proporciona um futuro às nossas famílias. Contemos nossas bênçãos, são muitas. Dan Luepkes, Oregon/Illinois.
APOIO DO USDA
Uma nota divulgada pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta quarta-feira (17) tranquiliza os produtores norte-americanos afirmando que os auxílios serão oferecidos ao setor, como forma de mitigar os efeitos causados pelas tempestades de inverno.
"Como o clima severo e os desastres naturais continuam a ameaçar os meios de subsistência de milhares de nossas famílias de agricultores, queremos que eles e suas comunidades saibam que o USDA está com vocês”, disse Kevin Shea, secretário de Agricultura interino dos EUA.
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REAÇÕES DO MERCADO
No mercado, as reações são limitadas nesta quarta-feira, depois da disparada, principalmente das cotações do trigo, na sessão anterior. Os futuros do grão, bem como os da soja e do milho realizam lucros, mas os traders seguem monitorando as notícias sobre o clima e os possíveis efeitos também sobre a safra 2021/22 dos EUA.
Como explicam analistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas, há um cenário já bastante consolidado de demanda muito forte e embarques bastante adiantados nos EUA, o que acaba limitando as preocupações com os atrasos pontuais que são causados agora pelas condições de clima.
Para as próximas semanas, a demanda interna por milho para a produção de etanol poderia, inclusive, vir a aumentar, buscando compensar o fechamento necessário de diversas plantas agora.
Dessa forma, reafirmam que "o cenário de preços altos é um cenário já consolidado e com perspectiva de preços ainda mais elevados para o restante da temporada". Assim, "qualquer movimento de queda, caso ocorra, tende a ser limitado e de curta duração. No médio e longo prazo, soja e milho permanecem com forte viés de alta".