Carne bovina ajuda e Brasil consegue elevar exportação de proteínas em ano tumultuado
Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações brasileiras de carnes devem fechar 2017 em alta ante 2016, com os embarques da proteína bovina compensando as perdas com as vendas de suína e de frango em um ano marcado por problemas políticos, comerciais e sanitários para todo o setor nacional.
Ao todo, o Brasil deverá exportar 6,54 milhões de toneladas de proteínas em 2017, avanço de 0,4 por cento sobre 2016, segundo compilação da Reuters que considera carne in natura e processada, de acordo com dados de associações do setor (ABPA e Abiec).
Em receita, o aumento deverá ser mais expressivo, de 9 por cento, para 15 bilhões de dólares, o que indica preços mais altos em dólar e também forte demanda pelo competitivo produto do maior exportador global de carnes de frango e de boi.
O balanço geral pode ser considerado ainda mais positivo para o segmento se levados em conta os vários problemas enfrentados pela cadeia exportadora ao longo do ano.
A lista de adversidades começa com a operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em março; passa pelas delações de executivos da JBS, que afetaram praticamente todo o mercado; e termina com os embargos de Rússia e Estados Unidos, sem falar das indefinições quanto à cobrança retroativa do Funrural. [nL2N1GX1BQ] [nL1N1NR0X9] [nL1N1JK1X7] [nL1N1OC258]
No caso de bovinos, os números mostram apenas um impacto momentâneo da Carne Fraca, enquanto as indústrias de frango e suínos foram mais afetadas, em um caso que envolveu até mesmo unidade da BRF.
"A Operação Carne Fraca teve muito pouco impacto em conceito de qualidade... Houve retomada imediata das exportações... Ficou constatado que outros players internacionais não conseguiram suprir a oferta de carne brasileira, e os compradores voltaram importando em grandes volumes", disse nesta quinta-feira o presidente da Abiec, Antônio Jorge Camardelli.
Pelos dados da associação, logo após a Carne Fraca as exportações de carne do Brasil caíram para 93,15 mil toneladas, de 125,25 mil toneladas em março. Em maio, contudo, voltaram a subir para 118,35 mil toneladas, continuaram a avançar até um pico de cerca de 150 mil toneladas em agosto e devem fechar 2017 em alta de 9,3 por cento sobre 2016, a 1,53 milhão de toneladas.[nL1N1OE1GP]
Essa expansão nas vendas de carne bovina compensará as quedas esperadas para as de frango e suína neste ano.
Na comparação com 2016, as vendas desses dois últimos devem cair 1,5 e 5,3 por cento, para 4,32 milhões e 690 mil toneladas, respectivamente.[nL1N1OD19Q]
"Os equívocos nas generalizações na divulgação da operação Carne Fraca deixaram, de imediato, marcas profundas no setor produtivo, seja junto ao público brasileiro ou aos mercados internacionais", analisou o presidente da ABPA, Francisco Turra, em nota na quarta-feira.
A associação estimou que o país, que responde por cerca de 40 por cento das exportações globais de frango, poderia ter exportado mais 200 mil toneladas de carnes de frango e de porco, não fosse o impacto da operação Carne Fraca.
ANO QUE VEM
Para 2018, prevalece o otimismo, com todas as categorias de carnes projetando crescimento em meio a um cenário de abertura de novos mercados.
A Abiec avalia que os embarques de carne bovina poderão ir a 1,68 milhão de toneladas, alta de 9,8 por cento sobre 2017, com o início de vendas para países como Indonésia e Coreia do Sul, além da retomada de EUA e Rússia.
Já a ABPA não dá um número fechado, mas diz que as exportações de carne de frango podem se elevar de 1 a 3 por cento em volume, com a recuperação dos níveis de embarques para a União Europeia, de importantes mercados do Oriente Médio e da China, país este que deve autorizar mais plantas brasileiras a exportar.
No caso da carne suína, a ABPA projeta expansão de 4 a 5 por cento nas vendas, puxadas pela abertura do mercado peruano e por uma maior demanda da Rússia, que será sede da Copa do Mundo justamente no próximo ano.