O novo favorito: café robusta segue em evidência, preços avançam e superam os do arábica
Nos últimos meses o mercado do café tem acompanhado negócios cada vez mais voláteis, com pregões intensos e cotações futuras trabalhando com valorização e recuo expressivos nas bolsas de Nova York e Londres em um único dia. Os movimentos têm sido reflexo de um quadro combinado de fundamentos, em especial o tempo seco no Brasil e a incerteza da produtividade da safra 2025 como alguns dos principais pontos de atenção.
Mas, diante deste cenário algo vem chamando atenção dos produtores e de analistas de mercado: os preços do café robusta seguem renovando recordes reais e operando acima do arábica. De acordo com o analista de inteligência de mercado do café da StoneX, Fernando Maximiliano, a última vez que o robusta chegou a ultrapassar os preços do arábica foi em 2017. Ainda assim, com certeza, agora o mercado cafeeiro está vivendo um momento histórico.
Para chegar neste papel de protagonista, o robusta encontrou fatores positivos no meio do caminho, que o ajudaram a se destacar. Um deles foi a oferta reduzida na Ásia. Após um longo período de estiagem, a produção do robusta no Vietnã - maior produtor global da variedade - foi comprometida e isso trouxe um suporte à alta dos preços na bolsa de Londres. Outro ponto está ligado a logística da exportação, que ficou comprometida durante os ataques de rebeldes houthis a navios no Mar Vermelho, que prejudicou o transporte do café à Europa. O transporte não só teve rotas bastante comprometidas pela insegurança como também ficou bem mais caro.
De acordo com Gil Barabach, consultor de mercado da Safras & Mercado, estes entraves logísticos externos trouxeram a atenção para a produção do conilon/robusta aqui no Brasil. "O preços continuam influenciando, mas, é certo que o destaque que o robusta ganhou na indústria do café já abriu espaço para que ele começasse a ir além dos blends. Muitos produtores já estão comercializando cafés 100% robusta", completou o consultor.
Além das questões fundamentais de oferta e demanda, ainda segundo Maximiliano, a força do robusta também se deu por conta das novas tecnologias aplicadas nas lavouras e o cuidado do cafeicultor no pós-colheita. "Na última década, estamos acompanhando produtores se aprimorando cada vez mais em técnicas adequadas e tecnológicas na fase do pós-colheita, o que vem garantindo ao robusta uma qualidade superior, vem melhorando cada vez mais a qualidade do grão", completou o analista.
O representante da StoneX afirma também que outro fator que contribui para impulsionar este protagonismo é o fato das principais áreas de cultivo do café robusta no Brasil (Espírito Santo, Bahia e Rondônia) serem altamente irrigadas e, com isso, as lavouras estão suportando com mais resiliência os problemas climáticos que o Brasil está enfrentando, diferente das produções do arábica que sofrem impactos significativos por conta da seca.
Neste ambiente, o Cepea informou na última quarta-feira (18) que os preços do robusta renovaram seus recordes reais, alcançando pela primeira vez níveis acima dos R$ 1500,00 por saca de 60 kg. "o movimento de alta nas cotações da variedade é observado desde o último trimestre de 2023, quando o Indicador CEPEA/ESALQ do robusta operava na casa dos R$ 740/sc – ou seja, de lá para cá, a valorização do café é de 100%", explicaram os pesquisadores do Cepea.
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Pela importância do Brasil no quadro global de oferta e demanda de cafés - tanto arábica, quanto robusta - o movimento ganhou manchetes também na mídia internacional. "Café mais barato do Brasil já supera o refinado arábica", traz a agência britânica de notícias Bloomberg nesta semana. "Os grãos robusta, usados para fazer café instantâneo e os expressos populares nos bares e padarias do Brasil, agora estão sendo negociados com um prêmio em relação à variedade arábica suave e geralmente mais cara. Esse é o caso até mesmo dos grãos finos de altíssima qualidade que o país geralmente exporta para torrefadores nos EUA e na Europa".
O gráfico abaixo, da Bloomberg, traz a movimentação dos dois mercados e destaca o momento em que o robusta superou o arábica nos últimos dias.
Da lavoura para xícara: consumidor encontra um robusta de qualidade e com preços acessíveis
Para Celírio Inácio, diretor executivo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café), o robusta só precisava de uma oportunidade para mostrar seu real valor/potencial tanto para o mundo quanto para a indústria brasileira do café. Inácio ressalta que desde 2020 o conilon/robusta vem se destacando pela evolução de suas qualidades sensoriais e deixando de ser um coadjuvante nas misturas oferecendo corpo, creme e cafeína, para se tornar protagonista ao lado do arábica.
"Hoje o arábica e o robusta coexistem em harmonia na indústria do café. Nosso conilon/robusta está sendo usado não mais pelo seu preço, como era historicamente escolhido, mas agora por oferecer uma bebida sensoriamente desejada, permitindo um equilibrio e a oportunidade do consumidor apreciar seu total potencial", completou.
E não há mais volta, o robusta se tornou o novo "queridinho" do mercado cafeeiro, e segue avançando após anos de muito trabalho técnico e dedicação da indústria e do produtor.